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Em discurso sobre a escalada no Iraque, Bush aponta para uma guerra mais sangrenta e generalizada

Por Comitê Editorial
16 Janeiro 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 11 de janeiro de 2007.

O discurso de Bush para a televisão, na noite da última quarta-feira, anunciando o envio de mais 20 mil soldados norte-americanos ao Iraque, sinalizou que o banho de sangue naquele país crescerá dramaticamente durante o ano de 2007, e que o seu governo está disposto a expandir a guerra à Síria, ao Irã e a outros países do Oriente Médio.

A decisão de reforçar a intervenção norte-americana é uma resposta direta e contrária aos resultados das eleições legislativas de 2006, na qual milhões de eleitores norte-americanos expressaram sua oposição à guerra do Iraque, ao colocar um fim ao controle Republicano no Senado e na Câmara de Deputados.

As primeiras tropas adicionais já começaram a ser posicionadas na região. Um total de seis brigadas serão deslocadas conjuntamente, cinco para a cidade de Bagdá e uma à província de Anbar, centro da rebelião sunita contra a ocupação dos EUA. Bush também enviou ao golfo pérsico uma força-tarefa adicional composta por porta-aviões equipados com centenas de armas nucleares.

Bush admitiu um provável aumento de mortes de norte-americanos e iraquianos como resultado dessa escalada militar. Ele usou uma linguagem orwelliana, na tentativa de transformar os planos disso que representa um colossal banho de sangue num programa para “reduzir a violência em Bagdá”.

Ele declarou que os erros cometidos no passado pelas forças de ocupação norte-americanas são devidos ao baixo número de soldados enviados e “às inúmeras restrições impostas a guerra”. Em outras palavras, uma campanha militar que têm produzido tortura e humilhação em Abu Ghraib, assassinatos em massa em Haditha, e o estupro e assassinato de jovens garotas iraquianas irá, a partir de agora, “mostrar sua verdadeira face”.

Bush descreveu os planos do aumento da ação militar na capital do Iraque. As forças militares norte-americanas e iraquianas arrasarão a cidade, “indo de porta em porta para ganhar a confiança dos habitantes de Bagdá”. O que isto significa, na prática, foi demonstrado um dia antes do discurso, na Rua Haifa, no centro de Bagdá, quando os soldados xiitas iraquianos e tropas norte-americanas invadiram, de maneira selvagem, um bairro sunita, matando pelo menos 50 pessoas e destruindo quarteirões inteiros.

Quando as áreas sunitas da cidade forem subjugadas, a ofensiva se voltará às áreas xiitas, sobretudo a vasta área habitada por trabalhadores, no leste de Bagdá, conhecida como Cidade de Sadr. Forças militares norte-americanas foram proibidas de executar operações de combate naquela parte da capital, mas agora, como Bush declarou, “as forças iraquianas e norte-americanas irão receber sinal verde para entrar nessas regiões, e o primeiro-ministro Maliki garantiu que nenhuma interferência política ou sectária será tolerada”. O resultado será a destruição de um bairro inteiro pelo poder de fogo dos EUA, e o número de xiitas mortos superará tudo o que possa ter ocorrido sob o regime de Saddam Hussein.

A escalada de violência no Iraque está apenas começando. Bush ameaçou invadir tanto a Síria quanto o Irã, indicando que a péssima posição do regime de ocupação norte-americana no Iraque poderia ser solucionada pela expansão da guerra.

Numa linguagem que lembra as declarações de Richard Nixon ao ordenar as invasões ao Camboja e ao Laos durante a guerra do Vietnã, Bush afirmou que o Irã e a Síria estavam ajudando ativamente a resistência iraquiana, e prometeu retaliações: “nós vamos impedir os ataques às nossas forças. Nós vamos impedir o apoio do Irã e da Síria aos rebeldes. Nós vamos perseguir e destruir aqueles que fornecem armamentos avançados e treinamento aos nossos inimigos no Iraque”.

O discurso de Bush foi um insulto à inteligência dos telespectadores, com falsas alegações de que o objetivo da guerra no Iraque é destruir a ameaça terrorista contra os Estados Unidos e que a guerra representa uma resposta aos ataques de 11 de setembro em Nova Iorque e Washington. E mais uma vez, ele tentou apresentar a guerra como uma luta inteligente, como uma tentativa de estabelecer a democracia no Oriente Médio, quando, de fato, ela não é mais do que um meio da elite norte-americana passar a controlar um país que detém a terceira maior reserva de petróleo do mundo e possui uma posição geográfica estratégica.

