Hoje já diversos analistas, tanto nacionais como internacionais,
são unânimes em reconhecer que novamente crise profunda
envolve o governo Lula: amplos setores dos grandes centros urbanos,
das diversas classes sociais, se afastam e rompem com o governo.
Mesmo setores da burguesia não diretamente beneficiados
pelo governo o abandonam. Quanto à juventude e trabalhadores
urbanos, sem dúvida, dia a dia, afastam-se e rompem mais
e mais com o governo incompetente, corrupto, repressor e criminoso
de Lula.
As recentes vaias no estádio do Maracanã, por
ocasião da abertura dos jogos Pan Americanos, foram simbolicamente
importantes, e devem se repetir, a cada vez que o presidente aparecer
em grandes concentrações urbanas. Assim é
que, desta vez, no caso do último acidente aéreo,
para simular solidariedade, Lula pensou em ir ao local da tragédia,
mas, foi aconselhado a não comparecer, temendo-se a reação
popular de repúdio.
As denúncias sucessivas e infindáveis de corrupção
se repetem. Após a crise do mensalão em 2005-2006,
agora a crise no Senado continua, com o seu presidente, Renan
Calheiros, acusado de corrupção. Sua ex-amante recebera
grandes pagamentos mensais em dinheiro da construtora Mendes Jr.
As investigações prometem se arrastar até
pelo menos setembro. Certamente, a tática de Renan, ao
não renunciar, era esperar que outra crise maior viesse
a cobrir o noticiário, fazendo com que ele possa sair do
centro do noticiário e escapar sem punição.
De fato, o novo escândalo, desta vez trágico,
apareceu, com a queda do avião da TAM, desembocando na
morte de 200 pessoas. Desde o acidente do avião da Gol,
há menos de um ano, que matou 154 pessoas, havia já
uma crise no espaço aéreo e aeroportos brasileiros.
Os controladores aéreos denunciaram as péssimas
condições de trabalho e praticamente alertavam que
novo acidente podia ocorrer a qualquer momento. Suas lideranças
chegaram a serem presas.
Infelizmente eles tinham razão, todo o sistema aéreo
brasileiro parece falido. A crise permanente nos aeroportos, com
esperas e atrasos de horas e horas é apenas um aspecto
de um sistema aéreo totalmente desorganizado onde aeronáutica,
organismos civis, controladores aéreos, empreiteiras e
políticos se chocam e se digladiam atrás de interesses
contraditórios. A repetição de fatos como
a queda do avião da companhia Gol, evidentemente, era totalmente
previsível e, de fato, ocorreu, de maneira mais trágica:
caiu mais um avião, agora, não mais na selva, mas
sim, no próprio centro da cidade de São Paulo.
Na queda do avião Airbus da TAM, morreram 200 pessoas,
entre passageiros e pessoas que estavam na região. Dezenas
de imóveis da região foram atingidos, prédios
e casas pegaram fogo e muitas construções foram
destruídas ou inutilizadas totalmente.
Diante dos fatos alarmantes, diante do choque e indignação
provocado pelas notícias da TV e dos jornais, neste caso,
como fizera nos outros sucessivos casos de escândalo que
atingiram o governo Lula,.toda a preocupação maior
do presidente e do governo era mostrar que eles não sabiam
as causas e, sobretudo, que eles não tinham nada a ver
com isso.
Relaxa e goza
No caso da corrupção do mensalão, no caso
do caseiro cuja conta bancária foi violada pelo ministro
da Economia, Palocci, no caso das malas de dinheiro que eram descobertas
com membros do governo ou políticos, no caso dos dólares
na cueca de dirigente do PT, sempre a preocupação
maior do governo era mostrar que Lula e seus assessores, nada
sabiam e nada tinham a ver com isso. Sempre outros eram os misteriosos
culpados, em geral, nunca detectados.
Rompendo qualquer padrão de ética pública,
quando cobrados sobre os escândalos, os políticos
em torno de Lula, mesmo ministros de Estado, chegavam, muitas
vezes, ao sarcasmo e mesmo até à obscenidade. Já
no caso da crise aérea, diante do sucessivo atraso dos
vôos e desespero dos passageiros que, às vezes, eram
obrigados a dormir nos aeroportos, a Ministra do turismo, Marta
Suplicy, ironicamente, recomendou: relaxa e goza.
No caso do acidente da TAM, o comportamento irresponsável
e obsceno foi pior. Como se viu, Marco Aurélio Garcia,
assessor especial de relações internacionais da
presidência da república, foi flagrado pelas câmeras
comemorando o suposto defeito mecânico do avião da
TAM e fazendo com as mãos, para os críticos do governo,
os gestos característicos de fodam-se, enquanto
outros gestos similarmente grotescos foram feitos por Bruno Gaspar,
outro assessor da presidência:
Repórter da Globo gravou vídeo com os gestos
obscenos dos assessores de Lula. Como se noticiou na Folha
on line
No momento em que a reportagem {da TV Globo} ia ao ar,
às 20h17, Garcia -assessor especial para assuntos internacionais
da Presidência- fez por três vezes o gesto em que
se bate a palma da mão estendida contra a outra mão,
fechada. Ao seu lado, o assessor Bruno Gaspar foi mais efusivo,
esticando os dois braços para a frente e depois trazendo
os cotovelos em direção ao quadril. A imagem foi
transmitida no Jornal da Globo.
