Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 21 de outubro de 2006.
O Socialist Equality Party (SEP) condena a ofensiva
militar do governo do Sri Lanka contra os Tigres de Libertação
do Tamil Eelam [LTTE] que já tirou a vida de centenas de
civis inocentes e destruiu um grande número de suas casas.
A nova guerra serve aos interesses da elite dominante de Colombo
e vai diretamente contra a vasta maioria da população
- entre tamis, Sinhala e muçulmanos.
A classe trabalhadora deve rejeitar os discursos vazios do
presidente Mahinda Rajapakse, quando este diz que é um
homem de paz e comprometido com a solução da guerra
civil que se arrasta há décadas no país.
O aberto ataque militar ao LTTE desde fins de julho é uma
brecha flagrante no cessar-fogo firmado em 2002, sendo responsável
pelo início da guerra. Os trabalhadores não podem
depositar nenhuma esperança no tão falado processo
de paz mundial, presidido pelas mesmas potências que apoiaram
as ocupações do Iraque e do Afeganistão,
lideradas pelos EUA.
Ao invés disso, a classe trabalhadora deve iniciar sua
própria campanha política independente para reunir
os pobres, jovens e setores da classe média para pôr
fim à guerra e ao sistema do lucro, que é o ponto
inicial do militarismo e de todas as formas de discriminação.
Ao mesmo tempo, o SEP chama à classe trabalhadora de todo
o subcontinente indiano, da Ásia e de todo o mundo para
que se oponha à violenta agressão em Colombo e que
apóiem seus irmãos e irmãs de classe no Sri
Lanka.
Não é casual que Rajapakse tenha comandado as
últimas ofensivas militares em meio a uma crescente onda
de lutas de trabalhadores e agricultores em defesa do trabalho,
das condições de emprego e de benefícios
sociais básicos. A intenção de perpetuar
esta guerra civil é confundir e dividir as massas e sufocar
sua crescente insatisfação. O governo e a imprensa
têm, cada vez mais, atacado as greves dos trabalhadores
e protestos dos agricultores, alegando que estes colaboram com
os terroristas.
Ao longo dos últimos três meses, o exército
bombardeou, de forma indiscriminada, áreas controladas
pelo LTTE, com canhões, artilharias e - pela primeira vez
na guerra que já se estende por 23 anos - ataques aéreos.
Pelo menos 1.500 soldados, militantes do LTTE e civis foram mortos
durante os conflitos. Mais de 240 mil pessoas foram desalojadas.
Aproximadamente 10.000 homens, mulheres e crianças fugiram
para o sul da Índia.
Meio milhão de pessoas caiu numa cilada, na península
de Jaffna, ao norte, e encontram-se agora sem suplementos adequados
de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais. As forças
de segurança impuseram uma lei marcial nas zonas de guerra
a norte e a leste, incluindo bloqueio de estradas, toques de recolher
e arbitrários cordões de isolamento e operações
de busca.
O pretexto de Rajapakse para começar a ofensiva é
completamente falso. Em julho ele havia ordenado uma enorme operação
militar para desapropriar a barragem de Mavilaru, situada em territórios
do LTTE, dizendo que tal ação tinha objetivos estritamente
humanitários - para prover água aos agricultores
da parte baixa. A verdade é que o governo não demonstrou
compaixão alguma pelos agricultores do país, cujas
condições são insuportáveis. A situação
é tão dramática que muitos deles têm
cometido suicídio.
O propósito do governo não é o de prover
água, mas sim o de desapropriar parte do território
e conseguir uma justificativa para continuar atacando o LTTE.
No dia 21 de julho e novamente em 5 de agosto, o exército
impediu que a Missão de Monitoramento do Sri Lanka [SLMM]
abrisse as portas da eclusa e pusesse fim ao confronto. Nas duas
ocasiões, o exército bombardeou a área, colocando
a vida de membros do SLMM em risco.
O governo e o exército estavam planejando uma maior
ofensiva contra o LTTE logo depois que o caso de Mavilaru apareceu.
Desde que Rajapakse ganhou as eleições à
presidência em novembro, por uma estreita margem de votos,
o exército e grupos para-militares têm conduzido
conjuntamente uma guerra clandestina, assassinando os militantes
e simpatizantes do LTTE, com o objetivo de enfraquecer a organização.
