Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 15 de março de 2007.
A destruição de 13.000 empregos da Chrysler nos
EUA e Canadá e as ameaças de venda da companhia
automobilística de 82 anos de idade são os últimos
acontecimentos numa série de ataques aos empregos e padrões
de vida dos trabalhadores nos EUA e internacionalmente.
Os fechamentos de fábricas e cortes de empregos em massa
significam que milhares de trabalhadores e suas famílias
perderão seus rendimentos, seus planos de saúde
e os benefícios de aposentadoria. Assim que a Chrysler
fechar suas portas e escolas, o Estado deixará de arrecadar
milhões em impostos, o que acasionará a degradação
dos serviços públicos. Cidades como Detroit, St.
Louis, Newark, o estado inteiro de Delaware, Windsor, na província
canadense de Ontario - que durante anos têm sido atingidas
pela decadência industrial - serão as próximas
a serem devastadas devido a dependência econômica
da companhia.
Esta catástrofe social decorrente da destruição
de aproximadamente 10.000 empregos norte-americanos no último
ano na GM, Ford e na fornecedora de componentes Delphi, é
um indício do estado caótico no qual se encontra
todo o sistema capitalista. Ele não consegue prover as
necessidades mais básicas da classe trabalhadora, cujo
trabalho gera a riqueza da sociedade.
Os trabalhadores da Chrysler não são responsáveis
pelas decisões que conduziram a esse desastre. Mesmo assim
eles pagarão o custo ao perder suas casas e terem suas
famílias destruídas, enquanto os chefes executivos
e grandes investidores que levaram a companhia a bancarrota sairão
dessa situação com milhões, senão
bilhões de dólares.
A JP Morgan Chase está distribuindo um prospecto
para potenciais compradores interessados em se apoderar dos ativos
mais valiosos da Chrysler. Além das companhias automobilísticas
dos EUA e de todo o mundo, entre os possíveis compradores
incluem-se firmas de investimentos privadas - algumas dirigidas
por ex-chefes da Chrysler - que acabarão com a cobertura
de saúde e as pensões estabelecidas por lei e diminuirão
os salários, antes de vendê-la por um preço
enorme.
Que tipo de democracia é esta que deixa o destino de
milhões de pessoas ser decidido por um punhado de chefes
executivos e banqueiros que estão apenas interessados em
aumentar o valor de seu patrimônio? A ampla massa do povo
não tem absolutamente nenhuma voz em decisões que
destroem suas vidas.
Os trabalhadores da Chrysler devem dizer não
às demissões em massa e ao fechamento de fábricas,
e rejeitar o plano da administração-sindicato de
suavizar o caminho por meio de demissões voluntárias
ilusórias. Os trabalhadores devem organizar uma luta unificada
nos EUA e no Canadá a fim de interromper o desmantelamento
da companhia e defender o direito a salários decentes e
a um emprego estável.
Por comitês de trabalhadores que coordenem
a luta
Devem ser criados comitês de trabalhadores mensalistas
e temporários - independentemente das organizações
marionetes da companhia, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
Automobilística (UAW) e os sindicatos dos trabalhadores
da indústria automobilística canadenses - para organizar
greves, ocupações de fábricas, assembléias
e demonstrações de massa como parte de uma campanha
maior, que ganhe o apoio de todos os trabalhadores e jovens nas
comunidades que estão sendo atingidos pelos fechamentos
de fábricas e demissões e reúna a classe
trabalhadora da América do Norte e de todo o mundo.
A única resposta à destruição da
Chrysler é transformá-la - e toda a indústria
automobilística - numa empresa pública, democraticamente
controlada pelos trabalhadores e pela população
trabalhadora como um todo.
Os trabalhadores da Chrysler têm um profundo conhecimento
das operações da companhia. Com o apoio de engenheiros
treinados e de outros profissionais de sua confiança, os
operários podem conduzir a Chrysler de maneira muito mais
eficiente do que os seus chefes. Os trabalhadores devem rejeitar
o argumento de que a classe capitalista tem um direito
sagrado de controlar os recursos financeiros e industriais da
moderna sociedade de massas.
