Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 23 de junho de 2007.
O FBI (Federal Bureau of Investigation) visitou recentemente
um número de universidades na Nova Inglaterra com o objetivo
de procurar estudantes universitários, funcionários
e professores que pudessem se tornar informantes da agência
nacional de polícia. O argumento do FBI para essa iniciativa
nas universidades é a ameaça trazida por espiões
estrangeiros e terroristas que roubam pesquisas de fundamental
importância. Eles fornecem instruções sobre
o que se chama "indicadores de espionagem", supostamente
dirigidos a proteger as informações em questão.
"O que mais nos preocupa são aquelas pesquisas
que não são classificadas e que estão sendo
desenvolvidas pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets),
pela Worcester Polytech (Instituto Politécnico de Worcester)
e outras universidades," disse Warren Bamford, agente especial
responsável pelo escritório do FBI em Boston. O
Amherst College e a Universidade de Massachussets também
têm sido visitados pelo FBI. Outras instituições
também estão na lista.
"É para garantir que estas instituições
recebam treinamento...(sobre) o que os espiões procuram.
Há centenas de projetos em andamento que poderiam despertar
um interesse internacional," disse Bamford numa conversa
com os editores do Boston Herald em 11 de junho.
O agente, que foi indicado para o escritório de Boston
em janeiro, disse que o combate contra o terrorismo doméstico
se tornará a "prioridade número um", afirmando,
de maneira preocupante, que há hoje 250 casos de "terror"
sendo investigados em Boston.
O tipo de perfil que o FBI tem em mente foi sugerido por Bamford:
"poderia ser (investigado) um número de telefone de
alguma caverna no Afeganistão completamente inocente ou
poderia ser alguma outra coisa. O problema é que nós
não podemos nos dar o luxo de dizer provavelmente
não é nada'".
Os "indicadores de espionagem" podem muito bem incluir
perguntas nada usuais, particularmente quando se tratar de estudantes
estrangeiros. Em 19 de junho, Melissa Goodman, da União
Civil Americana das Liberdades (ACLU - American Civil Liberties
Union) da Divisão Nacional de Segurança, perguntou,
na seção do jornal da CNN que tratava do empenho
do FBI nas universidades: "se você soubesse que o FBI
está treinando seus professores ou seus colegas para investigarem
comportamentos suspeitos, você não pensaria duas
vezes antes de fazer uma pergunta específica?"
O WSWS falou com Chris Ott, Administrador de Comunicação
da ACLU de Massachussets : "meu entendimento é que
aquilo que o FBI está propondo não é ilegal,
mas levanta questões sobre o endurecimento no que diz respeito
à academia. Qual o significado disso quanto à liberdade
de procurar uma informação? As pessoas no campus
terão medo de fazer perguntas ou de desenvolver investigações
em determinadas áreas, como por exemplo, a energia nuclear".
"O FBI está querendo que os funcionários,
o corpo docente e os estudantes criem uma espécie de guarda
contra qualquer coisa que possa ser considerada suspeita.'
Que tipo de coisas devem ser informadas? Quem tem o direito de
denunciar? Uma das coisas mais assustadoras é quem (nas
universidades) assumirá a responsabilidade de expulsar
os espiões?"
Ao contatar o FBI em Boston, foi dito ao WSWS que o programa
não é novo, que ele apenas tem recebido maior publicidade
recentemente, pois Bamford, como novo nomeado para a área,
está promovendo-o agressivamente. Gail Marcinkiewicz, do
escritório de Boston, disse que o FBI acompanha o encontro
editorial do Boston Globe uma vez por ano. O Globe, junto com
o Herald, desmentiram a história.
A agente assistente especial em exercício e encarregada
da seção da contra-inteligência do FBI em
Boston, Lucia Ziobro, afirmou à imprensa que o objetivo
do programa é "avançar na área da contra-proliferação
e espionagem". Entretanto, o fato das universidades serem
consideradas os focos principais para o FBI tem muito mais a ver
com as divergências políticas que estão emergindo
do que com a guerra tecnológica mundial ou com o anti-terrorismo.
A investida do FBI nas universidades que está em curso
atualmente foi iniciada em setembro de 2005 com a criação
do Quadro Consultivo de Segurança Nacional da Educação
Superior, composto por 17 membros com o objetivo de "aconselhar
sobre a cultura na educação superior... e estabelecer
linhas de comunicação sobre as prioridades nacionais
relacionadas com o terrorismo, a contra-inteligência, e
a segurança da nação".
Graham Spanier, presidente da Universidade do Estado da Pensilvânia,
foi eleito presidente do quadro consultivo. Outros altos executivos
das mais importantes universidades também compõem
o quadro, como William Brody, presidente da John Hopkins; Albert
Carnesale, chanceler da UCLA; Jared Cohon, presidente da Universidade
de Carnegie Mellon; Amy Gutmann, presidente da Universidade da
Pensilvânia; e Susan Hockfield, presidente do MIT. De acordo
com o FBI, "eles apenas auxiliarão no desenvolvimento
da pesquisa, programas de graduação, trabalhos de
curso, internatos, oportunidades para graduados e na consulta
de oportunidades para o corpo docente relacionado à segurança
nacional".
