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Aliados na miséria e na barbárie mundial

Bush e Lula fecham grandes negócios

Por Hector Benoit
9 Marzo 2007

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Sao Paulo: O presidente dos EUA, George Bush, visita o Brasil nos próximos dias 08 e 09 de março. Chega às 19:30 encontrando-se com Lula no dia 09 pela manhã, quando ambos visitam o terminal da Transpetro, em Guarulhos, município de São Paulo. Não por acaso, ocorrerá esse “passeio turístico” pela Transpetro: a empresa é a maior armadora da América Latina e a principal centralizadora de logística e transporte do Brasil na área de combustíveis, tema central da agenda de Bush com Lula nesta viajem. Braço da Petrobrás, a Transpetro atende às atividades de transporte e armazenagem de petróleo e derivados, álcool e gás natural, operando uma frota de 51 navios, 10 mil quilômetros de malha dutoviária e 44 terminais terrestres e aquaviários.

A visita de Bush, que será retribuída por Lula ainda em fim de março, provavelmente, vai selar um gigantesco plano de expansão na produção mundial do etanol, a partir da cana-de-açúcar, tecnologia dominada amplamente pelo Brasil. A visita de Bush, assim, pode ser o começo de uma verdadeira revolução na área da produção de biocombustíveis. Como se sabe, a produção de biocombustíveis vem sendo desenvolvida, há algum tempo, em diversos países, a partir de várias matérias primas, desde madeiras, gorduras animais, soja, milho e outras matérias alternativas.

A estratégia da produção de biocombustíveis tornou-se uma necessidade urgente diante dos estoques limitados que restam de petróleo nas diversas áreas do mundo. Alguns especialistas mais pessimistas acreditam que as reservas de petróleo, caso for mantido o consumo atual, seriam suficientes apenas para mais algumas décadas. Além desses limites de ordem natural, enfrentam-se sérios problemas geopolíticos: países como a Venezuela, o Iraque e o Irã são alguns dos detentores das maiores reservas restantes de petróleo e, evidentemente, pretendem usufruir politicamente e economicamente de suas riquezas, causando grandes problemas para as grandes potências capitalistas, maiores consumidoras de energia.

Nos EUA, por exemplo, alternativas na área do biocombustível já vêm sendo desenvolvidas há algum tempo. Em Iowa, pequena localidade situada no centro dos EUA, desenvolve-se biocombustível a partir do milho. Hoje a produção do etanol na região já corresponde a um PIB aproximado de US$ 8 bilhões, e cerca de 30 novas usinas devem começar a sua produção nos próximos 12 meses. Mas, tudo isso é muito pouco diante do plano que Bush e Lula pretendem começar a implementar nesta semana.

O projeto visa a transformação do álcool em um combustível que venha a se tornar uma “commodity” internacional, ou seja, uma matéria prima comercializada em larga escala no mercado mundial. Claro que nesse processo há o envolvimento de amplos setores do grande capital internacional. Bush e Lula são apenas duas marionetes de um jogo gigantesco do capital internacional.

Entre os grandes jogadores mundiais, destaca-se Vinod Khosla, empresário indiano-americano, inicialmente conhecido pela suas atividades na Sun Microsystems. Hoje, Vinod surge como um dos articuladores principais da produção de biocombustíveis a escala mundial. No caso desse acordo que começa a ser implementado entre o Brasil e os EUA, o empresário mostra-se muito otimista. Segundo Khosla, “a tecnologia americana, a visibilidade, a adoção de padrões de etanol e recursos financeiros vão ajudar o Brasil em uma commodity que vai movimentar mais de 1 trilhão de dólares nos próximos 25 a 30 anos”.

Um dos outros envolvidos no processo é o empresário e ex-ministro da agricultura de Lula, Roberto Rodrigues. Assumindo ares de teórico e filósofo, afirma Rodrigues que “enquanto o século passado fora marcado pela segurança alimentar, a bioenergia será o paradigma do desenvolvimento deste século”. Na verdade, porém, parece que a questão não é tão simples. Ao contrário, segundo especialistas, pode mesmo ocorrer justamente o contrário: a grande preocupação capitalista hoje demonstrada na produção do bioenergia pode aprofundar todos os problemas ainda não resolvidos de segurança alimentar.

