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O massacre trabalhista da Ford: um crime corporativo

Pronunciamento de Jerome White, candidato do 12º distrito de Michigan pelo SEP (Partido da Igualdade Socialista) ao congresso americano.
23 Octubre 2006

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Originalmente publicado em inglês em 16 de Setembro de 2006.

O plano da Companhia de Motores Ford para acabar com 44.000 empregos de trabalhadores horistas e assalariados e 16 montadoras na América do Norte é um ataque brutal à classe trabalhadora. Mais uma vez, dezenas de milhares de trabalhadores e suas famílias se vêem obrigados a pagar pelo mau gerenciamento e avareza dos chefes corporativos e pela crise do capitalismo americano.

O impacto humano desses cortes será devastador. Em comunidades por todo o centro-oeste e sul, assim como no Canadá, milhares perderão seus rendimentos e suas casas. Eles serão forçados a tirar suas crianças da escola ou ficar sem assistência médica. Escolas públicas serão roubadas dos impostos dos quais dependem e pequenos comércios serão forçados a fecharem as portas.

O estado de Michigan, já cambaleante pela diminuição da General Motors e da produtora de peças automotivas Delphi, será especialmente atingido com a desativação da montadora Wixom e o futuro incerto da montadora Wayne, da fábrica de caminhões Michigan e de outros estabelecimentos.

A taxa de desemprego de 7,1% de Michigan é a maior da nação, e o rendimento médio por lar caiu 11,9% desde 2000, o pior declínio dos centros de indústria automotiva como Detroit e Flint, os quais já figuraram como as cidades com os mais altos níveis de casa própria e renda per capita, e que hoje se encontram entre as mais pobres.

As execuções de hipoteca aumentaram em 137% na área metropolitana de Detroit nos primeiros oito meses do ano. No condado de Macomb, o centro do meu distrito eleitoral, estas aumentaram em absurdos 234 por cento! A taxa de execuções irá acelerar na medida em que as prestações aumentam e o valor dos imóveis cai.

A Ford não está apenas pondo em risco seus trabalhadores das linhas de montagem, mas também seus funcionários de “colarinho branco”, que sempre foram levados a crer que educação superior e habilidade técnica lhes garantiriam um emprego seguro. Pelo menos 14.000 empregos - um terço da força administrativa da Ford - estão sendo cortados.

A redução destes empregos não fará nada mais que empurrar a Ford, antigo ícone da industrial mundial, ainda mais longe na estrada do esquecimento. Mas os grandes investidores de Wall Street que comandaram estes cortes não estão preocupados com a saúde da companhia em longo prazo. Sua única preocupação é extrair o máximo de lucro no menor tempo.

De acordo com analistas da Wall Street, nos últimos cinco anos a maior parte das corporações americanas vem se beneficiando de uma “era dourada de lucratividade”. As margens mais altas de lucros foram atingidas à custa do trabalho, que vê sua parcela nos rendimentos nacionais cair severamente.

Insatisfeitos com a taxa de retorno em seus investimentos no setor automotivo, a elite financeira decretou o fim do “contrato social” nesta indústria, através do qual trabalhadores usufruíam salários decentes, certa medida de seguridade trabalhista, seguro saúde e aposentadoria. Trabalhadores na “nova” indústria de automóveis serão pagos com salários reduzidos à metade dos antigos e não terão acesso aos benefícios que gerações anteriores conquistaram após décadas de lutas.

Quando a Ford anunciou em janeiro seu plano intitulado “Caminho Adiante”, que incluía o corte de 34.000 empregos na América do Norte e o fechamento de 14 fábricas nos próximos sete anos, Wall Street deu de ombros e exigiu mais sangue. Para atingir seus objetivos, grandes investidores rebaixaram o valor das ações da companhia em 1,4 bilhões nos primeiros seis meses do ano.

Os diretores da Ford responderam com a demissão de William Clay Ford Jr. e com a entrega do cargo de diretor executivo a Alan Mullaly, o antigo executivo da Boeing que administrou a destruição de milhares de empregos na montadora de aviões. Sob o programa de corte de empregos chamado “Caminho Adiante II”, os investidores de Wall Street esperam ver seus rendimentos crescerem 25 centavos por ação a cada 5.000 trabalhadores que a Ford joga na rua.

A declaração de que não há dinheiro para sustentar padrões decentes de vida para os trabalhadores da indústria é uma fraude. Mesmo quando a Ford perdia centenas de milhões de dólares no ano passado, seus cinco executivos mais altos arrebanharam 26 milhões de dólares, nos quais se incluem 13 milhões para William Clay Ford Jr.

Mulally ganhará 2 milhões em salários e despesas nestes dois primeiros anos. Além disso, a Ford concordou em lhe pagar 7,5 milhões em bônus de admissão e 11 milhões adicionais para cobrir o pagamento por desempenho e opção de ações que ele deixou para trás ao se aposentar da Boeing.