Os proprietários da Chrysler perderam qualquer direito
de dirigir a companhia. Durante anos eles sacrificaram a saúde
da companhia para maximizar os ganhos a curto-prazo dos altos
executivos e grandes investidores. Eles minaram a viabilidade
futura da companhia ao focarem a produção em veículos
caros que geraram grandes lucros por unidade. Sem uma auditoria
pública e completa, é impossível saber quanto
dinheiro foi desperdiçado como resultado da incompetência,
ganância e ignorância dos chefes. Isso não
se aplica somente às indústrias automobilísticas,
mas a todos os setores da economia, onde os executivos recompensam
a si próprios com salários multi-milionários
- uma forma de saque social defendido pela mídia como o
preço necessário para atrair os melhores e
mais brilhantes!
Pela democracia industrial e o controle dos
trabalhadores
O primeiro passo para proteger os interesses da classe trabalhadora
é instituir o controle democrático sobre todas as
decisões que afetam o trabalho, a segurança, os
salários, os contratos e a jornada. Essas decisões
devem ser realizadas não por uma minoria rica, mas por
comitês de trabalhadores do chão da fábrica,
técnicos e outros especialistas comprometidos com os interesses
da classe trabalhadora.
O estabelecimento de uma democracia industrial requer a abertura
dos livros de todas as corporações para a inspeção
realizada pelos trabalhadores, e a eleição dos representantes
pelo voto democrático de todos os trabalhadores.
A indústria automobilística global demonstrou
o caráter anárquico e irracional do sistema capitalista.
Os vastos aumentos na produtividade do trabalho - alcançados
por meio dos avanços na ciência e tecnologia como
a robótica, a informática, a comunicação
via satélite - e a integração global da produção
automobilística deveriam garantir um bom padrão
de vida aos milhões de trabalhadores que produzem automóveis.
Ao invés vez disso, esses avanços contribuíram
para uma saturação nos mercados mundiais de automóveis,
o que é agravado pelo fato de que a vasta maioria da população
do mundo é muito pobre para adquirir um carro. Como forma
de derrotar seus adversários e apropriar-se da maior fatia
dos lucros, as gigantes automobilísticas globais buscaram
baixar os custos do trabalho ao fechar fábricas, eliminar
empregos, acelerar linhas de montagem e transferir a produção
para regiões de baixos salários.
Um recente estudo feito por uma empresa de análises
do ramo automobilístico, a Harbour-Felax, observou que
benefícios de saúde e benefícios suplementares
à desempregados, juntamente com leis restritivas
de salários, tempos de reparação em linhas
de montagem, ausências não controladas e o pagamento
de férias estavam causando uma perda de US$ 2.400
nos lucros por cada veículo produzido, quando comparados
às empresas japonesas que operam em fábricas que
não estão ligadas aos sindicatos nos EUA.
A GM e a Ford deixaram claro que usarão a ameaça
de fechar mais fábricas e de prosseguir com as demissões
em massa para impor ataques sem precedentes nos próximos
contratos, incluindo uma possível redução
de 20% nos salários, cortes nos benefícios de saúde
e de aposentadoria, e a eliminação de qualquer forma
de assegurar os rendimentos dos trabalhadores desempregados.
Dezenas de milhares de antigos trabalhadores demitidos serão
substituídas por jovens trabalhadores que serão
pagos com salários mais baixos, totalmente desamparados
de qualquer proteção no trabalho e ameaçados
constantemente de demissão. Isso não se aplica somente
aos trabalhadores da linha de montagem, mas também aos
engenheiros, projetistas, administradores e outros trabalhadores
de colarinho branco.
Há muito tempo as baixas margens de lucro têm
feito com que a indústria automobilística norte-americana
deixe de ser uma opção atrativa para os grandes
investidores. É por isso que Wall Street está exigindo
uma ampla reestruturação da indústria para
colocá-la numa grade de investimentos com um
nível de lucro de 10 a 15%, ou seja, algo em torno de quatro
a seis vezes a lucratividade atual!
Romper com os democratas
A luta para defender empregos não é apenas uma
batalha contra um empregador, mas é uma batalha política
contra toda a elite econômica e política nos EUA.
O Partido Democrata, que pretende ser o partido do trabalhador,
não emitiu sequer um protesto verbal contra o ataque aos
trabalhadores da Chrysler. Nenhum dos pré-candidatos democratas
às eleições de 2008 - Hillary Clinton, Barack
Obama, John Edwards - propôs qualquer coisa para defender
os empregos e o meio de vida dos trabalhadores e de suas famílias.
