Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 10 de abril de 2007.
No dia 6 de abril, a Equipe Intergovernamental para a Mudança
Climática (IPCC- Intergovernmental Panel on Climate
Change) publicou o Segundo Relatório do Grupo de Trabalho
para Elaboração de Políticas baseado no relatório
sobre Os Impactos da Mudança Climática, Adaptações
e Vulnerabilidades.
O relatório do IPC,c um grupo criado pelas Nações
Unidas em 1988, que reúne as opiniões de cientistas
do mundo todo, afirma que o aquecimento global aumentará
a ocorrência de estiagens e de enchentes, elevará
o nível do mar, levará à extinção
milhares de espécies animais e vegetais, e aumentará
a subnutrição e as doenças entre os seres
humanos. O impacto mais severo incidirá sobre as pessoas
pobres, mas o aquecimento global afetará a vida de centenas
de milhares de pessoas no mundo inteiro.
O relatório publicado na sexta-feira (06) representa
a segunda parte de um relatório do IPCC composto de três
partes, que lida com os impactos da mudança climática
sobre os sistemas humanos e naturais. A primeira parte, divulgada
em fevereiro de 2007, examinava a base física científica
para a mudança climática, colocando que o aquecimento
é real, e que, muito provavelmente, é
causado pelos seres humanos. A terceira parte se dedica a examinar
meios de interromper ou reverter o aquecimento global. O relatório
completo será publicado ainda esse ano.
As terríveis descobertas do relatório são
verdadeiras, apesar da intensa disputa entre os principais cientistas
que assinam o relatório e os diplomatas que representam
governos nacionais. De acordo com uma reportagem da Associated
Press, a tensão durante os cinco dias de negociações
atingiu o ápice quando os delegados retiraram partes de
um importante gráfico que deixava claro os efeitos devastadores
causados pelo aumento de apenas 1,8 graus centígrados,
e durante a discussão a respeito do nível científico
existente em tais afirmações chave.
A Associated Press publicou: os Estados Unidos,
a China e a Arábia Saudita levantaram a maior parte das
objeções às formulações, procurando
frequentemente diminuir a confiabilidade de algumas das mais severas
previsões. Reagindo a isto, três dos
maiores cientistas-autores fizeram formalmente objeções
à mudança proposta pelos diplomatas, incluindo o
cientista americano David Karoly da Universidade de Oklahoma.
Os cientistas disseram que isto foi um enfraquecimento sem precedentes
da confiabilidade da ciência, que não havia sido
levantada em nenhum momento durante a circulação
do relatório nos últimos meses.
Os Estados Unidos parecem ter liderado a tática de questionar
as afirmações do relatório. De acordo com
o Washington Post, os negociadores americanos articularam
a eliminação de um dos pontos numa seção
que exigia a diminuição da emissão de gases
que contribuem para o efeito estufa, disse Patrícia Romero
Lankao, uma das autoras do relatório e cientista
do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, em Boulder,
Colorado.
As mudanças no relatório divulgadas pela Associated
Press incluem, em primeiro lugar, a revisão, e depois
a retirada da qualificação de altamente confidencial
dos enunciados que afirmavam o impacto da mudança climática
nos sistemas naturais. Um dos enunciados, que concluía
que centenas de milhões de pessoas serão
afetadas por enchentes, foi reduzido a muitos milhões.
Também, um enunciado que dizia que 120 milhões de
pessoas correrão o risco de passar fome por conta do aquecimento
global foi inteiramente retirado.
A pressão para ocultar as avaliações do
IPCC faz parte da interferência política do governo
Bush na pesquisa governamental sobre o clima. Houve numerosos
cientistas do governo que foram pressionados a tirar de seus relatórios
referências à mudança climática, ou
então a não divulgar todas as conclusões
alcançadas sobre as possibilidades e efeitos do aquecimento
global.
Numa prévia da imprensa concedida a respeito do relatório,
Sharon Hays, do escritório de Políticas Científicas
e Tecnológicas da Casa Branca, evitou responder às
diversas questões sobre quais mudanças a delegação
americana teria concordado, depois dos quatro dias de discussões.
Por enquanto, James Connaughton, líder do conselho sobre
Qualidade Ambiental da Casa Branca, procurou pintar a proposta
de Bush de substituir a gasolina por combustíveis
renováveis como um compromisso obrigatório
que produzirá uma significativa redução
na emissão de gases poluentes.
A atuação do governo Bush é uma resposta
à impressionante aceitação pública
das evidências científicas sobre a mudança
climática e seus impactos. A posição do governo
Bush, entretanto, demonstra que não haverá mudança
na política do governo americano.
