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Alemanha: sindicato liquida a greve da Deutsche Telekom - concorda com cortes salariais e extensão da jornada de trabalho

Vote "não" ao acordo!

Por Declaração do comitê editorial
30 de junio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 25 de junho 2007.

Depois de uma greve de quase seis semanas dos trabalhadores da Deutsche Telekom, o sindicato que representa os trabalhadores deste setor (Verdi) concordou, na última semana, com praticamente todas as exigências da companhia.

A Deutsche Telekom é a maior empresa de telecomunicações da Alemanha, e o governo detém 15% de suas ações. Sob as marcas T-Com, T-Mobile e T-Systems ela opera em mais de 50 países, tendo alcançado, em 2006, um crescimento de mais de 45% em todo o mundo.

Daqui a alguns dias — em 1 de julho — cerca de 50.000 trabalhadores serão transferidos para três novas unidades de serviços da Telekom. O Verdi concordou com uma drástica diminuição dos salários, com a extensão da jornada de trabalho e com a degradação das condições de trabalho. A companhia alcançou, com isso, seu objetivo de poupar entre € 500 e € 900 milhões (entre US$ 672 milhões e US$ 1,2 bilhão) por ano até 2010. "Nós estamos alcançando nossos objetivos", comentou o diretor de recursos humanos, Thomas Sattelberger.

Raramente um sindicato alemão liquidou uma greve de forma tão aberta e sem a menor vergonha. Nós conclamamos todos os trabalhadores da Deutsche Telekom a rejeitarem o resultado das negociações e dizerem "não" ao acordo na votação que será realizada na quinta e sexta-feira (29 e 30).

Ao mesmo tempo, é necessário desenvolver um comitê de greve independentemente do Verdi, com o objetivo de continuar a luta na fábrica. Nas últimas semanas, os dirigentes do Verdi minaram sistematicamente a greve e isolaram os grevistas. Em nenhum momento eles se dispuseram a ampliar a ação e conduzir a uma greve geral.

Agora eles querem assinar um acordo que contraria claramente os interesses dos grevistas. Eles estão se escondendo por trás do regulamento do Verdi, segundo o qual são necessários apenas 25% dos votos para que se aceite o resultado das negociações e se ponha fim à greve. Ou seja: mesmo de 74% votar contra, o resultado da negociação será aceito pelo sindicato e a luta será sufocada.

Mas o direito de greve não depende dos estatutos antidemocráticos dos sindicatos. É um direito fundamental que não pode ser subordinado a decisões arbitrárias dos dirigentes dos sindicatos que se sentam ao lado da administração da Telekom no quadro de supervisão da companhia, e pertencem ao Partido Social Democrata (SPD) que, sendo um partido governista, representa os interesses dos grandes acionistas.

No dia em que o sindicato fechou o acordo com a Deutsche Telekom, os dirigentes do Verdi foram para as reuniões dos trabalhadores a fim de falar do resultado das negociações, impedindo de falar todos aqueles que tentassem se opor a eles. Para conseguir que a maioria assuma uma posição contrária a essa traição, é necessário mostrar claramente os fatos.

O acordo fechado pelo Verdi contém os seguintes detalhes: já em julho, os 50.000 trabalhadores transferidos para as novas unidades de serviço terão que trabalhar quatro horas a mais por semana. A semana de trabalho aumentará para 38 horas sem o aumento correspondente nos salários. Esse tempo excedente não-pago significa um corte de mais de 10% do salário. O Verdi ainda concordou em re-classificar os sábados como um "dia de novos clientes"; no futuro, esse dia contará como parte da semana de trabalho regular — em outras palavras, todos os bônus para as horas trabalhadas aos sábados serão abolidos.

Como se isso não bastasse, os salários receberão um corte de 6,5%. Para facilitar a implementação desse acordo, o Verdi concordou em aplicar esse corte de forma progressiva: a Deutsche Telekom complementará os salários nos 18 meses iniciais para igualar os salários ao nível atual. Nos 12 meses seguintes, somente dois terços da diferença entre os níveis serão compensados e, nos últimos 12 meses, apenas um terço. O fim destes complementos será no dia 31 de dezembro de 2010, quando será aplicado, de fato, 6,5% de corte salarial, além de não serem pagas as horas-extras.

Aprendizes e recém-contratados serão os mais afetados. As novas faixas salariais serão rebaixadas em cerca de 30% em relação ao salário atual. Os trabalhadores serão divididos em duas categorias, com o nítido objetivo de isolá-los. De acordo com a Deutsche Telekom, essas novas faixas salariais variarão entre € 1.750 e € 1.900 por mês (US$ 2.350 - US$ 2.550).

Apesar de o Verdi ter capitulado a todas as principais exigências da companhia, o sindicato tem ainda a coragem de apresentar o resultado das negociações como uma vitória. Em sua primeira nota à imprensa, o sindicato afirmava que o ele havia "impedido que os trabalhadores tivessem seus bolsos pilhados". O Verdi afirmou que "concordou com o acordo" com a Deutsche Telekom porque este "garante que os salários dos 50.000 empregados que serão transferidos às novas unidades de serviço serão pagos integralmente no futuro".

