Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em alemão,
no dia 25 de maio de 2007.
Nas duas últimas semanas, o sindicato do setor público,
Verdi, vem tentando controlar a greve dos trabalhadores da Telekom.
Apesar de a administração exigir a transferência
de 50.000 trabalhadores para uma subsidiária, onde os trabalhadores
seriam submetidos a uma jornada de trabalho mais extensa e a um
rebaixamento de até 40% em seus salários, o sindicato
Verdi está se recusando a fortalecer a greve e organizar
uma luta séria.
Apesar disso, o maior sindicato do setor público, que
tem aproximadamente 2,5 milhões de associados, mobilizou
poucas centenas de trabalhadores da Telekom em ações
limitadas e localizadas. A natureza restrita das ações
organizadas pelo Verdi serve apenas para quebrar o ânimo
militante dos grevistas e enfraquecer sua resistência aos
ataques da administração. O engajamento inicial
dos trabalhadores se manifestou claramente no momento da aprovação
da greve, que contou com 96,5% de votos favoráveis.
Três dias depois do início da greve da Telekom,
20.000 trabalhadores dos correios de toda a Alemanha - todos associados
ao Verdi - protestaram em Berlim contra a futura privatização
do serviço postal. Ao invés de organizar uma luta
comum dos trabalhadores dos correios com os trabalhadores da Telekom
- que há poucos anos enfrentaram o mesmo ataque através
das propostas de desestatização - o sindicato fez
de tudo para manter os dois setores completamente separados.
A razão para isso é simples. O sindicato não
se opõe à privatização dos correios,
apesar do fato dela significar a perda de 32.000 empregos. Ele
está exigindo apenas uma privatização baseada
numa cuidadosa avaliação técnica.
A palavra de ordem agitada no protesto do Verdi em Berlim foi
contra a privatização sem avaliação
técnica. Isso traz a triste relembrança da
atuação de representantes do sindicato, que prepararam
o caminho para a privatização da Telekom e passaram
a apoiar, desde então, todas as propostas de reestruturação
feitas pela administração, desde que elas tivessem
um componente social.
Durante a segunda semana da greve na Telekom, trabalhadores
da indústria farmacêutica começaram uma greve
localizada. Após uma reunião na fábrica,
os trabalhadores presentes organizaram um protesto contra as negociações
que estão acontecendo em Berlim. Também neste caso,
todos os grevistas são associados ao Verdi, mas o sindicato
está fazendo de tudo para fragmentar a luta e isolar os
grevistas.
Acima de tudo, o Verdi está determinado a evitar que
a greve da Telekom se transforme numa mobilização
política contra a grande coalizão do governo alemão
(Partido Democrata Cristão, Partido Social Democrata, União
Social Cristã), mesmo porque todas as decisões importantes
relativas a Telekom são feitas pelo governo - sobretudo
pelos ministérios das finanças, dirigido por Peer
Steinbrück, do SPD (Partido Social Democrata) e do trabalho,
dirigido por Franz Müntefering, também do SPD.
Um cínico jogo-duplo
Enquanto os trabalhadores associados ao Verdi, nas assembléias
da greve, expressam sua revolta contra as ações
anti-sociais e completamente inaceitáveis do
comitê executivo da Telekom, o líder do Verdi, Frank
Bsirske, recentemente encontrou-se com o chefe da Telekom, René
Obermann, com o ministro das finanças, Steinbrück,
e com o líder da bancada parlamentar do SPD, Peter Struck,
para uma reunião de emergência secreta,
cujo objetivo era negociar o fim da greve. Uma reunião
semelhante ocorreu uma semana antes, mas nada foi divulgado a
respeito do conteúdo das discussões e da programação
dos futuros encontros.
O jogo-duplo do sindicato também ficou evidente numa
assembléia da greve da Telekom ocorrida nas proximidades
da cidade de Berlim, na última quarta-feira. O Verdi conseguiu
evitar que outros trabalhadores do serviço público
participassem da assembléia, esvaziando-a de maneira deliberada,
evitando assim que ela se transformasse numa manifestação
contra as políticas anti-sociais do Senado de Berlim -
uma coalizão entre o SPD e o Partido de Esquerda/PDS (Partido
do Socialismo Democrático) que já dura seis anos.
Um dos primeiros a falar na assembléia foi nada menos
que o ministro da economia de Berlim, Harald Wolf (Partido de
Esquerda/PDS), que desempenhou um papel chave há poucos
anos, ao eliminar 15.000 empregos no serviço público
na capital alemã. Na assembléia, ele declarou sua
solidariedade e apoio aos grevistas.
Durante seu mandato como ministro, ele cortou 3.000 empregos
no transporte público e diminuiu em 10% os salários
dos demais trabalhadores. Ao mesmo tempo, o Senado de Berlim implementou
uma longa lista de ataques sociais que incluía as seguintes
medidas: gigantescos cortes de empregos e salários nos
hospitais de Berlim; a criação de 34.000 de empregos
em condições precárias (os chamados empregos
de 1 euro) para substituir contratos de trabalho regular; um drástico
aumento das mensalidades e a redução de professores
e demais trabalhadores em creches e escolas; e o corte de aproximadamente
75 milhões de euros em subsídios para as três
universidades de Berlim - causando a redução de
10.000 vagas para estudantes e de 200 professores.
