Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 6 de junho de 2007.
Antes de deixar o cargo, o primeiro ministro britânico
Tony Blair esperava que o encontro do G8 realizado em junho em
Heiligendamm, Alemanha, conseguisse impulsionar a campanha que
seria responsável por deixar o seu suposto legado.
Ele deve deixar de ser o primeiro ministro britânico em
junho.
Blair criou uma Comissão Africana e, na reunião
do G8 realizada na Escócia em 2005, ele conseguiu o comprometimento
dos chefes de Estado lá reunidos em aumentar a ajuda a
alguns dos mais pobres países do mundo, incluindo os países
da África subsaariana.
O encontro do G8 de 2005 deveria ser o auge de uma campanha
realizada por Organizações não governamentais
(ONGs) e grupos da igreja para Fazer da Pobreza algo do
passado. A campanha foi liderada pelos músicos Bob
Gedolf e Bono. A avaliação de Gedolf ao final do
encontro foi muito positiva. Blair declarou que isso significava
um grande progresso.
A resolução do encontro dos países do
G8 em 2005 em Gleneagles, Escócia, afirmava: dentro
de apenas dez anos... alcançaremos os objetivos acordados
no Encontro do Milênio de 2000. O G8 deve continuar com
o foco na África, que é o único continente
que não tem condições de alcançar
qualquer um dos objetivos da Declaração do Milênio
até 2015.
Muitos dos compromissos foram ignorados ou apenas em parte
alcançados. O Guardian noticiou o recente encontro
preparatório da reunião do G8 em Berlim. De acordo
com um artigo do Guardian do dia 16 de maio, os delegados
britânicos que levantaram a questão da ajuda aos
países pobres foram recebidos com pouca simpatia. A reportagem
cita um representante russo que disse: nós só
fizemos aquela promessa em solidariedade ao Tony Blair, por causa
dos ataques terroristas de 7 de julho. Ele se referiu aos
atentados a bomba nos ônibus e metrôs de Londres,
que haviam ocorrido no dia anterior.
Bono pediu uma sessão emergencial no encontro do G8
para comentar o fracasso das promessas de ajuda. Falando ao Guardian,
ele disse: não é somente a credibilidade do
G8 que está em jogo. É a credibilidade do maior
protesto não violento dos últimos 30 anos. Ninguém
quer voltar àquilo que vimos em Gênova, mas eu sinto
que há um grande perigo disso vir a acontecer.
Diversas reportagens publicadas recentemente mostram a grande
diferença entre o prometido e o realizado. Uma delas é
a da organização dirigida por Bono e Geldof, Debt
AIDS Trade Africa, ou DATA . O objetivo da reportagem é
o de pressionar o G8. Ela coloca: esperamos que aquela decisão
toque no coração da chanceler Merkel (da Alemanha)
quando ela presidir a sessão principal do encontro do G8
em Heiligendamm em relação à África.
O relatório da DATA comenta o abandono dos países
do G8 em relação à promessa assumida por
eles - US$ 25 bilhões por ano como ajuda ao desenvolvimento
até 2010. Ele observa:
Coletivamente, o G8 está longe de cumprir a promessa
de assistência ao desenvolvimento da África. No total,
a assistência do G8 aos países subsaarianos cresceu
somente US$ 2,3 bilhões desde 2004, quando deveria ter
crescido US$ 5,4 bilhões nesse período... a preocupação
aumenta diante do pequeno crescimento de contribuições
planejadas pela maioria dos países do G8 para 2007 e 2008.
Se o G8 não reagir rapidamente e voltar aos valores propostos
originalmente, as ações feitas até agora...
serão perdidas....
Com relação ao trabalho o relatório afirma
que a falta de acordo internacional e a falta de foco na
África significa que nós não podemos constatar
qualquer progresso genuíno... nós devemos considerar
todos os países membros do G8 como responsáveis
por essa derrota coletiva.