Mas, compreende-se melhor a “filosofia” do empresário Roberto Rodrigues, quando recordamos que além de grande produtor agrícola, além de ex-ministro da agricultura de Lula, o senhor Rodrigues é membro de um grupo internacional intitulado “Comissão Hemisférica de Bioenergia”, cujo objetivo é usar a iniciativa privada, junto com recursos públicos, num projeto de produção e comércio mundial de energia renovável. Curiosamente, um dos criadores de tal comissão Hemisférica, por uma incrível coincidência, é justamente o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, que também, por incrível coincidência, é irmão do presidente americano George Bush. Como se vê os bons negócios em bioenergia são realizados mesclando-se, sem grandes escrúpulos, os interesses estatais e familiares

O desenvolvimento dos projetos de biocombustível é apresentado, pelos empresários e políticos envolvidos, como uma grande solução para os problemas ecológicos causados pelo consumo poluidor de petróleo. No entanto, como também já advertem especialistas, os milhões e milhões de hectares que serão usados para os fins da produção de biocombustível devastarão mais ainda imensas áreas rurais, agravando mais ainda a destruição ecológica do planeta.

Além disso, como dissemos acima, com quase certeza, a produção massiva de biocombustíveis encarecerá os produtos alimentares e aumentará a fome e miséria no planeta. Só no caso do Brasil, calcula-se que mais de 20 milhões de hectares serão usados para plantar cana-de-açúcar. Ora, certamente, isso afetará o preço do milho, da soja, e de outros alimentos que dependem de áreas para cultivo, assim como, aumentará o custo das rações animais, provocando alta no custo de diversos tipos de carne animal.

Aliás, este fenômeno já vem ocorrendo nos EUA, que ao produzir etanol através do milho, causou o encarecimento das rações de animais e do próprio milho utilizado para a alimentação de seres humanos. Recentemente, como se sabe, a tradicional “tortilla”, alimento básico dos mexicanos produzida à base de milho sofreu aumento significativo que causou diversos protestos da sofrida população trabalhadora mexicana. Também recentemente, o célebre “Ketchup”, que é adoçado com xarope à base de milho, viu-se ameaçado pela utilização desse produto como matéria de biocombustível, e estudava-se a produção de um xarope adocicado à base de cana-de-açúcar para criar o novo modelo de “Ketchup” pós-bioenergia.

Como se vê, certamente, esse gigantesco plano que Bush e Lula pretendem selar esta semana em torno do álcool, transformando o etanol em commodity, terá conseqüências péssimas nos preços de diversos alimentos básicos da população trabalhadora do mundo inteiro, assim como conseqüências ambientais ainda não claramente calculáveis.

Para que se tenha uma idéia da dimensão do plano, se tudo der certo, somente o Brasil deve criar em média uma usina de álcool e açúcar por mês nos próximos seis anos. Conforme o jornal o Estado de São Paulo, as 336 usinas existentes atualmente devem chegar a 409 usinas até 2012/2013. Graças à tecnologia brasileira de produção de etanol, que inclui, sem dúvida, a super-exploração dos trabalhadores rurais, o Brasil produz o barril de etanol a US$ 25, enquanto que nos EUA, o barril de etanol sai por US$ 55 dólares. Outro dado importante: o Brasil produz 6.000 litros de etanol por hectare e os EUA apenas 3.500 litros por hectare.

Como se vê, a aliança Bush-Lula para o progresso do etanol à base de cana-de-acúçar, promete grandes lucros para o grande capital internacional, mas também, certamente, maior miséria para os trabalhadores, mais barbárie na devastação da natureza, maior exploração de mão-de-obra barata, em suma, avanço considerável na destruição do nosso mísero planeta.

Coincidentemente, enquanto espera a visita do seu colega americano, Lula declarou esta semana, para a surpresa até dos seus “companheiros” do PT, que um governo de ex-sindicalistas, como o dele, possui total autoridade para estabelecer limites para greves abusivas, sobretudo, em setores essenciais. Ora, provavelmente, a produção de biocombustível e de todo tipo de bioenergia já é considerado um dos “setores essenciais” dos governos Lula-Bush, fiéis aliados no avanço da miséria e da barbárie mundial do capitalismo.

Nesse sentido, basta dizer que até as tropas brasileiras no Haiti parecem fazer parte do plano Lula-Bush. Existem rumores que o Brasil poderia ser a ponta de lança para criar usinas de bioenergia à base de cana-de açúcar naquele país. Por petróleo ou por cana-de-açúcar, no Iraque ou no Haiti, o capital avança sem rumo destruindo o planeta.