Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 27 de janeiro de 2007.
Milhares de pessoas reuniram-se na capital dos EUA, Washington,
no último domingo, para se oporem à guerra no Iraque
e demonstrarem sua indignação quanto à decisão
do governo Bush de continuar a guerra, desconsiderando a vontade
popular em relação à retirada das tropas
norte-americanas, expressa nas últimas eleições
de novembro.
A questão fundamental é encontrar a perspectiva
política necessária para se travar uma luta bem-sucedida,
que acabe com a guerra e impeça as intervenções
que estão sendo preparadas pelo governocontra o Irã,
a Síria e países ainda não identificados
- cuja tendência é assumirem um caráter ainda
mais sangrento.
A resposta daqueles que organizaram o protesto de 27 de janeiro
é clara. A perspectiva deles é de que a guerra no
Iraque pode acabar através da pressão do Partido
Democrata, utilizando sua condição de maioria no
Congresso para cortar os financiamentos destinados à guerra
e forçar o governo a trazer as tropas de volta.
Este ponto de vista é claramente expresso pela liderança
da principal coalizão organizadora da manifestação,
a coalizão dos Unidos pela Paz e pela Justiça (United
for Peace and JusticeUFPJ), que convidou vários
membros Democratas do Congresso para fazerem discursos no palanque
e estimulou os manifestantes a ficarem em Washington para participarem
das visitas de apoio no Congresso.
Na sua chamada para a manifestação, os UFPJ convocam
aqueles que se opõem à guerra a dizer ao novo
Congresso: ajam agora para trazer as tropas de volta!
O texto continua: nós fazemos um chamamento às
pessoas de cada distrito congressual do país para reunirem-se
em Washington, a fim de manifestar o apoio aos membros do Congresso
que estão preparados para agir imediatamente contra a guerra;
pressionar aqueles que hesitam em agir; colocar-se contra aqueles
que ainda permanecem amarrados numa política fracassada...
Um ponto de vista parecido está expresso no jornal Nation,
a principal publicação da esquerda liberal orientada
pelo Partido Democrata. Na edição de 29 de janeiro,
o editorial intitulado Não à continuidade
da guerra defende a capacidade dos Democratas do Congresso
de travar uma luta contra o envio de mais 21.500 soldados ao Iraque.
Mesmo que o Congresso seja incapaz de impedir o envio
de mais tropas, uma série de audiências, votações
e resoluções podem enfrentar a estratégia
do Presidente e lançar as bases para uma luta maior pelo
fim da guerra, declara o Nation. O editorial chama
a participação na manifestação do
dia 27 de janeiro com base no argumento de que armar a oposição
no congresso é urgente.
Nos últimos quatro anos, massivos protestos contra a
obscura guerra no Iraque têm levado dezenas de milhões
de pessoas às ruas de todo o mundo. É hora de se
extrair algumas conclusões políticas difíceis,
mas essenciais.
Estas manifestações, apesar de sua escala massiva,
fracassaram na sua tentativa de acabar com a guerra de agressão
dos EUA contra o Iraque. As inúmeras manifestações
não conseguiram diminuir a incidência de tais crimes.
Pelo contrário, o número de mortes cresceu terrivelmente:
são estimados 650.000 iraquianos e cerca de 3.000 norte-americanos
mortos. O mundo assistiu horrorizado às atrocidades em
Abu Ghraib, Fallujah e Haditha.
Os protestos em si não mudarão a política
daqueles que iniciaram a guerra. A indiferença por parte
daqueles que controlam a Casa Branca em relação
à opinião pública tornou-se evidente com
o desespero de Bush no começo das eleições
de novembro.
O Partido Democrata agiu como cúmplice do governo na
deflagração e na continuidade da guerra. Em outubro
de 2002, o Senado (cuja maioria era Democrata), aprovou a resolução
que autorizava o uso de força militar, dando carta branca
a Bush para iniciar uma guerra sem justificativas contra o Iraque.
Este não foi um erro ou uma aberração. Foi
o ápice de uma política deliberada da liderança
Democrata, ignorando a posição contrária
à guerra dos eleitores deste partido. Durante a campanha
às eleições congressuais de 2002 os democratas
evitaram debater a respeito da guerra. Portanto, os Democratas
facilitaram a ação dos conspiradores pró-guerra
do governo Bush.
No começo de 2004, o sentimento anti-guerra das massas
foi usado por alguns candidatos Democratas para conquistar a nomeação
presidencialem particular, Howard Dean. A liderança
do partido cancelou a candidatura de Dean e lançou a do
Senador John Kerry, que havia votado pela guerra e por sua continuidade,
fazendo críticas a Bush de caráter meramente tático,
como o envio de tropas em quantidade insuficiente, que, segundo
ele, foi a causa do fracasso.
