Sao Paulo: O presidente dos EUA, George Bush, visita o Brasil
nos próximos dias 08 e 09 de março. Chega às
19:30 encontrando-se com Lula no dia 09 pela manhã, quando
ambos visitam o terminal da Transpetro, em Guarulhos, município
de São Paulo. Não por acaso, ocorrerá esse
passeio turístico pela Transpetro: a empresa
é a maior armadora da América Latina e a principal
centralizadora de logística e transporte do Brasil na área
de combustíveis, tema central da agenda de Bush com Lula
nesta viajem. Braço da Petrobrás, a Transpetro atende
às atividades de transporte e armazenagem de petróleo
e derivados, álcool e gás natural, operando uma
frota de 51 navios, 10 mil quilômetros de malha dutoviária
e 44 terminais terrestres e aquaviários.
A visita de Bush, que será retribuída por Lula
ainda em fim de março, provavelmente, vai selar um gigantesco
plano de expansão na produção mundial do
etanol, a partir da cana-de-açúcar, tecnologia dominada
amplamente pelo Brasil. A visita de Bush, assim, pode ser o começo
de uma verdadeira revolução na área da produção
de biocombustíveis. Como se sabe, a produção
de biocombustíveis vem sendo desenvolvida, há algum
tempo, em diversos países, a partir de várias matérias
primas, desde madeiras, gorduras animais, soja, milho e outras
matérias alternativas.
A estratégia da produção de biocombustíveis
tornou-se uma necessidade urgente diante dos estoques limitados
que restam de petróleo nas diversas áreas do mundo.
Alguns especialistas mais pessimistas acreditam que as reservas
de petróleo, caso for mantido o consumo atual, seriam suficientes
apenas para mais algumas décadas. Além desses limites
de ordem natural, enfrentam-se sérios problemas geopolíticos:
países como a Venezuela, o Iraque e o Irã são
alguns dos detentores das maiores reservas restantes de petróleo
e, evidentemente, pretendem usufruir politicamente e economicamente
de suas riquezas, causando grandes problemas para as grandes potências
capitalistas, maiores consumidoras de energia.
Nos EUA, por exemplo, alternativas na área do biocombustível
já vêm sendo desenvolvidas há algum tempo.
Em Iowa, pequena localidade situada no centro dos EUA, desenvolve-se
biocombustível a partir do milho. Hoje a produção
do etanol na região já corresponde a um PIB aproximado
de US$ 8 bilhões, e cerca de 30 novas usinas devem começar
a sua produção nos próximos 12 meses. Mas,
tudo isso é muito pouco diante do plano que Bush e Lula
pretendem começar a implementar nesta semana.
O projeto visa a transformação do álcool
em um combustível que venha a se tornar uma commodity
internacional, ou seja, uma matéria prima comercializada
em larga escala no mercado mundial. Claro que nesse processo há
o envolvimento de amplos setores do grande capital internacional.
Bush e Lula são apenas duas marionetes de um jogo gigantesco
do capital internacional.
Entre os grandes jogadores mundiais, destaca-se Vinod Khosla,
empresário indiano-americano, inicialmente conhecido pela
suas atividades na Sun Microsystems. Hoje, Vinod surge como um
dos articuladores principais da produção de biocombustíveis
a escala mundial. No caso desse acordo que começa a ser
implementado entre o Brasil e os EUA, o empresário mostra-se
muito otimista. Segundo Khosla, a tecnologia americana,
a visibilidade, a adoção de padrões de etanol
e recursos financeiros vão ajudar o Brasil em uma commodity
que vai movimentar mais de 1 trilhão de dólares
nos próximos 25 a 30 anos.
Um dos outros envolvidos no processo é o empresário
e ex-ministro da agricultura de Lula, Roberto Rodrigues. Assumindo
ares de teórico e filósofo, afirma Rodrigues que
enquanto o século passado fora marcado pela segurança
alimentar, a bioenergia será o paradigma do desenvolvimento
deste século. Na verdade, porém, parece que
a questão não é tão simples. Ao contrário,
segundo especialistas, pode mesmo ocorrer justamente o contrário:
a grande preocupação capitalista hoje demonstrada
na produção do bioenergia pode aprofundar todos
os problemas ainda não resolvidos de segurança alimentar.
