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Uma visita à fábrica da Airbus em Méaulte, França.

Trabalhadores rejeitam o nacionalismo dos sindicatos

Por Andreas Reiss
22 Marzo 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 16 de março de 2007.

Grandes lições podem ser extraídas por meio da observação dos acontecimentos que envolvem a reestruturação planejada pela Airbus: quanto mais a integração do processo de produção avança para além das fronteiras do estado nacional, mais urgente se torna a tarefa de construir um movimento internacional para defender os salários e o padrão de vida da classe trabalhadora; e mais desesperadamente a burocracia sindical se apega a sua antiquada e estreita defesa do estado nacional.

A Airbus opera sobre as bases do processo produtivo que se estende a quatro países europeus—sem contar as terceirizadas. Os trabalhadores nessas fábricas estão ligados ao mesmo processo de produção. Por isso, o plano de reestruturação da administração denominado “Força 8” representa claramente um ataque a todos os trabalhadores da empresa nos diversos países.

Uma visita à fábrica da Airbus em Méaulte, no norte da França, deu aos repórteres do WSWS a oportunidade para ouvir a opinião dos trabalhadores a respeito destas questões, assim como a resposta deles aos ataques lançados pela companhia, e compará-la com a resposta dos sindicatos.

Os trabalhadores com os quais falamos afirmaram que eles não tinham nenhuma informação acerca da situação atual—tanto sobre o conteúdo das negociações quanto sobre as atividades planejadas pelos sindicatos.

Crôchet, um trabalhador de aproximadamente 40 anos, declarou: “tudo o que sabemos é o que a mídia diz. E todos dizem que os alemães são os culpados”. Ele disse não ter tempo para participar do sindicato cujos dirigentes, segundo ele, estão mais preocupados em “brigar uns com os outros”. Ele também não concordou com a declaração feita pelo secretário da Force Ouvrière—(FO - Força Operária), Claude Cliquet, que disse aos trabalhadores que se manifestavam em Méaulte há uma semana que os acionistas alemães eram os responsáveis pela crise da Airbus.

A maior objeção levantada pela FO ao plano “Força 8” foi a distribuição dos cortes entre os diversos países. Ela propõe que seja firmado um acordo mais favorável à fábrica francesa. Em particular, o sindicato se opõe à transferência do modelo A320 de Toulouse para Hamburgo.

Numa manifestação em Toulouse no dia 6 de março, o representante da FO falou em nome dos sindicatos: “nós devemos defender a nossa companhia contra os famintos acionistas alemães. O novo modelo A320 ficará sob o completo domínio alemão. O estado francês deve desempenhar com seriedade o seu papel de acionista e agir como um contra-peso ao enorme apetite da Daimler (a principal acionista alemã)”.

Por várias vezes a FO exigiu maior comprometimento por parte do Estado francês—inclusive em suas conversas com representantes do governo.

Todas as discussões que realizamos em Méaulte deixaram claro que os trabalhadores não concordam com esse tipo de orientação nacionalista e a defesa de uma única fábrica, apesar das reportagens da mídia afirmarem o contrário. Nenhum daqueles com que falamos compartilhava da perspectiva posta pelos sindicatos. Ao invés disso, eles reagiram com simpatia ao fato de que vínhamos da Alemanha. A postura dos trabalhadores contradisse a atitude dos burocratas dos sindicatos que querem conduzi-los a um nacionalismo sem saída.

Guillaume e três jovens colegas pensavam de forma semelhante a respeito da questão dos sindicatos, e particularmente sobre o maior de Méaulte—a Força Operária. “Tudo o que fazem é brigar uns contra os outros”, disse ele, acrescentando ainda que ele já foi membro, mas se afastou depois de não ver sentido em permanecer naquele sindicato.

Como já dito, a falta de informações dos trabalhadores de Méaulte tem os prejudicado enormemente. Eles mal sabiam que a greve planejada para sexta-feira (16) estava para acabar em apenas duas horas.

Guillaume e seus colegas reagiram positivamente à proposta de organizar uma resistência ao “Força 8” para além das fronteiras nacionais. Uma manifestação conjunta com trabalhadores da Alemanha, Espanha e Inglaterra poderia ser uma boa oportunidade para fazer contatos e desenvolver uma ação conjunta, disse ele.

Inicialmente havia planos para uma manifestação conjunta de todos os trabalhadores europeus da Airbus no dia 16 de março, em Bruxelas. Mas no dia 13 de março, a federação européia dos sindicatos industriais lançou à imprensa uma declaração na qual ela afirmava que, ao contrário das “falsas declarações”, não haveria manifestações conjuntas.

