Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 25 de junho de 2007.
Na sexta (22), o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
Automobilística dos EUA (United Auto Workers, UAW) concordou
em encaminhar para a assembléia da categoria uma proposta
da fabricante de autopeças Delphi, que imporá cortes
de pagamentos de até 50%, demissões em massa e amplos
cortes de pensões e benefícios. O acordo, que reduzirá
definitivamente os salários dos trabalhadores da Delphi
a níveis próximos à pobreza e substituirá
aposentadorias por planos de assistência muito inferiores,
abrirá espaço para a degradação sem
precedentes nas condições de vida de todos os trabalhadores
da categoria nos EUA.
O acordo, elaborado a partir das negociações
entre o sindicato, a Delphi e a General Motors, que controla a
Delphi desde 1999, está sendo elogiado por líderes
empresariais e pela mídia. O colunista do Detroit News,
Daniel Howes, considerou o acordo como sendo o equivalente,
para a indústria automobilística de Detroit, à
queda do Muro de Berlim. Um alto porta-voz da Delphi classificou-o
como um marco significativo na nossa transformação.
Depois de negociar por 20 meses, o sindicato está pressionando
os trabalhadores para votarem rapidamente, dando-lhes o menor
tempo possível para apreciar as enormes conseqüências
da proposta e mobilizarem-se contra ela. Reuniões de esclarecimento
foram realizadas na segunda-feira (25), e a aprovação
pelos trabalhadores é esperada para o fim da semana.
O UAW e os patrões estão preocupados em assinar
o acordo antes do início das negociações
com a Ford, a GM e a Chrysler, as quais estão buscando
cortes dos salários e benefícios que chegam a US$
30 por hora. As Três Grandes e o UAW estão determinados
a garantir os cortes salariais, cujos níveis são
inéditos, antes das negociações nacionais
do setor, de modo a pressionar ao máximo os trabalhadores
da indústria automobilística americana a fazer históricas
concessões.
Enquanto o acordo permite à Delphi impor bilhões
de dólares em concessões e eliminar milhares de
empregos, os altos executivos da empresa embolsarão milhões
em bônus. No último verão, a empresa anunciou
que aumentaria o programa de bônus para executivos para
o valor total de US$ 60 milhões. A direção
da empresa está deixando claro que se o acordo for assinado,
a Delphi sairá da falência e será vendida
a fundos de investimento, gerando centenas de milhões de
dólares a mais para os executivos e para os financistas
de Wall Street.
Nem a empresa nem o sindicato divulgaram oficialmente detalhes
do acordo, mas as linhas gerais vazaram para a imprensa. Desde
que pediu falência em outubro de 2005, a Delphi vem ameaçando
vender ou fechar 21 de suas 29 fábricas nos EUA. Segundo
o novo acordo, pelo menos dez plantas serão fechadas imediatamente.
Quatro permanecerão sob controle da empresa, e outras cinco
vão operar sob controle de terceiros até serem vendidas.
As demais serão vendidas assim que possível.
As plantas que serão operadas temporariamente por terceiros
são as de Saginaw e Flint East, em Michigan, e a de Dayton,
em Ohio.
Desde que a empresa foi formada, em 1999, o número de
trabalhadores caiu de 45.600 para 17.000. A maioria dos empregos
atuais será eliminada pelo acordo assinado pelo o sindicato.
O acordo reduzirá os salários de 4.000 trabalhadores
que atualmente recebem o equivalente aos trabalhadores da GM,
que é de US$ 27 por hora, para US$ 14,50. Estão
sendo oferecidos a esses trabalhadores pagamentos de parcelas
de até US$ 105.000 nos próximos 3 anos para compensar
os cortes de salários do período. Também
é dada a eles a oportunidade de transferirem-se para plantas
da GM que abrirem postos de trabalho, ou receberem pagamentos
parcelados no caso de se demitirem voluntariamente. A probabilidade
da abertura de postos de trabalho na GM, porém, é
pequena, dada a atual retração da empresa.
As compensações fazem parte de uma antiga estratégia
empregada pelo sindicato para dividir os trabalhadores, a fim
estimulá-los a aceitar o acordo. Em 2004, o UAW permitiu
à Delphi fazer novas contratações pagando
US$ 14 por hora e com benefícios reduzidos. Além
disso, concordou com a contratação de um grande
número de trabalhadores temporários.
Após a decretação de falência da
Delphi, o sindicato assinou um acordo com a empresa para estimular
o pedido de demissão pelos trabalhadores, abrindo caminho
para a contratação de novos trabalhadores com salários
menores.
Mediante o novo acordo, os trabalhadores antigos que decidirem
permanecer na empresa terão que pagar impostos mais altos
e novas taxas, assim como os admitidos sob o novo regime de trabalho.
O novo regime também acaba com os planos de pensão
atuais, substituindo-os por planos inferiores.
Já é sabido que a GM gastará bilhões
de dólares para ajudar a subsidiar as compensações.
