Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,no
dia 27 de junho de 2007.
A burocracia do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
Automobilística (UAW) está tentando forçar
os operários a aprovarem um acordo anunciado recentemente
com a fabricante de auto-peças Delphi, que corta salários
pela metade e impõe concessões sem precedentes em
benefícios de pensão e de serviços de saúde.
Com as unidades realizando votações na quarta e
na quinta-feira (27 e 28), os trabalhadores estão tendo
pouco tempo para considerar as repercussões de longo prazo
do acordo e para se mobilizar contra ele.
Quanto mais detalhes aparecem, o caráter rebaixado da
capitulação do sindicato se torna mais claro. Na
verdade, o UAW está cedendo todas as conquistas obtidas
pelos trabalhadores desse setor em mais de 70 anos, em troca de
uma promessa vazia da Delphi de preservar alguns milhares de empregos.
Entre outras coisas, o contrato irá impor cortes salariais
de 50%, reduzindo o valor da hora trabalhada de US$ 27 para cerca
de US$ 14. O acordo retira os benefícios de auxílio
saúde e congela os benefícios dos planos de pensão
existentes.
Somente 4 das 29 plantas continuarão operando como unidades
da Delphi. Outras 10 serão fechadas e o restante será
vendido o quanto antes, ou continuarão operando sob uma
administração terceirizada até que se encontre
um comprador.
Uma cópia do acordo UAW-Delphi publicado por uma fração
dissidente do sindicato revela termos adicionais do contrato,
que não haviam sido mencionados anteriormente, como a eliminação
do banco de empregos, um programa que permite que os trabalhadores
demitidos continuem recebendo 95% de seu salário anterior
até que sejam re-contratados. A companhia está oferecendo
um pagamento por demissão de US$ 1.500 para cada mês
de serviço até um máximo de US$ 40.000. Isso
é uma tentativa de ganhar o apoio dos novos contratados,
que não poderiam fazer parte do banco de emprego durante
os três primeiros anos de trabalho na empresa.
Mais adiante, o acordo sugere a implementação
dos chamados acordos de operação competitiva, que
abortaria as atuais regras de trabalho, o que, combinada à
classificação dos empregos, abriria caminho para
a aceleração da produção, além
da eliminação de um maior número de empregos
e um extraordinário aumento da intensidade do trabalho.
O acordo define que para economizar custos, "as partes envolvidas
não serão constrangidas... por acordos existentes/práticas
antigas".
Todos reconhecem que as concessões sem precedentes do
acordo com a Delphi influenciarão as futuras negociações
com a General Motors, a Ford e a Chrysler, que devem iniciar em
julho. As empresas estão exigindo o que vem sendo chamado
de um acordo "transformador", que poderá cortar
salários e benefícios de US$ 30 por hora.
Gary N. Chaison, um professor de relações industriais
da Clark University, de Worcester, Massachusetts, disse ao New
York Times: "O UAW terá muitas dificuldades em conseguir
preservar, nas três grandes, qualquer um dos pontos que
concedeu à Delphi".
Em conseqüência do acordo, as ações
da General Motors subiram 2,3% na segunda-feira (25). A firma
de investimentos Goldman Sachs alterou a sua cotação
da GM de "neutro" para "compre".
Em reuniões locais do sindicato realizadas na segunda-feira,
os líderes do UAW elogiaram o novo contrato, sem a mínima
vergonha, ainda que seus termos básicos sejam essencialmente
os mesmos que o sindicato denunciou durante os 20 meses de negociação,
desde que a Delphi decretou falência. Todavia, por trás
de seu orgulho, a burocracia do sindicato expressou extremo nervosismo
pelo fato da oposição poder se levantar contra o
acordo e desestabilizar seu esforço conjunto com a GM,
a Ford e a Chrysler, para pressionar por concessões quando
vencerem os contratos de trabalho, em setembro.
Tentando cobrir a reunião informal de trabalhadores
na unidade de Flint East, repórteres do WSWS encontraram
o zelador do estacionamento da unidade 651 do UAW. Os líderes
da unidade 651 instruíram-no de manter a imprensa e todos
aqueles que não eram associados ao UAW do lado de fora
da propriedade.
O UAW solicitou a proteção policial, não
para se defender das instituições da grande imprensa,
que repetiram de forma generalizada as mentiras da burocracia,
mas com o objetivo de intimidar aqueles que se opõem ao
acordo. Os trabalhadores da Delphi em Flint devem votar o contrato
na quinta-feira (28).
