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Burocratas sindicais do setor automobilístico canadense festejam com o Primeiro Ministro Liberal de Ontário

Por Carl Bronski
8 de maio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 1 de maio de 2007.

O mais novo exemplo da inexorável guinada à direita da burocracia sindical, o presidente do CAW (Sindicato dos Metalúrgicos Canadenses), Buzz Hargrove, conduziu o Primeiro Ministro Liberal de Ontário, Dalton McGuinty, ao podium do Encontro Nacional do Conselho do CAW, realizado em Port Elgin, em Ontário, no dia 13 de Abril.

“Eu acredito que este governo (liberal local) tem feito um trabalho incrível para o povo,” afirmou Hargrove. É a primeira vez na história do sindicato que um Primeiro Ministro de Ontário é convidado a discursar para a direção do CAW. Hargrove continuou a falar aos 800 delegados reunidos no retiro do sindicato, em Lake Huron. Ele disse que estava “completamente emocionado” em apresentar McGuinty, a quem ele caracterizou como um “campeão” da indústria automobilística.

O Primeiro Ministro Liberal de Ontário retribuiu os elogios. “O CAW”, afirmou ele, “tem se mostrado sempre como uma força de bem em todo Canadá. Nós estamos caminhando na mesma direção”.

O abraço de Hargrove e McGuinty é a resposta da burocracia do CAW a uma crise sem precedentes na indústria automobilística, que ameaça os empregos, salários e pensões de dezenas de milhares de trabalhadores da indústria de automóveis, tanto os da ativa quanto os aposentados. É o resultado político à imposição dos sindicatos por uma nova fase de concessões em diversas plantas das “Três Grandes” e de exigências de medidas protecionistas para defender “os empregos canadenses”, colocando-se contra os trabalhadores que recebem menores salários em outros países.

A festa em torno de McGuinty faz parte de uma série de passos que a direção do CAW, o maior sindicato industrial do país, tem dado no sentido de estreitar os laços com os Liberais de Ontário e com o tradicional partido nacional da burguesia canadense no governo, os Liberais federais.

Nas eleições de Ontário de 1999, Hargrove e o CAW defenderam o “voto estratégico” para os Liberais de Ontário, em nome da derrota do governo Tory de Mike Harris, uma posição apoiada abertamente pelo dirigente do partido Social Democrata de Ontário, o Novo Partido Democrata ou NDP. Continuando na mesma direção, Hargrove declarou, durante a campanha para as eleições de 2003, que conduziu McGuinty e seus liberais ao poder: “o povo sabe como realizar uma mudança no governo e não se faz isso através do voto em alguém que não tem nenhuma sede de vitória. Nós procuramos pelas informações passo a passo, para ver onde há oportunidades de derrubar um Tory”.

Em 2005, com o total apoio de Hargrove, o NDP sustentou, durante seis meses, um governo federal Liberal encabeçado por Paul Martin, que anteriormente havia imposto os maiores gastos sociais e corte de impostos na história do Canadá. Hargrove, por sua vez, acabou traindo a direção do NDP quando discursou publicamente a favor de Paul Martin e Belinda Stronach, filha do chefe e principal proprietária da Magna Internacional, levando o sindicato à campanha explicita pela reeleição do governo de uma minoria Liberal nas eleições para o governo federal, em janeiro de 2006.

O NDP decidiu expulsar Hargrove por ter defendido um partido político rival. Ele respondeu propondo, com sucesso, a desfiliação do CAW e de seus associados locais ao NDP. Este fato rompeu com uma relação de longas décadas entre o CAW e os sociais democratas canadenses. No entanto, deve-se acrescentar que ver a quebra dos laços entre a NDP e o CAW não foi algo muito preocupante, uma vez que o NDP, em resposta às pressões dos grandes empresários e da mídia, estava ansioso para refutar as afirmações de que o partido era organizativamente e financeiramente dependente dos sindicatos.

Mantendo a aproximação do CAW aos Liberais, o conselho do CAW defendeu, no encontro realizado no mês passado, o “voto estratégico” — apoiando os candidatos Liberais — na eleição de outubro, em Ontário, e na próxima eleição federal, com o objetivo de evitar a vitória dos conservadores. “Nós precisamos do voto estratégico para garantir que não teremos uma maioria conservadora no governo,” afirmou Hargrove.

Mas o CAW, ou pelo menos seu presidente, não rejeita a idéia de apoiar alguns conservadores. Depois da participação inédita de Mcguinty no encontro da direção do CAW, Hargrove disse à imprensa que ele espera sinceramente ter membros do sindicato trabalhando para os três partidos nacionais, inclusive o conservador, mas apenas “uma pequena parcela para os Toris”.

