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Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística dos EUA aceita demissões e massivos cortes de salários para tentar acordo com a Delphi

Por Shannon Jones
30 de junio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 25 de junho de 2007.

Na sexta (22), o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística dos EUA (United Auto Workers, UAW) concordou em encaminhar para a assembléia da categoria uma proposta da fabricante de autopeças Delphi, que imporá cortes de pagamentos de até 50%, demissões em massa e amplos cortes de pensões e benefícios. O acordo, que reduzirá definitivamente os salários dos trabalhadores da Delphi a níveis próximos à pobreza e substituirá aposentadorias por planos de assistência muito inferiores, abrirá espaço para a degradação sem precedentes nas condições de vida de todos os trabalhadores da categoria nos EUA.

O acordo, elaborado a partir das negociações entre o sindicato, a Delphi e a General Motors, que controla a Delphi desde 1999, está sendo elogiado por líderes empresariais e pela mídia. O colunista do Detroit News, Daniel Howes, considerou o acordo como sendo “o equivalente, para a indústria automobilística de Detroit, à queda do Muro de Berlim”. Um alto porta-voz da Delphi classificou-o como “um marco significativo na nossa transformação”.

Depois de negociar por 20 meses, o sindicato está pressionando os trabalhadores para votarem rapidamente, dando-lhes o menor tempo possível para apreciar as enormes conseqüências da proposta e mobilizarem-se contra ela. Reuniões de esclarecimento foram realizadas na segunda-feira (25), e a aprovação pelos trabalhadores é esperada para o fim da semana.

O UAW e os patrões estão preocupados em assinar o acordo antes do início das negociações com a Ford, a GM e a Chrysler, as quais estão buscando cortes dos salários e benefícios que chegam a US$ 30 por hora. As Três Grandes e o UAW estão determinados a garantir os cortes salariais, cujos níveis são inéditos, antes das negociações nacionais do setor, de modo a pressionar ao máximo os trabalhadores da indústria automobilística americana a fazer históricas concessões.

Enquanto o acordo permite à Delphi impor bilhões de dólares em concessões e eliminar milhares de empregos, os altos executivos da empresa embolsarão milhões em bônus. No último verão, a empresa anunciou que aumentaria o programa de bônus para executivos para o valor total de US$ 60 milhões. A direção da empresa está deixando claro que se o acordo for assinado, a Delphi sairá da falência e será vendida a fundos de investimento, gerando centenas de milhões de dólares a mais para os executivos e para os financistas de Wall Street.

Nem a empresa nem o sindicato divulgaram oficialmente detalhes do acordo, mas as linhas gerais vazaram para a imprensa. Desde que pediu falência em outubro de 2005, a Delphi vem ameaçando vender ou fechar 21 de suas 29 fábricas nos EUA. Segundo o novo acordo, pelo menos dez plantas serão fechadas imediatamente. Quatro permanecerão sob controle da empresa, e outras cinco vão operar sob controle de terceiros até serem vendidas. As demais serão vendidas assim que possível.

As plantas que serão operadas temporariamente por terceiros são as de Saginaw e Flint East, em Michigan, e a de Dayton, em Ohio.

Desde que a empresa foi formada, em 1999, o número de trabalhadores caiu de 45.600 para 17.000. A maioria dos empregos atuais será eliminada pelo acordo assinado pelo o sindicato.

O acordo reduzirá os salários de 4.000 trabalhadores que atualmente recebem o equivalente aos trabalhadores da GM, que é de US$ 27 por hora, para US$ 14,50. Estão sendo oferecidos a esses trabalhadores pagamentos de parcelas de até US$ 105.000 nos próximos 3 anos para compensar os cortes de salários do período. Também é dada a eles a oportunidade de transferirem-se para plantas da GM que abrirem postos de trabalho, ou receberem pagamentos parcelados no caso de se demitirem voluntariamente. A probabilidade da abertura de postos de trabalho na GM, porém, é pequena, dada a atual retração da empresa.

As compensações fazem parte de uma antiga estratégia empregada pelo sindicato para dividir os trabalhadores, a fim estimulá-los a aceitar o acordo. Em 2004, o UAW permitiu à Delphi fazer novas contratações pagando US$ 14 por hora e com benefícios reduzidos. Além disso, concordou com a contratação de um grande número de trabalhadores temporários.

Após a decretação de falência da Delphi, o sindicato assinou um acordo com a empresa para estimular o pedido de demissão pelos trabalhadores, abrindo caminho para a contratação de novos trabalhadores com salários menores.

Mediante o novo acordo, os trabalhadores antigos que decidirem permanecer na empresa terão que pagar impostos mais altos e novas taxas, assim como os admitidos sob o novo regime de trabalho. O novo regime também acaba com os planos de pensão atuais, substituindo-os por planos inferiores.