A Unidade 651 representa cerca de 1.6000 trabalhadores da planta
de Flint East da Delphi. Cerca de 90% desses trabalhadores está
da chamada segunda fila, recebendo cerca de US$ 14 por hora, segundo
o acordo fechado com o UAW em 2004 para novos contratados.
Numa entrevista concedida à imprensa, o presidente da
unidade 651 do UAW, Art Reyes, elogiou o contrato temporário,
observando que a Delphi prometeu manter a maioria dos 1.000 empregos
nas plantas até 2011 sob a administração
terceirizada. "Esse é um acordo positivo, um bom acordo",
disse ele, "foi um sentimento maravilhoso; foi um ótimo
fim-de-semana".
Todavia, Reyes afirmou que ele não poderia permanecer
muito tempo em Flint East para aproveitar a generosidade da Delphi.
"Provavelmente eu visitarei a General Motors", observou
ele.
Depois do encontro, um grupo de repórteres do WSWS recebeu
a permissão de entrevistar os trabalhadores, assim que
eles saíssem do sindicato. A equipe distribuiu o artigo
do WSWS publicado no dia 30 de junho, intitulado "Sindicato
dos trabalhadores da indústria automobilística dos
EUA aceita demissões e massivos cortes de salários
para tentar acordo com a Delphi", que defendia a rejeição
do acordo.
Ao conversar com os trabalhadores, ficou evidente que, diante
da possibilidade levantada pelo UAW deles perderem seus empregos,
muitos deles tinham decidido aceitar o acordo. Em particular os
novos contratados, que já estão trabalhando com
salários mais baixos, estavam suscetíveis ao argumento
de que "qualquer coisa é melhor que nada" utilizado
pela burocracia.
Desde 2004, quando o UAW concordou em deixar a Delphi contratar
novos trabalhadores temporários por US$ 14 por hora, o
número de empregados recebendo salários de US$ 27
por hora caiu para 4.000, o que é muito baixo, se considerarmos
que o UAW representa 17.000 trabalhadores.
Na tentativa de continuar rebaixando os salários, a
Delphi, a GM e o UAW estão contando com o fato de que US$
14 por hora, um salário que fica na fronteira do nível
de pobreza, é considerado um "bom dinheiro" por
muitos trabalhadores jovens de Flint e de outras cidades do meio-oeste
região devastada pelo fechamento de outras indústrias
de base e automobilísticas através da traição
dos sindicatos. Um estímulo a aprovar o acordo é
que, por meio dele, tanto os recém contratados e quanto
os trabalhadores temporários se tornarão empregados
permanentes.
Flint foi a sede das greves de 1936-1937, que formaram a base
do UAW na GM. A cidade tinha uma das rendas per capita mais elevadas
do país, empregando cerca de 80.000 trabalhadores sindicalizados
nas fábricas de automóveis. Depois de décadas
de fechamentos de fábricas e demissões, hoje restaram
apenas alguns milhares de empregos, e a cidade se tornou um centro
de degradação social, com mais da metade de suas
crianças crescendo na pobreza.
Um jovem trabalhador da Delphi com um ano de serviço
contou a pressão que ele sofreu para aceitar o acordo:
"o que vocês vão fazer? Isso é o dobro
do que eu ganhava antes. Eu não acho que seja justo que
as pessoas ganhem o dobro. É o mesmo trabalho; deveríamos
receber o mesmo salário. É dividir para conquistar".
Uma outra trabalhadora jovem com um ano de serviço na
Delphi expressou a sua frustração: "eles (os
executivos da Delphi) estão tendo lucros multimilionários
mas não nos darão nada. Nós produzimos carros
que não poderemos comprar. É preciso que duas, às
vezes três pessoas trabalhem numa casa para que se consiga
sobreviver".
Cheryl Morgan, um ex-trabalhador da Chevrolet com trinta anos
de experiência, que foi transferido para a Delphi, disse
ao WSWS: "os grevistas de 1936-1937 fizeram tudo o que fizeram
por nada. Agora nós temos que lutar duro para ter de volta
aquilo que eles haviam conquistado".
"Ninguém do UAW tem escrúpulos. Eles se
rendem a qualquer migalha que a administração ofereça.
Eles acabarão fechando as portas aqui".
Outro trabalhador antigo da Delphi disse que ele pensava em
votar não, mesmo que ele fosse transferido para a planta
da General Motors. "Eu tenho uma filha deficiente. Se eu
pegar o acordo de demissão ainda terei um ano de seguro.
Estou preocupado com meus colegas também. E se você
tem filhos na faculdade?"
"Os caras do UAW estão chutando nossos traseiros".