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"Os grevistas de 1936-1937 fizeram tudo o que fizeram para nada" - trabalhador da Delphi de Flint

O UAW prepara golpe através de massivas concessões para a Delphi

Por Shannon Jones
3 de julio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,no dia 27 de junho de 2007.

A burocracia do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (UAW) está tentando forçar os operários a aprovarem um acordo anunciado recentemente com a fabricante de auto-peças Delphi, que corta salários pela metade e impõe concessões sem precedentes em benefícios de pensão e de serviços de saúde. Com as unidades realizando votações na quarta e na quinta-feira (27 e 28), os trabalhadores estão tendo pouco tempo para considerar as repercussões de longo prazo do acordo e para se mobilizar contra ele.

Quanto mais detalhes aparecem, o caráter rebaixado da capitulação do sindicato se torna mais claro. Na verdade, o UAW está cedendo todas as conquistas obtidas pelos trabalhadores desse setor em mais de 70 anos, em troca de uma promessa vazia da Delphi de preservar alguns milhares de empregos. Entre outras coisas, o contrato irá impor cortes salariais de 50%, reduzindo o valor da hora trabalhada de US$ 27 para cerca de US$ 14. O acordo retira os benefícios de auxílio saúde e congela os benefícios dos planos de pensão existentes.

Somente 4 das 29 plantas continuarão operando como unidades da Delphi. Outras 10 serão fechadas e o restante será vendido o quanto antes, ou continuarão operando sob uma administração terceirizada até que se encontre um comprador.

Uma cópia do acordo UAW-Delphi publicado por uma fração dissidente do sindicato revela termos adicionais do contrato, que não haviam sido mencionados anteriormente, como a eliminação do banco de empregos, um programa que permite que os trabalhadores demitidos continuem recebendo 95% de seu salário anterior até que sejam re-contratados. A companhia está oferecendo um pagamento por demissão de US$ 1.500 para cada mês de serviço até um máximo de US$ 40.000. Isso é uma tentativa de ganhar o apoio dos novos contratados, que não poderiam fazer parte do banco de emprego durante os três primeiros anos de trabalho na empresa.

Mais adiante, o acordo sugere a implementação dos chamados acordos de operação competitiva, que abortaria as atuais regras de trabalho, o que, combinada à classificação dos empregos, abriria caminho para a aceleração da produção, além da eliminação de um maior número de empregos e um extraordinário aumento da intensidade do trabalho. O acordo define que para economizar custos, "as partes envolvidas não serão constrangidas... por acordos existentes/práticas antigas".

Todos reconhecem que as concessões sem precedentes do acordo com a Delphi influenciarão as futuras negociações com a General Motors, a Ford e a Chrysler, que devem iniciar em julho. As empresas estão exigindo o que vem sendo chamado de um acordo "transformador", que poderá cortar salários e benefícios de US$ 30 por hora.

Gary N. Chaison, um professor de relações industriais da Clark University, de Worcester, Massachusetts, disse ao New York Times: "O UAW terá muitas dificuldades em conseguir preservar, nas três grandes, qualquer um dos pontos que concedeu à Delphi".

Em conseqüência do acordo, as ações da General Motors subiram 2,3% na segunda-feira (25). A firma de investimentos Goldman Sachs alterou a sua cotação da GM de "neutro" para "compre".

Em reuniões locais do sindicato realizadas na segunda-feira, os líderes do UAW elogiaram o novo contrato, sem a mínima vergonha, ainda que seus termos básicos sejam essencialmente os mesmos que o sindicato denunciou durante os 20 meses de negociação, desde que a Delphi decretou falência. Todavia, por trás de seu orgulho, a burocracia do sindicato expressou extremo nervosismo pelo fato da oposição poder se levantar contra o acordo e desestabilizar seu esforço conjunto com a GM, a Ford e a Chrysler, para pressionar por concessões quando vencerem os contratos de trabalho, em setembro.

Tentando cobrir a reunião informal de trabalhadores na unidade de Flint East, repórteres do WSWS encontraram o zelador do estacionamento da unidade 651 do UAW. Os líderes da unidade 651 instruíram-no de manter a imprensa e todos aqueles que não eram associados ao UAW do lado de fora da propriedade.

O UAW solicitou a proteção policial, não para se defender das instituições da grande imprensa, que repetiram de forma generalizada as mentiras da burocracia, mas com o objetivo de intimidar aqueles que se opõem ao acordo. Os trabalhadores da Delphi em Flint devem votar o contrato na quinta-feira (28).