Os comandantes militares escolheram a barragem de Mavilaru porque
ela se localiza numa província mais ao leste, onde eles
imaginam que o LTTE esteja mais enfraquecido, devido a cisões
internas ocorridas em 2004.
Ao mesmo tempo, o exército e seus aliados para-militares
estão travando uma campanha secreta de assassinatos que
visam aterrorizar a população Tamil, sobretudo aqueles
que se opõem à guerra.
O assassinato de Sivapragasam Mariyadas, que dava apoio ao
SEP, no dia 7 de agosto é o primeiro exemplo deste processo.
Mariyadas foi morto em sua casa, situada na parte leste da zona
rural da cidade de Mullipothana. Embora o assassino não
tenha sido identificado, tendo conseguido fugir numa motocicleta,
todas as evidências indicam que o exército tenha
sido o responsável pela ação. Logo em seguida
foram disseminados falsos rumores de que Mariyadas era membro
do LTTE. Até agora, a polícia não realizou
nenhuma investigação séria acerca do assassinato.
O contexto internacional
O governo afirma que suas ofensivas iniciais representaram
limitados ataques de retaliação ao LTTE
e que eles têm continuado a fim de neutralizar a ameaça
do LTTE às instalações militares. Neste
caso, Colombo está seguindo a linha do governo Bush de
realizar guerras de prevenção - justificativa
dada para invadir ilegalmente o Iraque, ou seja, para supostamente
neutralizar a ameaça representada pelo regime
de Saddam Hussein.
A motivação real que se esconde atrás
da agressão de Washington ao Iraque e em ampla região
do Oriente Médio é a sua determinação
em controlar o petróleo da região. O governo Bush
tem ignorado a legislação internacional, conduzindo
um novo período de conflitos inter-imperialistas e de agressões
militares. Tendo apoiado os crimes de Washington no Afeganistão
e no Iraque, o governo de Colombo tornou pública sua própria
agressão contra a minoria Tamil da ilha, sob a alegação
da guerra global ao terrorismo. A ofensiva coincidiu
com a invasão criminosa liderada pelos EUA e apoiada por
Israel no Líbano, que colaborou em desviar a atenção
internacional da prolongada guerra civil no Sri Lanka.
O governo Bush apoiou diretamente Colombo. Em janeiro, o embaixador
norte-americano, Jeffrey Lunstead, deu um ultimato aos líderes
do LTTE: caso eles recusassem as propostas de paz do governo,
eles enfrentariam o mais forte, mais capaz e mais determinado
exército do Sri Lanka. Após quatro anos, o
exército norte-americano aprofundou sua aliança
com o governo do Sri Lanka. Em 2006, acusando o LTTE pelo crescente
conflito, a Casa Branca pressionou o Canadá e a União
Européia a denunciar o LTTE como uma organização
terrorista, interrompendo seu apoio político e financeiro
à diáspora Tamil.
Todas as grandes forças globais e regionais têm
seguido Washington. A União Européia, o Japão
e a Noruega, aliados dos EUA no processo de paz internacional,
ignoraram as evidentes rupturas do exército do Sri Lanka
com o cessar-fogo firmado em 2002. Ao invés de repreender
Rajapakse, elogiaram-no por sua moderação.
A crítica internacional tem se restringido a suaves repreensões
a Colombo pelas piores atrocidades - o frio assassinato de 17
trabalhadores em Muttur no dia 4 de agosto e um ataque aéreo
a uma escola no distrito de Mullaittivu no dia 14 de agosto que
matou um grande número de estudantes.
Além do mais, não houve nenhum sinal de desaprovação
por parte de país algum às próximas relações
entre Rajapakse e os Sinhala extremistas do Janatha Vimukthi Peramuna
(JVP) e do Jathika Hela Urumaya (JHU), que têm demonstrado
abertamente seu apoio à guerra. Foi a aceitação
do governo à exigência do JVP por uma revisão
do cessar-fogo de 2002 em favor do exército que causou
a ruptura das negociações de paz em fevereiro.
