Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 13 de março de 2007.
De acordo com informações da imprensa, a economia
alemã está florescendo e o número
de desempregados diminuindo. Entretanto, tais notícias
não conseguem ocultar o que está por trás
desta melhora. Praticamente ao mesmo tempo em que
a Airbus anunciou seus planos de cortar 10.000 empregos, a alemã
Telekom apresentou suas próprias medidas de reestruturação.
Em 28 de fevereiro a Telekom anunciou que iria terceirizar
aproximadamente 55.000 empregos por meio de uma organização
do trabalho criada recentemente. A companhia, sob o nome de T-Serviço,
está prestes a se tornar a maior proprietária subsidiária
da Telekom alemã e a assumir toda a sua força de
trabalho ligada à operações de internet.
Simultaneamente ao anúncio da terceirização,
a Telekom alemã revelou seus planos de aumentar a competitividade
do preço de seus serviços. Para os trabalhadores
da Telekom, esta manobra significará um ataque brutal às
condições de trabalho. Haverá o aumento da
jornada de trabalho, que passará das atuais 34,5 para 40
ou 40,5 horas semanais. De acordo com a companhia, os salários
permanecerão constantes, o que significa uma
redução do salário por hora trabalhada.
O número exato de trabalhadores que serão afetados
pelo esquema é ainda incerto. Várias fontes, incluindo
representantes da companhia não identificados, figuras
do ramo empresarial e da mídia, declararam que mais de
25.000 trabalhadores serão transferidos para a nova organização.
Aqueles que não forem terceirizados enfrentarão
um processo de reestruturação dentro do departamento
onde trabalham. Na noite imediatamente após o anúncio,
o quadro de supervisores da companhia, que inclui representantes
dos sindicatos, aprovou os planos do presidente da companhia,
Klaus Zumwinkel. Dentro de grandes empresas alemãs, isto
não é comum, uma vez que partidos de oposição
geralmente procuram estabelecer algum tipo de acordo.
Milhares de trabalhadores reagiram ao plano indo às
ruas se manifestar por diversas vezes. O setor de serviços
do sindicato Verdi, reagiu ao plano de redução de
custos anunciando medidas de resistência e greves. Entretanto,
o anúncio feito pelo sindicato deixou bem claro que ele
não se opõe aos fundamentos do plano e que se trata
apenas de conquistar algumas concessões. A terceirização
está ligada aos esforços do governo de reorganizar
esta empresa, que é parcialmente estatal e parcialmente
privada, a fim de proporcionar as maiores taxas de retorno para
os investidores por meio da redução de custos.
Em 1995, durante a onda de privatizações da década
de 1990, vários setores do antigo Correio Federal da Alemanha
foram transformados em empresas de economia mista, através
da venda limitada de ações ao público. Uma
delas foi a Telekom alemã, que deixou de ser propriedade
exclusiva do governo federal após a primeira oferta no
mercado de ações, no outono de 1996.
O governo alemão, porém, manteve forte controle
sobre a organização, possuindo 32% das ações.
O governo está agora envolvido a fundo no plano de reestruturação.
O jornal Süddeutsche Zeitung publicou a seguinte declaração
de uma fonte anônima dos círculos governamentais:
nós queremos um campeão nacional neste setor
que, agindo mundialmente, terá todas as condições
para isso. O plano do diretor executivo, Obermann, convenceu
o quadro de supervisores. Ele fez um bom trabalho até agora.
É excelente que ele esteja reerguendo a empresa.
Desde a privatização, a Telekom alemã
esteve à mercê da competição internacional.
Para todas as empresas que hoje atuam no mercado de ações,
isto significa enormes pressões: por um lado, elas devem
continuamente oferecer os menores preços no sentido de
atrair e manter os clientes, por outro, elas devem satisfazer
os interesses dos investidores para manter os lucros e os preços
das ações num alto patamar.
A pressão dos investidores o
Grupo Blackstone
Em ambos os lados, a Telekom alemã foi não muito
bem sucedida. Os lucros caíram de 5,6 bilhões de
euros em 2005 para 3,2 bilhões de euros em 2006. No último
quadrimestre do ano passado, a companhia apresentou uma perda
recorde. Isto resultou em pressões massivas dos investidores,
sobretudo do Grupo Blackstone, que no ano passado comprou por
meio da empresa estatal Instituto de Crédito para a Reconstrução
(KfK), 4,5% das ações da Telekom alemã, passando
a fazer, através de um representante no quadro de supervisores,
uma forte campanha pela reestruturação da companhia.
