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Ford Austrália anuncia fechamento da planta de motores de Geelong

Por Richard Phillips
2 de agosto de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 23 de julho de 2007.

Após meses de especulações, a Ford Austrália anunciou, há duas semanas, que pararia de produzir motores de seis cilindros na sua planta de Geelong até 2010, acabando com 600 empregos de jornada inteira ou quase 30% da força de trabalho da empresa nesta cidade localizada no Estado de Victoria. O fechamento vai repercutir nas fabricantes de autopeças, sendo estimada a perda de 3 mil empregos nas indústrias da região.

A Ford, que produz em Geelong desde 1925, eliminou cerca de 2.800 empregos na cidade desde o início dos anos 1990. Os últimos cortes de empregos vão devastar as comunidades locais, nas quais o desemprego gira em torno de 7%, que representa quase o dobro da média australiana, mesmo considerando os subestimados números oficiais.

Este anúncio é feito logo após o corte de 640 empregos de jornada inteira e 120 empregos terceirizados na principal montadora da companhia, em Broadmeadows, realizado em novembro passado, e a uma onda de demissões ao longo dos últimos três anos na indústria automobilística australiana.

Em 18 de julho, o presidente da Ford Austrália, Tom Gorman, anunciou à imprensa que havia ocorrido uma drástica queda nas vendas dos modelos Falcon, Falcon Ute e Territory, todos de seis cilindros. No ano passado, a Ford Austrália teve um prejuízo de 40,3 milhões de dólares, com o Falcon registrando as vendas mais baixas dos últimos 40 anos.

Uma redução nos impostos sobre carros importados, de 10% para 5% até 2010, a valorização do dólar australiano e a introdução de uma nova e mais rigorosa legislação sobre emissão de poluentes também influenciaram os resultados, declarou ele.

Gorman afirmou que o fechamento era "a única forma de salvar a empresa na Austrália", e que os motores V6 seriam importados da planta de Lima, em Ohio. A unidade de Ohio produz um milhão de motores por ano, comparados aos 70 mil produzidos em Geelong anualmente. Os novos motores poderiam ser usados numa ampla variedade de modelos, continuou Gorman, permitindo ainda à Ford cortar custos locais de produção.

Questionado acerca das garantias de longo prazo dos trabalhadores, o presidente da Ford afirmou que os 1.400 trabalhadores da Ford que restaram em Geelong estavam a salvo, mas acrescentou: "é muito difícil saber como as coisas estarão daqui a 10 anos". Em outras palavras, nenhum dos empregos está garantido.

Fazendo coro ao sentimento da elite corporativa australiana, o editorial do dia 19 de julho do Australian, de Murdoch, afirmou que mesmo que o fechamento da fábrica pudesse ser "triste" para os trabalhadores da Ford, eles não deveriam "dar muita atenção a ele". A decisão da Ford de fechar a planta, continua o editorial, "não é de nenhuma forma um mau sinal", mas "prova que uma necessária reestruturação da indústria está a caminho".

Se o anuncio de 18 de julho chocou os trabalhadores de Geelong, para a grande imprensa, o governo estadual trabalhista e os sindicatos, ele não foi novidade. Assim como em cortes de empregos anteriores realizados pela indústria automobilística, todos se disponibilizaram a auxiliar a empresa a por em prática os seus planos.

O tesoureiro do estado de Victoria, John Brumby, que admitiu na sexta-feira (20) que o governo trabalhista já sabia do plano de fechamento no mês passado, tomou à frente do governo neste episódio. Logo após o anúncio oficial, ele encontrou-se com o conselho do governo e líderes empresariais e depois se dirigiu à imprensa e ao parlamento estadual para esclarecer como os trabalhistas garantiriam que o enxugamento ocorresse sem dificuldades.

Brumby declarou que os 600 empregos perdidos teriam pequeno impacto na cidade e que o governo estadual iria acelerar os principais planos de trabalho, a aprovação de novos planos e outras medidas para "criar mais empregos do que os que estão sendo perdidos". Isso, juntamente com a promessa de um pacote de assistência de 24 milhões de dólares, foi elaborado para desviar a atenção da cumplicidade do governo na destruição de empregos, e para minar qualquer perspectiva de luta dos trabalhadores pela defesa dos seus empregos na indústria automobilística.

Da mesma forma, a liderança do sindicato da categoria derramou as previsíveis lágrimas de crocodilo, enquanto deixava claro à empresa que não se oporia aos cortes, e muito menos lideraria uma luta contra eles.

O secretário da divisão da indústria automobilística do Sindicato dos Trabalhadores Industriais da Austrália (Australian Manufacturing Workers Union - AMWU), Ian Jones, que esteve no cargo durante a destruição de dezenas de milhares de empregos no setor, declarou à imprensa que esse era um "triste acontecimento" para os trabalhadores, mas as negociações já tinham chegado ao máximo possível.

