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Sindicatos americanos concordam em impor cortes e dirigir programas de benefícios da fabricante de autopeças Dana

Por Joe Kay
13de julio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 9 de julho de 2007.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (UAW - United Auto Workers) e os sindicatos dos Metalúrgicos (USW - United Steelworkers unions) anunciaram na sexta-feira que chegaram a um acordo nacional com a fabricante de autopeças Dana Corporation, que está em processo de falência. O acordo inclui um plano para que os sindicatos assumam a responsabilidade na administração dos benefícios e da assistência médica dos aposentados e inválidos.

O acordo, que pretende diminuir os custos da empresa em Ohio em cerca de US$ 100 milhões por ano, representa o novo estágio da transformação dos sindicatos americanos em entidades de negócios privados, responsáveis diretos pela imposição de cortes aos seus associados por eles representados.

Há vários anos, o UAW tem pressionado as companhias a concordarem com a transferência da responsabilidade sobre os planos de assistência médica aos sindicatos. O acordo com a Dana sinaliza a realização de acordos muito mais amplos com as gigantes dos automóveis. Os acordos (que estabelecem Associações de Benefícios a Trabalhadores Voluntários, as VEBAs - Voluntary Employee Benefit Associations) prevêem o fornecimento de dinheiro pelas companhias para cobrir parte das obrigações existentes, enquanto transferem a administração dos fundos aos burocratas dos sindicatos.

Em troca da absolvição da companhia em relação à qualquer obrigação frente aos benefícios de assistência médica de longo prazo por invalidez e aposentadoria, estimados em US$ 1,1 bilhão, a Dana concordou publicamente em adiantar US$ 700 milhões ao fundo da VEBA, juntamente com US$ 80 milhões adicionais em ações depois que sair da falência. O fundo controlado pelo sindicato poderia então ser utilizado para impor qualquer corte que fosse necessário com o objetivo de corrigir atuais e futuros déficits.

Enquanto acordos menores que estabeleceram as VEBAs foram preparados no passado, “o acordo da Dana deve ser o primeiro no qual o UAW permitiu que uma companhia transferisse todas as responsabilidades sobre a assistência médica de aposentados”. De acordo com uma matéria publicada no dia 7 de julho no New York Times.

Ao livrar-se da responsabilidade sobre US$ 1,1 bilhão adiantando apenas US$ 780 milhões à VEBA, a Dana está pagando apenas cerca de 71 centavos por dólar. Isto é menos do que o padrão estabelecido anteriormente por um acordo firmado entre o Sindicato dos Metalúrgicos (USW) e a fabricante de pneus Goodyear, em setembro do ano de 2006. A Goodyear pagou 83 centavos por dólar.

Mesmo que tenha negociado um projeto inútil para si mesma, a burocracia sindical concordou impor cortes adicionais aos trabalhadores. O acordo realizado na sexta-feira inclui abertamente o prolongamento por quatro anos dos acordos existentes, uma nova estrutura salarial de duas categorias e modificações das responsabilidades de benefícios existentes. Os detalhes completos ainda não foram publicados e o acordo precisa ainda ser aprovado pelos trabalhadores e pela corte de falência.

O sistema de duas categorias salariais é significativo, porque permite que a Dana contrate novos trabalhadores com salários muito menores que a dos outros trabalhadores. Com este novo acordo, o risco dos trabalhadores mais antigos serem demitidos aumenta muito.

O anúncio sobre o acordo com a Dana ocorre apenas duas semanas depois que o UAW ter firmado um acordo que impõe massivas concessões numa outra fabricante de autopeças, a Delphi. Este acordo prevê cortes salariais superiores a 50%, demissões em massa e cortes em benefícios de assistência médica e de aposentadoria. O sindicato aceitou praticamente todas as exigências da Delphi.

A transferência da administração dos programas de benefícios são particularmente importantes para a burocracia sindical, devido à contínua diminuição do número de associados do sindicato. A Delphi anunciou no sábado que, como resultado dos cortes acordados com o sindicato, ela deve empregar, até 2012, 2.300 associados do UAW, o que representa menos de um décimo do número de trabalhadores empregados em 2005.