O recorde da ala direita dos Liberais de Ontario

Enquanto Hargrove e os burocratas do CAW elogiam Liberais como McGuinty, o nível de vida, dos serviços sociais e do emprego dos trabalhadores da província mais populosa do Canadá tem diminuído durante o governo dos Liberais.

Quando McGuinty assumiu o poder em 2003, ele anunciou, à velha maneira dos governos recém eleitos, que as promessas feitas pelos Liberais nas eleições não poderiam ser cumpridas. A justificativa foi que o déficit deixado pelos Toris era maior do que o esperado.

Ao invés de cessar os ataques legais à classe trabalhadora implementados pelos governos conservadores de Mike Harris e Ernie Eves que o antecederam, McGuinty aumentou ainda mais as medidas anti-populares, ao impor uma taxa de 900 dólares por pessoa para assistência de saúde, o que representou um impacto desproporcional sobre a classe trabalhadora e sobre os pobres.

Aprofundando os ataques ao sistema público de saúde da província, McGuinty eliminou as restrições sobre as instalações de saúde privadas e acabou com o fundo para exames oculares, fisioterapia e serviços quiropráticos da província. Seu governo também renegou outras promessas de campanha: remover o excesso nas taxas sobre a energia hidroelétrica; acabar com a contribuição para o Benefício Suplementar da Criança para os pobres, que retira 2.700 dólares por ano das pensões das mães solteiras.

Um grupo de advogados sociais divulgou recentemente um relatório criticando duramente o Liberal McGuinty por fracassar na superação do problema da pobreza em Ontário. De acordo com a Coalizão Social Ecumênica de Reformas Assistenciais (ISARC) as condições de vida dos pobres da província são piores agora do que eram quando os liberais assumiram o governo. Os liberais concederam um reajuste do salário mínimo miserável (de 8 dólares por hora) e um reajuste de 5% nas taxas dos benefícios sociais. O relatório do ISARC afirma que estas medidas dificilmente darão conta do desgaste do valor real, pois as taxas ficaram sem ser reajustadas por mais de uma década. O relatório ainda comenta que, das 20.000 casas prometidas, apenas 6.724 unidades já começaram a ser construídas.

É evidente que nenhum desses fatos é novidade para Hargrove e para a direção do CAW. Por que então Hargrove está tão encantado com o governo liberal de McGuinty? Porque ele sustentou fielmente os interesses das “Três Grandes”, destinando centenas de milhões de dólares em subsídios do governo para os cofres da Ford, da General Motors e da DaimlerChrysler, se opondo aos planos dos governos conservadores de alcançar um pacto de livre comércio com a Coréia do Sul, e intermediando os novos regulamentos para o limite de emissão de gases poluentes a serem implementados na indústria automobilística.

O Sindicato e o ataque aos empregos e salários

Não menos danosa é a resposta da burocracia do CAW às massivas reestruturações que estão entrando em vigor na indústria automobilística em toda a América do Norte.

Em março, Hargrove e a direção do CAW encorajaram os trabalhadores da planta de montagem da DaimlerChrysler em Brampton, a nordeste de Toronto, a aprovarem um pacote de significativas concessões que havia sido derrotado por votação massiva numa assembléia realizada em fevereiro. Violando o próprio estatuto, que proíbe novas votações a respeito de assuntos já resolvidos, Hargrove e seu assistente, Bob Chernecki, deixaram claro para os associados que eles deveriam aceitar os 5.000 dólares em recompensas anuais, mas, em contrapartida, abrir mão de benefícios como adicional noturno e aceitar a intensificação do trabalho, ou então deveriam agüentar as conseqüências. Se eles rejeitassem as concessões, a Chrysler transferiria a produção para fora de Brampt, sem que a burocracia sindical se opusesse. “O caso exige que se faça uma negociação inteligente”, explicou Chernecki.

Depois de um encontro acalorado, quando os metalúrgicos denunciaram a direção, estes acabaram aprovando as concessões, por notarem que estavam completamente abandonados. “Muitos de nós votaram ‘não’ para se contrapor e deixar clara a nossa desconfiança com relação ao sindicato,” disse Dan Ciurlia, um veterano que trabalha há 27 anos na planta de Brampt. “Nós entendemos a grande ameaça da globalização. Nós entendemos que os nossos empregos podem ir embora. As pessoas estão assustadas. Mas a direção do sindicato pede que tomemos decisões muito rapidamente, sem termos nenhuma informação. Os trabalhadores querem saber se a direção do sindicato realmente ficará do nosso lado”.

