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Apesar da interferência dos EUA e de outros países

As mudanças climáticas indicam terríveis conseqüências do impacto do aquecimento global

Por Mark Rainer
17 Abril 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 10 de abril de 2007.

No dia 6 de abril, a Equipe Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC- Intergovernmental Panel on Climate Change) publicou o Segundo Relatório do Grupo de Trabalho para Elaboração de Políticas baseado no relatório sobre “Os Impactos da Mudança Climática, Adaptações e Vulnerabilidades”.

O relatório do IPC,c um grupo criado pelas Nações Unidas em 1988, que reúne as opiniões de cientistas do mundo todo, afirma que o aquecimento global aumentará a ocorrência de estiagens e de enchentes, elevará o nível do mar, levará à extinção milhares de espécies animais e vegetais, e aumentará a subnutrição e as doenças entre os seres humanos. O impacto mais severo incidirá sobre as pessoas pobres, mas o aquecimento global afetará a vida de centenas de milhares de pessoas no mundo inteiro.

O relatório publicado na sexta-feira (06) representa a segunda parte de um relatório do IPCC composto de três partes, que lida com os impactos da mudança climática sobre os sistemas humanos e naturais. A primeira parte, divulgada em fevereiro de 2007, examinava a base física científica para a mudança climática, colocando que o aquecimento é real, e que, “muito provavelmente”, é causado pelos seres humanos. A terceira parte se dedica a examinar meios de interromper ou reverter o aquecimento global. O relatório completo será publicado ainda esse ano.

As terríveis descobertas do relatório são verdadeiras, apesar da intensa disputa entre os principais cientistas que assinam o relatório e os diplomatas que representam governos nacionais. De acordo com uma reportagem da Associated Press, “a tensão durante os cinco dias de negociações atingiu o ápice quando os delegados retiraram partes de um importante gráfico que deixava claro os efeitos devastadores causados pelo aumento de apenas 1,8 graus centígrados, e durante a discussão a respeito do nível científico existente em tais afirmações chave.”

A Associated Press publicou: “os Estados Unidos, a China e a Arábia Saudita levantaram a maior parte das objeções às formulações, procurando frequentemente diminuir a confiabilidade de algumas das mais severas previsões”. Reagindo a isto, “três dos maiores cientistas-autores fizeram formalmente objeções à mudança proposta pelos diplomatas, incluindo o cientista americano David Karoly da Universidade de Oklahoma. Os cientistas disseram que isto foi um enfraquecimento sem precedentes da confiabilidade da ciência, que não havia sido levantada em nenhum momento durante a circulação do relatório nos últimos meses”.

Os Estados Unidos parecem ter liderado a tática de questionar as afirmações do relatório. De acordo com o Washington Post, “os negociadores americanos articularam a eliminação de um dos pontos numa seção que exigia a diminuição da emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, disse Patrícia Romero Lankao,” uma das autoras do relatório e cientista do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, em Boulder, Colorado.

As mudanças no relatório divulgadas pela Associated Press incluem, em primeiro lugar, a revisão, e depois a retirada da qualificação de “altamente confidencial” dos enunciados que afirmavam o impacto da mudança climática nos sistemas naturais. Um dos enunciados, que concluía que “centenas de milhões” de pessoas serão afetadas por enchentes, foi reduzido a “muitos milhões”. Também, um enunciado que dizia que 120 milhões de pessoas correrão o risco de passar fome por conta do aquecimento global foi inteiramente retirado.

A pressão para ocultar as avaliações do IPCC faz parte da interferência política do governo Bush na pesquisa governamental sobre o clima. Houve numerosos cientistas do governo que foram pressionados a tirar de seus relatórios referências à mudança climática, ou então a não divulgar todas as conclusões alcançadas sobre as possibilidades e efeitos do aquecimento global.

Numa prévia da imprensa concedida a respeito do relatório, Sharon Hays, do escritório de Políticas Científicas e Tecnológicas da Casa Branca, evitou responder às diversas questões sobre quais mudanças a delegação americana teria concordado, depois dos quatro dias de discussões. Por enquanto, James Connaughton, líder do conselho sobre Qualidade Ambiental da Casa Branca, procurou pintar a proposta de Bush de substituir a gasolina por “combustíveis renováveis” como um “compromisso obrigatório” que “produzirá uma significativa redução na emissão de gases poluentes”.

