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Governo mexicano acirra a repressão em Oaxaca

Por Rafael Azul
20 Noviembre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia16 de novembro de 2006

A cidade mexicana de Oaxaca está sob ocupação policial. O governo está deflagrando uma “guerra suja”, com prisões arbitrárias e seqüestro de pessoas, que desaparecem de uma hora para outra, lembrando as operações levadas a cabo na década de 70.

Desde que a Polícia Preventiva Federal [PPF] invadiu e ocupou a cidade, no dia 29 de outubro, mais de 40 líderes e membros da Assembléia Popular do Povo de Oaxaca [APPO] foram presos, e outros 39 desapareceram, incluindo jovens adolescentes. A brutalidade contra os professores e manifestantes está aumentando. Hipocritamente, os comandantes da PPF dizem que a atual onda de prisões não tem nada a ver com uma possível repressão aos opositores do governador, mas são simples respostas a crimes comuns. Além da PPF, esquadrões paramilitares ligados ao governador Ulises Ruiz e seu Partido Revolucionário Institucionalista [PRI] estão realizando prisões e seqüestros. Seguindo a operação policial, homens mascarados foram vistos fazendo buscas em todas as casas de possíveis colaboradores da APPO. As pessoas que foram liberadas denunciaram a violência física e a tortura. Alguns desses detidos são jovens, até mesmo crianças de 13 anos. Foram emitidas ordens de prisão a toda a liderança da APPO.

O jornal La Reforma, da Cidade do México, divulgou na semana passada que, desde junho, 16 pessoas já haviam sido mortas pela polícia ou pelos esquadrões paramilitares, incluindo o repórter do Indymedia, Brad Will, que foi baleado no dia 27 de outubro junto com outros dois manifestantes.

Os capangas do PRI, que agitavam armas e atiravam contra as barricadas de professores e membros da APPO durante as semanas anteriores ao ataque ao governo, foram reforçados pela presença da PPF. Professores em todo o Estado afirmam que estão sendo ameaçados pelas forças paramilitares do PRI. Alguns desses atiraram na estação de rádio da universidade, ferindo um dos estudantes que cuidavam da aparelhagem. O governo proibiu a transmissão da estação de rádio que continua sob o comando da APPO.

A situação enfrentada pelos trabalhadores, estudantes e camponeses de Oaxaca, um Estado pauperizado do sul mexicano, é assustadora. Eles protestam contra as políticas do governo estadual do PRI e do governo nacional do presidente Vincente Fox [Partido da Ação Nacional—PAN]. Eles estão isolados do resto da classe trabalhadora mexicana e têm contra si todas as forças do Estado.

A principal responsável por esta situação é a direção burocrática dos sindicatos e do Partido da Revolução Democrática [PRD], cujo líder é o candidato à presidência Andres Manuel Lopez Obrador.

O Congresso do Trabalho [CT] mexicano está fazendo tudo o que pode para impedir que os trabalhadores mexicanos se mobilizem e colaborem com Oaxaca. De sua parte, Obrador, que se apareceu durante a campanha eleitoral como o representante do povo - e mobilizou centenas de milhares de pessoas pela recontagem dos votos - manteve-se calado por meses em relação à situação em Oaxaca, dando um apoio velado à ação policial contra a cidade, onde moram cerca de 250.000 pessoas.

A luta em Oaxaca teve início em maio, quando os 70.000 professores do Estado reivindicavam um reajuste salarial que acompanhasse a elevação do custo de vida. No dia 22 de maio, a direção da 22ª regional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Educação defendeu o início da greve, devido à recusa das autoridades do Estado em atender as reivindicações dos professores, alegando não haver recursos suficientes. A greve contou com o decisivo apoio da sociedade. No dia 14 de junho a polícia estatal tentou pôr fim à greve, impedindo os professores de acamparem no centro de Oaxaca, queimando duas barracas, matando dois professores e ferindo muitos outros.

