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Alemanha: sindicato Verdi prepara liquidar a greve dos trabalhadores da Telekom

Por Ulrich Rippert
2 de junio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em alemão, no dia 25 de maio de 2007.

Nas duas últimas semanas, o sindicato do setor público, Verdi, vem tentando controlar a greve dos trabalhadores da Telekom. Apesar de a administração exigir a transferência de 50.000 trabalhadores para uma subsidiária, onde os trabalhadores seriam submetidos a uma jornada de trabalho mais extensa e a um rebaixamento de até 40% em seus salários, o sindicato Verdi está se recusando a fortalecer a greve e organizar uma luta séria.

Apesar disso, o maior sindicato do setor público, que tem aproximadamente 2,5 milhões de associados, mobilizou poucas centenas de trabalhadores da Telekom em ações limitadas e localizadas. A natureza restrita das ações organizadas pelo Verdi serve apenas para quebrar o ânimo militante dos grevistas e enfraquecer sua resistência aos ataques da administração. O engajamento inicial dos trabalhadores se manifestou claramente no momento da aprovação da greve, que contou com 96,5% de votos favoráveis.

Três dias depois do início da greve da Telekom, 20.000 trabalhadores dos correios de toda a Alemanha - todos associados ao Verdi - protestaram em Berlim contra a futura privatização do serviço postal. Ao invés de organizar uma luta comum dos trabalhadores dos correios com os trabalhadores da Telekom - que há poucos anos enfrentaram o mesmo ataque através das propostas de desestatização - o sindicato fez de tudo para manter os dois setores completamente separados.

A razão para isso é simples. O sindicato não se opõe à privatização dos correios, apesar do fato dela significar a perda de 32.000 empregos. Ele está exigindo apenas uma privatização baseada numa “cuidadosa avaliação técnica”.

A palavra de ordem agitada no protesto do Verdi em Berlim foi “contra a privatização sem avaliação técnica”. Isso traz a triste relembrança da atuação de representantes do sindicato, que prepararam o caminho para a privatização da Telekom e passaram a apoiar, desde então, todas as propostas de reestruturação feitas pela administração, desde que elas tivessem um “componente social”.

Durante a segunda semana da greve na Telekom, trabalhadores da indústria farmacêutica começaram uma greve localizada. Após uma reunião na fábrica, os trabalhadores presentes organizaram um protesto contra as negociações que estão acontecendo em Berlim. Também neste caso, todos os grevistas são associados ao Verdi, mas o sindicato está fazendo de tudo para fragmentar a luta e isolar os grevistas.

Acima de tudo, o Verdi está determinado a evitar que a greve da Telekom se transforme numa mobilização política contra a grande coalizão do governo alemão (Partido Democrata Cristão, Partido Social Democrata, União Social Cristã), mesmo porque todas as decisões importantes relativas a Telekom são feitas pelo governo - sobretudo pelos ministérios das finanças, dirigido por Peer Steinbrück, do SPD (Partido Social Democrata) e do trabalho, dirigido por Franz Müntefering, também do SPD.

Um cínico jogo-duplo

Enquanto os trabalhadores associados ao Verdi, nas assembléias da greve, expressam sua revolta contra as ações “anti-sociais e completamente inaceitáveis” do comitê executivo da Telekom, o líder do Verdi, Frank Bsirske, recentemente encontrou-se com o chefe da Telekom, René Obermann, com o ministro das finanças, Steinbrück, e com o líder da bancada parlamentar do SPD, Peter Struck, para uma “reunião de emergência” secreta, cujo objetivo era negociar o fim da greve. Uma reunião semelhante ocorreu uma semana antes, mas nada foi divulgado a respeito do conteúdo das discussões e da programação dos futuros encontros.

O jogo-duplo do sindicato também ficou evidente numa assembléia da greve da Telekom ocorrida nas proximidades da cidade de Berlim, na última quarta-feira. O Verdi conseguiu evitar que outros trabalhadores do serviço público participassem da assembléia, esvaziando-a de maneira deliberada, evitando assim que ela se transformasse numa manifestação contra as políticas anti-sociais do Senado de Berlim - uma coalizão entre o SPD e o Partido de Esquerda/PDS (Partido do Socialismo Democrático) que já dura seis anos.

Um dos primeiros a falar na assembléia foi nada menos que o ministro da economia de Berlim, Harald Wolf (Partido de Esquerda/PDS), que desempenhou um papel chave há poucos anos, ao eliminar 15.000 empregos no serviço público na capital alemã. Na assembléia, ele declarou sua “solidariedade e apoio” aos grevistas.

Durante seu mandato como ministro, ele cortou 3.000 empregos no transporte público e diminuiu em 10% os salários dos demais trabalhadores. Ao mesmo tempo, o Senado de Berlim implementou uma longa lista de ataques sociais que incluía as seguintes medidas: gigantescos cortes de empregos e salários nos hospitais de Berlim; a criação de 34.000 de empregos em condições precárias (os chamados empregos de 1 euro) para substituir contratos de trabalho regular; um drástico aumento das mensalidades e a redução de professores e demais trabalhadores em creches e escolas; e o corte de aproximadamente 75 milhões de euros em subsídios para as três universidades de Berlim - causando a redução de 10.000 vagas para estudantes e de 200 professores.