Nenhuma classe dominante no mundo é tão parasita e corrupta quanto a oligarquia corporativa norte-americana. Ao invés de investir os recursos necessários à construção de veículos mais seguros, de menor preço e que consumam menos combustível, assim como garantir segurança econômica e alto nível de educação e treinamento aos trabalhadores, os chefes da indústria automobilística preferem destruir uma das mais conhecidas companhias industriais contanto que extraiam para si a maior pilhagem possível dessa ruína. Isso somente ressalta o caráter socialmente destrutivo do sistema de lucros.

Enquanto os executivos automobilísticos vêm agindo com absoluta crueldade para defender seus interesses, os líderes do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (UAW), vêm respondendo com covardia e cumplicidade. O UAW, tendo há tempos abandonado a defesa da classe trabalhadora, vem funcionando como um parceiro menor da Ford, ajudando a companhia a fechar fábricas e expulsar sua força de trabalho mais antiga. Em troca, aos dirigentes do UAW é prometida a oportunidade de coletar taxas sindicais dos trabalhadores mais novos e pior pagos e continuar com ao menos algumas das falcatruas de gerenciamento trabalhista que garantem um fluxo estável de rendimentos à burocracia do UAW.

Meu oponente político nas eleições de novembro, o congressista democrata no seu 12º mandato Sander Levin, não fez nada para se opor a esse duro ataque ao emprego dos trabalhadores automotivos. Um aliado da burocracia do UAW, Levin há muito tempo busca desviar os trabalhadores da luta contra os donos corporativos jogando a culpa da perda de postos de trabalho nas importações asiáticas e européias e nas barreiras comerciais aos produtores de automóveis americanos.

Assim como a UAW, Levin e os democratas vem tentando vender essa mentira para colocar os trabalhadores americanos contra seus irmãos e irmãs em outros países em uma corrida ao rebaixamento, para ver quem trabalhará pelos menores salários e piores condições. “Levantar-se pela indústria automotiva americana” na verdade significa sacrificar os empregos e padrão de vida de empregados americanos para defender os executivos corporativos e seus salários multi-milionários.

Eu rejeito o chauvinismo nacional da burocracia sindical e democrata e faço um chamado pela unidade internacional dos trabalhadores automotivos para defenderem seus empregos e padrão de vida. Trabalhadores em todos os países encaram uma luta em comum contra os gigantes globais da indústria automotiva. No mês passado, por exemplo, trabalhadores da Volkswagen estiveram engajados em uma luta implacável contra as demissões em massa no Brasil e no México.

Os trabalhadores automotivos não são responsáveis pela crise de sua indústria. Sob o sistema de lucros do capitalismo, os executivos corporativos e os investidores da Wall Street possuem o monopólio sobre o processo de decisões, mas não são eles os que pagam por suas escolhas desastrosas.

O primeiro passo para proteger os interesses da classe trabalhadora é instituir o controle democrático sobre todas as decisões de negócios que afetem o trabalho, a segurança, contratação e as horas de trabalho. Essas decisões não podem ser feitas pelos poucos ricos - cujos interesses são contrários às necessidades dos que trabalham - mas por comitês de trabalhadores do piso das fábricas, técnicos e outros especialistas comprometidos com o interesse da classe trabalhadora. O estabelecimento da democracia industrial pressupõe a abertura dos livros de todas as corporações para inspeção pelos trabalhadores, e a ratificação da liderança corporativa através do voto democrático de todos os empregados.

As indústrias massivas das quais milhões de trabalhadores e suas famílias dependem não podem continuar a ser bens pessoais da rica elite americana, que os dispensa assim que lhe é conveniente. Se a indústria automotiva deve ser gerida para o bem da sociedade, e não para lucro pessoal, ela deve ser transformada em uma utilidade de posse pública. Isso não somente garantiria um bom padrão de vida para os trabalhadores e suas famílias, como também a produção de veículos seguros, de alta qualidade e acessíveis aos consumidores.

A contínua transferência de riqueza aos bolsos da porção de 1% mais rica da sociedade americana deve ser derrubada e os avanços revolucionários em tecnologia e produção globalmente integrada devem ser empregados a fim de responder às demandas e resolver os problemas da moderna sociedade de massas.

A luta por essa política socialista e internacionalista exige um rompimento com o Partido Democrático e com todo o sistema de dois partidos dos grandes negócios americanos para a construção de um partido socialista de massas da classe trabalhadora. Esse é o objetivo da campanha eleitoral do Partido da Igualdade Socialista (SEP) em 2006, e eu peço a trabalhadores automotivos, assim como todos os trabalhadores e jovens para seriamente levar em consideração nosso programa, votar em mim em novembro e tomar a decisão de se juntar ao SEP e construir a nova liderança revolucionária da classe trabalhadora.