Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 16 de março de 2007.
Grandes lições podem ser extraídas por
meio da observação dos acontecimentos que envolvem
a reestruturação planejada pela Airbus: quanto mais
a integração do processo de produção
avança para além das fronteiras do estado nacional,
mais urgente se torna a tarefa de construir um movimento internacional
para defender os salários e o padrão de vida da
classe trabalhadora; e mais desesperadamente a burocracia sindical
se apega a sua antiquada e estreita defesa do estado nacional.
A Airbus opera sobre as bases do processo produtivo que se
estende a quatro países europeussem contar as terceirizadas.
Os trabalhadores nessas fábricas estão ligados ao
mesmo processo de produção. Por isso, o plano de
reestruturação da administração denominado
Força 8 representa claramente um ataque a todos
os trabalhadores da empresa nos diversos países.
Uma visita à fábrica da Airbus em Méaulte,
no norte da França, deu aos repórteres do WSWS a
oportunidade para ouvir a opinião dos trabalhadores a respeito
destas questões, assim como a resposta deles aos ataques
lançados pela companhia, e compará-la com a resposta
dos sindicatos.
Os trabalhadores com os quais falamos afirmaram que eles não
tinham nenhuma informação acerca da situação
atualtanto sobre o conteúdo das negociações
quanto sobre as atividades planejadas pelos sindicatos.
Crôchet, um trabalhador de aproximadamente 40 anos, declarou:
tudo o que sabemos é o que a mídia diz. E
todos dizem que os alemães são os culpados.
Ele disse não ter tempo para participar do sindicato cujos
dirigentes, segundo ele, estão mais preocupados em brigar
uns com os outros. Ele também não concordou
com a declaração feita pelo secretário da
Force Ouvrière(FO - Força Operária),
Claude Cliquet, que disse aos trabalhadores que se manifestavam
em Méaulte há uma semana que os acionistas alemães
eram os responsáveis pela crise da Airbus.
A maior objeção levantada pela FO ao plano Força
8 foi a distribuição dos cortes entre os diversos
países. Ela propõe que seja firmado um acordo mais
favorável à fábrica francesa. Em particular,
o sindicato se opõe à transferência do modelo
A320 de Toulouse para Hamburgo.
Numa manifestação em Toulouse no dia 6 de março,
o representante da FO falou em nome dos sindicatos: nós
devemos defender a nossa companhia contra os famintos acionistas
alemães. O novo modelo A320 ficará sob o completo
domínio alemão. O estado francês deve desempenhar
com seriedade o seu papel de acionista e agir como um contra-peso
ao enorme apetite da Daimler (a principal acionista alemã).
Por várias vezes a FO exigiu maior comprometimento por
parte do Estado francêsinclusive em suas conversas
com representantes do governo.
Todas as discussões que realizamos em Méaulte
deixaram claro que os trabalhadores não concordam com esse
tipo de orientação nacionalista e a defesa de uma
única fábrica, apesar das reportagens da mídia
afirmarem o contrário. Nenhum daqueles com que falamos
compartilhava da perspectiva posta pelos sindicatos. Ao invés
disso, eles reagiram com simpatia ao fato de que vínhamos
da Alemanha. A postura dos trabalhadores contradisse a atitude
dos burocratas dos sindicatos que querem conduzi-los a um nacionalismo
sem saída.
Guillaume e três jovens colegas pensavam de forma semelhante
a respeito da questão dos sindicatos, e particularmente
sobre o maior de Méaultea Força Operária.
Tudo o que fazem é brigar uns contra os outros,
disse ele, acrescentando ainda que ele já foi membro, mas
se afastou depois de não ver sentido em permanecer naquele
sindicato.
Como já dito, a falta de informações dos
trabalhadores de Méaulte tem os prejudicado enormemente.
Eles mal sabiam que a greve planejada para sexta-feira (16) estava
para acabar em apenas duas horas.
Guillaume e seus colegas reagiram positivamente à proposta
de organizar uma resistência ao Força 8
para além das fronteiras nacionais. Uma manifestação
conjunta com trabalhadores da Alemanha, Espanha e Inglaterra poderia
ser uma boa oportunidade para fazer contatos e desenvolver uma
ação conjunta, disse ele.
Inicialmente havia planos para uma manifestação
conjunta de todos os trabalhadores europeus da Airbus no dia 16
de março, em Bruxelas. Mas no dia 13 de março, a
federação européia dos sindicatos industriais
lançou à imprensa uma declaração na
qual ela afirmava que, ao contrário das falsas declarações,
não haveria manifestações conjuntas.