O papel desempenhado pelo sindicato ficou evidente no comentário do porta-voz da DaimlerChrysler, Dave Elshoff: “nós não poderíamos ter ido adiante sem o CAW”, afirmou ele.

Quando a Chrysler anunciou os cortes de mais de 2.000 empregos em Windsor, Brampton e West Toronto no começo desse ano, Hargrove caracterizou o ataque contra os associados como “um verdadeiro desastre,” mas se recusou a lutar contra os cortes, aconselhando àqueles associados que seriam demitidos a “aceitar qualquer pacote”. No último outono, quando a Ford anunciou um corte de 21% na produção e planos de fechar nove plantas na América do Norte nos próximos dois anos, incluindo uma fábrica de motores em Windsor, Ontário, o presidente do CAW chamou isso de um “resultado misto,” uma vez que os cortes de empregos pareciam desproporcionais aos dos trabalhadores dos EUA.

A direção do CAW, com o apoio de vários grupos radicais da classe média, considerou a ruptura com o UAW ocorrida em 1985-86 como uma rebelião contra a direção da ala direita da Internacional. Na verdade, se tratou de uma manobra da burocracia dirigida para sabotar um operariado incipiente, ameaçado por cortes de salários e fechamento de plantas, facilitando uma colaboração mais estreita entre a burocracia do sindicato e os patrões da indústria automobilística em ambos os lados da fronteira.

Durante anos a burocracia do CAW procurou colocar aos patrões da indústria automobilística a importância da então chamada “vantagem canadense” — isto é, o fato do custo de seu trabalho ser significativamente mais baixo do que nas fábricas americanas da empresa, devido ao diferencial do dólar canadense com o dólar americano e do esquema de fundo estatal de assistência saúde, o Medicare — “o presente que você dá e recebe”, de acordo com um analista financeiro de Wall Street.

No entanto, pressionados a tomar uma decisão para prevenir mais perdas de empregos, e temendo a repercussão do desgaste na contribuição sindical, os burocratas do CAW estão se tornando cada vez mais agressivos em seus apelos às “Três Grandes”, para que reconheçam que eles são os fornecedores de mão de obra barata.

Durante a rodada de negociações coletivas de 2002, Hargrove fez lobby com as casas financeiras de Wall street e do Bay Street para pressionar os fabricantes de automóveis a concentrar os cortes de empregos nos EUA. Durante uma conferência com a J.P. Morgan Chase & Co., Hargrove declarou: “o verdadeiro desafio para todos nós, se realmente quisermos ganhar dinheiro, é tentar exigir que as companhias prestem mais atenção àqueles países ou comunidades onde os óbvios índices de qualidade, produtividade e lucratividade existem”.

A resposta da burocracia do CAW a atual crise financeira das “Três Grandes” tem sido o aprofundamento de sua relação de longa data baseada na cumplicidade com os patrões do setor automobilístico e com os grandes negociadores liberais. Em nome da “estratégia automobilística nacional”, o CAW faz lobby com o governo federal e com os governos de Ontário para conseguir maiores concessões de impostos e mais privilégios para as “Três Grandes”, com o objetivo de auxiliá-las na competição contra a Toyota, a Honda e outras empresas automobilísticas estrangeiras. Enquanto eles trabalham para minar os trabalhadores norte-americanos, colocando-os uns contra os outros numa disputa fratricida pelos empregos, fazendo ativa campanha para que as “Três Grandes” fechem suas fábricas nos EUA e no México, dando preferência àquelas do Canadá, e encorajando Ottawa a adotar medidas agressivas de comércio contra as indústrias automobilísticas asiáticas.

Hargrove está pensando em fazer com que o CAW apóie o chefe maior do estado canadense, Frank Stronach, que durante anos foi atacado pelo CAW devido as suas táticas anti-sindicais, na sua disputa em relação ao controle da DaimlerChrysler com os investidores bilionários, e na busca de maiores lucros oriundos do corte massivo de empregos e benefícios salariais.

As mais profundas conclusões devem ser tiradas do triste fim ao qual a classe trabalhadora está sendo conduzida pela burocracia trabalhista do CAW. A defesa dos empregos, das condições de trabalho e dos padrões de vida pode ser mantida somente através da construção de um movimento político independente da classe trabalhadora, baseado no esforço para unir os trabalhadores internacionalmente e reorganizar a vida econômica em torno dos princípios da democracia e da igualdade — ou seja, do socialismo.