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WSWS : Portuguese

Empresas disputam os bens da Chrysler

Por Shannon Jones
9 de maio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 4 de maio de 2007.

As conversações continuam entre a DaimlerChrysler e potenciais compradores do grupo Chrysler, com a expectativa de que os competidores do leilão sejam anunciados em breve.

A DaimlerChrysler, por enfrentar quedas nas vendas e perdas cada vez maiores nas operações americanas, está seguindo o caminho das fabricantes de automóveis daquele país - Ford e General Motors - e impondo enormes concessões aos trabalhadores. Ela já anunciou o seu plano de eliminar 13.000 empregos nos próximos três anos, com o objetivo de se livrar das obrigações com assistência médica e pensões da Chrysler, que chega a US$ 18 milhões.

Ao contrário de suas rivais nos EUA, a DaimlerChrysler é um negócio altamente lucrativo. Por isso, ela não pode exigir concessões através da ameaça de falência. A ameaça da venda da unidade da Chrysler serve como meio de pressão, que é feita sobretudo sobre os trabalhadores. Os cortes dos direitos dos trabalhadores tornarão a companhia ainda mais atrativa aos potenciais compradores.

Confirmando a determinação da DaimlerChrysler em atacar os direitos dos trabalhadores da Chrysler, ela está negociando com outras grandes empresas, conhecidas por comprar empresas, que passam a realizar drásticos cortes de empregos, salários e benefícios e, depois disso, revender as companhias, obtendo enormes lucros.

Em meio aos candidatos mais prováveis à compra da Chrysler estão empresas privadas como o grupo Blackstone, a Cerberus Capital Management, assim como a gigante canadense das auto-peças Magna International, cujos trabalhadores não são sindicalizados.

Um comentário no Bloomberg.com observou que “empresas privadas invadiram a Motor City, trazendo com eles montes de dinheiros e tempestades de controvérsias. As empresas compradoras dizem que elas compram companhias como a Chrysler, que foram mal administradas durante vários anos. Seus oponentes dizem que os operadores financeiros de Wall Street liquidarão as fabricantes e fornecedoras automobilísticas, depois de enchê-las de débitos, destruindo empregos e acelerando a morte de uma das maiores indústrias americanas”.

Essa conclusão é completamente apoiada nos fatos.

Uma reportagem na edição do dia 19 de janeiro do USA Today descreveu a Cerberus da seguinte maneira: “criada em 1992, a Cerberus é um fundo de investimento, um tipo de grupo de investimentos privado que não é regulamentado pela comissão de trocas e seguridade. Seu nome é significativo. Ele representa o cão de três cabeças que guarda os portões de Hades”.

“Freqüentemente chamado de um “fundo predador”, a Cerberus investe principalmente em companhias que estão quase ou completamente falidas, comprando-as com o objetivo de convertê-las em dinheiro ou ações de uma nova companhia. Em 2000, a companhia contratou o ex-vice-presidente, Dan Quayle”.

A Cerberus parece estar seriamente interessada na Chrysler e até mesmo contratou o ex-diretor geral da Chrysler, Wolfgang Bernhard, como um conselheiro para auxiliar no acordo. A companhia faz enormes investimentos, tendo uma forte presença na indústria automobilística. No ano passado, ela comprou 51% do setor financeiro da General Motors, GMAC.

O grupo Blackstone é uma das maiores empresas privadas de fundos do mundo e esteve fortemente envolvida na reestruturação e contração da indústria de auto-peças. Ela comprou a Axle & Manufacturing da General Motors em 1997. Na época, o Blackstone renegociou os termos do contrato com o UAW, reduzindo salários e benefícios, vendendo depois suas ações da companhia com enormes lucros.

Um dos fundadores do grupo Blackstone, ex-diretor orçamentário de Reagan, atualmente está sendo acusado de fraude em relação à administração de uma fabricante de auto-peças, a Collins and Aikman, que ele comprou e levou à falência.

A Magna International - fabricante de auto-peças canadense - está sendo considerada atualmente a favorita para a compra da Chrysler, que é a sua maior cliente. A Magna, a terceira maior fabricante de auto-peças do mundo, é uma empresa conhecida por pagar baixos salários e benefícios.

A Magna ofereceu US$ 5 bilhões pela Chrysler em parceria com a Onex Corp., uma firma de investimentos canadense. A Onex se especializou em comprar empresas desvalorizadas, reestruturando-as por meio de massivos cortes salariais, e vendendo-as depois com lucro. Em 2005 ela comprou unidades de manufatura de aeronaves da Boeing, em Kansas e Oklahoma, onde impôs um corte de 20% nos empregos e uma redução salarial de 10%.