A Unidade 651 representa cerca de 1.6000 trabalhadores da planta de Flint East da Delphi. Cerca de 90% desses trabalhadores está da chamada segunda fila, recebendo cerca de US$ 14 por hora, segundo o acordo fechado com o UAW em 2004 para novos contratados.

Numa entrevista concedida à imprensa, o presidente da unidade 651 do UAW, Art Reyes, elogiou o contrato temporário, observando que a Delphi prometeu manter a maioria dos 1.000 empregos nas plantas até 2011 sob a administração terceirizada. "Esse é um acordo positivo, um bom acordo", disse ele, "foi um sentimento maravilhoso; foi um ótimo fim-de-semana".

Todavia, Reyes afirmou que ele não poderia permanecer muito tempo em Flint East para aproveitar a generosidade da Delphi. "Provavelmente eu visitarei a General Motors", observou ele.

Depois do encontro, um grupo de repórteres do WSWS recebeu a permissão de entrevistar os trabalhadores, assim que eles saíssem do sindicato. A equipe distribuiu o artigo do WSWS publicado no dia 30 de junho, intitulado "Sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística dos EUA aceita demissões e massivos cortes de salários para tentar acordo com a Delphi", que defendia a rejeição do acordo.

Ao conversar com os trabalhadores, ficou evidente que, diante da possibilidade levantada pelo UAW deles perderem seus empregos, muitos deles tinham decidido aceitar o acordo. Em particular os novos contratados, que já estão trabalhando com salários mais baixos, estavam suscetíveis ao argumento de que "qualquer coisa é melhor que nada" utilizado pela burocracia.

Desde 2004, quando o UAW concordou em deixar a Delphi contratar novos trabalhadores temporários por US$ 14 por hora, o número de empregados recebendo salários de US$ 27 por hora caiu para 4.000, o que é muito baixo, se considerarmos que o UAW representa 17.000 trabalhadores.

Na tentativa de continuar rebaixando os salários, a Delphi, a GM e o UAW estão contando com o fato de que US$ 14 por hora, um salário que fica na fronteira do nível de pobreza, é considerado um "bom dinheiro" por muitos trabalhadores jovens de Flint e de outras cidades do meio-oeste — região devastada pelo fechamento de outras indústrias de base e automobilísticas através da traição dos sindicatos. Um estímulo a aprovar o acordo é que, por meio dele, tanto os recém contratados e quanto os trabalhadores temporários se tornarão empregados permanentes.

Flint foi a sede das greves de 1936-1937, que formaram a base do UAW na GM. A cidade tinha uma das rendas per capita mais elevadas do país, empregando cerca de 80.000 trabalhadores sindicalizados nas fábricas de automóveis. Depois de décadas de fechamentos de fábricas e demissões, hoje restaram apenas alguns milhares de empregos, e a cidade se tornou um centro de degradação social, com mais da metade de suas crianças crescendo na pobreza.

Um jovem trabalhador da Delphi com um ano de serviço contou a pressão que ele sofreu para aceitar o acordo: "o que vocês vão fazer? Isso é o dobro do que eu ganhava antes. Eu não acho que seja justo que as pessoas ganhem o dobro. É o mesmo trabalho; deveríamos receber o mesmo salário. É dividir para conquistar".

Uma outra trabalhadora jovem com um ano de serviço na Delphi expressou a sua frustração: "eles (os executivos da Delphi) estão tendo lucros multimilionários mas não nos darão nada. Nós produzimos carros que não poderemos comprar. É preciso que duas, às vezes três pessoas trabalhem numa casa para que se consiga sobreviver".

Cheryl Morgan, um ex-trabalhador da Chevrolet com trinta anos de experiência, que foi transferido para a Delphi, disse ao WSWS: "os grevistas de 1936-1937 fizeram tudo o que fizeram por nada. Agora nós temos que lutar duro para ter de volta aquilo que eles haviam conquistado".

"Ninguém do UAW tem escrúpulos. Eles se rendem a qualquer migalha que a administração ofereça. Eles acabarão fechando as portas aqui".

Outro trabalhador antigo da Delphi disse que ele pensava em votar não, mesmo que ele fosse transferido para a planta da General Motors. "Eu tenho uma filha deficiente. Se eu pegar o acordo de demissão ainda terei um ano de seguro. Estou preocupado com meus colegas também. E se você tem filhos na faculdade?"

"Os caras do UAW estão chutando nossos traseiros".