O relatório afirma que a mudança climática
afetará a saúde de milhões de pessoas, com
o crescimento da subnutrição, uma maior incidência
de diarréia, aumento de mortes, doenças e
ferimentos devido às ondas de calor, enchentes, tempestades,
incêndios e secas, e uma crescente freqüência
de doenças cardio-respiratórias, devido a altas
concentrações de ozônio ocasionadas à
mudança climática.
Bettina Menne, uma especialista da Organização
Mundial da Saúde e autora do capítulo sobre saúde,
disse que 150.000 mortes poderiam ser atribuídas diretamente
à mudança climática, somente em 2000, devido
à subnutrição e diarréia.
O relatório completo do IPCC descreve mais de 29.000
dados recolhidos desde 1970, que mostram as conseqüências
do impacto da mudança do clima do planeta. O relatório
traça as tendências gerais, mas fornece poucos números
ou detalhes sobre qual o impacto que a mudança climática
já teve sobre os sistemas humanos ou naturais.
O relatório resumido contém previsões
sobre o que pode ser esperado no futuro, com projeções
para diferentes regiões do mundo, e uma tabela gráfica
que mostra o impacto esperado sobre a água, os ecossistemas,
os alimentos, as costas oceânicas e a saúde humana,
em decorrência do aumento da temperatura do planeta.
Com um aumento de 1,5 a 2,5 graus Celsius, espera-se que uma
massa de 20 a 30% das espécies animais e vegetais entrem
em processo acelerado de extinção, ocasionando enormes
mudanças na estrutura e nas funções do ecossistema.
De acordo com o relatório, o resultado trará conseqüências
negativas para a biodiversidade, para a riqueza dos ecossistemas
e serviços, como, por exemplo, o abastecimento de água
e de alimentos.
O relatório afirma: a África é um
dos continentes mais vulneráveis à variação
e mudança climática. Na África, entre
75 e 250 milhões de pessoas serão expostas a uma
crescente crise de água até 2020. Prevê-se
que as safras agrícolas sejam atingidas pelas chuvas
o que acarretará uma redução da produção
agropecuária de cerca de 50% até 2020
em alguns países africanos. O relatório conclui:
isto afetará a segurança alimentar e elevará
a subnutrição no continente.
Na Ásia, uma diminuição da água
potável disponível, combinada com o crescimento
populacional e a crescente demanda dos padrões de vida,
poderia afetar mais de um bilhão de pessoas até
2050. O relatório afirma que até 2080,
muitos milhões de pessoas deverão submergir todos
os anos, devido à elevação do nível
do mar, sobretudo aqueles que vivem em pequenas ilhas e
nas áreas litorâneas da África e da Ásia.
Na Austrália e na nova Zelândia, o relatório
prevê problemas ainda maiores com a água, uma significativa
perda da biodiversidade, ameaças maiores quanto ao
nível do mar e tempestades nas áreas costeiras,
interferindo no crescimento populacional, e um declínio
na produção da agricultura em algumas áreas,
com o aumento em outras.
A Europa experimentará novamente a ameaça de
nevascas fortíssimas e um aumento do risco de enchentes,
ondas de calor e secas. Prevê-se que a mudança no
clima na América Latina ameaçará as florestas
tropicais, a salinização e desertificação
da terra agricultável com um declínio correspondente
na produção da agricultura e um declínio
na água potável disponível.
A América do Norte sofrerá com o aumento das
tempestades tropicais, entre outros efeitos. O relatório
observa que onde fenômenos extremos causados pela
água se tornam mais intensos e/ou mais freqüentes,
os custos econômicos e sociais destes eventos crescerão.
Muitos cientistas prevêem que com o aquecimento global haverá
um aumento na força e preponderância de furacões,
tais como o Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005.
Finalmente, prevê-se que as regiões polares continuem
a sofrer com o derretimento das geleiras, enquanto pequenas ilhas
serão ameaçadas pelo aumento do nível das
águas.
O relatório explica que as comunidades pobres
podem ser especialmente vulneráveis, devido à
limitada capacidade de adaptação, e
por serem mais dependentes dos recursos ligados ao meio
ambiente, tais como a água local e abastecimento de alimentos.
Como resumiu o chefe do IPC,c Rajendra Pachauri, durante a conferência
do IPCC com a imprensa: serão os mais pobres dos
pobres do mundo - e isto inclui os pobres das sociedades prósperas
- os mais atingidos.