De sua parte, o governo indiano permaneceu silencioso, apesar
da grande revolta pública, particularmente no Estado do
Tamil Nadu, localizado no sul do país. Para apaziguar seus
aliados de Tamil Nadu, o governo, liderado pelo congresso, em
Nova Delhi, acabou não assinando o acordo com Colombo,
que poderia aumentar significativamente a capacidade do exército
do Sri Lanka. Apesar de não assinar o acordo, a Índia,
que forjou uma parceria estratégica com os
EUA, apóia o governo de Rajapakse a fim de isolar o LTTE.
As lições do processo de
paz
Ao contrário das ilusões divulgadas por diversos
esquerdistas do Sri Lanka, a única alternativa
existente para o país não é a busca do falido
processo de paz. É essencial traçar
um balanço político de tudo o que ocorreu desde
que se assinou formalmente um acordo de cessar-fogo, em fevereiro
de 2002. As negociações de paz, tão alardeadas
em todo o mundo, nunca atenderam as aspirações de
paz, os direitos democráticos e as necessidades relacionadas
à melhoria das condições de vida da população
trabalhadora humilde. Os EUA e outras grandes potências
apoiaram o processo de paz como um meio para acabar com a guerra
que ameaçava o crescimento de suas economias e de seus
interesses estratégicos no sul asiático. Para a
classe dominante do Sri Lanka, foi um meio para se estabelecer
uma divisão de poderes entre as elites Sinhala e Tamil
e assim intensificar sua exploração mútua
da classe trabalhadora.
O cessar-fogo surgiu em meio a uma aguda crise político-econômica.
Em abril e maio de 2000, o LTTE impôs sérias derrotas
ao exército do Sri Lanka, incluindo a perda sem precedentes
de sua estratégica base em Elephant Pass. O impacto econômico
acumulado de duas décadas de guerra foi revelado na taxa
de crescimento negativo, ocorrida pela primeira vez desde 2001.
Para as grandes empresas, os custos e a destruição
causada pela guerra tornaram-se insuportáveis, por eliminar
o Sri Lanka dos fluxos de investimento globais e condenar o país
ao atraso econômico.
O ponto decisivo, todavia, não foi um fato ocorrido
no Sri Lanka, mas o ataque de 11 de setembro aos EUA. A elite
dominante do Sri Lanka reconheceu imediatamente que a guerra
ao terror do governo Bush obteve com o ataque uma extraordinária
oportunidade para forçar o LTTE a negociar em termos favoráveis
para Colombo. Se o LTTE se recusasse a concordar com os termos
impostos, se tornaria um provável alvo de Washington. Quando
o presidente Chandrika Kumaratunga recusou-se a se movimentar
com a rapidez esperada, seu governo liderado pelo SLFP foi deposto
por meio do suborno de diversos membros do parlamento. O Partido
da União Nacional [UNP] e seus aliados venceram a eleição
geral em dezembro de 2001 e o primeiro ministro, Ranil Wickremesinghe,
rapidamente assinou o acordo de cessar-fogo com o líder
do LTTE, Velupillai Prabhakaran.
A grande preocupação do UNP não era a
paz. O partido foi responsável pelo início da guerra
em 1983 e por dirigi-la brutalmente por uma década. Para
Wickremesinghe, as negociações de paz foram parte
de um grande plano de Reconquista do Sri Lanka para
transformar a ilha num foco de investimentos regionais - a Hong
Kong do sul asiático. Propostas para uma divisão
de poder com o LTTE foram acompanhadas por uma dramática
aceleração das reformas de mercado que desmantelaram
o estado de bem-estar social, com a privatização
de empresas estatais, a revitalização da infra-estrutura
da ilha e o oferecimento de grandes incentivos aos investidores
estrangeiros.
Com grande entusiasmo, a liderança do LTTE assinou um
acordo com o governo, na condição de sócio
menor. Nas primeiras negociações, em setembro de
2002, o negociador chefe, Anton Balasingham, formalmente abandonou
a exigência do LTTE de criar um estado Tamil independente,
e prometeu cooperar com o governo na criação de
uma economia do tigre. Com isso, o LTTE traiu as aspirações
da grande maioria da população Tamil e passou a
defender os interesses da burguesia Tamil. O LTTE, na condição
de um Estado Federal, assumiu um papel subordinado, reprimindo
as massas tamis do norte e do leste da ilha.