Fazendo eco à Ford Austrália, Jones afirmou que os 1.400 empregos restantes em Geelong - na engenharia, moldagem de folhas de aço e pesquisa - não estavam ameaçados.

Essa garantia vale tanto quanto aquela dada pelos burocratas do sindicato em novembro passado, quando disseram aos trabalhadores de Broadmeadows que o corte de empregos iria estabilizar as operações locais da empresa e trazer segurança aos empregos na indústria. Pouco mais de seis meses depois, aí estão eles repetindo tudo.

Os fabricantes locais de autopeças, juntamente com o Partido Trabalhista e com a liderança do sindicato, pediram uma moratória na planejada redução de tarifas de importação de peças e veículos, argumentando que a medida protegeria os empregos no país.

O secretário da divisão da indústria automobilística do AMWU declarou à imprensa que a Ford cometeria um erro se importasse os motores da unidade de Ohio, porque os EUA tinham "os mais altos custos trabalhistas". Em outras palavras, a Ford deveria reconhecer que os trabalhadores australianos eram mais baratos e, portanto, mais lucrativos para a empresa.

Porém, os argumentos dos trabalhistas e do sindicato de que medidas protecionistas, ou mais sacrifícios, salvarão os empregos dos trabalhadores, são completamente equivocados. A produção de automóveis é um processo global. Os trabalhadores só podem defender seus empregos e os seus padrões de vida se estiverem baseados numa estratégia que os una internacionalmente numa luta comum contra as empresas transnacionais e o sistema do lucro em si.

O fechamento de Geelong é parte de uma brutal operação internacional de enxugamento realizada pela Ford e por outras fabricantes de carros, em conseqüência da perda de mercados para as empresas concorrentes asiáticas e européias, mais eficientes do que ela.

A Ford, a General Motors e a Chrysler estão atualmente cortando dezenas de milhares de empregos nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Somente em setembro último, a Ford, antes uma das duas maiores fabricantes de automóveis do mundo, anunciou que eliminaria 44 mil empregos e fecharia 16 fábricas americanas num esforço para escapar da insolvência.

Da mesma forma, a General Motors eliminou, nos últimos 12 meses, 34 mil empregos somente nos EUA, e a Chrysler está atualmente livrando-se de 13 mil empregos nos EUA e no Canadá. Outras dezenas de milhares de postos de trabalho estão sendo eliminados pela indústria de autopeças. Essa "reestruturação" vem sendo acompanhada por ataques às condições de trabalho, salários e benefícios e pela transferência de fábricas para áreas em que os salários são mais baratos.

Esse processo global expressou-se na Austrália com o corte de quase 10 mil empregos na fabricação de automóveis e de autopeças nos últimos três anos. E esse processo não parece terminar a curto prazo.

Desde o ano passado, a Ford anunciou a destruição de 1.360 empregos no estado de Victoria, e a General Motors Holden acabou com 200 empregos na sua montadora de motores em Port Melbourne, enquanto em South Australia a empresa cortou 600 empregos de sua planta de Elizabeth. Em 2005, a Mitsubishi fechou sua fábrica de Lonsdale, eliminando 700 postos de trabalho, e agora reduziu sua fábrica de Tonsley Park a um contingente mínimo de trabalhadores, que produzem apenas 50 carros por dia. Centenas de empregos também foram eliminados em inúmeras fabricantes de autopeças, incluindo a Huon Corporation e a Ajax Engineered Fasteners.

Para defender seus empregos e padrão de vida, os trabalhadores da indústria automobilística precisam de uma estratégia e perspectiva unificadas. Os trabalhadores da Ford em Geelong deveriam lançar um apelo a seus companheiros em Victoria e South Australia e organizar encontros massivos em ambos os estados, a fim de discutir uma estratégia para lutar por cada emprego. Isso vai exigir a tomada de uma posição resoluta contra as burocracias do sindicato e do Partido Trabalhista em sua bajuladora colaboração com os empregadores. A recusa do sindicato em defender o direito de seus próprios associados a um emprego permanente, decente e bem remunerado é fruto direto de seu programa nacionalista e pró-capitalista.

Os trabalhadores da Ford, juntamente com seus companheiros na Austrália e ao redor do mundo, precisam adotar um programa completamente diferente - um programa que busque unir todos os trabalhadores numa luta comum pela reorganização socialista da sociedade, na qual as necessidades humanas são colocadas acima da busca pelo lucro privado. Com base em tal programa, a indústria automobilística e outras gigantescas empresas chave serão tiradas do controle de uma elite minúscula, abastada e parasitária, e transformadas em empresas públicas, controladas democraticamente, para produzir em benefício de uma vasta maioria.