Novas demissões foram anunciadas no setor tecnológico
dos EUA no final da última semana de maio, conseqüência
da competição feroz que levanta sombrias perspectivas
para as companhias cujo preço das ações está
caindo. A Dell Inc. liderou as demissões, anunciando que
eliminará 8.000 empregos ao longo do próximo ano.
Estes novos cortes na fabricante de computadores representam uma
redução de 10% dos seus 81.000 trabalhadores e fazem
parte de um plano mais amplo para cortar custos.
O fundador da companhia, Michael Dell, realizou uma grande
mudança em seus postos executivos desde que retomou a liderança
da Dell, em janeiro. A companhia sediada no Texas continua a luta
para reconquistar o mercado de ações perdido para
a Hewlett-Packard (HP), que assumiu o topo dos negócios
mundiais no ano passado. A HP manteve a liderança em relação
à Dell no primeiro trimestre, com 4% a mais de negócios
realizados.
O lucro da Dell no primeiro trimestre foi de US$ 759 milhões,
ou 34% por ação, na venda de US$ 13,95 bilhões,
o que superou a previsão dos analistas, que era de 26%
por ação, mas representou apenas um pequeno acréscimo
em relação aos 33% por ação do mesmo
período do ano passado. Em seu informe, a Dell disse que
estava revendo os custos de toda a companhia e que demissões
poderão ser realizadas em diferentes regiões e segmentos
para "refletir as oscilações dos negócios,
assim como as questões legais de cada local".
Em maio, a Dell abandonou o seu antigo modelo de negócios
baseado em vendas diretas ao consumidor, anunciando que deve começar
a vender os computadores por meio da gigante Wal-Mart a partir
de 10 de junho.
A Motorola, a segunda maior produtora de aparelhos de
telefonia móvel do mundo, anunciou na quinta-feira (31/05)
que cortará 4.000 empregos esse ano, somando um total de
cortes em 2007 de mais que 11% de seus trabalhadores. Os novos
cortes se somam às 3.500 demissões que a companhia
já havia planejado realizar até 30 de junho.
A Motorola tem perdido mercado para a sua rival Nokia, a líder
do mercado, por causa da competição de preços
e a inexistência de modelos de telefones mais avançados.
A Schaumburg, companhia sediada em Illinois, que empregava 66.000
trabalhadores no final de 2006, anunciou prováveis medidas
relacionadas a cortes de custo em junho.
Executivos da Motorola, que produz também equipamentos
de redes de computador e receptores de televisão, afirmaram
nos últimos meses que poderiam transferir a prioridade
dos negócios em telefonia para aumentar a lucratividade
a qualquer custo. A companhia espera conseguir economizar US$
600 milhões em gastos anuais no ano de 2008 demitindo os
4.000 trabalhadores e US$ 400 milhões em conseqüência
das 3.500 demissões já anunciadas em janeiro.
A International Business Machines Corp. (IBM), a maior
companhia do setor da informática, anunciou 1.570 demissões
na quarta-feira (30/05). A maioria dos cortes será feita
nas unidades de serviços de tecnologia, onde os lucros
caíram 19% no último trimestre. A maioria dos cortes
de emprego ocorrerá na América do Norte e equivalem
a cerca de 1,2% dos 128.000 trabalhadores da IBM nos EUA.
A IBM, sediada em Armonk (Nova York), emprega cerca de 355.800
trabalhadores em todo o mundo, alcançando US$ 22 milhões
em vendas no último trimestre. O diretor executivo, Sam
Palmisano, afirmou que a companhia estava transferindo a prioridade
que até agora era direcionada aos serviços de informática
para a área de softwares, na tentativa de impulsionar os
lucros, estimando que cerca de metade de seus lucros até
2010 se origine da venda de softwares.
No início de maio, a companhia cortou cerca de 1.300
empregos em sua unidade mundial de serviços. Um porta-voz
da companhia negou-se a afirmar se há possibilidade de
futuras demissões.
Estes cortes no setor de tecnologia ocorrem num cenário
de baixíssimo crescimento econômico no primeiro semestre
de 2007, período no qual a construção civil
apresentou uma queda repentina e o espaço para o lançamento
de um novo produto no mercado diminuiu profundamente. O produto
interno bruto norte-americano cresceu somente 0,6% nos três
primeiros meses desse ano, o menor crescimento desde 2002.
Na sexta-feira (01) o ministério do trabalho dos EUA
anunciou um aumento líquido de 157.000 na folha de pagamentos
da indústria não agropecuária, depois de
ter crescido 80.000 em abril e 175.000 em março. A taxa
de desemprego oficial que não leva em conta aqueles
que desistiram de procurar emprego permaneceu em 4,5%.
Todavia, enquanto o setor de serviços apresentou um
ganho total de 176.000, 19.000 empregos foram cortados no setor
produtivo. Os cortes de emprego continuam a atacar duramente na
região industrial do meio-oeste, onde a maioria das grandes
indústrias automobilísticas e de autopeças
está realizando profundos cortes, que estão tendo
um impacto devastador nas famílias de trabalhadores. No
ano passado, o estado de Michigan perdeu 53.000 empregos, devendo
perder outros 43.000 este ano.
Outro indício da precária situação
da economia do estado é a queda do rendimento dos trabalhadores
americanos, que pela primeira vez nos últimos dois anos
ocorre no mês de abril, a uma taxa de 0,1% em relação
ao mês anterior. Pela 22ª semana seguida, a poupança
pessoal disponível também ficou negativa em abril
(-1,3%).
Índices relacionados à venda de casas continuam
piorando. As vendas das casas usadas, que corresponde a cerca
de 85% das vendas de residências, caiu 2,6%, o que representa
o mais baixo nível dos últimos quatro anos, de acordo
com o grupo Realtors. O valor das casas também caiu cerca
de 1,4% em todo o país em relação ao primeiro
trimestre de 2006 - a primeira queda desde 1991.
Um grande fator que aumenta a oferta de casas no mercado é
o atraso no pagamento das prestações dos financiamentos,
o que causou 437.500 despejos no primeiro trimestre de 2007 nos
EUA, representando um aumento de 35% em comparação
ao mesmo período do ano passado. Com o acréscimo
da inadimplência, os bancos estão aumentando as exigências
para a liberação de financiamentos, o que dificulta
a compra de casas.
A construção de novas residências é
ainda baixa. A Associação Nacional de Construtoras
Residenciais estima que somente em 2011 o setor voltará
a apresentar os mesmos níveis do ano passado. Com a queda
nas vendas, as construtoras estão cortando empregos. A
Pulte Homes Inc., sediada em Bloomfield Hills (Michigan), terceira
maior construtora do país, planeja demitir mais 16% de
seus trabalhadores, além dos 25% que já foram cortados
desde o início da queda das vendas de residências.