Passaram-se nem sequer seis meses do segundo mandato do presidente
Lula, que foi reempossado em janeiro de 2007 e, como era de se
esperar, a crise estrutural e histórica da dominação
burguesa que atinge o Estado brasileiro começa a ressurgir
com a mesma força de 2005, quando o presidente esteve à
beira do impeachment. Enganaram-se, assim, aqueles (à direita
e à esquerda) que acreditaram que dita crise era coisa
superada e já absolutamente coisa do passado.
Passado este curto período do segundo mandato, menos
de um semestre, e se dissolvem todas as falsas esperanças
de que o pior já passara e que boa parte daqueles tumultos
consistia apenas em exageros da luta pela sucessão presidencial:
já explodem novos escândalos de corrupção
que envolvem os diversos aliados políticos de Lula, comprometendo
a aprovação das grandes reformas prometidas (reforma
política, reforma trabalhista, reforma do ensino superior,
reforma tributária, nova reforma da previdência).
Ao mesmo tempo, a crise já compromete inclusive todo o
pseudoplano desenvolvimentista anunciado com grande alarde por
Lula e sua equipe de governo, o chamado PAC (Plano de Aceleração
do Crescimento), que modernizaria a infra-estrutura produtiva
do país.
O presidente do Senado - Renan Calheiros, grande aliado de
Lula, assim como, toda uma rede de políticos próximos
ao presidente, diversos deputados e mesmo governadores do nordeste,
como Jacques Wagner do PT aparecem envolvidos em escândalos
com grandes empreiteiras: particularmente, Mendes Jr. e Gautama.
Recentemente noticiou-se que a própria toda poderosa ministra
da Casa Civil, Dilma Roussef, em passagem por Salvador, fez um
passeio na superlancha do dono da construtora Gautama. Novamente
ressurgem boatos de pagamentos em dinheiro, saques bancários,
envelopes e malas que chegam a R$ 600.000,00. Ao mesmo tempo revela-se
que mais de 50% do Congresso Nacional teve as suas campanhas políticas
financiadas justamente por empreiteiras envolvidas no pagamento
de propinas.
A polêmica transposição do rio São
Francisco, pretensiosa e polêmica obra de irrigação
que seria realizada no Nordeste envolve justamente a empresa Gautama,
cujo proprietário aparece no centro dos diversos processos
de suborno de deputados, senadores e mesmo governadores. A rede
de corrupção da Gautama, aliás, vincula-se
a boa parte dos projetos do PAC, o Plano de Aceleração
do Crescimento, que era a grande novidade desenvolvimentista
prometida por Lula. O empresário Zuleido, dono da Gautama,
já é chamado de o Marcos Valério do
Nordeste, em referência ao publicitário que
liderava a grande rede de corrupção que estourou
os escândalos em 2005.
Entre as descobertas praticamente comprovadas pela polícia
federal, está o pagamento em dinheiro de R$100.000, 00
ao ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, que foi obrigado
a renunciar. Vídeos mostram funcionária da Gautama
entrando e saindo do gabinete do ministro com pacote, no qual
estaria a suposta propina. As provas parecem irrefutáveis,
já que coincidem com retiradas correspondentes em dinheiro
no mesmo período e gravações telefônicas
com assessores do ministro que orientam a funcionária da
Gautama a entrar por porta e elevador reservados para fazer a
entrega da propina de forma mais discreta.
Como se não bastasse tudo isso, em outra operação
paralela da polícia federal, a operação designada
por xeque-mate, investigando a quadrilha que atua
na área das máquinas caça-níqueis,
gravações também irrefutáveis, envolvem,
nada menos nada mais do que o irmão do presidente da república,
Genival Inácio da Silva, o Vavá. Em gravações
telefônicas, o irmão do presidente negocia com membros
da quadrilha e diz que falou hoje com o homem
ou com ele que deu garantias de que tudo ia correr
bem. Evidentemente o homem ou o ele,
parece ser o próprio presidente Lula, que, de fato, no
dia mencionado, estava na cidade de São Bernardo, onde
mora Genival. O pior é que, por mais incrível que
possa parecer, por ocasião de outros escândalos anteriores,
havia ficado claro que o PT, partido do presidente, tem realmente,
ou pelo menos teve ligações diretas com o jogo clandestino:
bingos, máquinas caça-níqueis, etc...Basta
lembrar dos primeiros escândalos do outro mandato de Lula
que começaram justamente com a corrupção
nas casas de jogos (caso Waldomiro).
O governo e PAC imobilizados
Acompanhando essas sucessivas denúncias, o governo e
as suas principais lideranças no Congresso, assim como
os seus ministros, aparecem imobilizados, preocupados em evitar
CPIs (comissões parlamentares de inquérito) e desesperados
para articular as suas defesas, nada fazem a não ser caçar
documentos que os inocentem. Renan Calheiros, o presidente do
Senado, tenta provar que quem pagava a pensão de sua amante
não era a Mendes Jr., importante construtora que sempre
executa grandes obras públicas. O mesmo ocorre com uma
série de outros políticos governistas que gastam
todo o seu tempo em procurar bloquear o avanço das investigações
policiais, parlamentares e judiciais.
