Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 1 de maio de 2007.
O mais novo exemplo da inexorável guinada à direita
da burocracia sindical, o presidente do CAW (Sindicato dos Metalúrgicos
Canadenses), Buzz Hargrove, conduziu o Primeiro Ministro Liberal
de Ontário, Dalton McGuinty, ao podium do Encontro Nacional
do Conselho do CAW, realizado em Port Elgin, em Ontário,
no dia 13 de Abril.
Eu acredito que este governo (liberal local) tem feito
um trabalho incrível para o povo, afirmou Hargrove.
É a primeira vez na história do sindicato que um
Primeiro Ministro de Ontário é convidado a discursar
para a direção do CAW. Hargrove continuou a falar
aos 800 delegados reunidos no retiro do sindicato, em Lake Huron.
Ele disse que estava completamente emocionado em apresentar
McGuinty, a quem ele caracterizou como um campeão
da indústria automobilística.
O Primeiro Ministro Liberal de Ontário retribuiu os
elogios. O CAW, afirmou ele, tem se mostrado
sempre como uma força de bem em todo Canadá. Nós
estamos caminhando na mesma direção.
O abraço de Hargrove e McGuinty é a resposta
da burocracia do CAW a uma crise sem precedentes na indústria
automobilística, que ameaça os empregos, salários
e pensões de dezenas de milhares de trabalhadores da indústria
de automóveis, tanto os da ativa quanto os aposentados.
É o resultado político à imposição
dos sindicatos por uma nova fase de concessões em diversas
plantas das Três Grandes e de exigências
de medidas protecionistas para defender os empregos canadenses,
colocando-se contra os trabalhadores que recebem menores salários
em outros países.
A festa em torno de McGuinty faz parte de uma série
de passos que a direção do CAW, o maior sindicato
industrial do país, tem dado no sentido de estreitar os
laços com os Liberais de Ontário e com o tradicional
partido nacional da burguesia canadense no governo, os Liberais
federais.
Nas eleições de Ontário de 1999, Hargrove
e o CAW defenderam o voto estratégico para
os Liberais de Ontário, em nome da derrota do governo Tory
de Mike Harris, uma posição apoiada abertamente
pelo dirigente do partido Social Democrata de Ontário,
o Novo Partido Democrata ou NDP. Continuando na mesma direção,
Hargrove declarou, durante a campanha para as eleições
de 2003, que conduziu McGuinty e seus liberais ao poder: o
povo sabe como realizar uma mudança no governo e não
se faz isso através do voto em alguém que não
tem nenhuma sede de vitória. Nós procuramos pelas
informações passo a passo, para ver onde há
oportunidades de derrubar um Tory.
Em 2005, com o total apoio de Hargrove, o NDP sustentou, durante
seis meses, um governo federal Liberal encabeçado por Paul
Martin, que anteriormente havia imposto os maiores gastos sociais
e corte de impostos na história do Canadá. Hargrove,
por sua vez, acabou traindo a direção do NDP quando
discursou publicamente a favor de Paul Martin e Belinda Stronach,
filha do chefe e principal proprietária da Magna Internacional,
levando o sindicato à campanha explicita pela reeleição
do governo de uma minoria Liberal nas eleições para
o governo federal, em janeiro de 2006.
O NDP decidiu expulsar Hargrove por ter defendido um partido
político rival. Ele respondeu propondo, com sucesso, a
desfiliação do CAW e de seus associados locais ao
NDP. Este fato rompeu com uma relação de longas
décadas entre o CAW e os sociais democratas canadenses.
No entanto, deve-se acrescentar que ver a quebra dos laços
entre a NDP e o CAW não foi algo muito preocupante, uma
vez que o NDP, em resposta às pressões dos grandes
empresários e da mídia, estava ansioso para refutar
as afirmações de que o partido era organizativamente
e financeiramente dependente dos sindicatos.
Mantendo a aproximação do CAW aos Liberais, o
conselho do CAW defendeu, no encontro realizado no mês passado,
o voto estratégico apoiando os candidatos
Liberais na eleição de outubro, em Ontário,
e na próxima eleição federal, com o objetivo
de evitar a vitória dos conservadores. Nós
precisamos do voto estratégico para garantir que não
teremos uma maioria conservadora no governo, afirmou Hargrove.
Mas o CAW, ou pelo menos seu presidente, não rejeita
a idéia de apoiar alguns conservadores. Depois da participação
inédita de Mcguinty no encontro da direção
do CAW, Hargrove disse à imprensa que ele espera sinceramente
ter membros do sindicato trabalhando para os três partidos
nacionais, inclusive o conservador, mas apenas uma pequena
parcela para os Toris.
