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Governo chinês impõe treinamento militar para estudantes em todo o país

Por John Chan
19 de maio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 10 de maio de 2007.

Um Regulamento Sobre o Treinamento Militar Para os Estudantes emitido conjuntamente pelo ministério da educação da China, pelo quartel-general do estado-maior, e pelo departamento político geral do Exército de Libertação do Povo (ELP), em 21 de abril, formalizou o treinamento militar nas escolas e universidades de todo o país.

No papel, a China já tem um sistema de recrutamento exigindo que todos os cidadãos de 18 a 22 anos prestem 24 meses de serviço militar. Na prática, Pequim nunca forçou o destacamento militar, uma vez que o ELP sempre conseguiu recrutar suficientes voluntários da juventude camponesa, desesperados para sair da zona rural empobrecida. Jovens buscando ingressar no ensino superior têm sido isentos do serviço militar.

Crescentemente, a liderança chinesa tem procurado transformar o ELP em uma força hi-tech menor. Entretanto, o motivo do programa militar para os estudantes não é prioritariamente atrair recrutas mais formados. No ano passado o ELP alistou apenas 10.000 estudantes universitários pelo país. O principal objetivo é político, mais do que militar, e reflete profunda preocupação da burocracia de Pequim em relação ao potencial de revolta entre a juventude chinesa da nova geração.

Um significativo componente do treinamento militar é ideológico. O objetivo declarado é "permitir aos estudantes compreender as práticas e a teoria militar básicas, e aumentar seu conhecimento sobre defesa e sua consciência em relação à segurança nacional". O plano é para reforçar a submissão dos estudantes à "organização" e à "disciplina", assim como para insuflar os valores de "patriotismo", "coletivismo", e "heroísmo revolucionário".

O regulamento coloca que uma campanha nacional do treinamento militar estudantil deve ser feita a cada cinco anos. Cada província deve promover um seminário de especialização a cada 3 ou 5 anos. Todos os outros aspectos da educação na China estão sujeitos aos princípios do mercado segundo os quais "o consumidor paga". O treinamento militar estudantil, entretanto, será financiado pelo governo e pelo ELP - o que indica importância prioritária. Qualquer encargo sobre os estudantes é estritamente proibido.

A mídia estatal promoveu a nova política enquanto uma medida positiva para "endurecer" os jovens, que supostamente foram mimados como filhos únicos dos casais urbanos. Na realidade, não é o impacto da política de "um filho" que a liderança stalinista teme, mas as vastas mudanças sociais que vêm ocorrendo nos últimos trinta anos enquanto resultado da franca adoção da reforma capitalista de mercado.

Sob Mao Zedong, a burocracia chinesa tinha, visivelmente, controle total sobre cada aspecto da mídia e da cultura, até o insípido estilo-uniforme das roupas. O culto a Mao, acompanhado por propaganda patriótica e falsas reivindicações de ser socialista, foi traçado para abafar qualquer oposição e sufocar influências "estrangeiras". Além disso, toda a população era dependente da burocracia estatal para tudo, desde o emprego até a assistência à saúde, pensões e educação.

Por ter aberto a China a investimentos estrangeiros e empresas privadas, Pequim desencadeou vastas forças econômicas e sociais sobre as quais ela não tem mais qualquer controle direto. A juventude não confia mais na mídia oficial, no entanto tem acesso à internet e a um vasto conjunto de idéias e tendências culturais. De acordo com estatísticas oficiais, o número de usuários de internet registrados cresceu 23,4% no ano passado, alcançando 137 milhões - a segunda maior população de usuários no mundo, depois dos EUA. A maioria tem entre 18 e 24 anos.

Ao mesmo tempo, as reformas capitalistas criaram uma divisão social que se aprofunda, e grande incerteza. Aqueles que terminam a escola ou a faculdade não têm mais garantia de um emprego, e muitos estão desempregados. Dezenas de milhões de jovens trabalhadores são obrigados a deslocar-se de lugar em lugar à procura de trabalho. Aqueles que têm algum dinheiro podem comprar telefones celulares, uma série de roupas, jóias, motocicletas, e outras parafernálias. O descontentamento e a alienação produziram reações díspares entre as diversas camadas da juventude.