Isso é simplesmente uma mentira! As quatro horas adicionais não pagas semanalmente, que se aplicam imediatamente a todos os transferidos às novas unidades de serviço, representam um corte salarial. O fato de o Verdi não definir a extensão da jornada semanal sem um aumento correspondente nos salários como uma perda nos rendimentos dos trabalhadores torna claro como os seus dirigentes aceitaram os argumentos da companhia.

O Verdi afirma que o corte salarial de 2009 será compensado "com o retorno de pagamentos que forem devidos". Isso também é pura sujeira. O fato é que o Verdi concordou com um reajuste zero para o próximo ano, não somente para aqueles que irão para as novas unidades de serviço, mas para todos os trabalhadores da terceirizada T-Com e em todos os estabelecimentos da empresa. Em outras palavras, a compensação de pagamentos considerada como uma vitória pelo sindicato será financiada por meio da redução salarial de todos os trabalhadores.

A extensão da garantia do emprego até 31 de dezembro de 2012, que o sindicato também diz ser uma vitória, não está de forma alguma garantida. Sobretudo, o objetivo desta proposta é ajudar o Verdi a convencer os trabalhadores. Quando questionado, um porta-voz da Telekom disse ao WSWS que o desmantelamento de 32.000 empregos que foram anunciados em 2005 deve ser "mantido sem alterações".

Além disso, a garantia de que as novas unidades de serviços não serão vendidas vale somente até o final do ano de 2010. O que acontecerá depois permanece em aberto. E afinal de contas, é interesse da administração manter os trabalhadores altamente qualificados e experientes com baixos salários por meio do acordo com o Verdi.

Existe ainda uma outra razão para que o acordo seja rejeitado. Se o Verdi for capaz de forçar os trabalhadores a aceitá-lo, o rebaixamento contido no acordo servirá como um precedente. Diversas indústrias e serviços já prepararam planos semelhantes, que prevêem a diminuição dos salários e o prolongamento da jornada de trabalho. O acordo da Deutsche Telekom abrirá as portas, preparando uma onda de cortes salariais e de degradação das condições de trabalho inédita na Alemanha.

Lições políticas

Não é uma coincidência que, imediatamente após a coletiva de imprensa em que a administração da Deutsche Telekom e o Verdi anunciaram que haviam chegado a um "acordo", o porta-voz do governo, Thomas Steg, afirmou que o governo "tomou conhecimento e elogiou" o acordo. O governo alemão é o maior acionista da Deutsche Telekom e todas as decisões estratégicas importantes da companhia são feitas em discussões próximas com o ministério das finanças, de Peer Steinbrück, do Partido Social Democrata (SPD), e o ministro do trabalho, de Müntefering (SPD).

Consequentemente, a greve foi dirigida não somente contra o quadro da Deutsche Telekom, mas também contra o governo federal. E isso é precisamente o motivo pelo qual o Verdi não se dispôs a liderar a greve de maneira firme, traindo seus associados. O Verdi é fortemente ligado ao SPD e apóia, de diversas maneiras, as políticas do governo composto pela grande coalizão entre Democratas Cristãos e Sociais Democratas.

Numa declaração publicada no dia 22 de maio (ver "Apoio aos grevistas da Deutsche Telekom! Construir um movimento de massas contra a grande coalisão alemã!"), o WSWS advertiu os trabalhadores a respeito dos prováveis riscos de traição por parte do sindicato:

"Com poucos dias de greve, já se pode dizer claramente: se esta greve se mantiver sob o controle dos funcionários do Verdi, estará condenada à falência".

"Todo o apoio que se der à greve deve estar associado a uma luta contra a política oportunista do sindicato. Esse ataque da direção da companhia — que tem o apoio do governo — exige uma estratégia política completamente nova. A produção deve ser tirada das mãos da elite financeira e posta a serviço da sociedade como um todo".

"A greve deve ser o ponto de partida de uma luta para romper com as velhas organizações de orientação nacionalista — os sindicatos e o SPD — e para unir os trabalhadores em todas as indústrias da Europa e de todo o mundo, pela reorganização socialista da sociedade".

Essa avaliação foi completamente confirmada. Uma luta contra a diminuição dos salários, contra o aumento das horas de trabalho e contra a degradação das condições de vida não é impossível, mesmo diante da covarde capitulação do Verdi. Isso só confirma que os trabalhadores devem preparar uma longa luta política. Nós convocamos todos os trabalhadores da Deutsche Telekom para rejeitarem a liquidação arquitetada pelo Verdi, assim como a todos aqueles que apoiaram a greve: nós estamos prontos para apoiar ativamente a continuação da greve e a luta contra o Verdi. Contate o World Socialist Web Site e discuta essas questões com os seus colegas.

 



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