Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 23 de julho de 2007.
Após meses de especulações, a Ford Austrália
anunciou, há duas semanas, que pararia de produzir motores
de seis cilindros na sua planta de Geelong até 2010, acabando
com 600 empregos de jornada inteira ou quase 30% da força
de trabalho da empresa nesta cidade localizada no Estado de Victoria.
O fechamento vai repercutir nas fabricantes de autopeças,
sendo estimada a perda de 3 mil empregos nas indústrias
da região.
A Ford, que produz em Geelong desde 1925, eliminou cerca de
2.800 empregos na cidade desde o início dos anos 1990.
Os últimos cortes de empregos vão devastar as comunidades
locais, nas quais o desemprego gira em torno de 7%, que representa
quase o dobro da média australiana, mesmo considerando
os subestimados números oficiais.
Este anúncio é feito logo após o corte
de 640 empregos de jornada inteira e 120 empregos terceirizados
na principal montadora da companhia, em Broadmeadows, realizado
em novembro passado, e a uma onda de demissões ao longo
dos últimos três anos na indústria automobilística
australiana.
Em 18 de julho, o presidente da Ford Austrália, Tom
Gorman, anunciou à imprensa que havia ocorrido uma drástica
queda nas vendas dos modelos Falcon, Falcon Ute e Territory, todos
de seis cilindros. No ano passado, a Ford Austrália teve
um prejuízo de 40,3 milhões de dólares, com
o Falcon registrando as vendas mais baixas dos últimos
40 anos.
Uma redução nos impostos sobre carros importados,
de 10% para 5% até 2010, a valorização do
dólar australiano e a introdução de uma nova
e mais rigorosa legislação sobre emissão
de poluentes também influenciaram os resultados, declarou
ele.
Gorman afirmou que o fechamento era "a única forma
de salvar a empresa na Austrália", e que os motores
V6 seriam importados da planta de Lima, em Ohio. A unidade de
Ohio produz um milhão de motores por ano, comparados aos
70 mil produzidos em Geelong anualmente. Os novos motores poderiam
ser usados numa ampla variedade de modelos, continuou Gorman,
permitindo ainda à Ford cortar custos locais de produção.
Questionado acerca das garantias de longo prazo dos trabalhadores,
o presidente da Ford afirmou que os 1.400 trabalhadores da Ford
que restaram em Geelong estavam a salvo, mas acrescentou: "é
muito difícil saber como as coisas estarão daqui
a 10 anos". Em outras palavras, nenhum dos empregos está
garantido.
Fazendo coro ao sentimento da elite corporativa australiana,
o editorial do dia 19 de julho do Australian, de Murdoch, afirmou
que mesmo que o fechamento da fábrica pudesse ser "triste"
para os trabalhadores da Ford, eles não deveriam "dar
muita atenção a ele". A decisão da Ford
de fechar a planta, continua o editorial, "não é
de nenhuma forma um mau sinal", mas "prova que uma necessária
reestruturação da indústria está a
caminho".
Se o anuncio de 18 de julho chocou os trabalhadores de Geelong,
para a grande imprensa, o governo estadual trabalhista e os sindicatos,
ele não foi novidade. Assim como em cortes de empregos
anteriores realizados pela indústria automobilística,
todos se disponibilizaram a auxiliar a empresa a por em prática
os seus planos.
O tesoureiro do estado de Victoria, John Brumby, que admitiu
na sexta-feira (20) que o governo trabalhista já sabia
do plano de fechamento no mês passado, tomou à frente
do governo neste episódio. Logo após o anúncio
oficial, ele encontrou-se com o conselho do governo e líderes
empresariais e depois se dirigiu à imprensa e ao parlamento
estadual para esclarecer como os trabalhistas garantiriam que
o enxugamento ocorresse sem dificuldades.
Brumby declarou que os 600 empregos perdidos teriam pequeno
impacto na cidade e que o governo estadual iria acelerar os principais
planos de trabalho, a aprovação de novos planos
e outras medidas para "criar mais empregos do que os que
estão sendo perdidos". Isso, juntamente com a promessa
de um pacote de assistência de 24 milhões de dólares,
foi elaborado para desviar a atenção da cumplicidade
do governo na destruição de empregos, e para minar
qualquer perspectiva de luta dos trabalhadores pela defesa dos
seus empregos na indústria automobilística.
Da mesma forma, a liderança do sindicato da categoria
derramou as previsíveis lágrimas de crocodilo, enquanto
deixava claro à empresa que não se oporia aos cortes,
e muito menos lideraria uma luta contra eles.
O secretário da divisão da indústria automobilística
do Sindicato dos Trabalhadores Industriais da Austrália
(Australian Manufacturing Workers Union - AMWU), Ian Jones, que
esteve no cargo durante a destruição de dezenas
de milhares de empregos no setor, declarou à imprensa que
esse era um "triste acontecimento" para os trabalhadores,
mas as negociações já tinham chegado ao máximo
possível.
