Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 4 de maio de 2007.
As conversações continuam entre a DaimlerChrysler
e potenciais compradores do grupo Chrysler, com a expectativa
de que os competidores do leilão sejam anunciados em breve.
A DaimlerChrysler, por enfrentar quedas nas vendas e perdas
cada vez maiores nas operações americanas, está
seguindo o caminho das fabricantes de automóveis daquele
país - Ford e General Motors - e impondo enormes concessões
aos trabalhadores. Ela já anunciou o seu plano de eliminar
13.000 empregos nos próximos três anos, com o objetivo
de se livrar das obrigações com assistência
médica e pensões da Chrysler, que chega a US$ 18
milhões.
Ao contrário de suas rivais nos EUA, a DaimlerChrysler
é um negócio altamente lucrativo. Por isso, ela
não pode exigir concessões através da ameaça
de falência. A ameaça da venda da unidade da Chrysler
serve como meio de pressão, que é feita sobretudo
sobre os trabalhadores. Os cortes dos direitos dos trabalhadores
tornarão a companhia ainda mais atrativa aos potenciais
compradores.
Confirmando a determinação da DaimlerChrysler
em atacar os direitos dos trabalhadores da Chrysler, ela está
negociando com outras grandes empresas, conhecidas por comprar
empresas, que passam a realizar drásticos cortes de empregos,
salários e benefícios e, depois disso, revender
as companhias, obtendo enormes lucros.
Em meio aos candidatos mais prováveis à compra
da Chrysler estão empresas privadas como o grupo Blackstone,
a Cerberus Capital Management, assim como a gigante canadense
das auto-peças Magna International, cujos trabalhadores
não são sindicalizados.
Um comentário no Bloomberg.com observou que empresas
privadas invadiram a Motor City, trazendo com eles montes de dinheiros
e tempestades de controvérsias. As empresas compradoras
dizem que elas compram companhias como a Chrysler, que foram mal
administradas durante vários anos. Seus oponentes dizem
que os operadores financeiros de Wall Street liquidarão
as fabricantes e fornecedoras automobilísticas, depois
de enchê-las de débitos, destruindo empregos e acelerando
a morte de uma das maiores indústrias americanas.
Essa conclusão é completamente apoiada nos fatos.
Uma reportagem na edição do dia 19 de janeiro
do USA Today descreveu a Cerberus da seguinte maneira:
criada em 1992, a Cerberus é um fundo de investimento,
um tipo de grupo de investimentos privado que não é
regulamentado pela comissão de trocas e seguridade. Seu
nome é significativo. Ele representa o cão de três
cabeças que guarda os portões de Hades.
Freqüentemente chamado de um fundo predador,
a Cerberus investe principalmente em companhias que estão
quase ou completamente falidas, comprando-as com o objetivo de
convertê-las em dinheiro ou ações de uma nova
companhia. Em 2000, a companhia contratou o ex-vice-presidente,
Dan Quayle.
A Cerberus parece estar seriamente interessada na Chrysler
e até mesmo contratou o ex-diretor geral da Chrysler, Wolfgang
Bernhard, como um conselheiro para auxiliar no acordo. A companhia
faz enormes investimentos, tendo uma forte presença na
indústria automobilística. No ano passado, ela comprou
51% do setor financeiro da General Motors, GMAC.
O grupo Blackstone é uma das maiores empresas privadas
de fundos do mundo e esteve fortemente envolvida na reestruturação
e contração da indústria de auto-peças.
Ela comprou a Axle & Manufacturing da General Motors em 1997.
Na época, o Blackstone renegociou os termos do contrato
com o UAW, reduzindo salários e benefícios, vendendo
depois suas ações da companhia com enormes lucros.
Um dos fundadores do grupo Blackstone, ex-diretor orçamentário
de Reagan, atualmente está sendo acusado de fraude em relação
à administração de uma fabricante de auto-peças,
a Collins and Aikman, que ele comprou e levou à falência.
A Magna International - fabricante de auto-peças canadense
- está sendo considerada atualmente a favorita para a compra
da Chrysler, que é a sua maior cliente. A Magna, a terceira
maior fabricante de auto-peças do mundo, é uma empresa
conhecida por pagar baixos salários e benefícios.
A Magna ofereceu US$ 5 bilhões pela Chrysler em parceria
com a Onex Corp., uma firma de investimentos canadense. A Onex
se especializou em comprar empresas desvalorizadas, reestruturando-as
por meio de massivos cortes salariais, e vendendo-as depois com
lucro. Em 2005 ela comprou unidades de manufatura de aeronaves
da Boeing, em Kansas e Oklahoma, onde impôs um corte de
20% nos empregos e uma redução salarial de 10%.