Apesar desta lista de cortes e ataques elaborada pelo Senado
do SPD-Partido de Esquerda ser bem conhecida, o comitê de
greve ainda pediu que os trabalhadores da Telekom aplaudissem
o discurso de Wolf.
Depois do discurso de Wolf foi a vez de Bodo Ramelow falar.
Ele é deputado e líder da bancada do SPD. Ele repetiu
a série de clichês baratos sobre a solidariedade
e o apoio aos grevistas: vocês mostraram que não
estão dispostos a aceitar os ataques de Obermann....
Ramelow anunciou que o Partido de Esquerda poderia solicitar
um debate de emergência de uma hora no Senado de Berlim
sobre a Telekom, que poderia servir para lembrar o governo de
sua responsabilidade como principal acionista, e que ele era mais
próximo dos trabalhadores do que o comitê executivo
da Telekom. Na realidade, é o governo que está liderando
os ataques aos trabalhadores da Telekom e discutindo suas táticas
diretamente com Obermann.
Nenhuma menção foi feita ao fato de que os seis
dirigentes do sindicato e do conselho de trabalhadores, juntamente
com os membros do SPD (Ingrid Matthäus Maier, ex-deputada
da bancada do SPD no Senado de Berlim, e Thomas Mirow, sub-secretário
de estado no departamento de finanças) têm a maioria
no comitê executivo da Telekom.
Ramelow fez um bombástico discurso contra o capitalismo
turbinado, exigindo que gafanhotos como a Blackstone
deveriam ser controlados. Quando a competição
fica fora de controle, então ela deve ser regulada,
declarou ele, esquecendo que seu próprio partido está
pretendendo trabalhar com fundos de investimento como a Blackstone
naquelas regiões onde participa do governo em aliança
com outros partidos. Esse é o caso de Berlim, onde o Senado
vendeu o sistema estatal de habitação, dando o controle
parcial do abastecimento de água aos fundos de investimento.
Uma dirigente do sindicato, Susanne Stumpenhusen, reclamou
dos políticos de direita, que fizeram uma campanha mentirosa
contra os grevistas da Telekom e contra a reivindicação
do sindicato por um salário mínimo legal. Ela se
referiu especificamente a Roland Koch, da União Democrática
Cristã, líder do governo no estado de Hessen. Koch
se opôs ao estabelecimento de um salário mínimo
e que o governo de seu estado tinha renunciado ao contrato de
trabalho local a fim de negociar cortes salariais. Stumpenhusen
declarou que isto era desonesto e inaceitável, esquecendo-se
de mencionar, no entanto, que o Senado de Berlim, que é
muito bem conceituado pelo sindicato Verdi, fez exatamente o mesmo.
O Senado de Berlim foi, de fato, o primeiro a passar por cima
dos contratos locais de trabalho.
Um dos últimos oradores foi Lucy Redler, do grupo chamado
Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG,
em alemão - Arbeit & soziale Gerechtigkeit - Die Wahlalternative).
Redler também se esquivou das maiores questões levantadas
pela greve e procurou colocar o Verdi em evidência.
A greve exerceu uma pressão considerável
sobre Obermann e o comitê executivo da Telekom, declarou
Redler. Ela afirmou demagogicamente que líderes mundiais
estão apavorados em relação às manifestações,
por estas poderem tumultuar o próximo encontro dos líderes
do G8. Defendendo que se faça mais pressão sobre
o governo, ela questionou: eu mesma me pergunto por que
a Federação dos Sindicatos Alemães (DGB,
em alemão - Deutscher Gewerkschaftsbund) não organiza
uma manifestação nacional de solidariedade aos trabalhadores
em greve da Telekom.
Redler deixou de responder sua própria questão,
mas as razões são óbvias. A DGB e os sindicatos
por ela representados apóiam a grande coalizão governista.
Eles apoiaram todos os ataques aos direitos sociais dos trabalhadores
realizados tanto pela atual coalizão quanto por sua antecessora,
e assumem o importante papel de manter o controle de seus associados,
que estão cada vez mais descontentes, prevenindo, assim,
qualquer luta unificada contra o governo.
É impossível liderar qualquer luta séria
para defender direitos políticos e sociais sem se opor
a essa política reacionária dos sindicatos.
Colaboradores do World Socialist Web Site distribuíram
uma declaração do comitê editorial que colocou
as seguintes questões centrais:
Em alguns poucos dias de greve já ficou claro:
se a greve for deixada sob o controle da direção
do sindicato Verdi, ela está fadada ao fracasso.
Por isso, o apoio à greve deve estar associado
à luta contra a política oportunista dos sindicatos.
Os ataques realizados pelo comitê executivo da companhia
- apoiados pelo governo - exigem uma estratégia política
inteiramente nova. A produção deve ser tomada das
mãos da elite financeira e colocada a serviço da
sociedade como um todo.
A greve deve representar o início de uma luta
que rompa com as organizações retrógradas
de orientação nacionalista - os sindicatos e o SPD
- e que una os trabalhadores e as indústrias de toda a
Europa e de todo o mundo numa luta pela reorganização
socialista da sociedade.