Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 19 de março de 2007.
Cerca de 20.000 pessoas foram às ruas na sexta-feira,
16 de março, para se manifestar contra os cortes de empregos
na Airbus de Hamburgo. Eles se reuniram na Spielbudenplatz,
no centro da cidade, sendo que muitos viajaram de outras fábricas
da Airbus localizadas nas cidades de Bremem, Buxtehude, Laupheim,
Stade e Varel. Além disso, vieram delegações
das companhias terceirizadas e um grande número de jovens
que apóiam o movimento. As aulas escolares foram canceladas
e os alunos carregavam faixas com as palavras: meu pai precisa
manter seu emprego e quem pensa em nosso futuro?
A maioria dos manifestantes já havia participado em
greves espontâneas e ações de protesto há
duas semanas, quando os trabalhadores reagiram aos novos planos
da Airbus de cortar 10.000 empregos. Como todas as fábricas
da companhia estão localizadas na França, Alemanha,
Inglaterra e Espanha, a proposta de um protesto europeu unificado
em Bruxelas de todos os envolvidos recebeu um amplo apoio.
Todavia, apenas alguns dias antes dessa ação
conjunta acontecer, as direções dos sindicatos cancelaram-na.
Ao invés disso, organizaram o dia de ação
europeu, que consistiu de reuniões e encontros nacionais
baseados num sentimento chauvinista.
Em Hamburgo, o sindicato convidou três políticos
proeminentes da conservadora União Democrata Cristã
(UDC) para serem os principais oradores na manifestação:
o primeiro ministro da Baixa Saxônia Christian Wulff, o
primeiro ministro de Baden-Württemberg Günther Öttinger
e o prefeito de Hamburgo Ole von Beust. No final, von Beust não
pôde comparecer, sendo substituído pelo Ulrich Nussbaum.
Até agora, era muito raro os líderes políticos
da UDC aparecerem em grandes manifestações do sindicato,
sobretudo como principais oradores. Antigamente, quando eles compareciam
às manifestações, eram frequentemente recebidos
com hostilidade. Os constantes ataques realizados pela UDC aos
ganhos sociais e aos direitos democráticos são muito
bem conhecidos e rejeitados. Agora, o presidente do conselho de
trabalhadores da Airbus, Rüdiger Lütjen, comentou as
políticas da UDC com grande tranqüilidade, agradeceu
aos presentes e pediu um grande aplauso ao públicoque
na realidade se mostrava, de alguma forma, reprimido.
O mais veemente discurso nacionalista foi pronunciado pelo
primeiro ministro Öttinger. Ele iniciou com essas palavras:
nós estamos lutando pela Airbus da Alemanha.
Todas as plantas alemãs foram defendidas na estrutura da
companhia, disse ele. Os problemas não podem ser
resolvidos com a liquidação das fábricas,
continuou Öttinger. Não é admissível
que os problemas, que foram causados pela administração,
sejam transferidos para os trabalhadores.
Não é culpa dos trabalhadores. Eu quero
declarar expressamente o meu respeito pelos seus esforços,
disse Öttinger, apesar de ele ser conhecido por exigir, em
toda e qualquer oportunidade, o rebaixamento cada vez mais profundo
das condições de vida dos trabalhadores, mediante
o argumentando de que este é o preço necessário
para a competitividade internacional. Tecnologia de alto custo
pressupõe especialistas altamente qualificados, enfatizou
ele: quem, na área de alta tecnologia, senão
a Alemanha poderia liderar e defender uma posição
de líder mundial?
A Europa deve se esforçar para entrar na competição
com os EUA. Os americanos compram Boeing, todo mundo
sabe disso. A Europa deve fazer de tudo para se manter fiel
(à Alemanha) como um centro de tecnologia e ciência.
Isso também é parte do conceito de negócios
da EADS e da Airbus.
Seguindo a decisão da DaimlerChrysler de vender parte
das ações da companhia, alguns estados alemães
que têm plantas da Airbus decidiram comprar as ações
a fim de prevenir que os acionistas russos as adquiram.
Então, os estados asseguraram que a parte alemã
da Airbus não diminuísse, permitindo que esta parte
permanecesse no mesmo nível que a francesa.
Discursando depois de Öttinger, o primeiro ministro da
Baixa Saxônia, Christian Wulff, parabenizou a história
de sucesso da Airbus. A competência tecnológica
se encontra em grande parte na Alemanha e deve permanecer aqui.
Ele considera o perigo imediato de perda do know-how
tecnológico como uma conseqüência da divisão
e da liquidação das fábricas. Por meio da
cooperação entre os conselhos de trabalhadores e
a administração, é completamente possível
superar os problemas da estrutura da companhia. Eu conheço
conselhos de trabalhadores muito competentes que fizeram sugestões
muito inteligentes, enfatizou Wulff.
Deveria haver uma cooperação muito próxima
entre o conselho de trabalhadores, a administração
e os políticos, afirmou ele. Assim os problemas poderiam
ser resolvidos e a participação da Airbus no mercado
poderia aumentar consideravelmente. Os olhos do mundo estão
voltados para a Europa. Por isso, a cooperação na
Europa deve se intensificar.