Desde 2003, os Democratas vem garantindo, por meio do voto
quase unânime no Congresso, um massivo financiamento para
que o governo de continuidade à
guerra. Esse financiamento representa hoje aproximadamente
8,5 bilhões de dólares por mês.
E o que dizer em relação ao surpreendente posicionamento
anti-guerra dos Democratas, supostamente refletido na resolução
do Senado que se opôs ao desespero de Bush?
Como deixa claro o texto da resolução, os senadores
Democratasjunto a alguns aliados Republicanosnão
defendem o fim da guerra, mas reclamam que a proposta de Bush
provocará oposição das massas, tornado mais
difícil a vitória sobre a resistência iraquiana.
A primeira passagem da resolução observa que
a estratégia e a presença dos Estados Unidos
no solo iraquiano só pode ser sustentada com o apoio do
povo norte-americano e com o apoio bipartidário do Congresso.
Aqueles que apóiam a resolução reclamam
que a política do governo está enfraquecendo a guerra
ao terror. A preocupação é de que tropas
norte-americanas não sejam suficientes para as novas guerrascontra
o Irã, a Síria, a Coréia do Norte ou a Venezuela.
Os mesmos Democratas são os maiores defensores da expansão
militar, reivindicando a duplicação das Forças
Especiais, os esquadrões de atiradores de elite do exército.
As diferenças entre os Democratas e os Republicanos
do governo não são estratégicas, mas meramente
táticas. Quando a liderança Democrata exige que
se prepare as tropas norte-americanas no Iraque, eles
estão reivindicando a manutenção de dezenas
de milhares de soldados e marinheiros nas bases altamente fortificadas
e a utilização da força aérea dos
EUA para reprimir a resistência iraquiana.
Os Democratas não se opõem à guerra agressiva
ou à ocupação colonial. Eles apoiaram a invasão
do Iraque, pois eles estavam interessados em garantir o domínio
dos EUA sobre as reservas de petróleo do país e
o estabelecimento da hegemonia norte-americana no Oriente Médio.
Agora eles criticam a política de guerra de Bush não
porque a guerra é imperialista ou ilegal, ou porque ela
levou à morte centenas de milhares de pessoas. Eles criticam-na
porque ela fracassou.
Os Democratas, como os Republicanos, são controlados
por uma oligarquia financeira que está determinada a utilizar
a força militar dos EUA para compensar o declínio
do poder econômico do capitalismo norte-americano. A campanha
de agressão militar não acabará no Iraque.
Preparações para uma guerra contra o Irã
já estão bem avançadas. Cresce a tensão
no mundo inteiro em relação à perspectiva
de um conflito mundial.
Uma luta bem sucedida contra a guerra é impossível
sem o confronto com o sistema que a gera, um sistema que é
subordinado integralmente ao lucro e à acumulação
de vastas fortunas pessoais por uma pequena elite. Aqueles que
afirmam que isso pode ser alcançado através da pressão
sobre os Democratas e o Congresso estão se enganado ou
enganando os outros deliberadamente. Enquanto os protestos de
massas forem orientados nessa perspectiva, eles não servirão
como meios de transformar a sociedade, mas somente como meios
de expressar a frustração popular.
A luta contra a guerra requer a mobilização política
independente dos trabalhadoresque é quem paga o preço
da guerracontra o sistema de lucros.
Manifestações, bem como qualquer outra atividade
política, somente poderão ajudar a alcançar
esse objetivo se forem voltadas à elevação
da consciência das amplas massas. Elas devem servir para
educar os trabalhadores, os estudantes e a juventude a respeito
da função do imperialismo militarista no sistema
capitalista e a respeito do papel do Partido Democrata e do sistema
bipartidário como instrumentos políticos de uma
elite financeira, cujos interesses estão em oposição
direta aos interesses dos trabalhadores nos EUA e no mundo inteiro.
A exigência da retirada imediata e incondicional das
tropas dos EUA do Iraque e pelo julgamento dos responsáveis
por ela em tribunais de guerra precisa somar-se a um programa
de longo alcance, voltado à reorganização
da vida econômica, acabando com a pobreza e a desigualdade
social e quebrando a dominação dos bancos e corporações,
transformando-os em instituições de utilidade pública.
Tal programa deve ser desenvolvido e defendido por meio do
ascenso de um novo movimento político baseado no rompimento
com o Partido Democrata, que estimule a mobilização
independente dos trabalhadores em defesa de seus próprios
interesses políticos e sociais.
Nós chamamos todos aqueles que estão procurando
uma maneira real de acabar com o massacre no Iraque e que querem
acabar com a desigualdade social, a lerem e apoiarem o World
Socialist Web Site e juntarem-se ao Socialist Equality
Party e ao International Students for Social Equality
na luta pela construção de um novo partido socialista
de massas.