Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 2 de maio de 2007
A empresa nacional de aviação da Nova Zelândia,
a Air New Zealand, anunciou em 2 de abril que iria desistir
do plano de terceirização dos serviços nos
aeroportos, depois que o maior sindicato do setor privado do país
aceitou a proposta que inclui 300 demissões voluntárias,
a flexibilização da jornada de trabalho e a redução
dos salários e das condições de trabalho,
o que representa uma economia anual para a empresa de mais de
NZ$ 7.000 por trabalhador.
O plano de terceirização ameaçou 1.700
empregos nos aeroportos em Auckland, Wellington e Christchurch.
A proposta anunciada em outubro passado de contratar os serviços
da companhia espanhola Swissport visava economizar NZ$ 100 milhões
durante cinco anos. Depois de longas negociações
e mediações na justiça, a companhia chegou
a um acordo com o Sindicato da Engenharia, Imprensa e Manufatura
(EPMU), segundo o qual os cortes nos custos deveriam ser equivalentes
à economia prevista com a terceirização.
O acordo tem como objetivo cortar despesas em todos os setores
da empresa. Trezentos trabalhadores de check-in associados
ao Sindicato dos Serviços e Trabalhadores da Alimentação
(SFWU) que trabalham no maior aeroporto do país - o Aeroporto
Internacional de Auckland - são os próximos a serem
atingidos.
Diante da ausência de outra alternativa, cerca de 78%
dos associados ao sindicato votaram a favor do acordo. A companhia
considerou a decisão como uma oportunidade de tornar sua
divisão de serviços aeroportuários competitiva
globalmente e de categoria mundial. O acordo não
oferece garantias de permanência no emprego e apenas adia
os planos de terceirização em dois anos.
Dirigentes do EPMU afirmaram que as táticas de intimidação
da companhia demonstraram que o sindicato não tinha nenhum
poder de barganha e que o sindicato estava apenas
fazendo o melhor numa situação muito ruim.
O secretário nacional do sindicato, Andrew Little, havia
descrito o acordo como impalatável, dizendo aos associados
que eles estavam sendo obrigados a engolir um rato morto.
Entretanto, esses tímidos protestos não foram nada
mais do que uma cortina de fumaça para ocultar o papel
desempenhado pelo sindicato na imposição da proposta
da companhia.
O sindicato não organizou nenhuma campanha de oposição
às exigências da empresa e de defesa dos empregos
e das condições de trabalho. Para dissimular sua
vacilação, a direção do sindicato
lançou uma petição pedindo uma investigação
parlamentar sobre as falhas da companhia na implementação
das chamadas provisões de boa fé, previstas
nas leis industriais do governo do partido trabalhista. Entretanto,
em meio a tudo isso, a mensagem real do sindicato foi a seguinte:
a única forma de bloquear a terceirização
é aceitar as exigências da companhia.
Como parte de sua conivência com a companhia, o EPMU
recomendou aos trabalhadores que aceitassem a oferta da administração
de $ 1.000 para cada um que aceitar o acordo. Um pagamento único,
sujeito a todos os descontos, e um plano de demissões voluntárias
em locais específicos, além de pacotes de cortes,
que apenas seriam aplicados se todas as condições
do acordo fossem aceitas pelos membros do EPMU. O pagamento estaria
disponível apenas àqueles que concordassem em permanecer
na Air New Zealand sob as novas condições
e salários. Para ter acesso ao brutal suborno, os trabalhadores
não associados ao EPMU teriam que assinar um acordo de
trabalho individual.
Mediante o acordo, 40% dos trabalhadores perderão os
direitos a uma parte dos anos trabalhados e seu piso salarial
diminuirá. Dependendo do tempo de serviço, os cortes
de salário podem ser de centenas a milhares de dólares.
Qualquer trabalhador nessa situação pode escolher
aceitar a demissão. Outros 42% dos funcionários
receberão um aumento nos salários, podendo chegar,
no máximo, a 3,75% durante os próximos três
anos. Os outros 20% não receberão qualquer reajuste
salarial.
Depois de se submeter à Air New Zealand, o EPMU
passou a supervisionar a destruição de 70 empregos
de jornalistas na companhia de imprensa APM, proprietária
do maior jornal do país, o The New Zealand Herald,
além da destruição de 160 dos 300 postos
de trabalho da rede de TV estatal TVNZ.
A história do apoio dos sindicatos aos
cortes de empregos
Há mais de duas décadas, os sindicatos dirigidos
pelo EPMU têm apoiado a profunda destruição
de empregos e condições de trabalho. Desde meados
dos anos 80, quando as empresas de vestuário, calçados,
montagem de motores de veículos e siderúrgicas foram
fechadas e transferidas para outras regiões do mundo, o
EPMU tem insistido que os trabalhadores devem se sacrificar para
garantir a competitividade das empresas neo-zelandesas.
