Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 17 de maio de 2007.
O diretor executivo da Chrysler, Tom LaSorda, exigiu cortes
nos benefícios médicos dos aposentados um dia depois
de ter anunciado a venda da unidade norte-americana da DaimlerChrysler
para a empresa de investimentos privados Cerberus Capital Management.
A declaração de LaSorda, que continuará a
presidir a Chrysler depois da compra pela Cerberus, confirma que
a essa transação significa a preparação
de um verdadeiro ataque aos trabalhadores da indústria
automobilística norte-americana.
A venda da fábrica situada em Michigan para a Cerberus
tem sido considerada por políticos, pela mídia e
pela direção do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
Automobilística como uma benção aos trabalhadores
da Chrysler. Afirma-se que a mudança de propriedade contribuirá
com a estabilização das operações
das fabricantes e, em última análise, beneficiará
os trabalhadores.
A verdade é que a Cerberus, uma empresa conhecida por
tirar os bens das companhias para, dessa forma, revendê-las
com lucro, está preparando brutais cortes de empregos,
salários e benefícios dos trabalhadores da Chrysler.
Desde a sua fundação em 1992, a Cerberus acumulou
uma enorme riqueza por meio da retração, e não
da expansão, de companhias que vão desde redes varejistas
até companhias fornecedoras de auto-peças. Ela deixou
um rastro de companhias drasticamente retraídas e desmanteladas.
No ano passado, por exemplo, a Cerberus comprou 600 supermercados
da Albertson. Em alguns meses, 1.000 trabalhadores foram demitidos.
Em 2004, a Cerberus comprou a rede de lojas de departamentos Mervyn.
No ano seguinte, 62 dessas lojas foram fechadas e 4.800 empregos
eliminados. Recentemente, uma fábrica de ônibus foi
fechada no Canadá e diversas tecelagens tiveram o mesmo
fim nos EUA. Ela ainda esteve envolvida com a retração
da empresa de aluguel de automóveis Alamo & National.
Kevin Boyle professor da Universidade do Estado de Ohio
e notável historiador disse ao New York Times
num artigo publicado no dia 14 de maio, intitulado A Cerberus
emerge do submundo, que a venda da Chrysler para a Cerberus
fará tremer o chão sob os pés das pessoas
de uma maneira impressionante.
O Wall Street Journal do dia 15 de maio entrevistou
Peter Pestillo, o ex-diretor executivo da fabricante de autopeças
Visteon e ex-encarregado de negociar com o UAW pela Volks, que
disse: este acordo da Cerberus estabelece as coisas necessárias
para mudanças significativas em Detroit. Isso abalará
também a GM e a Ford. A Cerberus, continuou Pestillo,
não faz maus negócios. Eles fazem as coisas
parecerem ótimas, para depois revendê-las.
Ao contrário dos fundos mútuos, os fundos de
investimentos privados operam fora do controle do governo, pois
suas ações não são expostas publicamente.
Eles investem enormes somas de capital privado em busca de altos
lucros no mais curto prazo. Empresas como a Cerberus operam de
tal forma que o lucro não é obtido por meio do desenvolvimento
de novos produtos e novas tecnologias, mas através da apropriação
dos bens das companhias.
Um artigo publicado na edição do dia 14 de maio
da revista alemã Der Spiegel, intitulado Hellhound
Snaps up Chrysler dizia o seguinte: empresas de capital
especulativo como a Cerberus investem ou compram outras companhias
que estão prestes a declarar falência. Depois de
comprá-las, eles assumem o controle como maiores acionistas,
racionalizam o negócio e as revendem ou então
sugam o máximo que puderem, deixando-as em pedaços.
Originalmente, a Cerberus comprava a dívida das candidatas
à falência diretamente dos seus credores. Assim,
sua história sempre esteve relacionada às empresas
que enfrentavam problemas. Empresas como a Cerberus ganharam o
apelido de fundos abutres.
Uma das empresas que a Cerberus tem interesse é, sem
dúvida, a rentável unidade de financiamento de automóveis
Chrysler Financial. A Cerberus já tem a propriedade
sobre a maior parte da General Motors Acceptance Corporation
Financial Services (GMAC), que foi comprada da General
Motors no ano passado. É muito provável que
a Cerberus tentará comprar a Chrysler Financial,
cujo valor estimado é de US$ 5,5 bilhões, separá-la
da Chrysler e fundi-la com a GMAC, criando uma grande empresa
com potencial de alta rentabilidade.
Os proprietários da Cerberus obtiveram enormes lucros
desde que a companhia iniciou seus negócios em 1992. O
fundador da companhia, Stephen Feinberg, trabalhou na empresa
de compras Drexel Lambert, conhecida na década de
1980 por popularizar os chamados títulos refugo.
Em 1999, a revista Magazine considerou Feinberg um dos
mais ricos norte-americanos com menos de 40 anos. Naquela época,
sua fortuna era de US$ 274 milhões.
