Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 2 de fevereiro de 2007.
Numa declaração perante o Comitê para Relações
Exteriores do Senado na quinta-feira, Zbigniev Brzezinski, o conselheiro
de segurança nacional do governo Carter, fez críticas
destruidoras à guerra no Iraque, advertindo que a política
do governo Bush levaria inevitavelmente a uma guerra com o Irã,
com conseqüências incalculáveis para os interesses
dos EUA no Oriente Médio e internacionalmente.
Brzezinski, que se opôs à invasão de março
de 2003 e denunciou publicamente que a guerra era um erro catastrófico
de política externa, começou suas observações
sobre o que ele chamou de guerra de escolha no Iraque,
caracterizando-a como uma calamidade histórica, estratégica
e moral.
Justificada a partir de falsas suposições,
continuou ele, a guerra está minando a legitimidade
mundial da América. As mortes de civis e alguns abusos
estão manchando as credenciais morais da América.
Guiada por princípios maniqueístas e arrogância
imperial, a guerra está intensificando a instabilidade
na região.
Brzezinski ridicularizou o palavrório de Bush a respeito
de uma luta ideológica decisiva contra o islamismo
radical, caracterizando-o como simplista e demagógico,
uma narrativa histórica mítica empregada
para justificar uma guerra ampla, com potencial de expandir-se
ainda mais.
Argumentar que os EUA já estão em guerra
na região contra o aumento da ameaça islâmica,
da qual o Irã é o epicentro, é promover uma
profecia que se auto-concretizou, disse ele.
Mais impressionante e perturbadora foi a sua descrição
de um cenário propício para um confronto com
o Irã: o fracasso no Iraque seria seguido de acusações
contra o Irã, considerado responsável pela derrota.
Em seguida viriam algumas provocações em solo
iraquiano ou um ato terrorista em solo americano, também
responsabilizando o Irã, culminando numa ação
militar defensiva dos EUA contra o Irã. Esses
fatos levariam a América, cada mais isolada, a um enorme
e profundo pântano, que abrangeria eventualmente o Iraque,
o Irã, o Afeganistão e o Paquistão.
(a ênfase é do próprio Brzezinski)
Este foi um claro aviso ao Congresso dos EUA. Assim, Brzezinski
tenta negar a natureza defensiva da provável
ação militar, afirmando que o governo Bush está
procurando um pretexto para atacar o Irã. Apesar de não
ter dito isso explicitamente, Brzezinski chegou quase a sugerir
que a Casa Branca era capaz de criar um fatoincluindo um
possível ato terrorista dentro dos EUApara justificar
a guerra.
Estas declarações de Brzezinski na audiência
aberta do Senado dos EUA são de uma importância e
gravidade imensas, sobretudo por terem sido feitas por alguém
que tem décadas de experiência nos mais altos escalões
da política externa dos EUA, com um estreito contato com
as agências militares e de inteligência.
Brzezinski sabe do que fala, pois ele mesmo participou de ações
deste tipo quando era conselheiro de segurança nacional
de Jimmy Carter. Como ele próprio reconheceu publicamente
mais tarde, ele elaborou um plano secreto no fim dos anos 70,
que visava mobilizar guerrilheiros fundamentalistas para derrubar
o regime pró-soviético no Afeganistão.
Após terminar seu depoimento, Brzezinski respondeu as
perguntas dos senadores, reiterando seus avisos a respeito de
uma provocação.
Ele chamou a atenção dos senadores para uma notícia
do dia 27 de março de 2006, no New York Times, sobre
um encontro pessoal com o Primeiro Ministro Tony Blair,
dois meses antes da guerra, baseada num memorando preparado por
um oficial britânico presente na reunião. O
artigo, disse Brzezinski, afirma que o presidente Bush teria
dito que estava preocupado com o fato de que talvez não
tivessem sido encontradas as tais armas de destruição
em massa no Iraque, e que seria preciso procurar um novo argumento
para justificar a guerra.
Ele continuou: só vou ler para vocês a suposição
levantada pelo artigo, de acordo com o New York Times:
o memorando diz que o presidente e o primeiro-ministro reconhecem
que nenhuma arma de destruição em massa fora encontrada
no Iraque. Em face à possibilidade de não se encontrar
nada antes da invasão planejada, o Sr. Bush falou a respeito
das diversas maneiras de se provocar um confronto.
Ele descreveu as várias maneiras por meio das
quais isso poderia ser realizado. Não entrarei nisso...
as maneiras eram impressionantes, uma delas mais do que todas.
Se alguém considera que está lidando com
um inimigo implacável, que precisa ser destruído,
suas atitudes devem, dependendo das circunstâncias, ser
apelativas. Eu suspeito que, se esta situação no
Iraque continuar se deteriorando, e se o Irã for considerado
envolvido ou responsável de alguma forma, ou um beneficiário
em potencial, as provocações podem surgir.
Em outro momento, Brzeziski apontou os métodos conspirativos
do governo Bush, descrevendo-os como dignos de uma quadrilha.
Estou perplexo, disse ele, com o fato de que
as principais decisões estratégicas parecem ser
feitas dentro de um círculo fechado de indivíduosbem
poucos, provavelmente caberiam numa mão, talvez não
mais do que cinco pessoas. E foram esses indivíduos, senão
apenas um deles, que tomaram a decisão de iniciar a guerra,
usando as justificativas já conhecidas.
Nenhum dos senadores presentes se sentiu atingido pela declaração
de Brzezinski. Os Democratas em particular, flácidos, complacentes
e cúmplices das conspirações de guerra do
governo Bush, nada disseram a respeito da importância da
possibilidade de uma provocação, sobretudo quando
explicada por alguém como Brzezinski.
Depois da audiência, nosso repórter perguntou
diretamente a Brzezinski se ele estaria sugerindo que a fonte
de uma possível provocação poderia ser o
próprio governo dos EUA. O ex-conselheiro de segurança
nacional foi evasivo.
O diálogo foi o seguinte:
Pergunta: Dr. Brzezinski, quem o senhor acha que poderia estar
realizando esta possível provocação?
Resposta: Não tenho idéia. Como disse, estas
coisas nunca podem ser premeditadas. Elas podem ser espontâneas.
Pergunta: O senhor está sugerindo que existe a possibilidade
de ela ter sido forjada dentro do próprio governo dos EUA?
Resposta: Estou dizendo que toda a situação pode
sair do controle e que qualquer tipo de cálculo pode produzir
circunstâncias que seriam muito difíceis de investigar.