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China avança nos investimentos e no comércio com a África

Por Barry Mason
17 Noviembre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 15 de Novembro de 2006.

O Presidente Hu Jintao afirmou que a China oferecerá 5 bilhões de dólares em empréstimos e assistência à África até 2009.

Durante o primeiro final de semana de novembro, 48 representantes de 53 países africanos, incluindo muitos chefes de governo, se reuniram na capital chinesa de Beijing.

O regime chinês utilizou todos os recursos para fazer deste um grande evento. Ao invés de anúncios, os outdoors continham enormes fotos de animais africanos selvagens. Símbolos africanos, tais como as pirâmides e as populações tribais, decoravam as paredes dos prédios. Réplicas de animais da savana foram dispostas nas áreas centrais dos shoppings. Cartazes afirmavam: “África, a terra dos mitos e milagres”.

Indústrias altamente poluidoras foram fechadas para melhorar a qualidade do ar, carros foram banidos da cidade e muitos dos habitantes das cidades organizaram-se em comitês de bairros para decorar as árvores. Todas as rondas policiais foram canceladas e o prestigiado mercado Hongqiao foi aberto para o uso exclusivo das mulheres dos delegados africanos.

Hotéis luxuosos e frotas de carros foram reservados. Quartos de hotéis foram adaptados à decoração africana e cardápios especiais foram providenciados. Meanne Dizerent Lau, representante do Hotel Shagrila, que hospedou delegados da Tanzânia, declarou ao jornal British Guardian: “nós já hospedamos grandes grupos de oficiais, mas nunca como agora. O governo nunca se envolveu tanto”.

O objetivo deste elaborado e importante encontro foi o de aumentar a influência e penetração da China na África.

O interesse da China pela a África é conseqüência do enorme crescimento econômico chinês e do aumento da demanda por matérias-primas. No período da guerra fria, sob o governo de Mao Tse Tung, a China estabeleceu relações com alguns países africanos, incluindo o treinamento militar de tropas do Zimbabwe. Mas a retomada das relações ocorreu nos meados dos anos de 90, quando o crescimento econômico chinês decolou. O crescimento das relações pode ser verificado observando-se as estatísticas comerciais. O principal interesse chinês na África está nas fontes de energia, sobretudo no petróleo, devido à dificuldade de acesso ao petróleo do oriente médio, por este se destinar prioritariamente à Europa e aos EUA.

A China mantém relações com o Sudão desde meados de 1990. A atuação da estatal chinesa, Companhia Costeira Nacional de Petróleo (CCNP), elevou o Sudão da condição de importador de petróleo a exportador, com uma receita de quase 2 bilhões de dólares por ano. Metade das exportações sudanesas é destinada à China. Na Nigéria, a China investiu 2,7 bilhões de dólares (a maior despesa além-mar realizada até hoje) na compra dos direitos de exploração de um campo de petróleo, direitos estes divididos com mais quatro outras companhias. Angola, que recebeu investimentos de 2 bilhões de dólares, é atualmente a maior fornecedora de petróleo para a China, estando à frente inclusive da Arábia Saudita. A China também tem interesse no petróleo da Guiné-Bissau, Congo-Brazavile e Gabão.

Além do petróleo, as importações da China incluem algodão bruto do oeste africano, cobre e cobalto da República democrática do Congo, minério de ferro e platina de Zâmbia e madeira do Gabão, Camarões e Congo-Brazavile. A China também fez investimentos em projetos de infra-estrutura, tais como a reconstrução de linhas de trem na Angola, incluindo aquela para o porto em Benguela, usada para escoar o cobre do Zâmbia. Novos projetos de barragens estão sendo financiados em Zâmbia, Sudão, Congo-Brazavile e Etiópia. A China também está financiando o desenvolvimento de projetos tais como hospitais e escolas.

Além de importar matérias-primas, a China tem conseguido exportar várias mercadorias para a África. O fim do acordo de Multi-Fibras (AMF), que garantia alguma proteção aos produtores de países “subdesenvolvidos”, golpeou a produção têxtil africana. O Primeiro Ministro da Etiópia, Menes Zenawi, frisou que, atualmente, 90% das mercadorias à venda no maior mercado de Addis Abada são de origem chinesa.

Os empresários e trabalhadores chineses também têm se estabelecido na África. De acordo com um artigo do New York Times do dia 3 de novembro, cerca de 80.000 chineses vivem e trabalham hoje na África. Deverá ser criado em breve o departamento de língua Mandarim na Universidade de Harvard do Zimbabwe.

Avalia-se que as relações comerciais entre a China e a África, que em 1995 giravam em torno de 3 bilhões de dólares, estão atualmente na casa dos 40 bilhões de dólares. A China pretende expandir radicalmente seus investimentos e negócios na África no próximo período.