Enquanto isso, as obras do Plano de Aceleração
do Crescimento permanecem paradas, inclusive por recomendação
do TCU (Tribunal de Contas da União), já que os
projetos não foram encaminhados cumprindo as devidas exigências
constitucionais. Séries de irregularidades são constatadas
que impedem o início das obras. Conforme relatou o TCU,
existem atrasos nos processos de licenciamento ambiental,
demora na desapropriação de terrenos e uma outra
série de entraves. Esta situação caótica
atinge 29 projetos da área de infra-estrutura logística
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento),
o célebre plano lançado em janeiro deste ano pelo
presidente Lula. Todos esses 29 projetos sofrem problemas na sua
execução ou não foram sequer iniciados.
Estudo inédito da consultoria Macroplan, conforme escreveu
esta semana a Folha de São Paulo, mostra que obras
em atraso, fora do cronograma ou que enfrentam algum desafio
(eufemismo usado pela Casa Civil na identificação
dos problemas) estão orçadas em R$ 31,4 bilhões.
A cifra corresponde a 54% do valor total dos projetos de infra-estrutura
logística do plano oficial de fomento à economia.
Estão nesse bolo obras de melhoria, duplicação
e conservação de rodovias; construção
e retirada de gargalos de ferrovias; modernização
de portos e ampliações de aeroportos.
Por outro lado, para contornar a ineficiência total,
o governo edita medidas provisórias. Contrariando a constituição,
nunca a gestão Lula recorreu tanto ao recurso de incluir
despesas no Orçamento via Medidas Provisórias. Conforme
noticiou a imprensa, em menos de quatro meses, desde a sanção
do Orçamento deste ano de 2007, o governo federal já
realizou gastos de R$ 1,8 bilhão por Medidas Provisórias.
Ora, esse é um recurso que só deveria ser utilizado
em casos de exceção. Pela Constituição,
as Medidas Provisórias devem atender a despesas imprevisíveis
e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção
interna ou calamidade pública. Porém, como
o congresso não funciona, como os ministérios estão
emperrados, como o noticiário policial envolve o próprio
irmão do presidente, as medidas provisórias têm
servido para realizar algumas obras do PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento). Evidentemente, tudo isso corre sem a negociação
aberta das verbas com o Congresso Nacional, fato este que abre
a porta para mais corrupção, pois, as negociações
se dão nos bastidores dos gabinetes e sem conhecimento
da imprensa e da opinião publica.
Onde anda a oposição?
Diante de tudo isso que ocorre no começo do segundo
mandato Lula, cabe perguntar, onde está a oposição?
Na verdade, como em 2005, ou de forma até piorada, a oposição
burguesa, PSBD e Partido Democrata (ex-PFL), nada fazem, pois,
boa parte dos seus políticos ou estão envolvidos
nos mesmos escândalos com as empreiteiras, como Teotônio
Vilela (PSDB), governador de Alagoas, ou se vêem envolvidos
em problemas similares ou mesmo piores. Um deles, por exemplo,
José Serra (PSDB), governador de São Paulo, criou
uma secretaria do ensino superior que pretendia tirar a autonomia
das universidades estaduais. Diante disso, enfrenta uma greve
dos professores, funcionários e estudantes há mais
de um mês.
A reitoria da Universidade de São Paulo (USP), principal
universidade do país, se encontra ocupada pelos estudantes
desde o dia 03/05/07, e o governador assiste, dia a dia, o aumento
da sua desmoralização. Não quer retirar os
decretos autoritários que quebrariam a autonomia das universidades
públicas do Estado e, ao mesmo tempo, teme o confronto
com os estudantes e funcionários da USP que estão
decididos a resistir a um possível ataque da polícia,
anunciado várias vezes, mas sempre adiado. Intelectuais,
estudantes, funcionários públicos estaduais e de
todo o país vem se solidarizando com a luta em defesa da
autonomia universitária e o governador Serra simboliza
bem o mesmo imobilismo geral que toma conta da burguesia brasileira.
Por outro lado, manifestações de rua começam
a surgir por todo o país. Mais de 30 universidades participam
de movimentos grevistas de funcionários, professores e
alunos. Algumas fábricas falidas vem sendo ocupadas pelos
trabalhadores. Acordos a favor dos patrões, ainda quando
aprovados, passam com cada vez mais dificuldades nas grandes fábricas,
tais como a Volks e outras metalúrgicas. Mostrando o claro
desgaste da CUT, central sindical do governo. A revolta cresce
por todo o país. Apesar da esquerda burocratizada que sempre
procura recuar, manifestações de 10.000 a 20.000
pessoas começam a tomar as ruas dos grandes centros urbanos
como São Paulo. Universidades, escolas, terras, prédios
públicos, fábricas, vem sendo ocupados por movimentos
semi-espontâneos que crescem muito além do que esperavam
as velhas direções ditas de esquerda.
Sem dúvida, entre os estudantes e funcionários
das universidades, o PT já perdeu totalmente a direção,
sendo até repudiado publicamente. Em assembléias
da Universidade de São Paulo, por exemplo, os petistas,
apesar de participarem do Diretório Central dos Estudantes
(DCE), foram expulsos da mesa das assembléias, devido às
suas constantes traições.
Para o próximo dia 15 de junho prepara-se uma grande
manifestação de rua que reunirá estudantes,
professores e diversos setores do funcionalismo público
do Estado de São Paulo.