Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 11 de janeiro de 2007.
O discurso de Bush para a televisão, na noite da última
quarta-feira, anunciando o envio de mais 20 mil soldados norte-americanos
ao Iraque, sinalizou que o banho de sangue naquele país
crescerá dramaticamente durante o ano de 2007, e que o
seu governo está disposto a expandir a guerra à
Síria, ao Irã e a outros países do Oriente
Médio.
A decisão de reforçar a intervenção
norte-americana é uma resposta direta e contrária
aos resultados das eleições legislativas de 2006,
na qual milhões de eleitores norte-americanos expressaram
sua oposição à guerra do Iraque, ao colocar
um fim ao controle Republicano no Senado e na Câmara de
Deputados.
As primeiras tropas adicionais já começaram a
ser posicionadas na região. Um total de seis brigadas serão
deslocadas conjuntamente, cinco para a cidade de Bagdá
e uma à província de Anbar, centro da rebelião
sunita contra a ocupação dos EUA. Bush também
enviou ao golfo pérsico uma força-tarefa adicional
composta por porta-aviões equipados com centenas de armas
nucleares.
Bush admitiu um provável aumento de mortes de norte-americanos
e iraquianos como resultado dessa escalada militar. Ele usou uma
linguagem orwelliana, na tentativa de transformar os planos disso
que representa um colossal banho de sangue num programa para reduzir
a violência em Bagdá.
Ele declarou que os erros cometidos no passado pelas forças
de ocupação norte-americanas são devidos
ao baixo número de soldados enviados e às
inúmeras restrições impostas a guerra.
Em outras palavras, uma campanha militar que têm produzido
tortura e humilhação em Abu Ghraib, assassinatos
em massa em Haditha, e o estupro e assassinato de jovens garotas
iraquianas irá, a partir de agora, mostrar sua verdadeira
face.
Bush descreveu os planos do aumento da ação militar
na capital do Iraque. As forças militares norte-americanas
e iraquianas arrasarão a cidade, indo de porta em
porta para ganhar a confiança dos habitantes de Bagdá.
O que isto significa, na prática, foi demonstrado um dia
antes do discurso, na Rua Haifa, no centro de Bagdá, quando
os soldados xiitas iraquianos e tropas norte-americanas invadiram,
de maneira selvagem, um bairro sunita, matando pelo menos 50 pessoas
e destruindo quarteirões inteiros.
Quando as áreas sunitas da cidade forem subjugadas,
a ofensiva se voltará às áreas xiitas, sobretudo
a vasta área habitada por trabalhadores, no leste de Bagdá,
conhecida como Cidade de Sadr. Forças militares norte-americanas
foram proibidas de executar operações de combate
naquela parte da capital, mas agora, como Bush declarou, as
forças iraquianas e norte-americanas irão receber
sinal verde para entrar nessas regiões, e o primeiro-ministro
Maliki garantiu que nenhuma interferência política
ou sectária será tolerada. O resultado será
a destruição de um bairro inteiro pelo poder de
fogo dos EUA, e o número de xiitas mortos superará
tudo o que possa ter ocorrido sob o regime de Saddam Hussein.
A escalada de violência no Iraque está apenas
começando. Bush ameaçou invadir tanto a Síria
quanto o Irã, indicando que a péssima posição
do regime de ocupação norte-americana no Iraque
poderia ser solucionada pela expansão da guerra.
Numa linguagem que lembra as declarações de Richard
Nixon ao ordenar as invasões ao Camboja e ao Laos durante
a guerra do Vietnã, Bush afirmou que o Irã e a Síria
estavam ajudando ativamente a resistência iraquiana, e prometeu
retaliações: nós vamos impedir os ataques
às nossas forças. Nós vamos impedir o apoio
do Irã e da Síria aos rebeldes. Nós vamos
perseguir e destruir aqueles que fornecem armamentos avançados
e treinamento aos nossos inimigos no Iraque.
O discurso de Bush foi um insulto à inteligência
dos telespectadores, com falsas alegações de que
o objetivo da guerra no Iraque é destruir a ameaça
terrorista contra os Estados Unidos e que a guerra representa
uma resposta aos ataques de 11 de setembro em Nova Iorque e Washington.
E mais uma vez, ele tentou apresentar a guerra como uma luta inteligente,
como uma tentativa de estabelecer a democracia no Oriente Médio,
quando, de fato, ela não é mais do que um meio da
elite norte-americana passar a controlar um país que detém
a terceira maior reserva de petróleo do mundo e possui
uma posição geográfica estratégica.
