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Dia de ação em Hamburgo

Dirigentes dos sindicatos da Airbus transformam as manifestações em palanques dos políticos de direita

POr nossos repórteres
30 Marzo 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 19 de março de 2007.

Cerca de 20.000 pessoas foram às ruas na sexta-feira, 16 de março, para se manifestar contra os cortes de empregos na Airbus de Hamburgo. Eles se reuniram na Spielbudenplatz, no centro da cidade, sendo que muitos viajaram de outras fábricas da Airbus localizadas nas cidades de Bremem, Buxtehude, Laupheim, Stade e Varel. Além disso, vieram delegações das companhias terceirizadas e um grande número de jovens que apóiam o movimento. As aulas escolares foram canceladas e os alunos carregavam faixas com as palavras: “meu pai precisa manter seu emprego” e “quem pensa em nosso futuro?”

A maioria dos manifestantes já havia participado em greves espontâneas e ações de protesto há duas semanas, quando os trabalhadores reagiram aos novos planos da Airbus de cortar 10.000 empregos. Como todas as fábricas da companhia estão localizadas na França, Alemanha, Inglaterra e Espanha, a proposta de um protesto europeu unificado em Bruxelas de todos os envolvidos recebeu um amplo apoio.

Todavia, apenas alguns dias antes dessa ação conjunta acontecer, as direções dos sindicatos cancelaram-na. Ao invés disso, organizaram “o dia de ação europeu”, que consistiu de reuniões e encontros nacionais baseados num sentimento chauvinista.

Em Hamburgo, o sindicato convidou três políticos proeminentes da conservadora União Democrata Cristã (UDC) para serem os principais oradores na manifestação: o primeiro ministro da Baixa Saxônia Christian Wulff, o primeiro ministro de Baden-Württemberg Günther Öttinger e o prefeito de Hamburgo Ole von Beust. No final, von Beust não pôde comparecer, sendo substituído pelo Ulrich Nussbaum.

Até agora, era muito raro os líderes políticos da UDC aparecerem em grandes manifestações do sindicato, sobretudo como principais oradores. Antigamente, quando eles compareciam às manifestações, eram frequentemente recebidos com hostilidade. Os constantes ataques realizados pela UDC aos ganhos sociais e aos direitos democráticos são muito bem conhecidos e rejeitados. Agora, o presidente do conselho de trabalhadores da Airbus, Rüdiger Lütjen, comentou as políticas da UDC com grande tranqüilidade, agradeceu aos presentes e pediu um “grande aplauso” ao público—que na realidade se mostrava, de alguma forma, reprimido.

O mais veemente discurso nacionalista foi pronunciado pelo primeiro ministro Öttinger. Ele iniciou com essas palavras: “nós estamos lutando pela Airbus da Alemanha”. Todas as plantas alemãs foram defendidas na estrutura da companhia, disse ele. “Os problemas não podem ser resolvidos com a liquidação das fábricas”, continuou Öttinger. Não é admissível “que os problemas, que foram causados pela administração, sejam transferidos para os trabalhadores”.

“Não é culpa dos trabalhadores. Eu quero declarar expressamente o meu respeito pelos seus esforços”, disse Öttinger, apesar de ele ser conhecido por exigir, em toda e qualquer oportunidade, o rebaixamento cada vez mais profundo das condições de vida dos trabalhadores, mediante o argumentando de que este é o preço necessário para a competitividade internacional. Tecnologia de alto custo pressupõe especialistas altamente qualificados, enfatizou ele: “quem, na área de alta tecnologia, senão a Alemanha poderia liderar e defender uma posição de líder mundial?”

A Europa deve se esforçar para entrar na competição com os EUA. “Os americanos compram Boeing”, todo mundo sabe disso. A Europa deve fazer de tudo “para se manter fiel (à Alemanha) como um centro de tecnologia e ciência”. Isso também é parte do “conceito de negócios da EADS e da Airbus”.

Seguindo a decisão da DaimlerChrysler de vender parte das ações da companhia, alguns estados alemães que têm plantas da Airbus decidiram comprar as ações “a fim de prevenir que os acionistas russos as adquiram”. Então, os estados asseguraram que a parte alemã da Airbus não diminuísse, permitindo que esta parte “permanecesse no mesmo nível que a francesa”.

Discursando depois de Öttinger, o primeiro ministro da Baixa Saxônia, Christian Wulff, parabenizou a “história de sucesso da Airbus”. “A competência tecnológica” se encontra em grande parte na Alemanha e deve permanecer aqui. Ele considera o “perigo imediato de perda do know-how tecnológico” como uma conseqüência da divisão e da liquidação das fábricas. Por meio da cooperação entre os conselhos de trabalhadores e a administração, é completamente possível superar os problemas da estrutura da companhia. “Eu conheço conselhos de trabalhadores muito competentes que fizeram sugestões muito inteligentes”, enfatizou Wulff.