Anteriormente, os sindicatos do setor aéreo já
haviam dado sinal verde para a destruição de empregos
na Air New Zealand. Em 2001-2002, após o colapso
da subsidiária australiana Ansett, os sindicatos endossaram
um ataque aos empregos como parte de um plano de ajuda de $NZ
1 bilhão, envolvendo a reaquisição de 80%
das ações da Air New Zealand pelo governo
trabalhista.
No ano passado, a Air New Zealand dispensou 917 engenheiros,
8% da força de trabalho da companhia. O recém contratado
chefe executivo, Rob Fyfe, alertou que decisões difíceis
como essas ainda não haviam terminado. Inicialmente, os
engenheiros recusaram o acordo da administração
com o sindicato, que incluía, além das demissões,
cortes nos salários e degradação das condições
de trabalho. Entretanto, usando a pressão dos ultimatos
da empresa, o EPMU e a Associação dos Engenheiros
Aéreos e da Marinha organizaram uma nova votação
e coagiram os trabalhadores a aceitar o acordo. Além da
demissão dos engenheiros, houve a eliminação
de 470 empregos no principal escritório em Auckland e a
terceirização do serviço de limpeza dos aviões,
com a perda de 114 empregos.
O resultado financeiro da empresa foi imediato. Depois de relatar
uma queda de 55% nos lucros na primeira metade do ano de 2006,
os lucros na segunda metade no ano subiram 61%, para $ 109 milhões,
desconsiderando os impostos - assegurado pelos $ 63 milhões
provenientes das economias alcançadas através de
cortes em horas-extras e redução das condições
de trabalho no setor de engenharia pesada. A companhia foi capaz
de oferecer aos investidores um dividendo especial de 10 centavos
por ação, totalizando $ 105 milhões. De acordo
com o relatório do Business Herald sobre salários
de executivos, Fyfe foi generosamente recompensado com um salário
anual de $ 950.000, colocando-o no topo dos 20 executivos melhor
remunerados da Nova Zelândia.
O SFWU, por sua vez, distanciou-se do acordo do EPMU, recusando-se
a negociar com a Air New Zealand antes do término
de seu acordo coletivo de trabalho, em maio. O secretário
regional do SFWU, Jill Ovens, fez duras críticas ao acordo
do EPMU, apresentando aos associados o contrato coletivo da SFWU
como uma vitória. O sindicato alegou que a companhia estava
tentando separar os trabalhadores, inclusive os que trabalham
nos centros de carga, finanças e atendimento, para isolá-los
e passar por cima deles.
O objetivo do SFWU não é o de defender os empregos
e as condições de trabalho, mas impedir que o EPMU
coopte seus associados com a ajuda da companhia. A Air New
Zealand está pressionando os associados do SFWU a deixarem
o sindicato e entrarem no EPMU, ou aceitar contratos individuais.
Caso os trabalhadores decidirem permanecer no SFWU, poderão
ser impedidos de entrar na empresa e não terão a
mínima chance de promoção.
Em maio, quando o contrato terminar, os associados do SFWU
estarão vulneráveis à ofensiva da Air
New Zealand. Ovens declarou recentemente que a função
do sindicato é defender os empregos e as condições
de trabalho de nossos associados. Por outro lado, ele ilude
os trabalhadores ao afirmar que o governo [trabalhista]
também não quer que ocorra a terceirização,
por isso nós devemos continuar defendendo nossas posições.
Entretanto, o Partido Trabalhista - do qual Ovens é um
importante cabo eleitoral - está, desde o início
dos anos 80, na linha de frente das reformas de mercado. Além
disso, o governo da primeira-ministra Helen Clark é o acionista
majoritário da Air New Zealand, e tem até
agora aprovado silenciosamente toda a reestruturação
selvagem da companhia.
Num comentário revelador, Ovens rejeitou a proposta
feita pelos trabalhadores de aeroportos australianos de boicotar
os aviões da Air New Zealand, declarando que isto
iria contra as posições do SFWU, que acredita
em nossa empresa aérea nacional. Na realidade, o
caráter mundial da indústria aeronáutica
significa que qualquer campanha legítima em defesa dos
empregos e dos salários terá, necessariamente, que
assumir um caráter internacional. Os sindicatos, que são
fundamentalmente contra esse tipo de luta, funcionam como cúmplices
na campanha de oposição de suas próprias
companhias nacionais contra rivais estrangeiras, num processo
interminável de destruição de empregos e
degradação crescente dos salários e das condições
de trabalho.