Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 7 de fevereiro de 2007
A proposta orçamentária do presidente George
W. Bush propõe tornar permanente o corte de impostos realizados
em 2001 e 2003, que estão previstos para terminar em 2010.
Isso poderá ampliar ainda mais o abismo entre a elite rica
e o resto da população.
Um estudo conduzido por um instituto liberal denominado Centro
de Estudos do Orçamento e Prioridades Políticas
[Center on Budget and Policy Priorities (CBPP)], afirma
que o custo para financiar os cortes de impostos implementados
pelo governo Bush e pelo congresso desde 2001 - incluindo cortes
na taxa de rendimentos pessoais, a anulação da taxa
sobre a propriedade e as reduções nas taxas de ganho
de capital e de dividendos - poderia girar em torno de US$ 3,5
trilhões para a próxima década, o que contribuiria
para aumentar os juros pagos pelo governo para saldar a dívida
pública federal.
Os cortes nos impostos, que representam um roubo massivo ao
tesouro federal para privilegiar os ricos, foram considerados
pelo governo uma vantagem econômica. O relatório
do CBPP desvenda a falsidade das alegações dos membros
do governo de que eles (os cortes nos impostos) pagam-se
por si mesmos, ou a afirmação que Bush fez
em novembro, de que esses cortes foram responsáveis pelo
crescimento econômico.
A realidade é que se esses cortes tornarem-se permanentes,
1% das famílias mais ricas dos EUA receberão mais
que US$ 1 trilhão em benefícios fiscais na década
que vai de 2008 à 2017 - aproximadamente um terço
do valor total dos cortes nos impostos. Famílias com receita
anual maior que US$ 1 milhão, que representam cerca de
0,3% da população, podem ser beneficiadas com cortes
de US$ 739 bilhões, ou 22% do valor total dos cortes dos
impostos.
As famílias mais pobres - cerca de 60% da população
- seriam beneficiadas com apenas 12% do total dos cortes - menos
da metade do valor destinado aos 1% mais ricos.
Em valores atuais, a magnitude do impacto dos cortes nos impostos
em 2012 seria incrível. Cortes para aquelas famílias
que recebem mais que US$ 1 milhão podem exceder o montante
gasto pelo governo federal com a educação primária
e secundária, ou como os gastos em cuidados médicos
para veteranos de guerra e pesquisas médicas conduzidas
pelo Instituto Nacional de Saúde.
O custo dos cortes para as famílias mais ricas (1% da
população) pode exceder a soma dos orçamentos
para 2006 dos Departamentos de Habitação e Desenvolvimento
Urbano, Energia e a Agência de Proteção Ambiental.
Esse pequeno grupo pode receber um alívio nos
impostos que supera os orçamentos para 2006 dos Departamentos
de Segurança Interna e o de Ajuda aos Veteranos.
O CBPP argumenta que os cortes nos impostos
de 2001 e 2003 só podem ser compreendidos se considerarmos
que os cortes destinados aos 20% mais ricos da população
são financiados pelo aumento das taxas ou pela diminuição
dos benefícios destinados aos 80% mais pobres.
Para que Bush consiga tornar permanentes os cortes das taxas
sem interferir no orçamento até 2012, serão
necessários cortes substanciais aos programas domésticos,
significando um total de quase US$ 150 bilhões nos próximos
cinco anos num conjunto de programas não garantidos
legalmente, incluindo programas educacionais, ambientais e de
auxílio a veteranos de guerras, entre outros.
Entretanto, os cortes projetados para os programas domésticos
nos próximos cinco anos podem ser menores que o custo dos
cortes para as famílias com rendimentos superiores a US$
1 milhão. Por exemplo, cortes no orçamento para
programas domésticos em 2012 - no orçamento defendido
por Bush - podem somar US$ 41 bilhões, enquanto os benefícios
fiscais para aqueles que ganham mais que US$ 1 milhão podem
ser de US$ 73 bilhões.
Além disso, de acordo como o CBPP, os dados da
Comissão de Orçamento do Congresso mostram que os
cortes nos impostos são os principais responsáveis
pelo ressurgimento dos substanciais déficits no orçamento
nos últimos anos. As leis decretadas desde 2001 adicionaram
cerca de US$ 2,3 trilhões ao déficit entre 2001
e 2006. Metade desse valor deve-se aos cortes nos impostos (por
volta de 1/3 devido ao incremento nos gastos previdenciários,
e em torno de 1/6 devido ao aumento de despesas domésticas).
O relatório sustenta que os defensores dos cortes
nos impostos freqüentemente baseiam suas argumentações
na diminuição da importância da influência
dos cortes no orçamento do governo, tentando demonstrar
a importância de seus efeitos econômicos, ou ainda
minimizando seu efeito sobre os mais pobres. Ele aponta
que o governo, quando discute o crescimento na arrecadação
dos impostos desde a implementação dos cortes, refere-se
ao crescimento na arrecadação desde 2004. Isso é
falso, uma vez que os rendimentos de uma parte considerável
da economia estavam em 2004 em seu mais baixo nível desde
1959, do que se conclui que uma certa recuperação
seria inevitável.
Uma vez que o crescimento da arrecadação foi
negativo durante o atual ciclo do capital, se considerarmos a
retomada do crescimento econômico e o ajuste da inflação,
a atual explosão da arrecadação
representa apenas a recuperação daqueles níveis
de meia década atrás... O estudo explica que
a arrecadação em 2006 é pelo menos US$ 200
bilhões menor do que poderia ser se tivesse crescido em
níveis similares aos de outras épocas. Se
o governo atribui aos cortes nos impostos uma queda de arrecadação
de apenas US$ 248 bilhões em 2006, isso significa
que o déficit orçamentário poderia ser resolvido
pela eliminação dos cortes, que representam um custo
total de US$ 251 bilhões.
O relatório do CBPP comenta ainda que apesar dos
gastos nas guerras no Iraque e Afeganistão e da reconstrução
dos estragos causados pelo furacão Katrina, o orçamento
federal poderia se equilibrar, caso os cortes no orçamento
não tivessem sido aprovados, ou se seus custos tivessem
sido minimizados... Para dar uma idéia do custo dos corte
dos impostos à longo prazo, basta observar que o déficit
causado pelo Sistema de Seguridade Social nos próximos
75 anos - sobre o qual o presidente e líderes do congresso
expressaram grandes preocupações - representa apenas
1/3 do custo dos cortes nos impostos durante o mesmo período.
Em 2004, 1% das famílias norte-americanas mais ricas
obteve o maior rendimento desde 1929, com exceção
de 1999 e 2000, quando ocorreu o boom das empresas da internet.