No dia 1 de agosto, o povo de Oaxaca, liderados pela APPO, exigiu a renúncia do governador Ulises Ruiz, do PRI, ocupou um hotel, a estação de rádio pública e estações de TV. Além disso, barricadas foram erguidas por toda a cidade. No dia seguinte, os professores reuniram-se e acrescentaram a renúncia de Ruiz às suas reivindicações.

Trabalhadores da saúde entraram em greve no dia 16 de agosto. Até o mês de setembro as autoridades federais negaram-se claramente a enfrentar a crise em Oaxaca. O governo Fox estava envolvido com a contestação do resultado das eleições presidenciais. O candidato do PRD, Obrador, mobilizou centenas de milhares de pessoas para exigir a recontagem dos votos, depois que a justiça eleitoral apontou Felipe Calderon, candidato do PAN, como o vencedor das eleições presidenciais por uma estreita margem de votos.

Depois das festividades do Dia da Independência, em 16 de setembro, com a crise eleitoral sob controle, o governo Fox voltou sua atenção totalmente a Oaxaca, preparando a ocupação policial ocorrida em 29 de outubro.

Um dos objetivos principais do ataque policial em Oaxaca foi o de pôr fim à greve dos professores, que foi arquitetada pelas lideranças do SNTE. Sob pressão da liderança do sindicato nacional, o líder da 22ª regional, Enrique Rueda, reviu sua posição inicial, passando a defender o retorno ao trabalho em troca de um contrato de 42 milhões de pesos financiados pelo governo federal.

Rueda e os líderes da 22ª regional fazem parte da Coordenação Nacional dos Trabalhadores da Educação [CNTE], uma fração dissidente do SNTE. Mesmo que eles tenham aparecido como progressistas no início da greve, o principal papel de Rueda e dos líderes da CNTE foi o de manter a luta dos professores confinada a Oaxaca. Outras regionais da CNTE, incluindo aquela da Cidade do México, continuaram trabalhando.

No dia 6 de novembro, a líder nacional do SNTE, Elba Esther Gordillo, membro do PRI, alertou o governo Fox de que ela não poderia mais tolerar negociações diretas entre o ministro e a SNTE de Oaxaca, exigindo que ao invés disso se negociasse com a direção nacional do sindicato. Gordillo declarou que qualquer ganho conseguido pelos professores de Oaxaca poderia somente encorajar o “radicalismo” no sindicato e pediu ao governo que não concedesse anistia aos professores ou aos líderes locais da SNTE.

Desde a tomada do poder em Oaxaca, a Polícia Preventiva Federal [PPF] continuou a receber reforços. O Centro de Direitos Humanos Pro Juarez [PRODH] denunciou que na última semana foram registradas 86 prisões e 59 seqüestros.

O PRODH divulgou ainda que a maioria das prisões foi violenta e que os detidos foram torturados. O porta-voz do PRODH, Luiz Arriaga, deu o exemplo de David Huesca, que foi preso e espancado na última quinta-feira por oficiais da PPF. Huesca foi transportado para o aeroporto de Oaxaca. Ele não foi ouvido desde então.

Os advogados da APPO levaram a PPF à corte na última quarta-feira, apresentando numerosas provas de prisões ilegais e tortura. No mesmo dia, líderes da APPO pediram à Igreja Católica de Oaxaca que lhes desse refúgio contra as prisões da PPF.

Em meio à crescente repressão, os trabalhadores, estudantes e camponeses de Oaxaca continuaram a resistir. O líder local do sindicato dos professores, Rueda, foi forçado a cancelar uma assembléia de delegados de professores no dia 4 de novembro, culpando a APPO por exacerbar as tensões entre os professores ao divulgar o encontro pelo rádio. O encontro de delegados será marcado somente após o retorno ao trabalho.

No mesmo dia, cinco líderes da 22ª regional foram arrancados de um ônibus que retornava da cidade do México a Oaxaca e foram presos pela PPF. Quatrocentos professores marcharam em Oaxaca para protestar contra as prisões, gritando “assassinos, assassinos, assassinos” e exigindo que a PPF fosse embora da cidade.

