Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 13 de abril de 2007.
Numa brusca movimentação na tentativa de aumentar
os lucros, a companhia mundial de serviços financeiros
Citigroup anunciou na quarta-feira que deve cortar 17.000 empregos,
inclusive de supervisores médios. Os executivos da companhia
disseram que os cortes fazem parte de um plano de reestruturação
que objetiva diminuir os custos operacionais em 10 bilhões
de dólares dentro dos próximos três anos.
Ao todo, a reestruturação afetará mais
de 26.500 trabalhadores, cerca de 8% do total, incluindo mais
de 9.500 trabalhadores dos EUA que devem ser substituídos
por trabalhadores em regiões de menor custo,
tanto fora como dentro dos próprios EUA.
Este movimento representa o maior anúncio de cortes
de emprego fora da indústria automobilística nos
últimos dois anos, e a duplicação do número
de demissões no setor financeiro anunciado no primeiro
trimestre de 2007. Todavia, diferentemente dos outros cortes de
emprego no setor financeiro, este do Citigroup não é
atribuído aos problemas enfrentados pelo mercado imobiliário.
O Citigroup, que possui por volta de 1,9 trilhão de
dólares em propriedades, é a maior companhia do
mundo, segundo a revista Forbes. Os representantes da companhia
ainda não informaram quais as regiões que serão
mais afetadas pelos cortes, mas, de acordo com o New York Times,
alguns trabalhadores já começaram a receber notificações
de demissão.
De acordo com executivos da companhia, serão demitidos
supervisores médios e aqueles que cumprem funções
de apoio à administração. Instrumentos de
recursos humanos, centrais telefônicas e departamentos legais
serão centralizados em regiões de baixos salários.
Nós estamos iniciando uma transformação
na forma como fazemos negócios, anunciou, no dia
11 de abril, numa conferência à imprensa, Charles
O. Prince III, presidente e diretor geral do Citigroup. Vocês
verão um Citigroup mais eficiente, administrado de forma
mais firme e rígida do que estavam acostumados a ver no
passado.
Justificando a estimativa inicial de reestruturação
e cortes de custo em 1,4 bilhões de dólares, Prince
disse: no final, essas mudanças aperfeiçoarão
o Citigroup e nos deixarão mais enxutos, mais eficientes
e aptos a conquistar vantagens em oportunidades de alto investimento.
Como era de se esperar, nenhum executivo rígido
sofrerá a mínima diminuição em suas
monstruosas compensações anuais. Pelo contrário,
em nome da eficiência, essa camada pretende continuar sugando
os recursos da empresa à custa dos trabalhadores, clientes
e acionistas.
No ano passado, o diretor geral Prince recebeu 26 milhões
de dólares, incluindo um bônus surpresa em dinheiro
de 13,2 milhões de dólares, aprovados em janeiro
deste ano. Este pacote total foi 13% maior que seu pagamento de
2005. Além disso, ele recebeu 747.000 dólares em
ações opcionais e um aumento de 137.000 dólares
em sua pensão. De acordo com os registros da Comissão
de Seguros e Trocas do mês passado, Prince ainda gastou
258.000 dólares dos fundos da companhia por meio do uso
pessoal das aeronaves da companhia.
Os pagamentos feitos a outros altos executivos do Citigroup
são igualmente escandalosos. Robert Rubin, integrante do
comitê executivo da companhia, recebeu 17,34 milhões
de dólares. Recentemente, o Citigroup pagou o equivalente
a 25 milhões de dólares ao ex-chefe financeiro,
Todd Thomson, que foi demitido em janeiro por baixa performance
e gastos excessivos. Durante a sua ausência, a diretora
financeira, Sallie Krawcheck, recebeu 9,9 milhões de dólares
em compensações no último inverno. Seu novo
substituto, Gary Crittenden, está recebendo 10 milhões
de dólares neste ano.
No centro de operações na cidade de New York,
o Citigroup o maior empregador do setor privado da cidade
está eliminando 1.600 empregos. Outros 200 postos
devem ser cortados no estado, e 75 em Connecticut.
Muitos dos 9.500 empregos cortados serão transferidos
para a Polônia, Índia e às cidades em crise
econômica dos EUA, como Buffalo, em New York. De acordo
com o New York Times, os empregos de Londres devem ser
transferidos para a Polônia. Alguns serviços de apoio
administrativo em Tókio serão transferidos para
Okinawa. Muitos desses postos devem ser transferidos para a Índia,
onde o Citigroup está crescendo rapidamente.
O Times indicou que ainda deverá ocorrer
outro período de corte de custos. De fato, as ações
do Citigroup foram exaustivamente noticiadas porque os grandes
investidores querem cortes ainda mais drásticos.
O Baltimore Sun noticiou que 240 trabalhadores de Maryland
perderão os seus empregos, mas que no ano que vem talvez
mais de 300 empregos poderão ser transferidos, a maior
parte para New York.
Apesar dos cortes de emprego na região, o jornal de
Albuquerque, no Novo México, tentou lançar uma nota
otimista na quinta-feira, dizendo que, por causa dos baixos salários
de seus trabalhadores, o Citigroup provavelmente se transferirá
para a cidade. Além disso, alguns dos trabalhadores
dispensados poderão conseguir os novos empregos em Albuquerque,
desde que tenham a qualificação necessária
para os novos postos, disse o porta-voz da companhia ao
jornal.
Os cortes do Citigroup fazem parte de um cruel ataque ao emprego
e ao padrão de vida dos trabalhadores. Em particular, assim
como os contratos do mercado imobiliário, as indústrias
associadas estão acabando com centenas de empregos.
Uma pesquisa da firma de consultoria econômica Challenger,
Gray & Christmas, publicada no dia 4 de abril, demonstra que
os cortes de emprego do primeiro trimestre de 2007 no mercado
imobiliário se aproximaram do número de cortes em
todo o ano de 2006, representando um acréscimo de 346%
em relação aos cortes no mesmo período do
ano passado.
Por volta de 14.000 empregos foram cortados na construção
civil. Financiadoras anunciaram 6.138 cortes de emprego no primeiro
trimestre.
Os cortes foram enormes também em outros setores. A
indústria automobilística anunciou 23.481 cortes
de emprego somente em março, o maior número registrado
até agora.
Firmas de comunicação também anunciaram
demissões e cortes de empregos. A companhia americana de
internet Vonage divulgou um plano de redução
de custos de 140 milhões de dólares, que significa
o corte de cerca de 180 trabalhadores, 10% de seu quadro, além
do congelamento dos contratos. A empresa de comunicação
sem fio Boston Communications Group e a companhia de mídia
a cabo Discovery Communications também anunciaram o corte
de centenas de trabalhadores.