A atuação do governo Bush é uma resposta à impressionante aceitação pública das evidências científicas sobre a mudança climática e seus impactos. A posição do governo Bush, entretanto, demonstra que não haverá mudança na política do governo americano.

O relatório afirma que a mudança climática afetará a saúde de milhões de pessoas, com o crescimento da subnutrição, uma maior incidência de diarréia, “aumento de mortes, doenças e ferimentos devido às ondas de calor, enchentes, tempestades, incêndios e secas”, e “uma crescente freqüência de doenças cardio-respiratórias, devido a altas concentrações de ozônio ocasionadas à mudança climática”.

Bettina Menne, uma especialista da Organização Mundial da Saúde e autora do capítulo sobre saúde, disse que 150.000 mortes poderiam ser atribuídas diretamente à mudança climática, somente em 2000, devido à subnutrição e diarréia.

O relatório completo do IPCC descreve mais de 29.000 dados recolhidos desde 1970, que mostram as conseqüências do impacto da mudança do clima do planeta. O relatório traça as tendências gerais, mas fornece poucos números ou detalhes sobre qual o impacto que a mudança climática já teve sobre os sistemas humanos ou naturais.

O relatório resumido contém previsões sobre o que pode ser esperado no futuro, com projeções para diferentes regiões do mundo, e uma tabela gráfica que mostra o impacto esperado sobre a água, os ecossistemas, os alimentos, as costas oceânicas e a saúde humana, em decorrência do aumento da temperatura do planeta.

Com um aumento de 1,5 a 2,5 graus Celsius, espera-se que uma massa de 20 a 30% das espécies animais e vegetais entrem em processo acelerado de extinção, ocasionando enormes mudanças na estrutura e nas funções do ecossistema. De acordo com o relatório, o resultado trará “conseqüências negativas para a biodiversidade, para a riqueza dos ecossistemas e serviços, como, por exemplo, o abastecimento de água e de alimentos”.

O relatório afirma: “a África é um dos continentes mais vulneráveis à variação e mudança climática”. Na África, “entre 75 e 250 milhões de pessoas serão expostas a uma crescente crise de água” até 2020. Prevê-se que as safras agrícolas sejam atingidas pelas chuvas — o que acarretará uma redução da produção agropecuária de “cerca de 50% até 2020” em alguns países africanos. O relatório conclui: “isto afetará a segurança alimentar e elevará a subnutrição no continente”.

Na Ásia, uma diminuição da água potável disponível, combinada com “o crescimento populacional e a crescente demanda dos padrões de vida, poderia afetar mais de um bilhão de pessoas até 2050”. O relatório afirma que “até 2080, muitos milhões de pessoas deverão submergir todos os anos, devido à elevação do nível do mar”, sobretudo aqueles que vivem em pequenas ilhas e nas áreas litorâneas da África e da Ásia.

Na Austrália e na nova Zelândia, o relatório prevê problemas ainda maiores com a água, uma “significativa perda da biodiversidade”, ameaças maiores quanto ao nível do mar e tempestades nas áreas costeiras, interferindo no crescimento populacional, e um declínio na produção da agricultura em algumas áreas, com o aumento em outras.

A Europa experimentará novamente a ameaça de nevascas fortíssimas e um aumento do risco de enchentes, ondas de calor e secas. Prevê-se que a mudança no clima na América Latina ameaçará as florestas tropicais, a “salinização e desertificação da terra agricultável” com um declínio correspondente na produção da agricultura e um declínio na água potável disponível.

A América do Norte sofrerá com o aumento das tempestades tropicais, entre outros efeitos. O relatório observa que “onde fenômenos extremos causados pela água se tornam mais intensos e/ou mais freqüentes, os custos econômicos e sociais destes eventos crescerão”. Muitos cientistas prevêem que com o aquecimento global haverá um aumento na força e preponderância de furacões, tais como o Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005.

Finalmente, prevê-se que as regiões polares continuem a sofrer com o derretimento das geleiras, enquanto pequenas ilhas serão ameaçadas pelo aumento do nível das águas.

O relatório explica que “as comunidades pobres podem ser especialmente vulneráveis”, devido à “limitada capacidade de adaptação”, e por serem “mais dependentes dos recursos ligados ao meio ambiente, tais como a água local e abastecimento de alimentos”. Como resumiu o chefe do IPC,c Rajendra Pachauri, durante a conferência do IPCC com a imprensa: “serão os mais pobres dos pobres do mundo - e isto inclui os pobres das sociedades prósperas - os mais atingidos”.