De acordo com uma reportagem de 3 de outubro de 2005 na BusinnessWeek,
alguns dos altos funcionários da Cerberus recebem mais
que US$ 40 milhões por ano. Um artigo na CNN Money
de novembro de 2006 observou que empresas de investimentos privados
tiveram retorno de 22,5% de seus investimentos, sendo que a média
alcançada pelas companhias incluídas na lista das
500 empresas Standard & Poors foi de 6,6%.
Estes lucros extraordinários seriam impossíveis
nas operações mais tradicionais, assim como na produção
e venda de automóveis. O funcionamento de empresas como
a Cerberus freqüentemente envolvem transações
complexas e arriscadas, que não têm absolutamente
nada a ver com a criação de valor real.
Um artigo publicado na edição do dia 16 de março
de 2006 no USA Today afirma que o segredo das empresas
de investimentos privados é o uso da dívida
normalmente setenta centavos de cada dólar investido
por elas. Pelo fato delas assumirem dívidas em nome das
companhias adquiridas, as empresas de investimentos privados liberam
seu próprio dinheiro para ser aplicado em novos investimentos,
maximizando, assim, seu potencial de lucro.
Em alguns casos, os administradores das empresas de investimentos
privados foram acusados de realizar empréstimos às
companhias que eles haviam comprado, a fim de obterem polpudos
pagamentos a si mesmos, não se importando com as conseqüências
que isso traria à companhia que recebeu o empréstimo.
A razão do crescimento dos fundos de investimento é
o imediato retorno do capital investido. Após o colapso
do mercado de ações em 2000, os fundos de investimento
se tornaram uma preferência dos investidores que buscam
altos lucros.
As empresas de investimentos privados têm conseguido,
cada vez mais, capital oriundo dos fundos públicos de pensão,
que representaram cerca de um quarto de todo dinheiro acumulado
pelas empresas de investimentos privados no ano passado. De acordo
com uma reportagem publicada no dia 15 de maio no New York
Times, entre os investidores da Cerberus estão os fundos
de pensão da polícia e dos bombeiros de Los Angeles
e os fundos de aposentadoria dos trabalhadores das escolas públicas
da Pensilvânia.
Portanto, os fundos de pensão dos trabalhadores estão
sendo utilizados para ajudar a realizar a compra e a destruição
das companhias, eliminando assim empregos e benefícios
de outros trabalhadores.
Futuramente, dada a natureza altamente especulativa dos investimentos
privados, a crescente transformação de fundos de
pensão em empresas de investimentos privados estará
expondo os benefícios de aposentadoria dos trabalhadores
a riscos significativos. Já existem rumores sobre a existência
de uma bolha de dívida dos investimentos privados
(Boston Globe, May 1, 2007).
Quem dirige a Cerberus?
Uma rápida análise dos dirigentes da Cerberus
evidencia o caráter social reacionário dessa empresa.
Feinberg reuniu uma equipe de administração composta
por indivíduos da política e dos negócios,
cujos nomes estão relacionados às demissões
e outras políticas empregadas pela classe dominante norte-americana
e internacional nas últimas décadas.
*O presidente da Cerberus é John W. Snow, ex-secretário
do tesouro de Bush. Snow liderou a proposta de diminuir os impostos
para os ricos. Tendo a simpatia de Bush, Snow presidiu o conglomerado
de ferrovias chamado CSX Corporation.
* O ex-vice-presidente republicano, Dan Quayle, é outro
notável da Cerberus. Desde que entrou na Cerberus em 2000,
ele se dedicou às operações internacionais,
utilizando os seus contatos políticos para facilitar as
compras no Japão e na Alemanha.
*O ex-secretário de defesa, Donald Rumsfeld, também
é um investidor na Cerberus, de acordo com uma reportagem
de 2001.
* David Thursfield, um membro influente da equipe da Cerberus
ligada à indústria de automóveis, construiu
sua reputação na Ford, como um selvagem cortador
de custos. Sua pressão para forçar os fornecedores
a reduzirem os preços produziu tanta tensão com
a administração da Ford que ele foi forçado
a deixar a companhia em maio de 2004, mês em que ele entrou
na Cerberus.
* Uma figura nova na Cerberus é Wolfgang Bernhard, um
ex-executivo da Chrysler e da Mercedes Benz. De acordo com um
artigo publicado no dia 14 de maio no New York Times, em
ambas as companhias ele brandiu o machado e cortou custos, promovendo
a discórdia entre os trabalhadores sindicalizados e executivos.
* Um outro importante membro da equipe, que colabora com as
operações da Cerberus na Europa, é o ex-ministro
de defesa, Rudolph Scharping, considerado um conselheiro. Scharping
foi afastado do governo em 2002 por estar envolvido em diversos
escândalos.
Os elogios da burocracia do UAW à venda da Chrysler
a Cerberus, afirmando que isso atende os melhores interesses
dos trabalhadores, demonstram de maneira muito clara os interesses
reacionários aos quais o UAW serve.