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Grandes companhias petrolíferas divulgam recorde de lucros em 2006

Por Bill Van Auken
17 Fevereiro 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 3 de fevereiro de 2007.

Os três grandes conglomerados energéticos dos Estados Unidos—Exxon Móbil, Chevron e Conoco Philips—anunciaram lucros recordes em 2006, de acordo com dados divulgados pelas companhias no final da semana.

Aproveitando-se da duplicação do preço bruto do petróleo num espaço de tempo de apenas dois anos—chegando a $78 o barril no verão de 2006—os lucros dos três maiores conglomerados do ramo chegam a mais de $72 bilhões.

A Exxon Mobil, a companhia comercial de petróleo mais conhecida no mundo, arrecadou $39,5 bilhões o ano passado—o maior lucro anual atingido na história da corporação americana. A gigante do petróleo obteve a incrível média de $108 milhões de lucro por dia, ou $4,5 milhões por hora. Em 2005 a empresa já tinha batido um recorde com um lucro anual de $36,13 bilhões.

O total dos lucros anuais da Exxon ultrapassam os gastos anuais do governo federal com a educação pública e são, a grosso modo, equivalentes ao valor destinado pelo Congresso para fornecer assistência médica para quase 6 milhões de crianças de baixa renda por um período de 10 anos.

No ano passado, o rendimento total da Exxon, que é a maior companhia petrolífera norte-americana, chegou aos $377 bilhões, uma quantia maior do que o produto nacional bruto de países como a Bélgica, a Suécia, a Turquia e a Áustria.

Os lucros da maior concorrente da Exxon Mobil nos EUA também aumentaram. A Chevron, segunda maior companhia de petróleo dos EUA, descreveu o ano de 2006 como o mais rentável, com um lucro recorde de $17,1 bilhões, enquanto a número três, a Conoco Phillips, obteve um lucro de $15,55 bilhões.

As grandes companhias de petróleo lucraram principalmente em conseqüência da inconstância e desorganização dos mercados de petróleo bruto, ocasionadas em grande parte pela guerra no Iraque e da ameaça da provável e ainda mais ampla guerra contra o Irã.

A Exxon Mobil obteve estes enormes lucros apesar de um declínio de 4% nos lucros no último quadrimestre do ano de 2006, conseqüência da queda nos preços da gasolina ocorrida durante a campanha para as eleições presidenciais de 2006. Suspeita-se que os monopólios de energia baixaram deliberadamente o preço dos combustíveis com a inútil esperança de ajudar seus aliados—tanto o governo Bush quanto as lideranças republicanas no Congresso.

Consciente do escândalo público sobre a exploração pelas grandes companhias de petróleo, a Exxon Mobil divulgou anúncios de páginas inteiras nos jornais nacionais de quinta-feira (01/02), afirmando que seu lucro em 2006 não foi excessivo e que grande parte dele foi reinvestida na descoberta e exploração de novas fontes de energia para atender a crescente demanda mundial.

"Nossos rendimentos são grandes e eles precisam ser grandes para sustentar os pesados investimentos que fazemos na produção da energia que o nosso país e o mundo precisam," disse o porta-voz Kevin Cohen, defendendo os lucros da Exxon Mobil.

Na realidade, em 2006 a Exxon gastou uma parte muito maior dos seus lucros para comprar de volta suas próprias ações na bolsa de valores, do que aquela destinada a novos investimentos.

A companhia dispôs de $25 bilhões para a reposição de suas próprias ações numa operação que visava elevar o valor destas na bolsa, enquanto, durante todo o ano passado, a companhia gastou $19,9 bilhões em investimentos de capital. As ações da Exxon subiram aproximadamente 20% em Wall Street durante o ano de 2006, atingindo a marca dos $75,08.

Os recordes de lucros das três maiores companhias de petróleo dos EUA, assim como os de seus pequenos concorrentes, são conseqüência dos altos preços dos combustíveis, cuja média foi de $3 por galão na última primavera e verão. Esta extorsão da população trabalhadora feita por meio na venda da gasolina é complementada pela diminuição das medidas de bem-estar social da companhia, e pela diminuição de impostos e do pagamento de royalties, o que rende à empresa centenas de bilhões de dólares.

A alta no preço dos combustíveis continua a sobrecarregar a classe trabalhadora americana, pois com estes preços a parcela mais pobre da população é incapaz de pagar o aquecimento de suas casas durante o inverno. Enquanto os grandes conglomerados de energia continuam a obter enormes lucros, o governo federal cortou em um terço os fundos do Programa de Assistência de Energia às Casas de Baixa Renda durante o ano passado, ou seja, os benefícios baixaram de $3,2 bilhões para $2,1 bilhões. Apenas 17% da população de baixa-renda que atualmente necessita dessa assistência tem sido beneficiada pelo programa.