Jennifer Granholm, a governadora democrata do Michigan - onde
residem 26.000 trabalhadores da Chrysler - lamentou a eliminação
dos empregos, mas considerou-os como uma necessidade do
mercado. Enquanto não fazem nada, os democratas repetem
o chauvinismo reacionário da burocracia da UAW ao afirmarem
que os trabalhadores das companhias asiáticas e européias
estão roubando empregos norte-americanos.
Os trabalhadores devem rejeitar esse veneno nacionalista que
pretende dividir e enfraquecer a classe trabalhadora e colocar
os trabalhadores uns contra os outros. Em cada país, trabalhadores
enfrentam um ataque realizado por corporações organizadas
globalmente. Os trabalhadores devem responder organizando sua
resistência em escala internacional numa base principista,
que defenda os empregos e salários de todos os trabalhadores
independentemente de sua nacionalidade.
Isto significa adotar uma política socialista que coloca
os empregos e o padrão de vida dos trabalhadores em todo
o mundo acima dos lucros e fortunas pessoais das elites financeiras,
atacar a massiva concentração de riqueza ao substituir
a propriedade privada dos meios de produção pela
propriedade social, e acabar com a anarquia do mercado ao instituir
a economia racionalmente planejada.
Uma batalha como essa requer um rompimento completo e irrevogável
com o Partido Democrata e a construção de um partido
socialista de massas.
A corrupção dos sindicatos
O presidente da UAW, Ron Gettelfinger - que participa do comitê
supervisor da DaimlerChrysler - deixou claro que a UAW não
fará nada para defender os empregos dos trabalhadores da
indústria automobilística. O serviço do sindicato
é o de facilitar a destruição de milhares
de empregos. Isso é o que ele tem feito nas últimas
três décadas em todas as Três Grande Irmãs
automobilísticas norte-americanas.
A política de colaboração e co-administração
da UAW surgiu quando a Chrysler enfrentou a bancarrota em 1979-80.
O sindicato bloqueou qualquer luta contra as exigências
de corte de salários da companhia e disse aos trabalhadores
que essas medidas eram a única forma de restaurar a lucratividade
da companhia e assegurar o seu futuro.
O chefe da Chrysler, Lee Iacocca, colocou o presidente da UAW,
Douglas Fraser, no comitê dos diretores da companhia. Durante
vários anos, Fraser ajudou a impor um total de US$ 1,1
bilhões em concessões - aproximadamente US$ 10.000
por trabalhador - e eliminar 65.000 empregos.
A alegação de que os trabalhadores podem salvar
seus empregos através de concessões provou ser uma
grande mentira. Os únicos que foram beneficiados com essa
política são os executivos das corporações,
os grandes investidores e os próprios burocratas da UAW.
No final desse ano restarão apenas 46.000 trabalhadores
associados a UAW na Chrysler, menos da metade dos 110.000 existentes
em 1979. No total, o número de trabalhadores sindicalizados
empregados pelas fábricas das Três Grandes nos EUA
diminuiu 76% desde 1979 - de 750.000 para 177.000.
A UAW está dizendo a seus membros para esperarem
sacrifícios nas negociações dos contratos
e sinalizou a realização de acordos de operação
moderna locais, que cortam proteções aos empregos
antigos, permitem que a administração substitua
os associados da UAW por trabalhadores de fora com metade do salário,
e recrutam líderes de equipes da UAW para impor
a aceleração do trabalho e medidas disciplinares
contra os trabalhadores.
Como retorno, a burocracia da UAW espera ser recompensada com
futuras bonificações. O The Wall Street Journal
noticiou recentemente que as companhias automobilísticas
estão pensando em dar o controle de seus multi-bilionários
fundos de pensão ao sindicato. Isto causará uma
transferência massiva de riqueza à burocracia da
UAW, que, em troca, se responsabilizaria pelo corte de benefícios
de um milhão de aposentados e de seus dependentes.
Uma luta pela defesa dos empregos somente pode ser conduzida
apenas se for independente financeiramente do sindicato pró-companhia
UAW. Novas organizações de luta - genuinamente democráticas
e voltadas aos interesses dos trabalhadores - devem ser construídas.
Acima de tudo, os trabalhadores da indústria automobilística
devem, conscientemente, organizar uma luta política pela
construção de um partido independente e de massas
da classe trabalhadora. Essa é á perspectiva do
Partido da Igualdade Socialista.
Nós chamamos todos os trabalhadores da Chrysler e aqueles
que apóiam sua luta para discutir essa perspectiva e contatar
o comitê editorial do World Socialist Web Site.