O recorde da ala direita dos Liberais de Ontario
Enquanto Hargrove e os burocratas do CAW elogiam Liberais como
McGuinty, o nível de vida, dos serviços sociais
e do emprego dos trabalhadores da província mais populosa
do Canadá tem diminuído durante o governo dos Liberais.
Quando McGuinty assumiu o poder em 2003, ele anunciou, à
velha maneira dos governos recém eleitos, que as promessas
feitas pelos Liberais nas eleições não poderiam
ser cumpridas. A justificativa foi que o déficit deixado
pelos Toris era maior do que o esperado.
Ao invés de cessar os ataques legais à classe
trabalhadora implementados pelos governos conservadores de Mike
Harris e Ernie Eves que o antecederam, McGuinty aumentou ainda
mais as medidas anti-populares, ao impor uma taxa de 900 dólares
por pessoa para assistência de saúde, o que representou
um impacto desproporcional sobre a classe trabalhadora e sobre
os pobres.
Aprofundando os ataques ao sistema público de saúde
da província, McGuinty eliminou as restrições
sobre as instalações de saúde privadas e
acabou com o fundo para exames oculares, fisioterapia e serviços
quiropráticos da província. Seu governo também
renegou outras promessas de campanha: remover o excesso nas taxas
sobre a energia hidroelétrica; acabar com a contribuição
para o Benefício Suplementar da Criança para os
pobres, que retira 2.700 dólares por ano das pensões
das mães solteiras.
Um grupo de advogados sociais divulgou recentemente um relatório
criticando duramente o Liberal McGuinty por fracassar na superação
do problema da pobreza em Ontário. De acordo com a Coalizão
Social Ecumênica de Reformas Assistenciais (ISARC) as condições
de vida dos pobres da província são piores agora
do que eram quando os liberais assumiram o governo. Os liberais
concederam um reajuste do salário mínimo miserável
(de 8 dólares por hora) e um reajuste de 5% nas taxas dos
benefícios sociais. O relatório do ISARC afirma
que estas medidas dificilmente darão conta do desgaste
do valor real, pois as taxas ficaram sem ser reajustadas por mais
de uma década. O relatório ainda comenta que, das
20.000 casas prometidas, apenas 6.724 unidades já começaram
a ser construídas.
É evidente que nenhum desses fatos é novidade
para Hargrove e para a direção do CAW. Por que então
Hargrove está tão encantado com o governo liberal
de McGuinty? Porque ele sustentou fielmente os interesses das
Três Grandes, destinando centenas de milhões
de dólares em subsídios do governo para os cofres
da Ford, da General Motors e da DaimlerChrysler, se opondo aos
planos dos governos conservadores de alcançar um pacto
de livre comércio com a Coréia do Sul, e intermediando
os novos regulamentos para o limite de emissão de gases
poluentes a serem implementados na indústria automobilística.
O Sindicato e o ataque aos empregos e salários
Não menos danosa é a resposta da burocracia do
CAW às massivas reestruturações que estão
entrando em vigor na indústria automobilística em
toda a América do Norte.
Em março, Hargrove e a direção do CAW
encorajaram os trabalhadores da planta de montagem da DaimlerChrysler
em Brampton, a nordeste de Toronto, a aprovarem um pacote de significativas
concessões que havia sido derrotado por votação
massiva numa assembléia realizada em fevereiro. Violando
o próprio estatuto, que proíbe novas votações
a respeito de assuntos já resolvidos, Hargrove e seu assistente,
Bob Chernecki, deixaram claro para os associados que eles deveriam
aceitar os 5.000 dólares em recompensas anuais, mas, em
contrapartida, abrir mão de benefícios como adicional
noturno e aceitar a intensificação do trabalho,
ou então deveriam agüentar as conseqüências.
Se eles rejeitassem as concessões, a Chrysler transferiria
a produção para fora de Brampt, sem que a burocracia
sindical se opusesse. O caso exige que se faça uma
negociação inteligente, explicou Chernecki.
Depois de um encontro acalorado, quando os metalúrgicos
denunciaram a direção, estes acabaram aprovando
as concessões, por notarem que estavam completamente abandonados.
Muitos de nós votaram não para
se contrapor e deixar clara a nossa desconfiança com relação
ao sindicato, disse Dan Ciurlia, um veterano que trabalha
há 27 anos na planta de Brampt. Nós entendemos
a grande ameaça da globalização. Nós
entendemos que os nossos empregos podem ir embora. As pessoas
estão assustadas. Mas a direção do sindicato
pede que tomemos decisões muito rapidamente, sem termos
nenhuma informação. Os trabalhadores querem saber
se a direção do sindicato realmente ficará
do nosso lado.