Fazendo eco à Ford Austrália, Jones afirmou que
os 1.400 empregos restantes em Geelong - na engenharia, moldagem
de folhas de aço e pesquisa - não estavam ameaçados.
Essa garantia vale tanto quanto aquela dada pelos burocratas
do sindicato em novembro passado, quando disseram aos trabalhadores
de Broadmeadows que o corte de empregos iria estabilizar as operações
locais da empresa e trazer segurança aos empregos na indústria.
Pouco mais de seis meses depois, aí estão eles repetindo
tudo.
Os fabricantes locais de autopeças, juntamente com o
Partido Trabalhista e com a liderança do sindicato, pediram
uma moratória na planejada redução de tarifas
de importação de peças e veículos,
argumentando que a medida protegeria os empregos no país.
O secretário da divisão da indústria automobilística
do AMWU declarou à imprensa que a Ford cometeria um erro
se importasse os motores da unidade de Ohio, porque os EUA tinham
"os mais altos custos trabalhistas". Em outras palavras,
a Ford deveria reconhecer que os trabalhadores australianos eram
mais baratos e, portanto, mais lucrativos para a empresa.
Porém, os argumentos dos trabalhistas e do sindicato
de que medidas protecionistas, ou mais sacrifícios, salvarão
os empregos dos trabalhadores, são completamente equivocados.
A produção de automóveis é um processo
global. Os trabalhadores só podem defender seus empregos
e os seus padrões de vida se estiverem baseados numa estratégia
que os una internacionalmente numa luta comum contra as empresas
transnacionais e o sistema do lucro em si.
O fechamento de Geelong é parte de uma brutal operação
internacional de enxugamento realizada pela Ford e por outras
fabricantes de carros, em conseqüência da perda de
mercados para as empresas concorrentes asiáticas e européias,
mais eficientes do que ela.
A Ford, a General Motors e a Chrysler estão atualmente
cortando dezenas de milhares de empregos nos Estados Unidos e
ao redor do mundo. Somente em setembro último, a Ford,
antes uma das duas maiores fabricantes de automóveis do
mundo, anunciou que eliminaria 44 mil empregos e fecharia 16 fábricas
americanas num esforço para escapar da insolvência.
Da mesma forma, a General Motors eliminou, nos últimos
12 meses, 34 mil empregos somente nos EUA, e a Chrysler está
atualmente livrando-se de 13 mil empregos nos EUA e no Canadá.
Outras dezenas de milhares de postos de trabalho estão
sendo eliminados pela indústria de autopeças. Essa
"reestruturação" vem sendo acompanhada
por ataques às condições de trabalho, salários
e benefícios e pela transferência de fábricas
para áreas em que os salários são mais baratos.
Esse processo global expressou-se na Austrália com o
corte de quase 10 mil empregos na fabricação de
automóveis e de autopeças nos últimos três
anos. E esse processo não parece terminar a curto prazo.
Desde o ano passado, a Ford anunciou a destruição
de 1.360 empregos no estado de Victoria, e a General Motors Holden
acabou com 200 empregos na sua montadora de motores em Port Melbourne,
enquanto em South Australia a empresa cortou 600 empregos de sua
planta de Elizabeth. Em 2005, a Mitsubishi fechou sua fábrica
de Lonsdale, eliminando 700 postos de trabalho, e agora reduziu
sua fábrica de Tonsley Park a um contingente mínimo
de trabalhadores, que produzem apenas 50 carros por dia. Centenas
de empregos também foram eliminados em inúmeras
fabricantes de autopeças, incluindo a Huon Corporation
e a Ajax Engineered Fasteners.
Para defender seus empregos e padrão de vida, os trabalhadores
da indústria automobilística precisam de uma estratégia
e perspectiva unificadas. Os trabalhadores da Ford em Geelong
deveriam lançar um apelo a seus companheiros em Victoria
e South Australia e organizar encontros massivos em ambos os estados,
a fim de discutir uma estratégia para lutar por cada emprego.
Isso vai exigir a tomada de uma posição resoluta
contra as burocracias do sindicato e do Partido Trabalhista em
sua bajuladora colaboração com os empregadores.
A recusa do sindicato em defender o direito de seus próprios
associados a um emprego permanente, decente e bem remunerado é
fruto direto de seu programa nacionalista e pró-capitalista.
Os trabalhadores da Ford, juntamente com seus companheiros
na Austrália e ao redor do mundo, precisam adotar um programa
completamente diferente - um programa que busque unir todos os
trabalhadores numa luta comum pela reorganização
socialista da sociedade, na qual as necessidades humanas são
colocadas acima da busca pelo lucro privado. Com base em tal programa,
a indústria automobilística e outras gigantescas
empresas chave serão tiradas do controle de uma elite minúscula,
abastada e parasitária, e transformadas em empresas públicas,
controladas democraticamente, para produzir em benefício
de uma vasta maioria.