Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 22 de fevereiro de 2007.
Milhares de empregos serão eliminados na região
sudeste de Michigan, assim como em outros estados do meio-oeste,
como resultado dos planos de reestruturação anunciados
pela DaimlerChrysler há duas semanas. Oito fábricas
em Michigan, Ohio e Indiana serão afetadas, além
de outras três anunciadas mais tarde. Todas fazem parte
do plano para eliminar 13.000 empregos do Grupo Chrysler nos EUA
e no Canadá.
De acordo com a declaração da companhia, as fábricas
anunciadas posteriormente produzem peças para veículos
utilitários esportivos de baixa demanda, pick-ups e outros
veículos robustos, que terão sua produção
diminuída num período que inicia agora e se estende
até 2009.
Mais de metade da perda de empregos nos EUA5.300 dos
11.000ocorrerão em Detroit e seus subúrbios
próximos. Na década de 1950, quando quatro em cada
cinco carros no mundo eram fabricados nos EUA, a região
de Detroit tinha a maior média de pedidos nacionais entre
todas as cidades americanas. Hoje, depois de três décadas
de fechamentos de fábricas e demissões em massa,
a Cidade do Motor é uma das mais empobrecidas
metrópoles da América.
Já afetada pelas demissões ocorridas na GM, na
Ford e na fornecedora de peças Delphi no ano passado, Michigan
tem a segunda mais alta taxa de desemprego do país, um
número recorde de pessoas sendo despejadas de suas casas
e buscando programas emergenciais de assistência alimentar.
O fechamento da fábrica de caminhões da DaimlerChrysler
em Warren desempregará imediatamente 1.000 trabalhadores,
além de 250 na fábrica de eixos de Detroit. Mais
200 empregos devem ser destruídos na Planta nº 1 de
Motores da Avenida Mack, em Detroit, outros 100 na fábrica
de motores localizadas na região suburbana de Trenton,
mais 65 na fábrica de estampas Sterling Heughts e outros
100 na estamparia de Warren.
Além disso, cerca de 1.600 dos 2.000 trabalhadores administrativos
da sede central da empresa no subúrbio norte de Auburn
Hills serão demitidos temporariamente. Ao longo do Rio
Detroit, no Canadá, outros 1.300 empregos serão
cortados na fábrica de montagem em Windsor.
Em Ohio, cerca de 200 empregos serão eliminados na planta
de máquinas em Toledo e outros 110 na fábrica de
Twinsburg, próxima de Cleveland. A Planta nº 1 de
Transmissões de Indiana, em Kokomo, deve perder 100 empregos
neste ano, afirmou um porta-voz da Chrysler.
As demissões temporárias fazem parte das 13.000
demissões anunciadas no dia 14 de fevereiro. Elas se somam
aos planos anunciados anteriormente no sentido de fechar uma planta
de montagem em Newark, Delaware, onde trabalham 2.100 trabalhadores,
e o centro de distribuição de peças próximo
a Cleveland. Além de paralisar a produção
em Warren, a companhia ainda planeja fechar a fábrica de
caminhões de St. Louis.
De acordo com a companhia, todos os cortes serão realizados
nos próximos três anos e serão acompanhados
de aposentadoria antecipada, que estão sendo negociadas
com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística
(United Auto Workers - UAW) nos EUA. Diferentemente da
General Motors e da Ford, a Chrysler não pretende apresentar
um acordo de demissão voluntária para
todos os trabalhadores filiados ao sindicato. Ao invés
disso, deve incentivar a aposentadoria em assembléias realizadas
em algumas fábricas onde ocorrerem as demissões
temporárias.
O sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística
Canadense já concordou com a demissão de 2.000 trabalhadores
da Chrysler, que inclui pagamentos atingindo mais de C$100.000
(US$ 85.900) para trabalhadores que tenham oito anos ou mais de
serviço; e C$85.000 (US$73.000) para trabalhadores prestes
a se aposentar, mais C$30.000 (US$25.7000) como direito de compra
de veículos novos da Chrysler.
Por enquanto, a Ford retirou as ofertas de compra de ações
para os trabalhadores administrativos, pois ela receber mais propostas
do que estava esperando. Alguns trabalhadores que pensavam poder
comprar ações da Ford disseram ao Detroit Free
Press que ficaram chocados e revoltados quando souberam que
as ofertas haviam sido canceladas. No ano passado, mais de 38.000
trabalhadores temporários mais da metade do total
nos EUAcompraram ações de empresas.
