Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 8 de março de 2007.
20.000 trabalhadores da Airbus na França participaram
de uma greve de meio período na terça-feira (06)
para protestar contra o severo plano chamado Força
8, que eliminará 10.000 empregos 11,5% do
total de trabalhadores nas plantas européias da
companhia. Os manifestantes realizaram atos pela manhã
no principal centro de produção da França,
e foram apoiados pelas comunidades locais, que dependiam dessas
fábricas para sobreviver. Cerca de 85 a 90% dos trabalhadores
aderiram à greve.
Um total de 4.300 trabalhadores está enfrentando o risco
de ser demitido na França 3.700 na Alemanha, 1.600
na Inglaterra e 400 na Espanha. A Airbus emprega atualmente 23.000
trabalhadores na Alemanha, 19.000 na França, 10.000 na
Grã Bretanha e 3.000 na Espanha.
A Força 8 é somente uma parte dos programas de
reestruturação da economia francesa que prevêem
grandes cortes de emprego. Outras empresas afetadas pelo corte
de empregos e pela racionalização são Alcatel-Lucent,
Michelin, Renault e PSA Peugeot-Citroën.
As pessoas que se manifestaram em Toulouse enfrentaram uma
forte chuva durante o protesto. Toulouse é o principal
centro de produção da Airbus, onde trabalham aproximadamente
15.000 pessoas, que são trazidas por cerca de 120 ônibus
todos os dias de uma região próxima. Trezentos estavam
nas ruas em Saint-Nazaire e 500 em Nantes, onde a segunda e a
terceira maiores plantas da França estão situadas.
Eles tiveram o apoio de trabalhadores do estado e da Alcatel-Lucent
(a gigante das telecomunicações franco-americana
que está reduzindo seu número de trabalhadores em
12.500, incluindo 1.800 na França) e da Walor, uma terceirizada
da área automobilística.
Um grande número de manifestantes participou da passeata
que partiu da fábrica de Méaulte na cidade de Picardy,
que emprega 1.300 trabalhadores, para a cidade vizinha de Albert.
A marcha foi conduzida por dois tratores e apoiada por fazendeiros
e trabalhadores agrícolas, assim como por trabalhadores
de empresas terceirizadas, trabalhadores de engenharia da região
e vários prefeitos, que levavam faixas.
Nas faixas agitadas na passeata estava escrito: defesa
da indústria de aeronaves, empregos para a
Airbus e suas terceirizadas, há um piloto no
avião? e, em referência à possibilidade
da produção do modelo A320 na Alemanha, Airbus
A320 em Toulouse.
Este último cartaz reflete os esforços do sindicato
em evitar a generalização da resistência ao
plano Força 8 em toda a companhia, transformando-a numa
disputa nacionalista, que proponha uma divisão correta
dos cortes de empregos e das medidas de reestruturação
entre os países.
Jean-François Knepper, o representante da FO (Force
Ouvrière, sindicato ligado ao Partido Socialista) no
Comitê Europeu da Airbus, comentou sobre a mobilização,
demonstrando o tom nacionalista dos sindicatos: esta grande
manifestação é organizada para dizer não
à transferência do modelo A320 para a Alemanha e
ao fechamento de Méaulte. Nós não queremos
tornar-nos uma parte inferior da Airbus, queremos conquistar novas
atividades.
O secretário nacional da FO, Jean-Claude Mailly, marchando
à frente da manifestação de Toulouse, atrás
da faixa da união dos sindicatos e ao lado de dirigentes
das principais confederações francesas de sindicatos,
evitou provocar qualquer politização do movimento
e pediu a intervenção do Estado. Ele disse à
imprensa: deverá haver uma nova injeção
de capital... o Estado, com 15% do capital, deve assumir uma responsabilidade
especial. Ele acrescentou ainda: eu sinto que o governo
está se desviando.
Ele estava se referindo à proposta do primeiro ministro
Dominique de Villepin de investir 100 milhões de euros
na companhia, e também à mudança da postura
do candidato à presidência pela UMP (União
por um Movimento Popular) e atual ministro do interior, Nicolas
Sarkozy. Este último, que é um liberal assumido,
pediu que a Airbus tomasse sozinha suas próprias decisões.