O exemplo dado por Wulff de cooperação entre
o conselho de trabalhadores e a administração refere-se
à Volkswagen, em que o estado da Baixa Saxônia tem
seu próprio investimento. Recentemente, sobre a base de
tal cooperação, os salários foram substancialmente
cortados e as condições de trabalho degradadas.
A Telekom alemã ainda planeja terceirizar 55.000 empregos,
deixando os trabalhadores restantes em piores condições.
Wulff defende algo similar em relação à Airbus.
O último a falar na manifestação foi o
senador Nussbaum. Ele resumiu suas observações com
a fórmula a Airbus precisa da Alemanha e a Alemanha
precisa da Airbussendo amplamente aplaudido por aqueles
que estavam no palanque.
Para mascarar o tom nacionalista dos discursos, o presidente
do IG Metall, Jürgen Peters, observou as virtudes solidárias
da Europa. Nós não permitiremos nenhum rompimento!
Somos fortes somente quando unidos! Um ataque aos trabalhadores
em uma localidade é um ataque a todos e exigirá
nossa resistência conjunta. Ele repetiu esses clichês
com inúmeras variaçõesfrases ocas,
que os trabalhadores estão cansados de ouvir.
Muito mais importante que todas essas palavras e promessas
de Peters foi o fato de que o sindicato apoiou a plataforma de
direita dos políticos da UDC. Isso marca uma guinada à
direita dos sindicatos, que estão atuando cada vez mais
abertamente como agentes das grandes corporações
e da grande coalizão do governo Alemão.
Peter declarou que essa grande demonstração
poderia ser um sinal de unidade e determinação,
mas na verdade, a manifestação passou uma mensagem
muito diferente. Ela mostrou que uma luta transnacional para defender
todos os empregos não pode ser conduzida por meio de uma
aliança com os sindicatos, mas somente numa luta contra
eles. É mais do que evidente para todos que os sindicatos
se aliaram aos seus governos nacionais e às administrações
das companhias.
A resposta dos trabalhadores
Contrariamente às declarações nacionalistas
dos políticos da UDC e do SPD, os trabalhadores presentes
na manifestação deixaram claro aos nossos repórteres
que eles percebem a necessidade de uma luta unificada para defender
todos os empregos na Alemanha, França, Espanha e Inglaterra.
Eles só poderão fazer o que quiserem conosco
se nos deixarmos dividir, lembrou Björn F., que trabalha
na linha de produção da Airbus de Hamburgo desde
1989.
Seus colegas Dieter K. e Volker K. tinham a mesma opinião.
Ambos trabalharam por mais de 20 anos para a Airbus. O programa
de reestruturação da Airbus Força 8
é considerado como uma forma de ampliar os lucros para
os acionistas por meio de grandes cortes em todas as fábricas
da Airbus. Os acionistas querem ver lucro, diz a companhia.
Estudos de aumento da jornada estão sendo feitos a fim
de aumentar a produção. Economias estão
sendo impostas em todo lugar, estamos sendo pressionados a trabalhar
mais rápido e se possível durante os intervalos,
afirmaram os três operários.
Um trabalhador do departamento financeiro que trabalhou na
Airbus por 27 anos declarou que os planos para a venda de algumas
fábricas tinham como objetivo rebaixar os salários
e os demais custos, a fim de acalmar os acionistas.
O fato de que os políticos da UDC, que são também
conhecidos por sua hostilidade aos interesses dos trabalhadores,
tenham falado na manifestação foi um motivo de inquietação
para alguns trabalhadores. Um trabalhador mais antigo declarou
que os políticos estavam provavelmente temerosos de uma
ação conjunta dos trabalhadores, e então
prometeram ajudar os trabalhadores da Airbus. Alguns trabalhadores,
por outro lado, reagiram positivamente à presença
dos políticos. Eles tinham a esperança de que a
intervenção em nível estadual poderia ajudá-los
contra o aprofundamento dos ataques da administração.
Ao conversar com vários jovens trabalhadores da Airbus
no final da manifestação, percebemos que eles ficaram
extremamente surpresos ao saberem do plano da administração
chamado Força 8. Pareceu a eles completamente
paradoxal que a companhia pudesse, por iniciativa própria,
colocar em risco a operação do processo de produção
que está em boas condições.
Os jovens trabalhadores sublinharam que a venda das fábricas
e o remanejamento destruiria a organização da força
de trabalho, que hoje está bem coordenada e é altamente
qualificada, o que levaria inevitavelmente a conseqüências
negativas para a qualidade e a segurança dos aviões.
No início das atividades da companhia, os trabalhadores
tiveram que se sacrificar para melhorar e aumentar a produtividade.
Agora, todavia, apesar de algumas dificuldades iniciais com o
modelo A380, tudo estava se encaminhando bem.
Diversos trabalhadores estavam ansiosos diante da incerteza
do seu futuro, e revoltados com a falência de uma companhia
ultra-moderna.