No dia 5 de novembro, dezenas de milhares de apoiadores da APPO saíram às ruas em Oaxaca, exigindo que a polícia deixasse a cidade. Em meio aos manifestantes havia um grande contingente de professores, estudantes, camponeses e representantes das 17 etnias indígenas do Estado. Muitas pessoas vieram da Cidade do México, incluindo estudantes, trabalhadores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores de Companhias Elétricas e aos sindicatos dos trabalhadores das universidades. Liderando a marcha estavam as famílias de diversas vítimas da violência policial e paramilitar desde que se iniciou a crise em Oaxaca, no dia 14 de junho.

No dia 7 de novembro mais de 3.000 professores de Oaxaca se manifestaram, se opondo a retornar ao trabalho. No mesmo dia estudantes de medicina da Universidade Benito Juarez entraram em greve.

No dia seguinte, centenas de mulheres foram às ruas vestidas de preto, carregando um caixão. Os manifestantes foram dispersos pelos canhões d’água da PPF.

Apesar do apoio de alguns sindicatos independentes, os professores, trabalhadores e estudantes de Oaxaca acabaram isolados. O próprio caráter da APPO contribui para este isolamento.

A Assembléia Popular do Povo de Oaxaca foi fundada em junho, logo após o ataque aos professores. Ela reúne cerca de trezentas organizações e surgiu com o objetivo de apoiar os professores e exigir a renúncia de Ruiz, governador de Oaxaca.

A APPO era capaz de mobilizar dezenas de milhares, impulsionados pela grave crise decorrente da queda do preço do milho, da indiferença do governo à destruição causada pelo furacão Stan em outubro de 2005, e pela destinação prioritária do uso da água aos hotéis e às grandes empresas em detrimento das comunidades pobres. A APPO foi dissolvida na semana passada, sendo substituída pelo CEAPPO [Conselho de Estado da Assembléia Popular do Povo de Oaxaca]. Seu programa é uma mistura de populismo nativista com nacionalismo, sindicalismo e pacifismo, expressando a falta de perspectiva dos diversos grupos que o formaram. Inclui elementos do Exército Revolucionário do Povo [ERP] e apoiadores do exército Zapatista, do Partido Comunista, Anarquistas, Maoístas e outros radicais, juntos com elementos da burguesia, como o PRD.

Enquanto afirmava não apoiar formalmente qualquer candidato à presidência nas eleições de julho, diferentemente dos zapatistas, que organizaram um boicote às eleições, a APPO recomendava que não se votasse nos candidatos do PAN e do PRI—apoiando, com isso, o candidato do PRD, Obrador.

Os líderes da CEAPPO descartaram agora a falsa imagem de independência política em relação ao PRD. A nova organização proclamou abertamente seu apoio ao PRD e a Lopez Obrador, anunciando sua intenção de participar na disputa de 20 de novembro, organizada para anunciar Obrador como o presidente legítimo do México. A CEAPPO tem ainda a intenção de organização uma manifestação no dia 1 de dezembro, durante a cerimônia oficial de posse de Calderon como presidente.

Obrador, de sua parte, retribuiu, reivindicando publicamente a demissão do governador de Oaxaca, Ruiz.

Tal aproximação representa a receita da derrota e do desastre. Os interesses dos trabalhadores, camponeses e estudantes de Oaxaca e de todo o país não poderão ser conquistados com base numa política de submissão das massas a seções da elite mexicana e de seus partidos. Não serão realizadas também baseadas numa perspectiva nacionalista, seja a luta étnica indígena ou o nacionalismo mexicano.

É necessário traçar outra estratégia. O primeiro passo deve ser um apelo à classe trabalhadora de todo o México para a defesa dos professores, trabalhadores, camponeses e comunidades indígenas de Oaxaca, exigindo a retirada da PPF, a renúncia de Ruiz e a libertação de todos os presos políticos.

Tal luta deve ser conduzida como parte de um enfrentamento capaz de construir um movimento político socialista independente, que avance com um programa internacionalista para unificar a população trabalhadora do México com os seus irmãos de classe nos EUA, Canadá, nas Américas Central e do Sul.