Deveria haver “uma cooperação muito próxima entre o conselho de trabalhadores, a administração e os políticos”, afirmou ele. Assim os problemas poderiam ser resolvidos e a participação da Airbus no mercado poderia aumentar consideravelmente. Os olhos do mundo estão voltados para a Europa. Por isso, a cooperação na Europa deve se intensificar.

O exemplo dado por Wulff de cooperação entre o conselho de trabalhadores e a administração refere-se à Volkswagen, em que o estado da Baixa Saxônia tem seu próprio investimento. Recentemente, sobre a base de tal cooperação, os salários foram substancialmente cortados e as condições de trabalho degradadas. A Telekom alemã ainda planeja terceirizar 55.000 empregos, deixando os trabalhadores restantes em piores condições. Wulff defende algo similar em relação à Airbus.

O último a falar na manifestação foi o senador Nussbaum. Ele resumiu suas observações com a fórmula “a Airbus precisa da Alemanha e a Alemanha precisa da Airbus”—sendo amplamente aplaudido por aqueles que estavam no palanque.

Para mascarar o tom nacionalista dos discursos, o presidente do IG Metall, Jürgen Peters, observou as virtudes solidárias da Europa. “Nós não permitiremos nenhum rompimento! Somos fortes somente quando unidos! Um ataque aos trabalhadores em uma localidade é um ataque a todos e exigirá nossa resistência conjunta”. Ele repetiu esses clichês com inúmeras variações—frases ocas, que os trabalhadores estão cansados de ouvir.

Muito mais importante que todas essas palavras e promessas de Peters foi o fato de que o sindicato apoiou a plataforma de direita dos políticos da UDC. Isso marca uma guinada à direita dos sindicatos, que estão atuando cada vez mais abertamente como agentes das grandes corporações e da grande coalizão do governo Alemão.

Peter declarou que essa “grande demonstração” poderia ser um sinal de unidade e determinação, mas na verdade, a manifestação passou uma mensagem muito diferente. Ela mostrou que uma luta transnacional para defender todos os empregos não pode ser conduzida por meio de uma aliança com os sindicatos, mas somente numa luta contra eles. É mais do que evidente para todos que os sindicatos se aliaram aos seus governos nacionais e às administrações das companhias.

A resposta dos trabalhadores

Contrariamente às declarações nacionalistas dos políticos da UDC e do SPD, os trabalhadores presentes na manifestação deixaram claro aos nossos repórteres que eles percebem a necessidade de uma luta unificada para defender todos os empregos na Alemanha, França, Espanha e Inglaterra.

“Eles só poderão fazer o que quiserem conosco se nos deixarmos dividir”, lembrou Björn F., que trabalha na linha de produção da Airbus de Hamburgo desde 1989.

Seus colegas Dieter K. e Volker K. tinham a mesma opinião. Ambos trabalharam por mais de 20 anos para a Airbus. O programa de reestruturação da Airbus “Força 8” é considerado como uma forma de ampliar os lucros para os acionistas por meio de grandes cortes em todas as fábricas da Airbus. “Os acionistas querem ver lucro”, diz a companhia. Estudos de aumento da jornada estão sendo feitos a fim de aumentar a produção. “Economias estão sendo impostas em todo lugar, estamos sendo pressionados a trabalhar mais rápido e se possível durante os intervalos”, afirmaram os três operários.

Um trabalhador do departamento financeiro que trabalhou na Airbus por 27 anos declarou que os planos para a venda de algumas fábricas tinham como objetivo rebaixar os salários e os demais custos, a fim de acalmar os acionistas.

O fato de que os políticos da UDC, que são também conhecidos por sua hostilidade aos interesses dos trabalhadores, tenham falado na manifestação foi um motivo de inquietação para alguns trabalhadores. Um trabalhador mais antigo declarou que os políticos estavam provavelmente temerosos de uma ação conjunta dos trabalhadores, e então prometeram ajudar os trabalhadores da Airbus. Alguns trabalhadores, por outro lado, reagiram positivamente à presença dos políticos. Eles tinham a esperança de que a intervenção em nível estadual poderia ajudá-los contra o aprofundamento dos ataques da administração.

Ao conversar com vários jovens trabalhadores da Airbus no final da manifestação, percebemos que eles ficaram extremamente surpresos ao saberem do plano da administração chamado “Força 8”. Pareceu a eles completamente paradoxal que a companhia pudesse, por iniciativa própria, colocar em risco a operação do processo de produção que está em boas condições.

Os jovens trabalhadores sublinharam que a venda das fábricas e o remanejamento destruiria a organização da força de trabalho, que hoje está bem coordenada e é altamente qualificada, o que levaria inevitavelmente a conseqüências negativas para a qualidade e a segurança dos aviões. No início das atividades da companhia, os trabalhadores tiveram que se sacrificar para melhorar e aumentar a produtividade. Agora, todavia, apesar de algumas dificuldades iniciais com o modelo A380, tudo estava se encaminhando bem.

Diversos trabalhadores estavam ansiosos diante da incerteza do seu futuro, e revoltados com a falência de uma companhia ultra-moderna.