O cessar-fogo, todavia, bloqueou a ação dos chauvinistas
anti-Tamil e de setores raivosos do exército, cujos oficiais
fizeram suas carreiras e, em alguns casos, fortunas pessoais,
por intermédio da guerra. A discriminação
tem sido uma importante arma para a elite dominante do Sri Lanka,
que desde a independência, realizada em 1948, tem feito
uso de políticas discriminatórias para dividir o
movimento de rebeldes da classe trabalhadora. Uma das primeiras
ações do UNP quando assumiu foi a de acabar com
o direito de cidadania de um milhão de operários
agrícolas de origem Tamil. Desde então, em toda
grande crise política, o governo de Colombo, seja liderado
pelo UNP ou pelo SLFP, tem se utilizado do ódio anti-Tamil
e da violência para se manter no poder - um processo que
culminou na guerra civil de 1983.
Ainda assim, o SLFP perdeu as eleições gerais
de 2001, Kumaratunga permaneceu sendo o presidente do país,
tornando-se o principal sabotador do cessar-fogo. Em 2003, logo
após as negociações, a marinha, de maneira
provocativa, atacou e afundou embarcações do LTTE.
Este, por sua vez, fez grandes concessões assinando o processo
de paz, mas não recebeu nada em troca. Como conseqüência,
enfrentou uma crescente oposição popular no norte
e no leste do país. O governo Bush piorou a situação,
ao bloquear a participação de representantes do
LTTE numa conferência internacional de ajuda em Washington,
alegando que eles eram membros de uma organização
terrorista. Mais tarde, no mesmo mês, o LTTE rompeu
com as negociações.
Wickremesinghe não condenou as provocações
dos militares nem organizou uma campanha política contra
as crescentes denúncias endereçadas ao o governo
e contra o cessar-fogo feito por Kumaratunga, pelo SLFP e pelo
JVP. Durante o longo processo de paz, a única proposta
para uma solução política à guerra
veio do LTTE, em novembro de 2003, com seus planos para uma Autoridade
Auto Governada Temporária [ISGA] como um meio de retomar
as negociações.
O JVP denunciou imediatamente a proposta como uma traição
e encorajou Kumaratunga a tomar o poder. Uma semana depois, o
presidente utilizou seus poderes executivos extraordinários
para dar um golpe constitucional. Em nome da defesa da segurança
nacional, ele fechou três importantes ministérios,
incluindo o da defesa, e preparou a imposição de
um estado de emergência. Sob a pressão de Washington
e Nova Delhi, Kumaratunga recuou à tomada total do poder.
Ao invés disso, em fevereiro de 2004, ele formou uma aliança
eleitoral com o JVP para concorrer às novas eleições
em abril de 2004.
O caminho para a guerra
A derrota do UNP nas eleições não foi
devido ao fato da maioria dos votantes desejar a guerra, mas devido
à discordância em relação ao seu programa
de reestruturação econômica. O JVP, cuja campanha
se baseou em promessas populistas vazias e slogans nacionalistas,
tinha a possibilidade de realizar significativos ganhos por causa
da alienação dos dois maiores partidos. Pela primeira
vez, desde a sua formação como um grupo de guerrilha
maoísta na década de 1960, os líderes do
JVP aderiram ao governo nacional.
A nova coalizão do governo enfrentou o mesmo dilema
básico que seu antecessor. Politicamente, deveria estimular
a discriminação e assim confundir e dividir a população.
Economicamente, ele precisava manter o cessar-fogo para assegurar
o fluxo de investimentos estrangeiros. Investidores internacionais
comprometeram-se a contribuir com US$4,5 bilhões, com a
condição de que as negociações de
paz continuassem. A coalizão do governo estava efetivamente
estagnada. Kumaratunga prometeu retomar as negociações,
mas não avançou nessa direção, com
medo de afastar os seus aliados do JVP.
Em dezembro de 2004, os problemas políticos de Kumaratunga
foram multiplicados pelo tsunami, que devastou grande parte do
litoral do Sri Lanka, matando mais de 30.000 pessoas e deixando
250.000 desabrigados. Apesar das políticas discriminatórias
conduzidas há décadas, a população
trabalhadora socorreu as vítimas atingidas, sem levar em
consideração sua etnia, religião ou língua.