O quadro é uma das duas linhas de ataque na "Aliança
Acadêmica" do FBI, cuja descrição no
site do FBI começa com a pergunta: "como poderiam
os terroristas, espiões, e criminosos ameaçar a
segurança nacional tirando vantagem das atividades e da
abertura das universidades Americanas?"
"Considerem as possibilidades: espiões estrangeiros
se colocando como estudantes estrangeiros ou visitantes
tentando roubar pesquisas de caráter delicado e
secreto e minando as políticas de exportação
de tecnologia e controles; os terroristas e criminosos estudando
tecnologias avançadas e para usar contra os EUA; extremistas
violentos usando vistos de estudante para entrar sem ser detectados
no país; e hackers atacando as redes de computadores das
universidades e possivelmente roubando segredos, pesquisas e identidades".
Nenhum exemplo é apresentado para amainar o temor existente.
A segunda frente da "Aliança Acadêmica"
é o Esforço para a Segurança das Universidades
e Faculdades (CAUSE College and University Security Effort).
"Através do CAUSE, os agentes especiais do FBI se
reúnem com os responsáveis das faculdades locais
para discutir a segurança nacional... pois alguns governos
estrangeiros devem estar tentando espionar pesquisas e novas criações".
O FBI tem uma longa e notável experiência, que
é recorde na espionagem, provocação e, quando
necessário, violência contra oposições
políticas. As advertências sobre "espiões
estrangeiros" e o recrutamento de informantes nas universidades
e faculdades não é algo novo. Ambos iniciaram durante
o período do Macartismo anti-comunista da caça às
bruxas. É vergonhoso, embora não seja nem um pouco
surpreendente, que os administradores das universidades aceitem
tão facilmente a espionagem do FBI, e sejam tão
ingênuos, na melhor das hipóteses, a respeito das
intenções da agência de polícia.
De acordo com o Boston Globe, Denis D. Berkey, presidente do
Instituto Politécnico de Worcester (WPI Worcester
Polytechnic Institute), apoiou a intervenção do
FBI. O jornal afirmou que "ele disse que era útil
abrir linhas de comunicação, embora não acreditasse
que o FBI fosse treinar o corpo docente e funcionários
do WPI, pois a universidade já tem bastante experiência
em proteger suas pesquisas. No entanto, ele elogiou o interesse
do FBI".
"Eu penso que no momento que estamos vivendo, nós
devemos estar mais atentos sobre o que está acontecendo
a nossa volta, no geral,' disse ele".
A "Aliança Acadêmica" do FBI é
a expressão de uma grande investida de várias agências
de inteligência com o objetivo de monitorar, controlar e
também recrutar informantes nas universidades e faculdades
dos EUA.
Em novembro de 2006, um artigo do US Today dava uma idéia
da penetração da inteligência norte-americana
nas comunidades de educação superior, o que envolve
milhões de dólares na operação, "ao
pagar cursos relacionados à inteligência e bolsas
de estudos para centenas de estudantes em pelo menos uma dúzia
de universidades".
O artigo observava que em 2006, o Gabinete do Diretor da Inteligência
Nacional (ODNI- Office of the Director of National Intelligence),
um órgão criado recentemente com o objetivo de dirigir
as operações de espionagem nos EUA, mais do que
dobrou o número de escolas incluídas no programa.
O ODNI é o principal conselheiro da inteligência
ligado diretamente ao presidente, ao Conselho Nacional de Segurança
e ao Conselho Consultivo de Segurança. Ele também
supervisiona e dirige o Programa de Inteligência Nacional.
Segundo o USA Today, "as agências patrocinadoras,
incluindo a CIA, afirmam que os programas (nas universidades)
ajudam a arregimentar recrutas suficientemente qualificados para
travar a guerra contra o terrorismo," confirmando que os
programas começaram em 2004. "As agências também
pagam internatos e acampamentos de espionagem' de verão,
direcionados a atrair estudantes secundaristas para estudar inteligência".
O artigo compara estes projetos com outros similares da década
de 1950, quando o FBI "encorajou, algumas vezes, estudantes
a dar informações a respeito de professores de matérias
relacionadas à política, e na década de 1960,
quando a CIA pagou para a Associação Nacional dos
Estudantes e fez gravações de seus membros para
o serviço de inteligência". Naqueles anos, membros
do corpo docente das universidades de elite, tais como Yale, Harvard
e MIT, "serviram como observadores talentosos, direcionando
estudantes potenciais para a carreira na inteligência."
David Price, um professor de antropologia na Universidade de
St. Martin, em Spokane, Washington, mencionado pelo USA Today,
pesquisou sobre a vigilância do FBI na academia na década
de 1950. Ele disse ao jornal: "eu tenho lido bastante vários
documentos antigos do FBI para me conformar com a idéia"
destas agências financiando estudantes.