Do Afeganistão ao Líbano até aos
territórios palestinos, milhões de pessoas comuns
estão cansadas da violência, afirmou Bush.
E estamos vendo isto no Iraque. Vocês precisam refletir:
será que a América deveria recuar e deixar aquele
país abandonado aos extremistas? Ou devemos permanecer
com os iraquianos que fizeram a opção pela liberdade?
Dezenas de milhões de pessoas no Oriente Médio,
e a vasta maioria da população do mundo inteiro,
opõem-se à invasão e conquista norte-americana
do Iraque e consideram isso, corretamente, como uma reafirmação
do colonialismo ocidental, numa forma particularmente crua e brutal.
De acordo com um estudo realizado pela Johns Hopkins School of
Public Health, a intervenção norte-americana no
Iraque causou aproximadamente 650 mil mortes. Mas na visão
completamente demente e distorcida de Bush, é a parte do
povo iraquiano que luta contra a ocupação dos EUA
o extremista que mata inocentes.
A falsidade e o cinismo do discurso de Bush sobre a liberdade
e democracia no Iraque e no Oriente Médio são demonstrados
na sua atitude em relação à democracia nos
Estados Unidos. Ele começou seu discurso elogiando a realização
de eleições no Iraque em 2005, mas não fez
referência alguma à eleição ao congresso
norte-americano realizada há apenas dois meses.
A eleição de 7 de novembro significou uma maciça
rejeição popular da política de Bush no Iraque,
e se o próprio Bush estivesse participando do pleito, ele
poderia ter sido varrido do posto. Pelo seu silêncio sobre
as eleições legislativas, Bush deixou claro que
não tem nenhuma intenção de permitir que
o povo norte-americano tenha qualquer tipo de influência
em sua política de guerra - e ele confia no partido de
oposição nominal, os Democratas, para assegurar
que o sentimento anti-guerra popular não encontre nenhuma
expressão na Washington oficial.
A posição oficial do Partido Democrata, comunicada
pelo senador Richard Durbin, de Illinois, foi mais reacionária
e desonesta do que o próprio discurso de Bush, e possivelmente,
muito mais crua, quase racista. De acordo com Durbin, o governo
dos EUA tem agido com a mais pura das intenções.
Nós protegemos o Iraque quando nenhum outro fez,
declarou ele, descrevendo a intervenção norte-americana,
que conduziu o Iraque à barbárie, reduzindo muitas
partes do país a condições primitivas, como
uma sociedade funcional.
A América deu muito aos iraquianos, continuou
ele, ressaltando a derrubada de Saddam Hussein, a aprovação
de uma nova constituição e as eleições
para um novo governo. Agora é hora dos iraquianos tomarem
a responsabilidade por seu destino, declarou Durbin. Eles
devem saber que em qualquer momento que eles discarem 9-1-1, nós
não mandaremos outros 20 mil soldados.
A oposição democrata à política
de Bush no Iraque representa nada mais que um esforço em
apoiar o controle dos EUA naquele país, servindo para apaziguar
a legítima rejeição popular à guerra.
Em resposta às perguntas da imprensa depois dessas declarações,
Durbin reiterou que os democratas não irão cortar
qualquer fundo para a guerra e que eles não podem impedir
a escalada bélica.
Quando questionado se eleitores que se opuseram à guerra
teriam o direito de esperar mais do que palavras, mas uma ação
dos democratas no sentido de acabar com ela, Durbin respondeu:
o pensamento de que podemos acabar com a guerra não
é verdadeiro.
A escalada da guerra realizada pelo governo Bush, que tem recebido
o apoio dos democratas, enfatiza o problema político central
que enfrenta a classe trabalhadora norte-americana e todos aqueles
que se opuseram ao massacre reacionário no Iraque. A luta
contra a guerra pode apenas avançar por meio do rompimento
com a classe política dominante dos EUA representada pelos
partidos do grande capital, e da construção de um
movimento de massas independente.
Os trabalhadores devem rejeitar a posição oficial
de defender os interesses do imperialismo norte-americano, organizar
manifestações de massa contra a guerra e pela imediata
e incondicional retirada das tropas norte-americanas do Iraque,
e exigir o julgamento criminal dos responsáveis por conduzir
essa guerra criminosa.