Mas, compreende-se melhor a filosofia do empresário
Roberto Rodrigues, quando recordamos que além de grande
produtor agrícola, além de ex-ministro da agricultura
de Lula, o senhor Rodrigues é membro de um grupo internacional
intitulado Comissão Hemisférica de Bioenergia,
cujo objetivo é usar a iniciativa privada, junto com recursos
públicos, num projeto de produção e comércio
mundial de energia renovável. Curiosamente, um dos criadores
de tal comissão Hemisférica, por uma incrível
coincidência, é justamente o ex-governador da Flórida,
Jeb Bush, que também, por incrível coincidência,
é irmão do presidente americano George Bush. Como
se vê os bons negócios em bioenergia são realizados
mesclando-se, sem grandes escrúpulos, os interesses estatais
e familiares
O desenvolvimento dos projetos de biocombustível é
apresentado, pelos empresários e políticos envolvidos,
como uma grande solução para os problemas ecológicos
causados pelo consumo poluidor de petróleo. No entanto,
como também já advertem especialistas, os milhões
e milhões de hectares que serão usados para os fins
da produção de biocombustível devastarão
mais ainda imensas áreas rurais, agravando mais ainda a
destruição ecológica do planeta.
Além disso, como dissemos acima, com quase certeza,
a produção massiva de biocombustíveis encarecerá
os produtos alimentares e aumentará a fome e miséria
no planeta. Só no caso do Brasil, calcula-se que mais de
20 milhões de hectares serão usados para plantar
cana-de-açúcar. Ora, certamente, isso afetará
o preço do milho, da soja, e de outros alimentos que dependem
de áreas para cultivo, assim como, aumentará o custo
das rações animais, provocando alta no custo de
diversos tipos de carne animal.
Aliás, este fenômeno já vem ocorrendo nos
EUA, que ao produzir etanol através do milho, causou o
encarecimento das rações de animais e do próprio
milho utilizado para a alimentação de seres humanos.
Recentemente, como se sabe, a tradicional tortilla,
alimento básico dos mexicanos produzida à base de
milho sofreu aumento significativo que causou diversos protestos
da sofrida população trabalhadora mexicana. Também
recentemente, o célebre Ketchup, que é
adoçado com xarope à base de milho, viu-se ameaçado
pela utilização desse produto como matéria
de biocombustível, e estudava-se a produção
de um xarope adocicado à base de cana-de-açúcar
para criar o novo modelo de Ketchup pós-bioenergia.
Como se vê, certamente, esse gigantesco plano que Bush
e Lula pretendem selar esta semana em torno do álcool,
transformando o etanol em commodity, terá conseqüências
péssimas nos preços de diversos alimentos básicos
da população trabalhadora do mundo inteiro, assim
como conseqüências ambientais ainda não claramente
calculáveis.
Para que se tenha uma idéia da dimensão do plano,
se tudo der certo, somente o Brasil deve criar em média
uma usina de álcool e açúcar por mês
nos próximos seis anos. Conforme o jornal o Estado de São
Paulo, as 336 usinas existentes atualmente devem chegar a 409
usinas até 2012/2013. Graças à tecnologia
brasileira de produção de etanol, que inclui, sem
dúvida, a super-exploração dos trabalhadores
rurais, o Brasil produz o barril de etanol a US$ 25, enquanto
que nos EUA, o barril de etanol sai por US$ 55 dólares.
Outro dado importante: o Brasil produz 6.000 litros de etanol
por hectare e os EUA apenas 3.500 litros por hectare.
Como se vê, a aliança Bush-Lula para o progresso
do etanol à base de cana-de-acúçar, promete
grandes lucros para o grande capital internacional, mas também,
certamente, maior miséria para os trabalhadores, mais barbárie
na devastação da natureza, maior exploração
de mão-de-obra barata, em suma, avanço considerável
na destruição do nosso mísero planeta.
Coincidentemente, enquanto espera a visita do seu colega americano,
Lula declarou esta semana, para a surpresa até dos seus
companheiros do PT, que um governo de ex-sindicalistas,
como o dele, possui total autoridade para estabelecer limites
para greves abusivas, sobretudo, em setores essenciais. Ora, provavelmente,
a produção de biocombustível e de todo tipo
de bioenergia já é considerado um dos setores
essenciais dos governos Lula-Bush, fiéis aliados
no avanço da miséria e da barbárie mundial
do capitalismo.
Nesse sentido, basta dizer que até as tropas brasileiras
no Haiti parecem fazer parte do plano Lula-Bush. Existem rumores
que o Brasil poderia ser a ponta de lança para criar usinas
de bioenergia à base de cana-de açúcar naquele
país. Por petróleo ou por cana-de-açúcar,
no Iraque ou no Haiti, o capital avança sem rumo destruindo
o planeta.