Um amplo sentimento de solidariedade de classe e descrença
no governo veio à tona: todos sentiram que estavam no mesmo
barco e que precisavam ajudar uns aos outros.
Longe de dar as boas vindas aos voluntários que socorriam
os desabrigados, Kumaratunga reagiu impondo o estado de emergência
e colocando todos os esforços de ajuda sob o controle do
exército. Sob forte pressão internacional, ele propôs
uma ação conjunta com o LTTE para dar assistência
às vitimas do tsunami. Mesmo essa medida temporária
limitada foi denunciada pelo JVP, por representar o reconhecimento
oficial ao LTTE. Quando Kumaratunga concordou com a Estrutura
de Administração Operacional Pós-Tsunami
[P-TOMS], em junho de 2005, os líderes do JVP abandonaram
o governo e organizaram um protesto nacional contra o acordo.
A campanha, no entanto, foi um enorme fracasso. Muitas pessoas
que apoiaram o JVP contra os grandes partidos acabaram se afastando,
devido às falsas promessas e às denúncias
discriminatórias feitas pelo partido em relação
ao acordo P-TOMS.
Em agosto de 2005, em meio a essa situação, o
ministro do Luxman Kadirgamar foi assassinado, dando novo impulso
aos grupos contrários ao processo de paz. Por estar na
defensiva, o JVP e o JHU lançaram imediatamente uma campanha
acusando o LTTE pelo assassinato e denunciando todos aqueles que
discordavam deles. Mais de um ano se passou e não há
nenhuma evidência conclusiva de que o LTTE tenha qualquer
responsabilidade sobre o fato. Na verdade, é muito provável
que os beneficiados pelo crime tenham sido aqueles que o cometeram.
O JVP, o JHU e setores do exército tinham todos os meios
e motivos realizar o crime, além de um longo histórico
de violência política.
O assassinato de Kadirgamar tornou-se um marco crucial. Em
meio ao clamor em Colombo pela revanche, o P-TOMS perdeu rapidamente
todo o significado. A Suprema Corte tomou uma decisão contrária
à permanência de Kumaratunga no governo e as eleições
presidenciais foram antecipadas para novembro. Rajapakse assegurou
a nomeação do SLFP e assinou pactos eleitorais com
o JVP e com o JHU, baseados numa posição mais agressiva
contra o LTTE. Ele ganhou a eleição por uma estreita
margem de votos, capitalizando uma forte hostilidade em relação
à austeridade econômica promovida por Wickremesinghe.
Um programa independente para a classe trabalhadora
É fundamental que os trabalhadores tirem destes episódios
as necessárias lições políticas. A
falência do processo de paz dos últimos
quatro anos é um produto direto das políticas discriminatórias
levadas a cabo pela elite dominante do país desde sua independência.
São precisamente estas políticas que provocaram
os vinte anos de guerra civil, que levaram à morte mais
de 65.000 pessoas e causaram a degradação da sociedade
por meio de preconceitos étnicos, religiosos e de idioma.
A classe dominante criou um monstro político que agora
ameaça seus próprios interesses econômicos.
Esforços para acabar com a guerra e integrar o Sri Lanka
ao capitalismo global foram de encontro aos interesses de um estado
fundado na supremacia Sinhala. Os altos cargos militares, a hierarquia
budista, a burocracia estatal e as camadas do empresariado lucraram
com a guerra. Além disso, o processo de paz
está ligado organicamente a um programa de reformas de
mercado que está produzindo profundas polarizações
sociais e descontentamento. Incapaz de atender as necessidades
da população trabalhadora, a elite dominante de
Colombo mais uma vez utilizou-se das tensões regionais
para reiniciar a guerra civil.
Todo o establishment político se alinhou às
agressões de Rajapakse. Os velhos partidos traidores da
classe trabalhadora - o Partido Lanka Sama Samaja [LSSP] e o Partido
Comunista - são parte do governo! Diversas organizações
radicais da classe média, como o Partido Nava Sama [NSSP],
se opõem à guerra, mas estão completamente
comprometidos com o sistema de políticas oficiais. Não
é nada surpreendente que eles ainda façam parte
do processo de paz, ou que se aliem aos políticos
de direita do UNP.