As negociações entre o UAW e as Três Grandes (General Motors, Ford e Chrysler) começaram no dia 23 de julho. Os acordos na Delphi e na Dana dão um indício do que o UAW está disposto a aceitar. As fabricantes devem exigir um sistema salarial de duas categorias e cortes de benefícios como parte de um plano para reduzir drasticamente os salários.

O UAW tem pressionado por um acordo de uma VEBA com as Três Grandes para diversos anos. As fabricantes — particularmente a GM e a Ford— estão abertamente dispostas a discutir alguns ajustes durante as negociações. De acordo com o Detroit News, as companhias automobilísticas pretendem pagar somente 50 a 70 centavos por dólar para se livrar de suas responsabilidades, que chegam a US$ 100 bilhões.

Numa matéria publicada no dia 6 de julho, o Detroit News entrevistou o analista da JPMorgan, Himanshu Patel, que comentou a respeito da enorme economia de custos que as companhias automobilísticas poderiam realizar por meio de tais acordos. Segundo Patel, “a 60 centavos por dólar, a direção da Ford poderia ficar aliviada, podendo obter um acréscimo nos rendimentos de 17% por ação em 2008 e um crescimento do fluxo de capital de US$ 600 milhões. Em 2010, os rendimentos poderiam aumentar em 25% por ação, e o fluxo de capital crescer aproximadamente US$ 1 bilhão”. A mesma situação poderia ocorrer com a GM.

Estes acordos disponibilizam uma enorme quantia de dinheiro aos altos dirigentes da burocracia sindical. Patel aludiu a este fato, de forma nada esperançosa: “nós pensamos que a direção do UAW será beneficiada por se tornar parte da administração”. Esses “benefícios” seriam custeados diretamente pelos trabalhadores que o sindicato supostamente representa.

O Detroit News ressaltou que, se um acordo com as Três Grandes for firmado, “o UAW poderia se tornar um dos maiores administradores de programas de assistência médica do país. Poderia ainda se tornar o administrador de um dos maiores fundos de investimentos privados do país”.

O acordo com a Dana mostra também a crescente colaboração entre os burocratas do sindicato e os vários grupos privados, que buscam comprar as fornecedoras de autopeças e as companhias automobilísticas. Estas companhias se especializam em cortar custos por meio do rebaixamento dos salários e pela diminuição da produção.

A empresa Centerbridge, sediada em Nova York, concordou em investir US$ 500 milhões na Dana, desde que ela saia da falência. Ela deve terminar comprando cerca de um quarto da companhia. A Centerbridge ainda prometeu captar US$ 250 milhões de investidores estrangeiros. Esses fundos garantirão os recursos necessários para contribuir com as VEBAs, controladas pelo UAW e o USW.

O presidente do UAW, Ron Gettelfinger, teceu elogios especiais à Centerbridge. “Esse acordo não teria sido possível sem o envolvimento da Centerbridge Partners”, disse ele numa declaração publicada pelo sindicato. “Eles desempenharão um papel fundamental no futuro da Dana e nós procuraremos trabalhar com eles para ajudar essa companhia a ter sucesso no mercado”.

A Centerbridge foi fundada como uma conselheira do UAW e do USW antes de assumir o papel de investidor na companhia. A empresa fez uma oferta de compra da Chrysler neste ano, mas não teve sucesso.

Essa não é a primeira vez que o UAW se associa a uma firma de investimentos privados que atua na indústria automobilística. Quando a Cerberus Capital Partners anunciou um acordo para comprar a gigante Chrysler em maio, Gettlefinger apoiou rapidamente, apenas um mês depois de ter denunciado empresas como a Cerberus por procurar “aumentar suas riquezas com a destruição das companhias”.

O WSWS observou àquela época: “por trás da união do sindicato a uma firma conhecida por realizar grandes lucros com cortes de empregos e salários e com a venda dos bens das empresas, está a tentativa de livrar as fabricantes de automóveis dos EUA das responsabilidades com assistência médica de aposentados e da fundação de uma nova companhia controlada pelo UAW. Os dirigentes do sindicato estão procurando assumir os negócios de assistência médica e enriquecer a si mesmos por meio da imposição de massivos cortes de benefícios aos seus próprios associados”.