Um relatório lançado pela CONCORD, uma ampla
organização que representa as ONGs localizadas na
Europa, analisa os programas de ajuda das nações
da União Européia. O relatório intitula-se
Segurem os aplausos.
Ele declara que a quantia prometida pelos governantes europeus
não corresponde àquela que tinha sido originalmente
prometida: se os governos europeus não aumentarem
as atuais contribuições, os países pobres
terão recebido, até 2010, 50 bilhões de euros
a menos do que... havia sido prometido. Ele acusa que os
principais objetivos dos programas de ajuda dos governos europeus
estão relacionados com a garantia da segurança,
as alianças geopolíticas e os assuntos nacionais.
A análise mostra que 30% da ajuda confirmada pelos governos
europeus não representava realmente uma nova ajuda. Entre
os métodos utilizados para inflar os números está
o perdão de dívidas e o cancelamento de dívidas
de créditos de exportação. De acordo com
o relatório, os créditos de exportação
são usados para oferecer garantias às companhias
nacionais em seus negócios com países em desenvolvimento,
evitando aventuras que muitas vezes são lucrativas, mas
em certa medida arriscadas.
Uma outra forma de inchar os números é incluir
gastos com os refugiados na Europa e com a educação
de estudantes estrangeiros na Europa. O relatório cita
números da Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômicos (OECD) que mostram que o
percentual de ajuda européia à África está,
na verdade, diminuindo. Enquanto em 2004 eram destinados 41% para
a África, em 2005 foram apenas 37%.
A CONCORD afirma ainda que ajudas em mantimentos estão
frequentemente relacionadas ao excedente da produção
alimentícia dos países doadores. Um artigo
recente da revista de alimentos do jornal Observer acusou
o governo americano de fazer a mesma coisa. O artigo observou:
o volume de ajuda dos EUA aumentou expressivamente (mais
de 20% da produção de cereais)... quando os preços
estavam baixos... mas quando os preços estão altos
esse número cai para apenas 5%.
Um relatório da organização de caridade
pelo desenvolvimento Oxfam é intitulado: O Mundo
Ainda Espera. Promessas quebradas do G8 estão custando
milhões de vidas.
O relatório observa que depois de dois anos desde o
encontro do G8 de Gleneagles, a verdade inaceitável
é que eles estão quebrando suas promessas, o que
gera terríveis conseqüências. A Oxfam
calcula que a diminuição do dinheiro prometido resulta
na morte de 1 milhão de mulheres durante a gravidez ou
parto pela falta de simples cuidados médicos, e de 21 milhões
de crianças com menos de cinco anos por causa da extrema
pobreza.
No Scotsman de abril, Jeffrey Sachs, diretor do Instituto
da Terra na Universidade de Columbia, Nova York, disse que: no
primeiro ano depois do encontro de Gleneagle, as contribuições
foram maquiadas por números enganosos, que incluíam
o cancelamento de dívidas... os documentos agora estão
revelando a verdade: a ajuda ao desenvolvimento da África
e dos países pobres, no geral, está estagnada....
Muito foi feito em relação ao cancelamento das
dívidas anunciado no encontro do G8 em 2005. De acordo
com a Campanha do Jubileu das Dívidas, os 54 países
mais pobres têm dividas que equivalem a US$ 300 e US$ 400
bilhões e a dos 152 países mais pobres chegam a
mais de US$ 2,5 trilhões.
Eles ainda dizem: a dívida externa total dos países
muito pobres (os países de baixos recursos
que têm uma renda média anual menor que US$ 875 por
pessoa) era de US$ 412 bilhões ao final de 2005. Durante
2005, esses países pagaram cerca de US$ 43 bilhões
ao mundo rico em serviços de dívidas (pagamentos
de importações) o que significa US$ 118 milhões
por dia.