De acordo com uma matéria do dia 3 de maio no Detroit News, o presidente da Magna, Frank Stronach, “extraiu cerca de US$ 20 milhões no último ano da Magna, recebendo, das diversas companhias, cerca de US$ 50 milhões no ano”.

“Quando é pressionado a justificar os seus rendimentos, Stronach não se acanha”.

“‘Vocês estão preocupados que eu esteja ganhando muito dinheiro?’ Disse ele numa reunião de acionistas. ‘Bem, se vocês não estiverem gostando, podem vender suas ações’”.

Favorecidos pelos sindicatos

Apesar disso, a parceria Magna-Onex parece ser favorecida tanto pelo sindicato americano quanto pelo canadense para a compra da Chrysler. Notícias circulam de que o UAW já discutiu a estrutura de um acordo de concessões com a Magna.

De acordo com uma nota enviada aos investidores por um oficial do KeyBanc Capital Markets, o UAW está aberto “a todos os pontos de interesse incluindo as possibilidades de reformulações salariais e de condições de trabalho, além de concessões nas pensões e na assistência médica”. O CAW, por sua vez, anunciou seu apoio à compra pela Magna.

Uma das razões para o UAW e o CAW estarem se alinhando à Magna é que a companhia se mostrou disposta a trabalhar com os sindicatos; o que significa a disposição em pagar às lideranças sindicais em troca de apoio na imposição das concessões. Por exemplo, há algum tempo a Magna concordou em facilitar a organização do sindicato em suas unidades, abrindo novas frentes de atuação aos decadentes UAW e CAW.

Da mesma forma que a Magna, sua parceira Onex conquistou uma desejada reputação de empresa agressiva, demonstrando também uma certa habilidade em negociar com a burocracia sindical.

Arrancando US$ 200 milhões em direitos dos trabalhadores da Boeing, a Onex concordou em disponibilizar a um setor dos trabalhadores ações de risco da nova companhia.

O UAW já demonstrou interesse num plano de um fundo de ações para os trabalhadores, ligado ao grupo Tracinda do bilionário Kirk Kerkorian, que seria incluído na sua oferta pela Chrysler. O bilionário está analisando uma proposta independente, segundo o qual ele poderia chegar a adquirir até 70% da propriedade da Chrysler.

A transferência de dívidas de assistência médica do UAW em troca de dinheiro e ações também está sendo estudada. Uma proposta similar, baseada num acordo entre a União dos Metalúrgicos e a Goodyear, está sendo avaliada pela Ford e pela General Motors.

Nenhum desses esquemas está relacionado com a defesa dos interesses dos trabalhadores. Plano de fundo de ações para os trabalhadores, ou a chamada compra por trabalhadores, não tem o objetivo de ajudá-los, mas o de enriquecer os investidores.

A compra feita pelos trabalhadores da United Airlines é um dos maiores esquemas de fundos de ações. Ele rendeu mais de US$ 5 bilhões em troca de ações, que se tornaram sem valor quando a companhia entrou em falência.

Todavia, as compras se mostraram lucrativas para os burocratas dos sindicatos. Na United Airlines, por exemplo, os sindicatos participantes garantiram um assento no quadro de diretores da empresa.

O controle dos fundos de assistência médica pelo UAW poderia ainda se mostrar lucrativo para o aparato sindical. Poderia prover uma nova fonte de renda para os dirigentes sindicais, que poderiam ter nas mãos a administração de bilhões em bens, enquanto assumem a responsabilidade de realizar cortes monstruosos em benefícios, cortes que são necessários para manter esses monopólios decadentes.

Considerando sua situação, os trabalhadores da Chrysler devem adotar uma posição crítica independente. Eles devem rejeitar todas as propostas que exijam sacrifícios e visem ajudar a companhia multinacional a reduzir custos e aumentar os lucros. A afirmação de que os empregos podem ser salvos por meio das concessões se mostrou falsa mais uma vez.

Os supostos representantes dos trabalhadores da Chrysler, o UAW e o CAW, deixaram claro que eles apóiam os esforços de “reestruturar” a companhia à custa dos trabalhadores. Nenhuma confiança pode ser depositada nessas organizações no sentido de acabar com a destruição dos empregos e da redução do padrão de vida.

É preciso desenvolver uma luta unificada entre os trabalhadores da Chrysler nos EUA e no Canadá independentemente da burocracia dos sindicatos. O eixo dessa luta deve ser a exigência pela estatização da Chrysler sob o controle dos trabalhadores.