O encontro em Beijing da semana passada foi precedida por inúmeras visitas de líderes chineses à África. No começo do ano, o Ministro das Relações Exteriores, Li Zhaoxing, visitou a Nigéria, a Libéria, Mali e Senegal. Em abril, o presidente Hu Jintao visitou o Marrocos, a Nigéria e o Quênia. Em junho, o Primeiro Ministro Wen Jiabao visitou o Egito, Gana, Congo-Brazavile, Angola, África do Sul, Tanzânia e Uganda.

No encontro, que atraiu mais de 2.000 delegados e empresários chineses, foram assinados 16 acordos comerciais e de investimentos que envolveram cifras em torno de 2 bilhões de dólares. O Presidente Hu declarou, durante a reunião, que nos próximos três anos a China concederia empréstimos preferenciais de 3 bilhões de dólares e créditos preferenciais de 2 bilhões de dólares para os países africanos, comprometendo-se em dobrar os atuais recursos anuais de auxílio à África até o ano de 2009.

Entre as propostas está a construção de um prédio no Egito que abrigará uma fábrica de alumínio, cujo custo da planta está estimada em 300 milhões de dólares, a implantação de uma extratora de cobre no Zâmbia, de 200 milhões de dólares, além de um projeto de reforma de uma estrada de ferro na Nigéria, que está orçado em 300 milhões de dólares. A China pretende duplicar, até 2009, as atuais relações comerciais, que atualmente giram em torno de 50 bilhões de dólares. A China também assinou um acordo que prevê a elevação das tarifas das mercadorias africanas, que atualmente estão em 190, para 440. Ainda não foram divulgadas quais as mercadorias que receberão esta taxação.

A China tornou-se a terceira maior parceira da África, ficando atrás somente dos EUA e da França. Apesar dos negócios da África com a Europa terem declinado, há um crescimento das relações comerciais da África com os EUA. Os EUA têm pressionado insistentemente os países africanos, sobretudo do oeste da África, a garantirem o suprimento de petróleo, a fim de diminuir a dependência norte-americana em relação ao instável Oriente Médio.

A penetração da China na África soou como um alerta às principais forças atuantes no mundo. O Financial Times publicou recentemente uma série de artigos sobre o aprofundamento das relações entre a China e a África. Admitindo o papel da China na economia mundial, observou-se que o embate estava “apenas começando e que este embate traria implicações”.

No editorial de 25 de Outubro, denominado “Lobos da África”, o FT expressou seu descontentamento pelo fato dos bancos chineses não seguirem os “Princípios do Equador”. Estes “princípios” buscam gerenciar os riscos no financiamento de projetos sociais e ambientais. Observou-se que a ação dos bancos chineses “ameaça não apenas a ética nos empréstimos, mas também a direção da política de desenvolvimento na África. Duas dessas características são o perdão das dívidas e a ajuda financeira aos governos. É impossível estabelecer critérios para o perdão das dívidas se os bancos chineses simplesmente viram as costas e emprestarem mais dinheiro. Governos corruptos não serão superados enquanto tiverem apoio financeiro”.

Num artigo do FT de 1° de novembro, Geoff Lamb, ex-vice-presidente do Banco Mundial, declarou: “a invasão comercial chinesa numa região ocupada tradicionalmente por outros países causou inquietação entre os políticos do ocidente... Há preocupações legítimas de que estes acordos - cujos termos são, na maioria das vezes, obscuros - poderão sustentar regimes dúbios e produzir um novo ciclo de dívidas insustentáveis”.

A irmã francesa do Financial Times, a Les Echos, publicou uma entrevista de Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial, que criticou os empréstimos dos bancos chineses à África. Ele questiona o que ele chama de “empréstimos suaves”. Entretanto, é sabido que o Banco Mundial e os bancos comerciais ocidentais, assim governos de vários países, concederam tais empréstimos durante a guerra fria. Ao fazê-lo, estimularam as elites corruptas que ainda se mantém no poder, que agora eles condenam.

As conseqüências dos empréstimos chineses são semelhantes. Há um enorme abismo entre as regiões ricas de Cartum, a capital sudanesa, onde novas mansões estão sendo construídas, e outras regiões do país. Mesmo a grande maioria dos moradores de Cartum não participa dos benefícios da expansão das exportações de petróleo.

O mesmo artigo ainda indicava que o Banco Mundial participou “muito diretamente” das negociações com a China a este respeito, mas não foi capaz de chegar a um acordo. Numa carta enviada posteriormente ao FT, Wolfowitz tentou desmentir sua afirmação, ao declarar que ele não condena a China. No entanto, é evidente que a intervenção chinesa na África e em outras partes do mundo tem sido considerada pelos países imperialistas rivais como uma grande ameaça.