A classe trabalhadora precisa romper com tais partidos. Para
se opor à guerra e lutar por seus próprios interesses
sociais, deve construir um movimento político independente
baseado nos princípios do internacionalismo socialista.
A guerra não acabará através da mera pressão
ao governo Rajapakse, ou por meio da sua substituição
por uma aliança liderada pelo UNP. O sistema de lucros
que gera a discriminação e os conflitos deve ser
abolido.
Isso significa que a classe trabalhadora deve lutar para assumir
o poder político e, ao fazer isto, agregar o apoio de pessoas
pobres para a formação de um governo de operários
da cidade e pobres do campo. Para conduzir tal luta é necessário
um programa político que parta das necessidades sociais
e aspirações democráticas da classe trabalhadora
humilde - que é a grande maioria da população.
A base essencial para unificar a classe trabalhadora é
uma oposição intransigente a todas as formas de
nacionalismo, regionalismo e racismo, incluindo tanto a supremacia
de políticos Sinhala de Colombo quanto o separatismo Tamil
do LTTE. O SEP considera que o governo de Rajapakse tem total
responsabilidade pela atual guerra e se opõe a toda violência
racista, seja ela conduzida pelas forças de segurança
e seus aliados paramilitares Tamil, seja pelo LTTE. O massacre
de civis inocentes tem como objetivo forjar hostilidades regionais
e colocar deliberadamente a população trabalhadora
em conflito.
Como primeiro passo para acabar com a guerra, o Socialist
Equality Party exige a imediata e incondicional retirada de
todas as forças de segurança do Sri Lanka das zonas
de guerra no norte e leste. As dezenas de milhares de soldados
e policiais nessas áreas representam a ocupação
do exército, que realiza perseguições sistemáticas,
prisões arbitrárias, torturas e assassinatos e por
isso é desprezada e odiada pela população
Tamil. A reivindicação do fim destas formas de opressão
servirá como um poderoso pólo de atração
para todos aqueles que querem estabelecer a paz na ilha e defendem
os direitos democráticos mais básicos.
Para resolver todas as questões democráticas,
o SEP exige uma assembléia constituinte genuína,
democraticamente eleita, que elaborará uma nova constituição,
a fim de eliminar todas as formas de discriminação
baseadas em idioma, religião, casta e gênero, para
garantir direitos democráticos para todos. A reivindicação
do SEP não tem nada em comum com as falsas práticas
parlamentares levadas a cabo em 1972 e 1978, que impuseram constituições
antidemocráticas à população do Sri
Lanka. O SEP exige a anulação de todas as leis repressivas,
incluindo o Ato de Segurança Pública e o Ato de
Prevenção ao Terrorismo.
Democracia genuína significa mais do que igualdade formal
do sistema legal burguês e das eleições parlamentares,
que sempre favorece os ricos e privilegiados. A estrutura econômica
da sociedade deve ser transformada para servir aos interesses
das amplas massas de trabalhadores. Esse é o motivo pelo
qual o SEP defende um programa socialista para pôr todas
as empresas financeiras, industriais e comerciais sob controle
e propriedade públicos e democráticos, para sanar
as necessidades da grande maioria da sociedade e não o
lucro de uns poucos ricos.
O socialismo não pode ser alcançado numa pequena
ilha no sul asiático, nem mesmo numa nação
isolada, seja grande ou pequena. A luta pelo socialismo deve ser
necessariamente internacional. A única alternativa para
as atividades predatórias do capitalismo global é
uma contra-ofensiva da classe trabalhadora de forma unificada
em escala internacional, para refundar a sociedade sobre bases
socialistas. A luta por uma República Socialista do Sri
Lanka e Eelam é apenas um componente de uma luta mais ampla
pelos Estados Socialistas Unidos do Sul Asiático. Este
é o programa defendido pelo Comitê Internacional
da Quarta Internacional [CIQI], por meio do World Socialist
Web Site.
O SEP, fundado como uma Liga Comunista Revolucionária,
em 1968, é a seção do CIQI no Sri Lanka,
que tem defendido, de maneira intransigente, os direitos sociais
e democráticos da classe trabalhadora e da população
oprimida. Nós chamamos a todos aqueles que aspiram à
paz e se opõem ao ataque aos direitos sociais e democráticos
a lerem o WSWS e se juntarem à construção
do SEP.