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França: milhares de trabalhadores da Airbus fazem greve e manifestações em defesa do emprego

Por Antoine Lerougetel
12 Marzo 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 8 de março de 2007.

20.000 trabalhadores da Airbus na França participaram de uma greve de meio período na terça-feira (06) para protestar contra o severo plano chamado “Força 8”, que eliminará 10.000 empregos — 11,5% do total de trabalhadores — nas plantas européias da companhia. Os manifestantes realizaram atos pela manhã no principal centro de produção da França, e foram apoiados pelas comunidades locais, que dependiam dessas fábricas para sobreviver. Cerca de 85 a 90% dos trabalhadores aderiram à greve.

Um total de 4.300 trabalhadores está enfrentando o risco de ser demitido na França — 3.700 na Alemanha, 1.600 na Inglaterra e 400 na Espanha. A Airbus emprega atualmente 23.000 trabalhadores na Alemanha, 19.000 na França, 10.000 na Grã Bretanha e 3.000 na Espanha.

A Força 8 é somente uma parte dos programas de reestruturação da economia francesa que prevêem grandes cortes de emprego. Outras empresas afetadas pelo corte de empregos e pela racionalização são Alcatel-Lucent, Michelin, Renault e PSA Peugeot-Citroën.

As pessoas que se manifestaram em Toulouse enfrentaram uma forte chuva durante o protesto. Toulouse é o principal centro de produção da Airbus, onde trabalham aproximadamente 15.000 pessoas, que são trazidas por cerca de 120 ônibus todos os dias de uma região próxima. Trezentos estavam nas ruas em Saint-Nazaire e 500 em Nantes, onde a segunda e a terceira maiores plantas da França estão situadas. Eles tiveram o apoio de trabalhadores do estado e da Alcatel-Lucent (a gigante das telecomunicações franco-americana que está reduzindo seu número de trabalhadores em 12.500, incluindo 1.800 na França) e da Walor, uma terceirizada da área automobilística.

Um grande número de manifestantes participou da passeata que partiu da fábrica de Méaulte na cidade de Picardy, que emprega 1.300 trabalhadores, para a cidade vizinha de Albert. A marcha foi conduzida por dois tratores e apoiada por fazendeiros e trabalhadores agrícolas, assim como por trabalhadores de empresas terceirizadas, trabalhadores de engenharia da região e vários prefeitos, que levavam faixas.

Nas faixas agitadas na passeata estava escrito: “defesa da indústria de aeronaves”, “empregos para a Airbus e suas terceirizadas”, “há um piloto no avião?” e, em referência à possibilidade da produção do modelo A320 na Alemanha, “Airbus A320 em Toulouse”.

Este último cartaz reflete os esforços do sindicato em evitar a generalização da resistência ao plano Força 8 em toda a companhia, transformando-a numa disputa nacionalista, que proponha uma divisão “correta” dos cortes de empregos e das medidas de reestruturação entre os países.

Jean-François Knepper, o representante da FO (Force Ouvrière, sindicato ligado ao Partido Socialista) no Comitê Europeu da Airbus, comentou sobre a mobilização, demonstrando o tom nacionalista dos sindicatos: “esta grande manifestação é organizada para dizer não à transferência do modelo A320 para a Alemanha e ao fechamento de Méaulte. Nós não queremos tornar-nos uma parte inferior da Airbus, queremos conquistar novas atividades”.

O secretário nacional da FO, Jean-Claude Mailly, marchando à frente da manifestação de Toulouse, atrás da faixa da união dos sindicatos e ao lado de dirigentes das principais confederações francesas de sindicatos, evitou provocar qualquer politização do movimento e pediu a intervenção do Estado. Ele disse à imprensa: “deverá haver uma nova injeção de capital... o Estado, com 15% do capital, deve assumir uma responsabilidade especial”. Ele acrescentou ainda: “eu sinto que o governo está se desviando”.