A venda de ações para a Blackstone uma
companhia orientada exclusivamente para a obtenção
de lucro foi uma tentativa do governo de usá-la
como um meio de acelerar os esforços de reestruturação.
Anteriormente, houve várias demonstrações
nos círculos políticos que alertaram a respeito
da possibilidade da Telekom alemã cair em mãos de
companhias estrangeiras de telecomunicações. O mercado,
entretanto, reagiu positivamente à venda para a Blackstone,
elevando em 4% o preço das ações.
Logo após a compra, a Blackstone se tornou a maior competidora
do mercado. Kai Uwe Ricke, antigo presidente da Telekom, foi demitido.
Seu sucessor, René Obermann, foi considerado como alguém
que poderia levar a companhia para cima.
Vale a pena observar melhor a Blackstone. Um de seus antigos
executivos é Roland Berger, cujo nome é sinônimo
de programas radicais de cortes de custos e do implacável
corte de empregos. Ron Sommer, antigo presidente da Telekom alemã,
também trabalha para a Blackstone.
O mandato de Sommer como presidente causou a ruína de
milhares de pequenos investidores, que compraram ações
da Telekom alemã com a idéia de que este seria um
grande investimento para o futuro. Mas, depois de
uma série de transações não lucrativas
e da correção da intencional supervalorização
das propriedades estatais, as ações da companhia
caíram muito abaixo do seu preço de compra.
Apesar do governo afirmar o contrário, a maioria das
pessoas dos círculos do mercado se anteciparam a Blackstone,
comprando mais ações na Telekom, desempenhando um
papel ainda maior nestas operações. Chris Oliver
Schickentanz, um especialista do Banco Alemão a respeito
da Telekom, afirmou que a Blackstone é famosa por buscar,
a longo prazo, controlar as companhias e que a fantasia
de conquistar o controle da Telekom poderia se tornar realidade.
O esforço da Blackstone em deter o controle majoritário
ficou evidente no exemplo da American Chemical Company Celanese.
Ao assumir o controle acionário, a Blackstone organizou
uma desvalorização radical dos negócios centrais
da empresa, notadamente suas operações nos EUA,
comprando em seguida a empresa por um preço bem abaixo
do mercado. Logo após, a Blackstone recebeu um empréstimo
de 500 milhões de dólares por meio da companhia.
Após receber o empréstimo, ela vendeu imediatamente
suas ações, ocasionando uma tremenda perda para
os pequenos investidores. Na edição de 2006 intitulada
de O Livro Negro do Mercado de Ações, a Organização
Alemã para a Proteção dos Investidores resumiu
a atitude da Blackstone da seguinte maneira: uma companhia
pode ser espremida e seca utilizando-se muitos métodos.
Este foi um deles.
Contudo, o Departamento Alemão de Finanças, dirigido
pelo Partido Social Democrata Alemão (SPD), não
concordou com esta avaliação. No último ano,
aproximadamente 12 meses depois do presidente do SPD, Franz Müntefering,
ter lançado sua vergonhosa polêmica do gafanhoto
contra os fundos de ações, tendo a Blackstone como
um de seus alvos principais, o departamento de Finanças
aprovou a venda das ações da Telekom precisamente
para este grupo.
Peter Steinbrück (SPD), Ministro das Finanças na
época, disse: eu fico feliz que uma organização
como a Blackstone, um investidor estratégico que se preocupa
em aumentar o valor e a lucratividade das companhias, tenha agora
se juntado à Telekom. E ele prossegue: é
um excelente dia para a Telekom e um ótimo dia para muitos
investidores. Assim, ficou evidente que investidores estrangeiros
também podiam comprar ações da Telekom. Apesar
do SPD denunciar oficialmente estas organizações
como sendo do tipo gafanhoto, elas recebem um tratamento
cuidadoso e a proteção deste partido.
No ano passado a Telekom alemã perdeu 2 milhões
de conexões de telefones para o seu concorrente. Seus produtos
são considerados muito caros e seu serviço de baixa
qualidade.
A pressão do capital financeiro, através da participação
direta nas companhias com o objetivo de extrair o máximo
delas no prazo mais curto possível, significa apenas que,
sob as condições do capitalismo global, são
os trabalhadores que têm que arcar com o ônus.