“Do Afeganistão ao Líbano até aos territórios palestinos, milhões de pessoas comuns estão cansadas da violência”, afirmou Bush. “E estamos vendo isto no Iraque. Vocês precisam refletir: será que a América deveria recuar e deixar aquele país abandonado aos extremistas? Ou devemos permanecer com os iraquianos que fizeram a opção pela liberdade?”

Dezenas de milhões de pessoas no Oriente Médio, e a vasta maioria da população do mundo inteiro, opõem-se à invasão e conquista norte-americana do Iraque e consideram isso, corretamente, como uma reafirmação do colonialismo ocidental, numa forma particularmente crua e brutal. De acordo com um estudo realizado pela Johns Hopkins School of Public Health, a intervenção norte-americana no Iraque causou aproximadamente 650 mil mortes. Mas na visão completamente demente e distorcida de Bush, é a parte do povo iraquiano que luta contra a ocupação dos EUA o “extremista que mata inocentes”.

A falsidade e o cinismo do discurso de Bush sobre a liberdade e democracia no Iraque e no Oriente Médio são demonstrados na sua atitude em relação à democracia nos Estados Unidos. Ele começou seu discurso elogiando a realização de eleições no Iraque em 2005, mas não fez referência alguma à eleição ao congresso norte-americano realizada há apenas dois meses.

A eleição de 7 de novembro significou uma maciça rejeição popular da política de Bush no Iraque, e se o próprio Bush estivesse participando do pleito, ele poderia ter sido varrido do posto. Pelo seu silêncio sobre as eleições legislativas, Bush deixou claro que não tem nenhuma intenção de permitir que o povo norte-americano tenha qualquer tipo de influência em sua política de guerra - e ele confia no partido de oposição nominal, os Democratas, para assegurar que o sentimento anti-guerra popular não encontre nenhuma expressão na Washington “oficial”.

A posição oficial do Partido Democrata, comunicada pelo senador Richard Durbin, de Illinois, foi mais reacionária e desonesta do que o próprio discurso de Bush, e possivelmente, muito mais crua, quase racista. De acordo com Durbin, o governo dos EUA tem agido com a mais pura das intenções. “Nós protegemos o Iraque quando nenhum outro fez,” declarou ele, descrevendo a intervenção norte-americana, que conduziu o Iraque à barbárie, reduzindo muitas partes do país a condições primitivas, como uma sociedade funcional.

“A América deu muito aos iraquianos”, continuou ele, ressaltando a derrubada de Saddam Hussein, a aprovação de uma nova constituição e as eleições para um novo governo. Agora é hora dos iraquianos tomarem a responsabilidade por seu destino, declarou Durbin. “Eles devem saber que em qualquer momento que eles discarem 9-1-1, nós não mandaremos outros 20 mil soldados”.

A “oposição” democrata à política de Bush no Iraque representa nada mais que um esforço em apoiar o controle dos EUA naquele país, servindo para apaziguar a legítima rejeição popular à guerra. Em resposta às perguntas da imprensa depois dessas declarações, Durbin reiterou que os democratas não irão cortar qualquer fundo para a guerra e que eles não podem impedir a escalada bélica.

Quando questionado se eleitores que se opuseram à guerra teriam o direito de esperar mais do que palavras, mas uma ação dos democratas no sentido de acabar com ela, Durbin respondeu: “o pensamento de que podemos acabar com a guerra não é verdadeiro”.

A escalada da guerra realizada pelo governo Bush, que tem recebido o apoio dos democratas, enfatiza o problema político central que enfrenta a classe trabalhadora norte-americana e todos aqueles que se opuseram ao massacre reacionário no Iraque. A luta contra a guerra pode apenas avançar por meio do rompimento com a classe política dominante dos EUA representada pelos partidos do grande capital, e da construção de um movimento de massas independente.

Os trabalhadores devem rejeitar a posição oficial de defender os interesses do imperialismo norte-americano, organizar manifestações de massa contra a guerra e pela imediata e incondicional retirada das tropas norte-americanas do Iraque, e exigir o julgamento criminal dos responsáveis por conduzir essa guerra criminosa.