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A Responsabilidade do Governo Merkel nos Crimes de Guerra no Líbano

Por Ulrich Rippert
6 Setembro 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 04 de Agosto de 2006.

“Grandes pêsames e sua profunda tristeza pelo episódio dos ataques aéreos israelenses em Kana” enviou a chanceler alemã Angela Merkel (CDU), em 30 de julho, através de seu porta-voz Ulrich Wilhelm.

Dois dias depois o ministro das Relações Exteriores Frank-Walter Steinmeier (SPD) começou uma entrevista ao jornal “Süddeutschen Zeitung” com as seguintes palavras: “O que aconteceu em Kana no domingo deve encher-nos de horror. O número de vítimas civis dos ataques aéreos israelenses é terrível e inaceitável”.

Porém, o horror na população não é restrito aos corpos carbonizados e mutilados das crianças em Kana, mas desperta a todos para a realidade de que este governo—da Chanceler e seu ministro das Relações Exteriores social-democrata—recusa-se a chamar pelo nome e a condenar os terríveis crimes de guerra. A advertência de Steinmeier endereçada ao governo israelense, baseada nos limites do “Direito de Auto-defesa” de que toda utilização da força militar deve ser proporcional, e de que devem ser evitadas vítimas na população civil, é completamente covarde e repugnante.

Em Kana não houve mira imprecisa ou evitou-se insuficientemente as vítimas civis. Aqui se mirou para abater crianças e mulheres e apressar ondas de fuga do sul do Líbano. O terrível massacre não foi uma “lamentável exceção”, mas sim torna claro o verdadeiro caráter da agressão imperialista, pois nela até agora mais crianças que soldados perderam suas vidas.

Um dia após a sua entrevista ao “Süddeutschen Zeitung” Steinmeier bloqueou no encontro dos ministros das Relações Exteriores europeus uma condenação colocada aos crimes de guerra israelenses, e anulou uma declaração conjunta com a exigência de um imediato cessar-fogo.

Pode-se dizer com toda a clareza: os “pêsames e profunda tristeza” de Merkel pelas vítimas em Kana não podem enganar que o governo alemão carrega responsabilidade e cumplicidade em alto grau pelos crimes de guerra no Líbano. Nada fortaleceu e encorajou mais a política de guerra americano-israelense na última semana do que a reviravolta ocorrida na política externa alemã.

Ninguém mais que o próprio Steinmeier, que dirigiu no último ano uma função na chancelaria do governo vermelho-verde, sabe melhor que a então oposição do governo Schröder contra a guerra do Iraque era muito inconseqüente, mas tal oposição tinha efeitos. A Alemanha na época, e ainda hoje, não era representada com assento e voto no Conselho de Segurança da ONU, mas a atitude negativa em Berlim frente à ação armada no Iraque fortalecia aqueles países no Conselho de Segurança que eram críticos frente à pressão para a guerra por parte dos EUA, como França, Rússia e China.

Isto impediu que a guerra contra o Iraque pudesse ter começado com o apoio da ONU. Isto novamente não foi um fator desprezível na mobilização da população contra a guerra. O caráter ilegal desta guerra de agressão ficou nítido desde o princípio e milhões de pessoas em toda parte do mundo manifestaram-se e protestaram contra a guerra.

Por isso, a reviravolta pró-americana na política exterior alemã teve um significado muito grande para os governos em Washington e Jerusalém, pois as relações de força na política européia modificaram-se por isso, de forma nítida, ao gosto do governo dos EUA. Quando Angela Merkel, no último domingo, não telefonou para o presidente francês Jacques Chirac, mas sim para o chefe-lacaio do Pentágono na Europa, o primeiro-ministro britânico Toni Blair, ficou claro que a Alemanha havia passado não somente transitoriamente para o apoio à pressão direta do presidente Bush dos EUA pela ação bélica sobre a cúpula do G-8 em São Petersburgo.