Ele estava se referindo à proposta do primeiro ministro Dominique de Villepin de investir 100 milhões de euros na companhia, e também à mudança da postura do candidato à presidência pela UMP (União por um Movimento Popular) e atual ministro do interior, Nicolas Sarkozy. Este último, que é um liberal assumido, pediu que a Airbus tomasse sozinha suas próprias decisões. Logo depois, entretanto, por óbvios interesses eleitorais, mudou sua proposta e passou a defender um “nacionalismo econômico”, dizendo que o Estado poderia intervir como havia feito o ministro das finanças em 2004, quando a empresa de engenharia Alstrom enfrentava dificuldades: “eu decidi não deixar a Airbus falir”, declarou Sarkozy. “Se nós precisamos estimular os investimentos do Estado na Airbus, por que não o faríamos?” Ele defende ainda que a estrutura da administração seja posta sob um comando único, diferentemente da atual presidência dupla, que serve para representar os dois lados (francês e alemão) do grupo.

Nem Villepin nem Sarkozy fizeram a menor promessa de salvar os empregos. Na segunda-feira, numa entrevista à TV, Sarkozy negou que haveria qualquer ataque aos empregos, dizendo que os cortes de empregos seriam realizados estimulando os trabalhadores a pedirem demissão, a aposentadoria prematura e outras possibilidades. Todavia, tais promessas são completamente irreais, tendo em vista que ao menos seis locais de produção serão fechados na Europa. O plano visa vender duas fábricas na França, uma das quais é Méaulte.

Ségolène Royal, oponente de Sarkozy à presidência pelo Partido Socialista, tem propostas similares, mas quer ainda envolver os conselhos regionais na injeção de capital. A maioria desses conselhos é liderada pelo Partido Socialista e seus aliados, que estabeleceram uma organização para o “Salvamento da Indústria de Aeronaves”, com representantes das regiões e dos sindicatos.

Na terça-feira de manhã, os repórteres do WSWS cobriram a manifestação dos 2.000 trabalhadores na região de Méaulte, que incluiu uma passeata em frente à prefeitura de Albert. Os manifestantes permaneceram sob a chuva para ouvir um funesto discurso de Claude Cliquet, o principal dirigente da FO na unidade, falando em nome de todos os outros sindicatos — notadamente a CGT (Confederação Geral do Trabalho tradicionalmente ligada ao Partido Comunista) e a CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho).

Aceitando tacitamente o acordo de reestruturação, Cliquet pediu um tratamento honesto às partes alemã e francesa da companhia. Enquanto acusava tanto os acionistas da Alemanha e da Daimler de “bulimia”, ele pediu aos acionistas que aumentassem seus investimentos e atacou de forma chauvisnista o Banco Central Europeu, cujo presidente Jean-Claude Trichet, um “francês”, por não fazer nada para equiparar o euro ao dólar. Ele exigiu implicitamente o aumento da competitividade para impulsionar os lucros da Airbus.

Cliquet não fez nenhuma menção às 16 manifestações de março em Bruxelas contra a Força 8, ou de qualquer plano para continuar uma luta mais ampla. Sua intervenção recebeu poucos aplausos. Mais da metade das pessoas presentes à manifestação manteve as mãos nos bolsos.

Bernard Déas, um trabalhador da Airbus que está prestes a se aposentar, disse à imprensa: “nós somos contra o fechamento. Se ela (a unidade de Méatule) parece salva no momento, qual será a situação daqui a cinco anos? A sobrevivência da Airbus é importante para garantir emprego aos jovens, aos comerciantes, às terceirizadas... Estamos preocupados com a juventude”.

Christophe, um aprendiz, disse ao WSWS: “meu futuro é incerto. Estou sendo treinado na Airbus como operador de uma máquina digital de alta velocidade que produz canos para combustível. Eu não estou seguro se vou manter o meu emprego. Por isso estou aqui apoiando a todos. Há 30 aprendizes como eu em Méatule. Existem outras pessoas sendo treinadas e há ainda os trabalhadores temporários”.

Questionado se a luta deveria envolver os trabalhadores de todos os países onde a Airbus possui fábricas, Christophe disse: “é muito melhor unificar e agir junto, ao invés de fazer um monte de pequenas manifestações”. Ele pensou que a França estava pagando preços melhores que a Alemanha e que o lado alemão da companhia era o responsável pelos atrasos na produção, mas ele reconheceu que os trabalhadores não eram culpados pela crise da Airbus. “Se a Airbus acabar, toda a economia local entrará em colapso — pois destruirá o emprego dos trabalhadores e os negócios pequenos comerciantes”, disse ele.