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As demissões na Chrysler representam um duro golpe para a região de Detroit

Por Jerry White
5 Marzo 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 22 de fevereiro de 2007.

Milhares de empregos serão eliminados na região sudeste de Michigan, assim como em outros estados do meio-oeste, como resultado dos planos de reestruturação anunciados pela DaimlerChrysler há duas semanas. Oito fábricas em Michigan, Ohio e Indiana serão afetadas, além de outras três anunciadas mais tarde. Todas fazem parte do plano para eliminar 13.000 empregos do Grupo Chrysler nos EUA e no Canadá.

De acordo com a declaração da companhia, as fábricas anunciadas posteriormente produzem peças para veículos utilitários esportivos de baixa demanda, pick-ups e outros veículos robustos, que terão sua produção diminuída num período que inicia agora e se estende até 2009.

Mais de metade da perda de empregos nos EUA—5.300 dos 11.000—ocorrerão em Detroit e seus subúrbios próximos. Na década de 1950, quando quatro em cada cinco carros no mundo eram fabricados nos EUA, a região de Detroit tinha a maior média de pedidos nacionais entre todas as cidades americanas. Hoje, depois de três décadas de fechamentos de fábricas e demissões em massa, a “Cidade do Motor” é uma das mais empobrecidas metrópoles da América.

Já afetada pelas demissões ocorridas na GM, na Ford e na fornecedora de peças Delphi no ano passado, Michigan tem a segunda mais alta taxa de desemprego do país, um número recorde de pessoas sendo despejadas de suas casas e buscando programas emergenciais de assistência alimentar.

O fechamento da fábrica de caminhões da DaimlerChrysler em Warren desempregará imediatamente 1.000 trabalhadores, além de 250 na fábrica de eixos de Detroit. Mais 200 empregos devem ser destruídos na Planta nº 1 de Motores da Avenida Mack, em Detroit, outros 100 na fábrica de motores localizadas na região suburbana de Trenton, mais 65 na fábrica de estampas Sterling Heughts e outros 100 na estamparia de Warren.

Além disso, cerca de 1.600 dos 2.000 trabalhadores administrativos da sede central da empresa no subúrbio norte de Auburn Hills serão demitidos temporariamente. Ao longo do Rio Detroit, no Canadá, outros 1.300 empregos serão cortados na fábrica de montagem em Windsor.

Em Ohio, cerca de 200 empregos serão eliminados na planta de máquinas em Toledo e outros 110 na fábrica de Twinsburg, próxima de Cleveland. A Planta nº 1 de Transmissões de Indiana, em Kokomo, deve perder 100 empregos neste ano, afirmou um porta-voz da Chrysler.

As demissões temporárias fazem parte das 13.000 demissões anunciadas no dia 14 de fevereiro. Elas se somam aos planos anunciados anteriormente no sentido de fechar uma planta de montagem em Newark, Delaware, onde trabalham 2.100 trabalhadores, e o centro de distribuição de peças próximo a Cleveland. Além de paralisar a produção em Warren, a companhia ainda planeja fechar a fábrica de caminhões de St. Louis.

De acordo com a companhia, todos os cortes serão realizados nos próximos três anos e serão acompanhados de aposentadoria antecipada, que estão sendo negociadas com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (United Auto Workers - UAW) nos EUA. Diferentemente da General Motors e da Ford, a Chrysler não pretende apresentar um “acordo de demissão voluntária” para todos os trabalhadores filiados ao sindicato. Ao invés disso, deve incentivar a aposentadoria em assembléias realizadas em algumas fábricas onde ocorrerem as demissões temporárias.

O sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística Canadense já concordou com a demissão de 2.000 trabalhadores da Chrysler, que inclui pagamentos atingindo mais de C$100.000 (US$ 85.900) para trabalhadores que tenham oito anos ou mais de serviço; e C$85.000 (US$73.000) para trabalhadores prestes a se aposentar, mais C$30.000 (US$25.7000) como direito de compra de veículos novos da Chrysler.

Por enquanto, a Ford retirou as ofertas de compra de ações para os trabalhadores administrativos, pois ela receber mais propostas do que estava esperando. Alguns trabalhadores que pensavam poder comprar ações da Ford disseram ao Detroit Free Press que ficaram chocados e revoltados quando souberam que as ofertas haviam sido canceladas. No ano passado, mais de 38.000 trabalhadores temporários— mais da metade do total nos EUA—compraram ações de empresas.