O papel desempenhado pelo sindicato ficou evidente no comentário
do porta-voz da DaimlerChrysler, Dave Elshoff: nós
não poderíamos ter ido adiante sem o CAW,
afirmou ele.
Quando a Chrysler anunciou os cortes de mais de 2.000 empregos
em Windsor, Brampton e West Toronto no começo desse ano,
Hargrove caracterizou o ataque contra os associados como um
verdadeiro desastre, mas se recusou a lutar contra os cortes,
aconselhando àqueles associados que seriam demitidos a
aceitar qualquer pacote. No último outono,
quando a Ford anunciou um corte de 21% na produção
e planos de fechar nove plantas na América do Norte nos
próximos dois anos, incluindo uma fábrica de motores
em Windsor, Ontário, o presidente do CAW chamou isso de
um resultado misto, uma vez que os cortes de empregos
pareciam desproporcionais aos dos trabalhadores dos EUA.
A direção do CAW, com o apoio de vários
grupos radicais da classe média, considerou a ruptura com
o UAW ocorrida em 1985-86 como uma rebelião contra a direção
da ala direita da Internacional. Na verdade, se tratou de uma
manobra da burocracia dirigida para sabotar um operariado incipiente,
ameaçado por cortes de salários e fechamento de
plantas, facilitando uma colaboração mais estreita
entre a burocracia do sindicato e os patrões da indústria
automobilística em ambos os lados da fronteira.
Durante anos a burocracia do CAW procurou colocar aos patrões
da indústria automobilística a importância
da então chamada vantagem canadense
isto é, o fato do custo de seu trabalho ser significativamente
mais baixo do que nas fábricas americanas da empresa, devido
ao diferencial do dólar canadense com o dólar americano
e do esquema de fundo estatal de assistência saúde,
o Medicare o presente que você dá e
recebe, de acordo com um analista financeiro de Wall Street.
No entanto, pressionados a tomar uma decisão para prevenir
mais perdas de empregos, e temendo a repercussão do desgaste
na contribuição sindical, os burocratas do CAW estão
se tornando cada vez mais agressivos em seus apelos às
Três Grandes, para que reconheçam que
eles são os fornecedores de mão de obra barata.
Durante a rodada de negociações coletivas de
2002, Hargrove fez lobby com as casas financeiras de Wall
street e do Bay Street para pressionar os fabricantes de automóveis
a concentrar os cortes de empregos nos EUA. Durante uma conferência
com a J.P. Morgan Chase & Co., Hargrove declarou: o
verdadeiro desafio para todos nós, se realmente quisermos
ganhar dinheiro, é tentar exigir que as companhias prestem
mais atenção àqueles países ou comunidades
onde os óbvios índices de qualidade, produtividade
e lucratividade existem.
A resposta da burocracia do CAW a atual crise financeira das
Três Grandes tem sido o aprofundamento de sua
relação de longa data baseada na cumplicidade com
os patrões do setor automobilístico e com os grandes
negociadores liberais. Em nome da estratégia automobilística
nacional, o CAW faz lobby com o governo federal e
com os governos de Ontário para conseguir maiores concessões
de impostos e mais privilégios para as Três
Grandes, com o objetivo de auxiliá-las na competição
contra a Toyota, a Honda e outras empresas automobilísticas
estrangeiras. Enquanto eles trabalham para minar os trabalhadores
norte-americanos, colocando-os uns contra os outros numa disputa
fratricida pelos empregos, fazendo ativa campanha para que as
Três Grandes fechem suas fábricas nos
EUA e no México, dando preferência àquelas
do Canadá, e encorajando Ottawa a adotar medidas agressivas
de comércio contra as indústrias automobilísticas
asiáticas.
Hargrove está pensando em fazer com que o CAW apóie
o chefe maior do estado canadense, Frank Stronach, que durante
anos foi atacado pelo CAW devido as suas táticas anti-sindicais,
na sua disputa em relação ao controle da DaimlerChrysler
com os investidores bilionários, e na busca de maiores
lucros oriundos do corte massivo de empregos e benefícios
salariais.
As mais profundas conclusões devem ser tiradas do triste
fim ao qual a classe trabalhadora está sendo conduzida
pela burocracia trabalhista do CAW. A defesa dos empregos, das
condições de trabalho e dos padrões de vida
pode ser mantida somente através da construção
de um movimento político independente da classe trabalhadora,
baseado no esforço para unir os trabalhadores internacionalmente
e reorganizar a vida econômica em torno dos princípios
da democracia e da igualdade ou seja, do socialismo.