Tais tendências geralmente vêm como um impacto para o regime. Por exemplo, em 2005 na cidade natal de Mao, na província de Hunan, uma estação de televisão organizou o concurso "Super Girls" - baseado no "American Idol" - que atraiu a audiência de 400 milhões por toda a China em apenas uma noite. Aproximadamente oito milhões de espectadores - a maioria jovem - enviaram mensagens de texto para "votar" em sua favorita. As três finalistas, todas com pouco mais de vinte anos, rapidamente tornaram-se celebridades nacionais. Li Yuchun de Sichuan, que exibiu um "look tomboy", ao final venceu.

A principal estatal CCTV publicou uma declaração denunciando o show como "vulgar e manipulador" e ameaçou cortá-lo. A liderança chinesa está apreensiva que qualquer movimento vagamente anti-governista, mesmo aqueles completamente apolíticos, possam vir a ser um perigo. Wei Feng, um estudante do Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim disse ao Seattle Times: "A grande questão é em relação a cantar qualquer coisa que se queira, e milhões de jovens garotas nunca tiveram aquela oportunidade antes". Aproximadamente 120.000 garotas participaram do concurso.

O governo já tentou canalizar a alienação entre a juventude na direção reacionária do nacionalismo e do patriotismo. Em 2005, o governo deliberadamente incitou protestos anti-japoneses da Fenqing, ou "juventude furiosa", em relação à proposta de conceder ao Japão uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e em relação ao suporte de Tókio a livros de história ocultando os crimes japoneses nos tempos de guerra. A juventude da classe média gritou slogans racistas, atacou estabelecimentos japoneses e agrediu visitantes japoneses. Pequim, conseqüentemente, teve que acabar com as manifestações, já que a violência ameaçou sair do controle.

O maior medo de Pequim é de um movimento infundido com idéias socialmente progressistas contra a desigualdade social e a repressão do Estado. Os altos custos da educação e o desemprego entre os formados no segundo grau já levaram a uma onda de protestos e levantes. A "reforma do mercado" dos anos 90 acabou com a antiga garantia de emprego nas empresas estatais aos jovens graduados. Assim como os estudantes de outros países, os estudantes chineses não são mais parte de uma elite privilegiada, mas uma reserva de trabalho qualificado barato para os empregadores.

Em 2006, de 4,13 milhões de graduados no ensino superior, um entre três não conseguia um emprego. Em um encontro de um conselho estatal sobre universitários graduados, em 25 de abril, altos funcionários do governo admitiram que o desemprego estudantil tenderia a se agravar em 2007. O número de graduados no terceiro grau alcançará 4,95 milhões este ano - um aumento de 820.000 em relação a 2006.

A miséria que os estudantes universitários enfrentam é produto direto das reformas na educação pró-mercado que o regime adotou. Na última década, o custo do ensino universitário cresceu exponencialmente para entre 5.000 e 8.000 yuan (US$ 640 - $1.000) o ano. Em um país onde a renda per capita média é menor que US$ 2.000, o encargo financeiro da educação para as famílias da classe trabalhadora é enorme.

Pequim está acentuadamente consciente do potencial explosivo dessas tensões sociais. Os líderes chineses também estão cientes de que a movimentação política entre os estudantes têm historicamente indicado uma radicalização maior entre a classe trabalhadora. O Partido Comunista Chinês emergiu do movimento Quatro de Maio de 1919, entre estudantes e intelectuais - ele próprio resposta à revolução russa.

O PCC abandonou os princípios do internacionalismo socialista no final da década de 20, mas ainda celebra todos os anos o 4 de maio como o Dia da Juventude. Ainda assim, é um ritual que encobre o significado real do Movimento Quatro de Maio. A "nova juventude" rebelde de 1919 que estava determinada a mudar o curso da história na China e no mundo, foi substituída por imagens de jovens controlados, negligentes, patriotas, absolutamente submissos às autoridades.

Em 1989, a liderança chinesa ordenou ao ELP que enviasse tropas armadas mais pesadas e tanques para esmagar brutalmente os protestos dos trabalhadores e estudantes por direitos democráticos básicos e condições de vida decentes, na Praça Tiananmen. Sua decisão de pôr em prática um programa nacional de treinamento militar estudantil é mais uma tentativa um tanto desesperada de adiar a inevitável erupção da juventude novamente.