Já é sabido que a GM gastará bilhões de dólares para ajudar a subsidiar as compensações. A empresa calcula que vai recuperar o dinheiro e obter altos lucros com o corte de custos na compra de peças da Delphi e naquilo que chama de “transformações” nos contratos a serem negociadas com o UAW.

O novo acordo concede todas as reivindicações feitas pela Delphi quando esta declarou a falência. A demora de dois anos nas negociações não se deve à resistência oferecida pelo UAW às concessões exigidas pela Delphi e pela GM. Não há dúvida de que o sindicato concordou desde o início com aquelas concessões.

Os itens mais polêmicos nas negociações foram, provavelmente, as concessões que o UAW faria à GM no contrato nacional desse ano e as garantias que as empresas dariam para garantir os empregos e os salários da burocracia do sindicato. Esses acordos secretos jamais serão revelados aos trabalhadores ou ao resto da população.

O acordo reduzirá os salários e benefícios dos trabalhadores da Delphi a níveis que caracterizavam as empresas nas quais não há sindicalização. No entanto, os trabalhadores continuarão financiando o UAW, pois as contribuições sindicais são deduzidas na fonte.

Com o acordo, o sindicato está abrindo um precedente que terá rápidos efeitos sobre todas as empresas de auto-peças nas quais o sindicato atua.

A assinatura do acordo permitirá à Delphi fechar negócios com fundos de investimento. O envolvimento dessas empresas especulativas freqüentemente causa maiores ataques aos trabalhadores.

A aceitação pelo UAW desses termos demonstra mais uma vez sua própria falência. Ele não representa os trabalhadores do setor, mas sim uma casta burocrática que utiliza sua posição para barganhar e assegurar um privilegiado padrão de vida para si própria.

A visão da burocracia do UAW foi resumida por um porta-voz anônimo que disse ao Detroit News: “É um bom acordo, e generoso também”.

Pode ser um bom acordo para o aparato do UAW, que vai continuar a coletar imposto dos trabalhadores, que terão seus salários cortados pela metade. Entretanto, ele representa um desastre para os trabalhadores da Delphi e para as comunidades nas quais eles vivem. O fechamento de fábricas e o corte de salários levarão a uma redução drástica do padrão de vida, à hipoteca de bens e a crises familiares. Cidades já devastadas pela retração da indústria automobilística, como Flint e Saginaw, em Michigan, e Kokomo, em Indiana, além de muitas outras, sofrerão novamente terríveis golpes.

Os trabalhadores da Delphi devem votar pela rejeição do contrato. Nem um centavo deve sair dos bolsos dos trabalhadores para pagar por uma crise que eles não criaram. Ao invés disso, os trabalhadores da Delphi devem organizar uma greve, levando sua luta aos trabalhadores da Ford, da General Motors e da Chrysler, assim como a outras fornecedoras de auto-peças. Isso vai exigir uma luta não apenas contra os patrões, mas contra o próprio aparato do UAW. Os trabalhadores devem organizar comitês independentes do sindicato para conduzir essa luta.

A batalha na Delphi levanta questões políticas fundamentais. Os ataques aos trabalhadores da indústria automobilística nos EUA é parte de uma ofensiva global contra os empregos, os salários e as condições de trabalho, conduzida pelo grande capital. Essa ofensiva reflete as manobras de um capitalismo irracional e falido, o qual, para satisfazer as demandas de uma minúscula elite corporativa, condena milhões ao empobrecimento.

Ao fazer vistas grossas a estes ataques aos trabalhadores, a Corte de falências está cumprindo um nefasto papel, que demonstra que os trabalhadores estão enfrentando não só a indústria automobilística, mas também o governo. Todas as instituições políticas, incluindo os chamados “amigos” dos trabalhadores no Partido Democrata, concordam que os trabalhadores da indústria automobilística devem aceitar massivas reduções em seu padrão de vida, a fim de aumentar a “competitividade” dos fabricantes americanos no mercado mundial.

A classe trabalhadora deve desenvolver uma nova estratégia política, caso queira defender seus empregos e seu padrão de vida. A aliança entre o UAW e os políticos do grande capital no Partido Democrata deixa os trabalhadores impotentes em relação às manobras das grandes empresas, que buscam concessões cada vez maiores.

Os trabalhadores da Delphi devem rejeitar as propagandas chauvinistas do UAW, que responsabiliza o comércio injusto ou os trabalhadores da China, do Japão e do México pela crise. A culpa é do sistema do lucro em si.

Para acabar com estes ataques, as empresas ligadas à indústria automobilística devem ser colocadas sob gestão democrática e sob o controle da classe trabalhadora, como empresas de utilidade pública, que visem o bem comum e não o lucro privado. Para levar isso adiante, os trabalhadores devem romper com o Partido Democrata e construir seu próprio movimento político independente, para lutar em unidade internacional com outros trabalhadores por políticas socialistas. Esse é o programa colocado pelo Socialist Equality Party e pelo World Socialist Web Site.