A proximidade da conferência estimulou os usuais gestos
de generosidade. Bush anunciou US$ 30 bilhões
a mais para lutar contra o HIV/Aids. Bush estabeleceu o Programa
Emergencial do Presidente para Ajuda à Aids (Pepfar) em
2003 com um orçamento de US$ 15 bilhões ao longo
de cinco anos. Este programa deve encerrar em setembro. O novo
dinheiro deverá ser alocado para os próximos cinco
anos. Todavia, como observou um artigo do dia 31 de maio no Guardian,
apesar de o Sr. Bush ter anunciado os US$ 30 bilhões,
ele tem que pedir que o congresso indique as fontes dos recursos.
Com os bilhões de dólares destinados ao Iraque será
difícil para o congresso decidir de onde vai tirar os recursos
num orçamento americano já muito apertado.
Segundo a lei americana, pelo menos um terço dos gastos
deve se destinar a organizações cristãs que
promovem a abstinência e se opõem ao uso de preservativos.
O Dr. John Santelli, da escola de saúde pública
da Universidade de Columbia, explicou: você não
pode realizar um bom programa se você está dando
orientações contraditórias. Num local você
defende a abstinência e numa clínica próxima
você distribui preservativos, ambas as ações
sendo financiadas pelos EUA.
Aditi Sharma, líder de campanhas da ActionAid,
uma agência internacional contra a pobreza, comentou: as
pessoas que contraíram HIV estão cansadas de promessas
vazias e não aceitarão nada que não seja
um plano de fundos a longo prazo para alcançar o objetivo
de acesso universal à prevenção, ao tratamento
e aos cuidados até 2010.
Um relatório recente da ActionAid observou que
os países do G8 precisariam triplicar a soma de doações
à prevenção e ao tratamento da Aids para
alcançar os objetivos. Sharma observou: mesmo com
o anúncio (de Bush), os EUA estão ainda muito longe
deste número.
Uma carta aberta da campanha organizada pela Universal Access,
em nome de mais de 250 colaboradores e organizações
relacionadas ao HIV, foi enviada aos líderes do G8. Eles
dizem que a UNAIDS estima que uma resposta mundial
à AIDS precisa de US$ 20 a 30 milhões anuais, mas
atualmente dispomos somente de US$ 8 milhões para 2007
e US$ 10 milhões para o período de 2008 a 2010.
Com a Alemanha na atual presidência do G8, Ângela
Merkel foi pressionada a fazer um pronunciamento. Ela prometeu
aumentar a ajuda ao desenvolvimento em 750 milhões de euros
por ano nos próximos quatro anos. Max Lawson, da Oxfam,
disse que isso não é suficiente. Para
alcançar o objetivo alemão de destinar 0,51% do
PIB em ajudas, o seu aumento deveria ser aproximadamente o dobro
da quantia proposta.
Em abril foi criado o Painel de Progresso da África
(APP). Entre os líderes estão Kofi Annan, ex-secretário
geral das Nações Unidas, Michael Camdessus, ex-diretor
administrativo do Fundo Monetário Internacional e Bob Geldof.
Numa declaração recente, ele observou que somente
10% das promessas feitas no encontro do G8 em Gleneagles foram
realizadas. Annan encontrou Merkel no final de abril. Depois do
encontro, ela comentou: nós daremos seguimento ao
que foi decidido em Gleneagles... nós não precisamos
fazer mais conferências para estabelecer novos objetivos.
O fato de o G8 ter ficado tão distante das promessas
de ajuda demonstrou o caráter mentiroso de sua suposta
preocupação em relação à pobreza
na África. Os países do G8 têm um interesse
renovado pela África, mas o que está se desenvolvendo
é uma nova batalha pelos recursos africanos. Os EUA reorganizaram
recentemente sua estrutura de comando militar, alinhada ao seu
crescente interesse estratégico e de recursos do continente.
Os EUA estão se tornando cada vez mais dependentes do petróleo
africano para suprir as suas necessidades. Os ministros de finanças
do G8 se encontraram recentemente na Alemanha, antes da reunião
de todo o G8. Uma reportagem da BBC disse: a Alemanha considera
que a China, que depende do acesso a matérias-primas para
alimentar a sua economia que cresce muito rapidamente, como um
dos maiores riscos à África rica em minerais.