Ao invés dos sindicatos planejarem um “dia de ação” em “toda a Europa”, organizaram manifestações separadas nos locais das fábricas. Nesses encontros locais os sindicatos estão lançando reivindicações típicas das forças mais conservadoras e nacionalistas.

O sindicato industrial alemão IG Metall, por sua vez, convidou Christian Wulff, primeiro ministro do estado da Baixa Saxônia, para falar numa manifestação em Hamburgo, onde se espera a presença de 20.000 trabalhadores. Outros que deverão falar são o presidente do IG Metall, Jügern Peters, o diretor do conselho de fábrica da Airbus, Rüdiger Lütjen, o primeio ministro do estado de Baden Württemberg, Günther Öttinger, e o prefeito de Hamburgo, Ole von Beust. Os três últimos são todos membros da União Cristã Democrática, partido da Chanceler alemã Ângela Merkel e muito conhecidos pela sua atitude hostil em relação aos trabalhadores. Manobras nacionalistas semelhantes estão sendo feitas pelos sindicatos franceses, em particular a Força Operária.

Num email enviado ao WSWS, um trabalhador da Airbus de Nantes afirmava que ele havia feito de tudo para organizar uma ação conjunta de todos os trabalhadores: “não será por meio das ações dos sindicatos que a administração mudará seus planos. Isso se aplica particularmente ao CGC (sindicato cristão) e a FO, que vem desestruturando continuamente a militância por meio do nacionalismo e estimulando a divisão dos trabalhadores”.

Em Nantes, os trabalhadores foram chamados para participar de diferentes protestos em diferentes horários. Com exceção da CGT, todos os sindicatos se recusaram a organizar um encontro de massa dos trabalhadores. “Eles são a favor da negociação, não da luta”, escreveu o trabalhador da Airbus. Encorajada pela conduta dos sindicatos, a companhia prosseguiu com o seu plano “Força 8” sem fazer qualquer concessão. Na quarta-feira (14), o chefe da Airbus, Louis Gallois, reuniu-se com todos os sindicatos europeus representados na empresa para esclarecer que não haveria recuos quanto a implementação do plano de reestruturação.

Depois do encontro, o presidente do conselho francês conjunto, Jean Jean-François Knepper (FO) declarou: “nós não fizemos nenhum progresso. O comitê executivo está pronto para falar com a gente mas não nos deu espaço para atuarmos”.

Apesar disso os sindicatos continuam mantendo o seu plano de atividades descentralizadas. Na Espanha, cerca de 9.000 trabalhadores da EADS (European Aeronautic Defence and Space) e de terceirizadas realizarão uma greve por tempo determinado, e na Airbus francesa os trabalhadores se manifestarão em frente aos centros de operação da empresa na capital.

De um lado, o objetivo desses protestos isolados é o de proteger os sindicatos, procurando demonstrar que eles não estão em completa inatividade. Por outro, as ações servem para impedir que os trabalhadores se unam, ultrapassando as fronteiras e conduzindo uma luta efetiva contra o programa de reestruturação. Em nome da defesa das “localidades” individuais, os trabalhadores são jogados uns contra os outros.

A maioria dos trabalhadores rejeita tal atuação. Nossa última conversa em Méaulte foi com dois jovens trabalhadores da região de Amiens. Ambos estavam completando o treinamento como engenheiros de produção e tinham um contrato temporário de 18 meses na fábrica da Airbus. Eles não tinham idéia do que aconteceria a eles após o término de seus contratos, mas eles dois gostariam de continuar na companhia.

Eles disseram que havia um total de 150 trabalhadores em Méaulte com contratos temporários, embora esse número já tenha sido muito maior.

Ambos expressaram total falta de confiança nos sindicatos. “Eles olham somente para si mesmos”, disseram eles. Depois de tudo, eles todos “têm suas mãos sobre o pote de mel”.

Deve se dar um fim às brigas dos trabalhadores franceses contra seus colegas alemães, disse um deles. Considerando que a região é o local dos campos de batalha da I Guerra Mundial, onde dezenas de milhares de alemães, franceses e ingleses perderam suas vidas, seu comentário foi totalmente apropriado.

A visita a fábrica da Airbus em Méaulte deixou duas coisas claras: primeiro, o papel dos sindicatos, que negaram aos trabalhadores até mesmo as informações mais elementares e procuraram dividi-los; em segundo lugar, a distância existente entre os trabalhadores e essas organizações.