De acordo com uma matéria do dia 3 de maio no Detroit
News, o presidente da Magna, Frank Stronach, extraiu
cerca de US$ 20 milhões no último ano da Magna,
recebendo, das diversas companhias, cerca de US$ 50 milhões
no ano.
Quando é pressionado a justificar os seus rendimentos,
Stronach não se acanha.
Vocês estão preocupados que eu esteja
ganhando muito dinheiro? Disse ele numa reunião de
acionistas. Bem, se vocês não estiverem gostando,
podem vender suas ações.
Favorecidos pelos sindicatos
Apesar disso, a parceria Magna-Onex parece ser favorecida tanto
pelo sindicato americano quanto pelo canadense para a compra da
Chrysler. Notícias circulam de que o UAW já discutiu
a estrutura de um acordo de concessões com a Magna.
De acordo com uma nota enviada aos investidores por um oficial
do KeyBanc Capital Markets, o UAW está aberto a todos
os pontos de interesse incluindo as possibilidades de reformulações
salariais e de condições de trabalho, além
de concessões nas pensões e na assistência
médica. O CAW, por sua vez, anunciou seu apoio à
compra pela Magna.
Uma das razões para o UAW e o CAW estarem se alinhando
à Magna é que a companhia se mostrou disposta a
trabalhar com os sindicatos; o que significa a disposição
em pagar às lideranças sindicais em troca de apoio
na imposição das concessões. Por exemplo,
há algum tempo a Magna concordou em facilitar a organização
do sindicato em suas unidades, abrindo novas frentes de atuação
aos decadentes UAW e CAW.
Da mesma forma que a Magna, sua parceira Onex conquistou uma
desejada reputação de empresa agressiva, demonstrando
também uma certa habilidade em negociar com a burocracia
sindical.
Arrancando US$ 200 milhões em direitos dos trabalhadores
da Boeing, a Onex concordou em disponibilizar a um setor dos trabalhadores
ações de risco da nova companhia.
O UAW já demonstrou interesse num plano de um fundo
de ações para os trabalhadores, ligado ao grupo
Tracinda do bilionário Kirk Kerkorian, que seria incluído
na sua oferta pela Chrysler. O bilionário está analisando
uma proposta independente, segundo o qual ele poderia chegar a
adquirir até 70% da propriedade da Chrysler.
A transferência de dívidas de assistência
médica do UAW em troca de dinheiro e ações
também está sendo estudada. Uma proposta similar,
baseada num acordo entre a União dos Metalúrgicos
e a Goodyear, está sendo avaliada pela Ford e pela General
Motors.
Nenhum desses esquemas está relacionado com a defesa
dos interesses dos trabalhadores. Plano de fundo de ações
para os trabalhadores, ou a chamada compra por trabalhadores,
não tem o objetivo de ajudá-los, mas o de enriquecer
os investidores.
A compra feita pelos trabalhadores da United Airlines é
um dos maiores esquemas de fundos de ações. Ele
rendeu mais de US$ 5 bilhões em troca de ações,
que se tornaram sem valor quando a companhia entrou em falência.
Todavia, as compras se mostraram lucrativas para os burocratas
dos sindicatos. Na United Airlines, por exemplo, os sindicatos
participantes garantiram um assento no quadro de diretores da
empresa.
O controle dos fundos de assistência médica pelo
UAW poderia ainda se mostrar lucrativo para o aparato sindical.
Poderia prover uma nova fonte de renda para os dirigentes sindicais,
que poderiam ter nas mãos a administração
de bilhões em bens, enquanto assumem a responsabilidade
de realizar cortes monstruosos em benefícios, cortes que
são necessários para manter esses monopólios
decadentes.
Considerando sua situação, os trabalhadores da
Chrysler devem adotar uma posição crítica
independente. Eles devem rejeitar todas as propostas que exijam
sacrifícios e visem ajudar a companhia multinacional a
reduzir custos e aumentar os lucros. A afirmação
de que os empregos podem ser salvos por meio das concessões
se mostrou falsa mais uma vez.
Os supostos representantes dos trabalhadores da Chrysler, o
UAW e o CAW, deixaram claro que eles apóiam os esforços
de reestruturar a companhia à custa dos trabalhadores.
Nenhuma confiança pode ser depositada nessas organizações
no sentido de acabar com a destruição dos empregos
e da redução do padrão de vida.
É preciso desenvolver uma luta unificada entre os trabalhadores
da Chrysler nos EUA e no Canadá independentemente da burocracia
dos sindicatos. O eixo dessa luta deve ser a exigência pela
estatização da Chrysler sob o controle dos trabalhadores.