Logo depois, entretanto, por óbvios interesses eleitorais,
mudou sua proposta e passou a defender um nacionalismo econômico,
dizendo que o Estado poderia intervir como havia feito o ministro
das finanças em 2004, quando a empresa de engenharia Alstrom
enfrentava dificuldades: eu decidi não deixar a Airbus
falir, declarou Sarkozy. Se nós precisamos
estimular os investimentos do Estado na Airbus, por que não
o faríamos? Ele defende ainda que a estrutura da
administração seja posta sob um comando único,
diferentemente da atual presidência dupla, que serve para
representar os dois lados (francês e alemão) do grupo.
Nem Villepin nem Sarkozy fizeram a menor promessa de salvar
os empregos. Na segunda-feira, numa entrevista à TV, Sarkozy
negou que haveria qualquer ataque aos empregos, dizendo que os
cortes de empregos seriam realizados estimulando os trabalhadores
a pedirem demissão, a aposentadoria prematura e outras
possibilidades. Todavia, tais promessas são completamente
irreais, tendo em vista que ao menos seis locais de produção
serão fechados na Europa. O plano visa vender duas fábricas
na França, uma das quais é Méaulte.
Ségolène Royal, oponente de Sarkozy à
presidência pelo Partido Socialista, tem propostas similares,
mas quer ainda envolver os conselhos regionais na injeção
de capital. A maioria desses conselhos é liderada pelo
Partido Socialista e seus aliados, que estabeleceram uma organização
para o Salvamento da Indústria de Aeronaves,
com representantes das regiões e dos sindicatos.
Na terça-feira de manhã, os repórteres
do WSWS cobriram a manifestação dos 2.000 trabalhadores
na região de Méaulte, que incluiu uma passeata em
frente à prefeitura de Albert. Os manifestantes permaneceram
sob a chuva para ouvir um funesto discurso de Claude Cliquet,
o principal dirigente da FO na unidade, falando em nome de todos
os outros sindicatos notadamente a CGT (Confederação
Geral do Trabalho tradicionalmente ligada ao Partido Comunista)
e a CFDT (Confederação Francesa Democrática
do Trabalho).
Aceitando tacitamente o acordo de reestruturação,
Cliquet pediu um tratamento honesto às partes alemã
e francesa da companhia. Enquanto acusava tanto os acionistas
da Alemanha e da Daimler de bulimia, ele pediu aos
acionistas que aumentassem seus investimentos e atacou de forma
chauvisnista o Banco Central Europeu, cujo presidente Jean-Claude
Trichet, um francês, por não fazer nada
para equiparar o euro ao dólar. Ele exigiu implicitamente
o aumento da competitividade para impulsionar os lucros da Airbus.
Cliquet não fez nenhuma menção às
16 manifestações de março em Bruxelas contra
a Força 8, ou de qualquer plano para continuar uma luta
mais ampla. Sua intervenção recebeu poucos aplausos.
Mais da metade das pessoas presentes à manifestação
manteve as mãos nos bolsos.
Bernard Déas, um trabalhador da Airbus que está
prestes a se aposentar, disse à imprensa: nós
somos contra o fechamento. Se ela (a unidade de Méatule)
parece salva no momento, qual será a situação
daqui a cinco anos? A sobrevivência da Airbus é importante
para garantir emprego aos jovens, aos comerciantes, às
terceirizadas... Estamos preocupados com a juventude.
Christophe, um aprendiz, disse ao WSWS: meu futuro é
incerto. Estou sendo treinado na Airbus como operador de uma máquina
digital de alta velocidade que produz canos para combustível.
Eu não estou seguro se vou manter o meu emprego. Por isso
estou aqui apoiando a todos. Há 30 aprendizes como eu em
Méatule. Existem outras pessoas sendo treinadas e há
ainda os trabalhadores temporários.
Questionado se a luta deveria envolver os trabalhadores de
todos os países onde a Airbus possui fábricas, Christophe
disse: é muito melhor unificar e agir junto, ao invés
de fazer um monte de pequenas manifestações.
Ele pensou que a França estava pagando preços melhores
que a Alemanha e que o lado alemão da companhia era o responsável
pelos atrasos na produção, mas ele reconheceu que
os trabalhadores não eram culpados pela crise da Airbus.
Se a Airbus acabar, toda a economia local entrará
em colapso pois destruirá o emprego dos trabalhadores
e os negócios pequenos comerciantes, disse ele.