A mudança de sentido no Spree (Rio que corta Berlim em cujas margens está instalada a sede do governo alemão) rumou para fortalecer as mais reacionárias políticas de força nas relações internacionais. A forma brutal, atrevida e arrogante com que as forças armadas israelenses pisoteiam o Direito e as Instituições internacionais como a ONU, até mesmo bombardeando seus postos, está apoiada não somente na sua convicção de que ninguém irá punir seus crimes de guerra, mas de que o comando das forças armadas israelenses age em aliança direta com o governo dos EUA. Pois já era o caso desde antes.

O governo alemão mudou a página e não enfrentou o terror dos bombardeios, mas postou-se atrás da liderança do Governo Bush a respeito disso, de tal forma que se deixou cair resignado, sem se sentir embaraçado, e tendo consideração ao alto comando no Pentágono e ao Ministério da Guerra israelense. As mortes em Kana, assim como as vítimas anteriores e futuras no Líbano vão, em alta medida, também na conta do governo alemão.

Há três anos o governo alemão exigiu por meio do Direito Internacional que parasse a agressão promovida pelos EUA. Então o governo resistira às ambições guerreiras em Washington e à agressão. Agora o governo alemão virou e tornou claro que, para ele o Direito Internacional não é mais o limite, nem constitui o critério para suas decisões, pois quem não condena os crimes de guerra evidentes e não leva os responsáveis à prestação de contas torna claro com isso que não mais aceita o Direito internacional e que não o considera como parâmetro de suas decisões.

Sobretudo é impressionante a mudança de curso da política exterior na liderança do SPD (Partido Social-Democrata). Há não muito tempo atrás que a “atitude anti-guerra do Iraque” era o grande show na campanha eleitoral na “Casa de Willy Brandt”. No entanto, depois que o decurso da guerra do Iraque tornou claro que havia passado o tempo das leis e acordos internacionais, e que o tempo novamente era de forma descarada e aberta o dos termos imperialistas, e ficou a nu de que estes serão perseguidos por meio do poderio militar, o SPD reagiu como sempre tinha feito no passado: posicionou-se do lado da força imperialista mais forte.

Fornecimento de armas para Israel

Há ainda um outro plano em que o governo alemão carrega uma responsabilidade imediata pelos crimes de guerra no Líbano, pois as armas israelenses provêm não somente dos americanos, mas também da produção alemã. Isto é verdade para todos os componentes de alta tecnologia.

O programa de televisão “Monitor” em sua última edição (27 de julho de 2006) concentrado sobre isso, apresentou que partes importantes das armas israelenses são fornecidas pela Alemanha ou têm origem alemã. Na matéria dizia que: “Há dias voa a Força Aérea Israelense em ofensiva no Líbano. Partes do controle de mira, por assim dizer das cabines dos jatos de combate israelenses são baseados em know-how alemão, desenvolvido e fornecido sobre um outro aparelho de uma antiga irmã da AEG”. Trata-se do instrumento de controle de mira instalado na fuselagem do bombardeiro israelense F-16.

“Também em terra lutam as tropas israelenses com tecnologia alemã”, diz a matéria novamente. O tanque de combate “Merkava” forma a espinha dorsal das tropas de solo israelenses, e seus canhões são um desenvolvimento da firma de armamentos alemã “Rheinmetall”. “O tanque israelense: sem tecnologia alemã ele não atiraria nem se moveria. Pois também o motor descende da cultura de engenharia alemã. E a transmissão vem da Renk-AG de Augsburgo”, informaram os editores do “Monitor”.

Apesar do que o governo alemão afirma, de que não autoriza fornecimento de armas à “regiões em conflito”, já começou a ser preparado um cada vez mais próximo “acordo de armamentos” alemão-israelense. Israel tem grande interesse em equipar-se com o transporte de tropas do tipo “Dingo”. “Após nossas consultas o governo alemão admitiu que aprovou, faz pouco tempo, primeiro o fornecimento de um veículo para teste”, esclarece o “Monitor” e depois de uma consulta da redação, “se o ‘Dingo' seria fornecido apesar da guerra”, não houve resposta do Governo.

 



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