Grande dia do pagamento para os executivos da Exxon

 

O presidente da Exxon Móbil, Rex Tillerson, levou para casa um pacote total de recompensa de pelo menos $18,5 milhões em 2006—ganhando consideravelmente mais em uma hora do que alguém que trabalha por um salário mínimo federal recebe num ano inteiro de trabalho. Essa monstruosa quantia não é de nenhuma forma exorbitante levando-se em conta os padrões da indústria do petróleo, e parece modesta se comparada à aposentadoria de $400 milhões recebida pelo seu antecessor, Lee Raymond.

O anúncio dos lucros da Exxon Mobil ocorreu logo após o discurso proferido pelo presidente George W. Bush em Wall Street sobre o estado da economia americana. Em seu pronunciamento, Bush reconheceu a crescente desigualdade de renda nos EUA como "real" e advertiu os seus ouvintes, que eram grandes homens de negócios, que os "salários e bônus dos altos executivos deveriam ser determinados pelo sucesso de aproveitamento obtido pelas companhias e no fato destes executivos proporcionarem maior valor aos acionistas".

Através desta lógica perversa, as recompensas, tanto de Tillerson quanto de Raymond, são plenamente justificadas, dados os altos lucros gerados pela sua companhia e a crescente alta das ações no mercado, em parte por meio de uma agressiva campanha de compra, que trouxe uma melhora substancial nos currículos de Tillerson e de outros executivos da Exxon.

Entretanto, para a sociedade como um todo, as conseqüências da atividade econômica da Exxon Mobil e de outros gigantes da energia assumem um outro aspecto.

Apesar dos altos preços pagos pela gasolina e por outros combustíveis usados no aquecimento das casas das famílias dos trabalhadores nos EUA, as empresas de petróleo e, em particular, a Exxon Mobil, se engajaram numa campanha para impedir que qualquer responsabilidade quanto à enorme ameaça do aquecimento global fosse atribuída a ela e para negar as inúmeras evidências científicas que responsabilizam a utilização de combustíveis fósseis pela mudança climática. Um relatório divulgado no mês passado pela Union of Concerned Scientists constatou que a gigante do petróleo pagou $16 milhões entre 1998 e 2005 para uma rede de advogados associados, pagos para negar que a atividade humana seja responsável pelo aquecimento global.

O jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem no sábado (27/01) informando a respeito da contratação de cientistas e economistas para compor o grupo de pesquisadores criado pela Exxon Mobil—o Instituto Americano de Operações (American Enterprise Institute - AEI)—com o objetivo de atacar o recente relatório da Equipe Intergovernamental para as Mudanças Climáticas da ONU (Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC) que confirma o aquecimento global, apontando como causa a atividade humana. O AEI, cujo vice-presidente é o antigo presidente da Exxon Mobil, Lee Raymond, ofereceu $10.000 em troca de documentos que colocassem em cheque os relatórios do IPCC.

Há também uma forte evidência de que a Exxon Mobil e outros monopólios de energia americanos tenham desempenhado um papel significativo na organização da guerra do Iraque, com o objetivo de abrir as suas reservas de petróleo para a exploração direta. Executivos das companhias se encontraram a portas fechadas com o vice-presidente, Richard Cheney, e a sua Força-tarefa para Energia em 2001, a fim de analisar os mapas dos campos de petróleo do Iraque e listar as companhias que buscavam contratos com Bagdá.

Num artigo sobre os lucros do petróleo, o Wall Street Journal alertou sobre as tendências do mercado, que podem não se mostrar tão favoráveis para as grandes empresas de petróleo em 2007. "A Exxon, a Shell e seus parceiros no mercado petrolífero enfrentam um futuro difícil," anunciava o jornal. "Muitas reservas de gás e de petróleo não exploradas são propriedade de países que não querem fazer acordos com as empresas de petróleo do ocidente. As companhias enfrentam também os elevados custos decorrentes da inflação e da pressão dos governos, que procuram se apropriar de uma grande parcela dos lucros", conclui o jornal.

O Journal comentou a respeito das negociações da Exxon com o governo da Venezuela, que está exigindo um investimento bruto multibilionário numa operação arriscada na região de Orinoco.

A conseqüência evidente é que, assim como ocorreu com o Iraque, "os países que não quiserem deixar entrar as empresas de petróleo do ocidente" podem tornar-se alvos de ações militares norte-americanas.

Os enormes lucros da produção do petróleo, que alcançaram recordes históricos em 2006, apontam mais uma vez para a necessidade de tomar essas corporações que promovem a desigualdade social, o militarismo e a destruição do meio-ambiente, das mãos da iniciativa privada e torná-las objeto de utilidade pública. Somente através desse caminho é que a sociedade pode começar a enfrentar os perigos que ameaçam o futuro da humanidade, como a guerra e a mudança climática.