A empresa calcula que vai recuperar o dinheiro e obter altos lucros
com o corte de custos na compra de peças da Delphi e naquilo
que chama de transformações nos contratos
a serem negociadas com o UAW.
O novo acordo concede todas as reivindicações
feitas pela Delphi quando esta declarou a falência. A demora
de dois anos nas negociações não se deve
à resistência oferecida pelo UAW às concessões
exigidas pela Delphi e pela GM. Não há dúvida
de que o sindicato concordou desde o início com aquelas
concessões.
Os itens mais polêmicos nas negociações
foram, provavelmente, as concessões que o UAW faria à
GM no contrato nacional desse ano e as garantias que as empresas
dariam para garantir os empregos e os salários da burocracia
do sindicato. Esses acordos secretos jamais serão revelados
aos trabalhadores ou ao resto da população.
O acordo reduzirá os salários e benefícios
dos trabalhadores da Delphi a níveis que caracterizavam
as empresas nas quais não há sindicalização.
No entanto, os trabalhadores continuarão financiando o
UAW, pois as contribuições sindicais são
deduzidas na fonte.
Com o acordo, o sindicato está abrindo um precedente
que terá rápidos efeitos sobre todas as empresas
de auto-peças nas quais o sindicato atua.
A assinatura do acordo permitirá à Delphi fechar
negócios com fundos de investimento. O envolvimento dessas
empresas especulativas freqüentemente causa maiores ataques
aos trabalhadores.
A aceitação pelo UAW desses termos demonstra
mais uma vez sua própria falência. Ele não
representa os trabalhadores do setor, mas sim uma casta burocrática
que utiliza sua posição para barganhar e assegurar
um privilegiado padrão de vida para si própria.
A visão da burocracia do UAW foi resumida por um porta-voz
anônimo que disse ao Detroit News: É um bom
acordo, e generoso também.
Pode ser um bom acordo para o aparato do UAW, que vai continuar
a coletar imposto dos trabalhadores, que terão seus salários
cortados pela metade. Entretanto, ele representa um desastre para
os trabalhadores da Delphi e para as comunidades nas quais eles
vivem. O fechamento de fábricas e o corte de salários
levarão a uma redução drástica do
padrão de vida, à hipoteca de bens e a crises familiares.
Cidades já devastadas pela retração da indústria
automobilística, como Flint e Saginaw, em Michigan, e Kokomo,
em Indiana, além de muitas outras, sofrerão novamente
terríveis golpes.
Os trabalhadores da Delphi devem votar pela rejeição
do contrato. Nem um centavo deve sair dos bolsos dos trabalhadores
para pagar por uma crise que eles não criaram. Ao invés
disso, os trabalhadores da Delphi devem organizar uma greve, levando
sua luta aos trabalhadores da Ford, da General Motors e da Chrysler,
assim como a outras fornecedoras de auto-peças. Isso vai
exigir uma luta não apenas contra os patrões, mas
contra o próprio aparato do UAW. Os trabalhadores devem
organizar comitês independentes do sindicato para conduzir
essa luta.
A batalha na Delphi levanta questões políticas
fundamentais. Os ataques aos trabalhadores da indústria
automobilística nos EUA é parte de uma ofensiva
global contra os empregos, os salários e as condições
de trabalho, conduzida pelo grande capital. Essa ofensiva reflete
as manobras de um capitalismo irracional e falido, o qual, para
satisfazer as demandas de uma minúscula elite corporativa,
condena milhões ao empobrecimento.
Ao fazer vistas grossas a estes ataques aos trabalhadores,
a Corte de falências está cumprindo um nefasto papel,
que demonstra que os trabalhadores estão enfrentando não
só a indústria automobilística, mas também
o governo. Todas as instituições políticas,
incluindo os chamados amigos dos trabalhadores no
Partido Democrata, concordam que os trabalhadores da indústria
automobilística devem aceitar massivas reduções
em seu padrão de vida, a fim de aumentar a competitividade
dos fabricantes americanos no mercado mundial.
A classe trabalhadora deve desenvolver uma nova estratégia
política, caso queira defender seus empregos e seu padrão
de vida. A aliança entre o UAW e os políticos do
grande capital no Partido Democrata deixa os trabalhadores impotentes
em relação às manobras das grandes empresas,
que buscam concessões cada vez maiores.
Os trabalhadores da Delphi devem rejeitar as propagandas chauvinistas
do UAW, que responsabiliza o comércio injusto ou os trabalhadores
da China, do Japão e do México pela crise. A culpa
é do sistema do lucro em si.
Para acabar com estes ataques, as empresas ligadas à
indústria automobilística devem ser colocadas sob
gestão democrática e sob o controle da classe trabalhadora,
como empresas de utilidade pública, que visem o bem comum
e não o lucro privado. Para levar isso adiante, os trabalhadores
devem romper com o Partido Democrata e construir seu próprio
movimento político independente, para lutar em unidade
internacional com outros trabalhadores por políticas socialistas.
Esse é o programa colocado pelo Socialist Equality Party
e pelo World Socialist Web Site.