Apesar desta lista de cortes e ataques elaborada pelo Senado do SPD-Partido de Esquerda ser bem conhecida, o comitê de greve ainda pediu que os trabalhadores da Telekom aplaudissem o discurso de Wolf.

Depois do discurso de Wolf foi a vez de Bodo Ramelow falar. Ele é deputado e líder da bancada do SPD. Ele repetiu a série de clichês baratos sobre a solidariedade e o apoio aos grevistas: “vocês mostraram que não estão dispostos a aceitar os ataques de Obermann...”.

Ramelow anunciou que o Partido de Esquerda poderia solicitar um debate de emergência de uma hora no Senado de Berlim sobre a Telekom, que poderia servir para lembrar o governo de sua responsabilidade como principal acionista, e que ele era mais próximo dos trabalhadores do que o comitê executivo da Telekom. Na realidade, é o governo que está liderando os ataques aos trabalhadores da Telekom e discutindo suas táticas diretamente com Obermann.

Nenhuma menção foi feita ao fato de que os seis dirigentes do sindicato e do conselho de trabalhadores, juntamente com os membros do SPD (Ingrid Matthäus Maier, ex-deputada da bancada do SPD no Senado de Berlim, e Thomas Mirow, sub-secretário de estado no departamento de finanças) têm a maioria no comitê executivo da Telekom.

Ramelow fez um bombástico discurso contra o “capitalismo turbinado”, exigindo que “gafanhotos como a Blackstone” deveriam ser controlados. “Quando a competição fica fora de controle, então ela deve ser regulada,” declarou ele, esquecendo que seu próprio partido está pretendendo trabalhar com fundos de investimento como a Blackstone naquelas regiões onde participa do governo em aliança com outros partidos. Esse é o caso de Berlim, onde o Senado vendeu o sistema estatal de habitação, dando o controle parcial do abastecimento de água aos fundos de investimento.

Uma dirigente do sindicato, Susanne Stumpenhusen, reclamou dos políticos de direita, que fizeram uma campanha mentirosa contra os grevistas da Telekom e contra a reivindicação do sindicato por um salário mínimo legal. Ela se referiu especificamente a Roland Koch, da União Democrática Cristã, líder do governo no estado de Hessen. Koch se opôs ao estabelecimento de um salário mínimo e que o governo de seu estado tinha renunciado ao contrato de trabalho local a fim de negociar cortes salariais. Stumpenhusen declarou que isto era desonesto e inaceitável, esquecendo-se de mencionar, no entanto, que o Senado de Berlim, que é muito bem conceituado pelo sindicato Verdi, fez exatamente o mesmo. O Senado de Berlim foi, de fato, o primeiro a passar por cima dos contratos locais de trabalho.

Um dos últimos oradores foi Lucy Redler, do grupo chamado Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, em alemão - Arbeit & soziale Gerechtigkeit - Die Wahlalternative). Redler também se esquivou das maiores questões levantadas pela greve e procurou colocar o Verdi em evidência.

A greve “exerceu uma pressão considerável” sobre Obermann e o comitê executivo da Telekom, declarou Redler. Ela afirmou demagogicamente que líderes mundiais estão apavorados em relação às manifestações, por estas poderem tumultuar o próximo encontro dos líderes do G8. Defendendo que se faça mais pressão sobre o governo, ela questionou: “eu mesma me pergunto por que a Federação dos Sindicatos Alemães (DGB, em alemão - Deutscher Gewerkschaftsbund) não organiza uma manifestação nacional de solidariedade aos trabalhadores em greve da Telekom”.

Redler deixou de responder sua própria questão, mas as razões são óbvias. A DGB e os sindicatos por ela representados apóiam a grande coalizão governista. Eles apoiaram todos os ataques aos direitos sociais dos trabalhadores realizados tanto pela atual coalizão quanto por sua antecessora, e assumem o importante papel de manter o controle de seus associados, que estão cada vez mais descontentes, prevenindo, assim, qualquer luta unificada contra o governo.

É impossível liderar qualquer luta séria para defender direitos políticos e sociais sem se opor a essa política reacionária dos sindicatos.

Colaboradores do World Socialist Web Site distribuíram uma declaração do comitê editorial que colocou as seguintes questões centrais:

“Em alguns poucos dias de greve já ficou claro: se a greve for deixada sob o controle da direção do sindicato Verdi, ela está fadada ao fracasso”.

“Por isso, o apoio à greve deve estar associado à luta contra a política oportunista dos sindicatos. Os ataques realizados pelo comitê executivo da companhia - apoiados pelo governo - exigem uma estratégia política inteiramente nova. A produção deve ser tomada das mãos da elite financeira e colocada a serviço da sociedade como um todo”.

“A greve deve representar o início de uma luta que rompa com as organizações retrógradas de orientação nacionalista - os sindicatos e o SPD - e que una os trabalhadores e as indústrias de toda a Europa e de todo o mundo numa luta pela reorganização socialista da sociedade”.