Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 6 de janeiro de 2007.
Os trabalhadores grevistas da Volkswagen de Forest, em Bruxelas,
na Bélgica, continuam mantendo o piquete em frente aos
portões da fábrica. Durante o recesso do final de
ano, o conselho de trabalhadores tentou, em diversas ocasiões,
por fim ao bloqueio da fábrica e mandar os trabalhadores
para casa. No entanto, eles não tiveram sucesso.
Havia muita discussão entre os grevistas em relação
aos altos valores que estão sendo pagos pelas demissões.
O assunto veio à tona durante uma conversa com dois trabalhadores
da Volks, Philip e Christian, que não aceitaram o acordo
proposto, porque o futuro dos trabalhadores restantes continua
completamente incerto. Os trabalhadores estão, na verdade,
sendo induzidos a assinar um cheque em branco.
Philip: em minha opinião o que está ocorrendo
aqui é pura manipulação. É como um
filme com um roteiro ruim. Em abril e no começo de maio
(principalmente por causa das próximas eleições
parlamentares na Bélgica), nós veremos políticos
e líderes sindicais na televisão afirmando que obtivemos
uma vitória.
Os sindicatos se preocupam principalmente com o pagamento
das demissões, que está sendo destinado em primeiro
lugar àqueles que já possuíam outro emprego
e que, por isso, queriam ser demitidos de qualquer maneira. Agora,
ao verem a grande quantia de dinheiro oferecida pela empresa àqueles
que aceitaram a proposta de demissão, muitos trabalhadores
estão aderindo, sobretudo aqueles que têm dúvidas
a respeito do futuro da empresa. Eles preferem pegar o dinheiro
e ir embora. É uma grande tentação, que está
sendo usada para manipular as pessoas. Mais de 1.900 trabalhadores
querem pegar o dinheiro, mas eu tenho absoluta certeza de que
eles não têm um outro emprego.
Os sindicatos não estão cumprindo com sua
obrigação nem aqui na Bélgica nem
na Alemanha. Os pagamentos dos prêmios servem para impedir
qualquer interrupção, manter os operários
passivos. As exigências dos patrões estão
sendo impostas com o objetivo de evitar suas perdas. O papel desempenhado
pelos sindicatos é realmente vergonhoso. Tanto os sindicatos
quanto a administração da empresa estão preocupados
em atender os seus próprios interesses.
Christian: muitos já se foram, em particular os
trabalhadores mais velhos, aqueles com mais experiência.
Se eles conseguiram se livrar daqueles com mais de 50 anos, então
o que vai restar da experiência que existia nessa fábrica?
Os dois operários estão frustrados porque eles
nunca receberam mais do que fragmentos de informações
sobre o encaminhamento das negociações. Ambos exigiram
que todas as negociações fossem públicas.
Philip: se o conselho de trabalhadores mantém
as negociações com a administração
da empresa, então eu proponho que elas sejam feitas publicamente.
Christian: as negociações devem ocorrer
da mesma maneira que os debates políticos no parlamento:
você pode ouvir, mesmo que não possa dizer nada.
Numa companhia tão grande, as negociações
não podem ser feitas por todos. Nós elegemos essas
pessoas para que pudessem falar em nosso nome, porque nem todo
mundo pode falar ao mesmo tempo. Mas deve existir a possibilidade
de acompanhar diretamente as negociações que eles
estão fazendo.
O problema é que quando nós perguntamos
aos delegados, depois de cada reunião, o que foi discutido,
eles sempre dizem: sim, vocês terão um relato. Mas
aí, passam dias, passam semanas para nós conseguirmos
saber alguma coisa daquilo que foi discutido. Algumas vezes eles
fazem minutas, mas uma cópia é dada à administração,
outra ao conselho de trabalhadores e outra à imprensa
e a gente? É loucura, mas nós somos sempre os últimos
a saber das coisas.
Alain Desmet decidiu ainda votar não na
sexta-feira. Ele disse aos nossos repórteres: em
1985, o total de trabalhadores era de 8.400, agora deve ser cortado
para 2.000 apesar de produzirmos carros de excelente qualidade,
muitas vezes melhor até mesmo que em Wolfsburg (a central
da Volks, na Alemanha). Eles só estão investindo
dinheiro agora para acalmar as pessoas e manter a fábrica
intacta, com menos operários, aqueles mais qualificados.
Muitos trabalhadores estão pegando a compensação
por doença ou por outras causas. De qualquer maneira, eles
não poderiam ficar mais tempo.
Alain trabalhou na Volks por 19 anos. Nos últimos 5
anos ele ficou encarregado do controle dos instrumentos dos painéis
e outros acessórios. Ele gosta de seu serviço. Considera
que seu trabalho é de grande responsabilidade, pois dele
depende a boa qualidade do produto: as pessoas gastam pelo
menos 15.000 euros (US$ 19.500) num carro desses. Então
é importante que cada parafuso esteja apertado adequadamente.