Provável desmembramento

Durante uma conferência à imprensa realizada no dia 14 de fevereiro, o presidente da DaimlerChrysler, Dieter Zetsche, anunciou o plano de reestruturação da empresa e deixou claro que a empresa alemã pretende compensar as perdas obtidas pelas operações norte-americanas.

A companhia contratou os serviços do banco de investimentos de Wall Street—JPMorgan—para analisar a possibilidade de venda. Segundo o Financial Times de Londres, pessoas que têm acesso às discussões internas da alta administração dizem que continuar a recente fusão da companhia com o grupo Mercedes é “o mínimo que os acionistas devem esperar”.

Daimler-Benz obteve o comando da Chrysler há nove anos num negócio que envolveu $36 bilhões. Atualmente a Chrysler vale $14 bilhões, mas as suas despesas com programas de saúde giram em torno de $12 bilhões, o que demonstra que a empresa tem parcos recursos e está praticamente falida.

Notícias já levantaram diversas possibilidades de compradores, incluindo a General Motors, a coreana Hyundai e a chinesa Chery Motors, mas é provável que o JPMorgan tenha aumentado o número de interessados para elevar o preço inicial. Os analistas desconfiam de que a GM—que já está enfrentando mercados em queda e enormes dívidas com os planos de saúde e pensões—poderia comprar a Chrysler.

“Se eles afundarem”, afirmou David Feinman - um administrador de fundos da Havens Advisors, a Reuters Advisors - “será necessário fazer amplas reformas e cortar mais centenas de milhares de empregos. A única beneficiária seria a Daimler, porque ela se livrariam da Chrysler”.

Talvez o cenário mais provável seja o da venda desta companhia de 82 anos para especuladores e para se livrar da massa falida. Isso envolveria, sem dúvida, imensos ataques aos direitos dos trabalhadores da Chrysler, ligados à saúde e às pensões, e das dezenas de milhares de familiares que dependem deles. Em anos recentes, depois de décadas de ataques às condições de trabalho e de vida, a indústria foi mais uma vez um lucrativo alvo para saqueadores de corporações como Carl Icahn.

A mudança da administração poderia, sem dúvida, acarretar à queda dos investidores e dos executivos que conduziram a companhia à bancarrota. A fusão de 1998 possibilitou que o financiador bilionário, Kirk Kerkorian, embolsasse $5 bilhões das ações da Chrysler. Os 30 maiores executivos da empresa dividiram $500 milhões em dinheiro, ações e pagamentos por desligamento, além de lucrativas compra de ações da fusão DaimlerChrysler a preços favoráveis. Isso inclui o presidente da Chrysler, Robert Eaton, que, sozinho, levou $3,7 milhões em ações e um pagamento por desligamento de $24,4 milhões.

Por enquanto, o trágico impacto da diminuição da Big Three está sendo sentida dentro das fábricas. Segundo o Oakland Press, três trabalhadores—um da GM, outro da Ford e outro da Chrysler—morreram durante o trabalho desde o início de fevereiro. Ainda segundo o jornal, tais fatos levantaram questionamentos “a respeitos da pressão colocada sobre os trabalhadores quando a indústria automobilística nacional corta pagamentos e força mudanças organizativas com o objetivo de se tornar mais produtiva”.

Com a queda na venda de veículos, os chefes estão aumentando de forma brutal a intensidade do trabalho nas fábricas, forçando um número cada vez menor de trabalhadores a produzir uma quantidade cada vez maior carros e caminhões. Segundo os números publicados pela Harbour Consulting of Troy, a produtividade dos trabalhadores da Ford, GM e DaimlerChrysler cresceu 11,5% nas fábricas de carros de passeio entre 2001 e 2005, e 17,4% em fábricas de montagem de caminhões e veículos utilitários esportivos, durante o mesmo período. Além disso, os trabalhadores estão sendo pressionados a realizar trabalhos para os quais eles não estão preparados e supervisionados por chefes que em muitos casos são novos no setor.

Nos últimos 25 anos, as políticas do UAW sempre favoreceram as empresas e levaram à destruição de todos os direitos dos trabalhadores. Um trabalhador da DaimlerChrysler de Detroit disse ao jornal: “a posição do sindicato é a de que eles não querem ouvir nenhuma reclamação. Sua posição é que ‘nós temos de fazer tudo o que pudermos para ajudar às companhias’”.

Na semana passada, Tom LaSorda, chefe executivo da Chrysler, disse que o plano de reestruturação da companhia prevê novos cortes para os próximos acordos com o UAW. A burocracia do sindicato, por sua vez, já avisou a seus associados para “esperarem sacrifícios”.