Ao invés dos sindicatos planejarem um dia de ação
em toda a Europa, organizaram manifestações
separadas nos locais das fábricas. Nesses encontros locais
os sindicatos estão lançando reivindicações
típicas das forças mais conservadoras e nacionalistas.
O sindicato industrial alemão IG Metall, por sua vez,
convidou Christian Wulff, primeiro ministro do estado da Baixa
Saxônia, para falar numa manifestação em Hamburgo,
onde se espera a presença de 20.000 trabalhadores. Outros
que deverão falar são o presidente do IG Metall,
Jügern Peters, o diretor do conselho de fábrica da
Airbus, Rüdiger Lütjen, o primeio ministro do estado
de Baden Württemberg, Günther Öttinger, e o prefeito
de Hamburgo, Ole von Beust. Os três últimos são
todos membros da União Cristã Democrática,
partido da Chanceler alemã Ângela Merkel e muito
conhecidos pela sua atitude hostil em relação aos
trabalhadores. Manobras nacionalistas semelhantes estão
sendo feitas pelos sindicatos franceses, em particular a Força
Operária.
Num email enviado ao WSWS, um trabalhador da Airbus
de Nantes afirmava que ele havia feito de tudo para organizar
uma ação conjunta de todos os trabalhadores: não
será por meio das ações dos sindicatos que
a administração mudará seus planos. Isso
se aplica particularmente ao CGC (sindicato cristão) e
a FO, que vem desestruturando continuamente a militância
por meio do nacionalismo e estimulando a divisão dos trabalhadores.
Em Nantes, os trabalhadores foram chamados para participar
de diferentes protestos em diferentes horários. Com exceção
da CGT, todos os sindicatos se recusaram a organizar um encontro
de massa dos trabalhadores. Eles são a favor da negociação,
não da luta, escreveu o trabalhador da Airbus. Encorajada
pela conduta dos sindicatos, a companhia prosseguiu com o seu
plano Força 8 sem fazer qualquer concessão.
Na quarta-feira (14), o chefe da Airbus, Louis Gallois, reuniu-se
com todos os sindicatos europeus representados na empresa para
esclarecer que não haveria recuos quanto a implementação
do plano de reestruturação.
Depois do encontro, o presidente do conselho francês
conjunto, Jean Jean-François Knepper (FO) declarou: nós
não fizemos nenhum progresso. O comitê executivo
está pronto para falar com a gente mas não nos deu
espaço para atuarmos.
Apesar disso os sindicatos continuam mantendo o seu plano de
atividades descentralizadas. Na Espanha, cerca de 9.000 trabalhadores
da EADS (European Aeronautic Defence and Space) e de terceirizadas
realizarão uma greve por tempo determinado, e na Airbus
francesa os trabalhadores se manifestarão em frente aos
centros de operação da empresa na capital.
De um lado, o objetivo desses protestos isolados é o
de proteger os sindicatos, procurando demonstrar que eles não
estão em completa inatividade. Por outro, as ações
servem para impedir que os trabalhadores se unam, ultrapassando
as fronteiras e conduzindo uma luta efetiva contra o programa
de reestruturação. Em nome da defesa das localidades
individuais, os trabalhadores são jogados uns contra os
outros.
A maioria dos trabalhadores rejeita tal atuação.
Nossa última conversa em Méaulte foi com dois jovens
trabalhadores da região de Amiens. Ambos estavam completando
o treinamento como engenheiros de produção e tinham
um contrato temporário de 18 meses na fábrica da
Airbus. Eles não tinham idéia do que aconteceria
a eles após o término de seus contratos, mas eles
dois gostariam de continuar na companhia.
Eles disseram que havia um total de 150 trabalhadores em Méaulte
com contratos temporários, embora esse número já
tenha sido muito maior.
Ambos expressaram total falta de confiança nos sindicatos.
Eles olham somente para si mesmos, disseram eles.
Depois de tudo, eles todos têm suas mãos sobre
o pote de mel.
Deve se dar um fim às brigas dos trabalhadores franceses
contra seus colegas alemães, disse um deles. Considerando
que a região é o local dos campos de batalha da
I Guerra Mundial, onde dezenas de milhares de alemães,
franceses e ingleses perderam suas vidas, seu comentário
foi totalmente apropriado.
A visita a fábrica da Airbus em Méaulte deixou
duas coisas claras: primeiro, o papel dos sindicatos, que negaram
aos trabalhadores até mesmo as informações
mais elementares e procuraram dividi-los; em segundo lugar, a
distância existente entre os trabalhadores e essas organizações.