Mario Mailis está preocupado porque muito poucos trabalhadores
rejeitarão o acordo. Nós precisamos que dois
terços dos operários votem contra. De outra forma
não conseguiremos rejeitar a proposta, disse Mario.
Ele trabalhou na Volkswagen por 37 anos.
Ele disse: há dois anos, o sindicato alemão
IG Metall veio a Bruxelas para nos pressionar. Eles disseram que
concordaram com condições muito piores para os trabalhadores
na Alemanha e que nós deveríamos aceitar propostas
semelhantes na Bélgica. Naquela época, nós
pensamos que se o IG Metall aceitou tais condições,
nós deveríamos fazer o mesmo. Não sabíamos
que todos os burocratas do sindicato haviam sido comprados pela
administração.
Entre os trabalhadores da Volks que faziam piquete em frente
ao portão, havia um grande número de trabalhadores
de empresas filiadas, que serão golpeados ainda mais fortemente
pelo corte da produção em Forest. Para os trabalhadores
destas empresas não existe pagamento compensatório.
A Johnson Controls, que produz assentos para carros, anunciou
a demissão de 230 trabalhadores, de um total de 580. O
ministro belga do trabalho e da economia, Benoît Cerexhe
[CDH Centro Democrata Humanista, o Partido Cristão
Democrata belga], estimou que 2.300 trabalhadores poderiam perder
seus empregos em fornecedoras belgas ligadas à produção
do modelo Golf.
Kilauli Najim trabalhou nos últimos 17 anos na companhia
de limpeza dinamarquesa ISS, que faz a limpeza industrial na fábrica
da Volkswagen. Junto com um grupo de trabalhadores, Kilauli aderiu
ao piquete para expressar sua solidariedade aos trabalhadores
da Volks. Ele nos disse: nós não estamos nesse
piquete para conseguir compensações, mas para garantir
nossos empregos. Eles estão fechando a fábrica que
eu trabalho. Em torno de 100 pessoas serão afetadas. Eles
ficarão com apenas 20 trabalhadores.
Nós estamos trabalhando com materiais que são
extremamente prejudiciais à saúde. Nossa saúde
não é levada em conta por eles. Por isso, muitos
já foram embora, pois não agüentaram mais ficar.
No início eles nos prometeram um emprego na Volks, mas
eu não acreditei nisso por muito tempo.
Jessica trabalha numa companhia de autopeças, Arvin
Meritor, que instala as portas dos modelos Pólo e Golf
na fábrica de Forest. Jessica explicou que ela já
havia sido demitida: meus colegas entraram em greve junto
com os da VW, porque a nossa empresa já havia demitido
os temporários, junto com os trabalhadores de 30 horas.
Apenas 14 dos 33 trabalhadores da empresa terão seus empregos
mantidos. Eles chamam isso de demissão coletiva em
massa. Da minha parte, eu trabalharia na Volks, mas no momento
eu não tenho a menor idéia do que acontecerá
comigo.
O PTB [Parti du Travail de BelgiquePartido dos
Trabalhadores da Bélgica], que é uma organização
stalinista, distribuiu uma carta aberta aos trabalhadores rejeitando
a possibilidade de defender os empregos. Ele exige apenas que
a Volks gaste mais para reduzir a 2.200 o seu contingente de operários.
O PTB sugere que o governo belga exija o ressarcimento de cerca
de um bilhão de euros concedidos por meio de isenções
fiscais e subsídios à Volkswagen durante os últimos
20 anos, caso a empresa insista em demitir mais de 3.000 trabalhadores.
O PTB levanta a possibilidade da transferência da produção
de outros modelos para Bruxelas. O partido reivindica que a produção
do Golf permaneça em Bruxelas, e que a Volks faça
a transferência da produção de outros modelos
para lá, como o Pólo, que é produzido principalmente
na unidade de Pamplona, na Espanha.
O PTB sabe que tal proposta deve dividir os trabalhadores,
colocando-os uns contra os outros. Para se justificar, usa a mesma
linguagem de Bernd Osterloh, o líder do sindicato alemão
IG Metall, quando propôs transferir o modelo Golf para a
Alemanha. Na carta do PTB consta o seguinte: se nós
defendemos [a produção de] mais carros para garantir
o máximo de empregos em Forest, isso não significa
necessariamente piorar as condições em outros locais.
Na mesma carta, o PTB apóia o IG Metall, declarando
que o recente aumento das horas de trabalho para 33,6 horas
[nas fábricas alemãs] não pode ser considerado
como uma traição do IG Metall, como
às vezes se ouve nos piquetes. Assim como nós, os
trabalhadores alemães também estão tentando
melhorar suas condições e se defender dos ataques
dos mesmos capitalistasàs vezes com mais e às
vezes com menos sucesso.