Provável desmembramento
Durante uma conferência à imprensa realizada no
dia 14 de fevereiro, o presidente da DaimlerChrysler, Dieter Zetsche,
anunciou o plano de reestruturação da empresa e
deixou claro que a empresa alemã pretende compensar as
perdas obtidas pelas operações norte-americanas.
A companhia contratou os serviços do banco de investimentos
de Wall StreetJPMorganpara analisar a possibilidade
de venda. Segundo o Financial Times de Londres, pessoas
que têm acesso às discussões internas da alta
administração dizem que continuar a recente fusão
da companhia com o grupo Mercedes é o mínimo
que os acionistas devem esperar.
Daimler-Benz obteve o comando da Chrysler há nove anos
num negócio que envolveu $36 bilhões. Atualmente
a Chrysler vale $14 bilhões, mas as suas despesas com programas
de saúde giram em torno de $12 bilhões, o que demonstra
que a empresa tem parcos recursos e está praticamente falida.
Notícias já levantaram diversas possibilidades
de compradores, incluindo a General Motors, a coreana Hyundai
e a chinesa Chery Motors, mas é provável que o JPMorgan
tenha aumentado o número de interessados para elevar o
preço inicial. Os analistas desconfiam de que a GMque
já está enfrentando mercados em queda e enormes
dívidas com os planos de saúde e pensõespoderia
comprar a Chrysler.
Se eles afundarem, afirmou David Feinman - um administrador
de fundos da Havens Advisors, a Reuters Advisors -
será necessário fazer amplas reformas e cortar
mais centenas de milhares de empregos. A única beneficiária
seria a Daimler, porque ela se livrariam da Chrysler.
Talvez o cenário mais provável seja o da venda
desta companhia de 82 anos para especuladores e para se livrar
da massa falida. Isso envolveria, sem dúvida, imensos ataques
aos direitos dos trabalhadores da Chrysler, ligados à saúde
e às pensões, e das dezenas de milhares de familiares
que dependem deles. Em anos recentes, depois de décadas
de ataques às condições de trabalho e de
vida, a indústria foi mais uma vez um lucrativo alvo para
saqueadores de corporações como Carl Icahn.
A mudança da administração poderia, sem
dúvida, acarretar à queda dos investidores e dos
executivos que conduziram a companhia à bancarrota. A fusão
de 1998 possibilitou que o financiador bilionário, Kirk
Kerkorian, embolsasse $5 bilhões das ações
da Chrysler. Os 30 maiores executivos da empresa dividiram $500
milhões em dinheiro, ações e pagamentos por
desligamento, além de lucrativas compra de ações
da fusão DaimlerChrysler a preços favoráveis.
Isso inclui o presidente da Chrysler, Robert Eaton, que, sozinho,
levou $3,7 milhões em ações e um pagamento
por desligamento de $24,4 milhões.
Por enquanto, o trágico impacto da diminuição
da Big Three está sendo sentida dentro das fábricas.
Segundo o Oakland Press, três trabalhadoresum
da GM, outro da Ford e outro da Chryslermorreram durante
o trabalho desde o início de fevereiro. Ainda segundo o
jornal, tais fatos levantaram questionamentos a respeitos
da pressão colocada sobre os trabalhadores quando a indústria
automobilística nacional corta pagamentos e força
mudanças organizativas com o objetivo de se tornar mais
produtiva.
Com a queda na venda de veículos, os chefes estão
aumentando de forma brutal a intensidade do trabalho nas fábricas,
forçando um número cada vez menor de trabalhadores
a produzir uma quantidade cada vez maior carros e caminhões.
Segundo os números publicados pela Harbour Consulting
of Troy, a produtividade dos trabalhadores da Ford, GM e DaimlerChrysler
cresceu 11,5% nas fábricas de carros de passeio entre 2001
e 2005, e 17,4% em fábricas de montagem de caminhões
e veículos utilitários esportivos, durante o mesmo
período. Além disso, os trabalhadores estão
sendo pressionados a realizar trabalhos para os quais eles não
estão preparados e supervisionados por chefes que em muitos
casos são novos no setor.
Nos últimos 25 anos, as políticas do UAW sempre
favoreceram as empresas e levaram à destruição
de todos os direitos dos trabalhadores. Um trabalhador da DaimlerChrysler
de Detroit disse ao jornal: a posição do sindicato
é a de que eles não querem ouvir nenhuma reclamação.
Sua posição é que nós temos
de fazer tudo o que pudermos para ajudar às companhias.
Na semana passada, Tom LaSorda, chefe executivo da Chrysler,
disse que o plano de reestruturação da companhia
prevê novos cortes para os próximos acordos com o
UAW. A burocracia do sindicato, por sua vez, já avisou
a seus associados para esperarem sacrifícios.