A obscenidade e caráter grotesco dessas cenas mostram
que já estamos no interior de um governo cuja única
preocupação é se perpetuar no poder continuando
a usufruir da corrupção generalizada, e o que é
pior: um governo que é capaz de realizar qualquer ato necessário
para permanecer no poder, ainda que, para isso, mate centenas
de pessoas. Como Bush no Iraque e nas catástrofes que têm
atingido os EUA, Lula permanece indiferente, e seus assessores
comemoram se conseguem por a culpa em qualquer outro.
Como o governo Bush se comportou no furacão Katrina
e no Iraque, permitindo de forma irresponsável a morte
de civis e a destruição de prédios e cidades,
assim faz o governo Lula, invadindo o Haiti, atacando fábricas
ocupadas, fechando os olhos para a corrupção generalizada,
e permitindo que a crise aérea chegue já a matar
mais de 350 pessoas em menos de um ano, deixando ainda milhares
esperando em aeroportos por horas e horas. A vergonha é
maior, para nós brasileiro. Pelo menos os assessores de
Bush não foram flagrados mandando os americanos foderem-se.
o coração partido
Na sexta-feira, dia 20, finalmente, Lula falou à nação
sobre o episódio da TAM. As cinco medidas anunciadas por
Lula, junto com as condolências e a declaração
hipócrita de estar com o coração partido,
dificilmente podem ser suficientes para encobrir os gestos obscenos
de Marco Aurélio Garcia, assim como todos os novos sinais
de corrupção que estão aparecendo a partir
do acidente.
As medidas propostas por Lula são ineficazes e demagógicas.
Como sempre, ainda é cedo para saber as causas, mas
tudo será investigado com o maior rigor disse ele.
Uma das medidas anunciadas por Lula, construir um novo aeroporto,
já deve estar sendo pensada como mais uma grande oportunidade
para uma série de empreiteiras e políticos de ganhar
muito dinheiro e ampliar a corrupção já existente.
As medidas tomadas por Lula, assim como os gestos obscenos
de seus assessores, tornam mais e mais evidente que a crise aérea,
agora agravada com este último acidente, é inseparável
da crise geral que toma conta de todas as instituições
no Brasil e a escala mundial.
Agora, mais uma vez, aparecem escancaradas as ligações
dos desastres e da miséria da maior parte da população
com o lucro das empresas, neste caso, sobretudo, com o lucro das
companhias aéreas e das empreiteiras, que compram os políticos,
boa parte do congresso nacional, do judiciário e da polícia.
O senador Roriz, por exemplo, que há pouco renunciou para
escapar à cassação, não por acaso,
dividiu o dinheiro corrupto justamente no escritório de
um dos donos da Gol.-uma companhia aérea que cresceu em
alguns anos de forma gigantesca, para não dizer quase milagrosa.
A reforma inacabada da pista do aeroporto de Congonhas, que
custou 19 milhões, e permaneceu sem as ranhuras (groovings)
de escoamento da água, pode ter sido uma das causas do
acidente. No mesmo dia chuvoso do acidente, outros aviões
derraparam na pista, conseguindo parar somente encima da grama.
Enquanto a pista permanecia inacabada, foram feitas reformas milionárias
na parte comercial de Congonhas, nas lojas, bares e salas de estar,
ou seja, na parte shopping, reforma, esta sim, concluída
pelas empreiteiras compradoras de políticos, como Roriz
e Renan Calheiros.
Quase simultaneamente ao anuncio do acidente, da morte de 200
pessoas e do fodam-se recomendado por Marco Aurélio,
era anunciado o aumento do Bolsa Família, sustentáculo
do governo Lula. Como se leu na imprensa desta semana:
O Diário Oficial desta terça-feira publica
um decreto reajustando os benefícios do programa Bolsa
Família motor da popularidade de Lula. O aumento foi, em
média, de 18,25%. A partir de agosto, o maior benefício,
pago às famílias extremamente pobres
-renda per capita de R$ 60passa de R$ 95 para R$ 112.
Para Lula, para Marco Aurélio, como para Bush e para
todos os políticos burgueses, a questão é
ficar no poder a qualquer custo obedecendo à lógica
contraditória e destrutiva do capital. Na verdade, o acidente
do avião da TAM, como o do avião da Gol, podiam
ser evitados, como a maioria das catástrofes sucessivas
que ocorrem no Brasil e no mundo (tais como o Katrina nos EUA,
a guerra no Iraque e a invasão do Haiti), todos esses acontecimentos,
porém, são parte da lógica contraditória
do capital destruindo forças produtivas para subsistir.
Na lógica do capital, as catástrofes, as guerras
e as mortes aparecem como contra-tendências salvadoras do
capitalismo agonizante, medidas que garantem a continuidade da
rotatividade do capital e da valorização do valor.
Somente uma nova sociedade socialista, construída a escala
mundial pode salvar-nos da barbárie que avança dia
a dia a em todos os países, em todas as cidades e que cada
vez mais se apresenta em cada esquina, diante de nós.