Apesar de todas as denúncias de corrupção
que ocorreram no primeiro mandato de Lula, apesar do enquadramento
de diversos dos seus ministros no crime de formação
de quadrilha, apesar das crises sucessivas do seu partido, PT,
que teve quatro presidentes diferentes somente no último
ano (José Genoíno, Tarso Genro, Ricardo Berzoine
e agora Marco Aurélio Garcia), apesar da grave crise política
que várias vezes ameaçou levar ao impeachment do
presidente, apesar de tudo isso Lula foi reeleito, no segundo
turno, com 60% dos votos válidos, contra 39% do seu adversárioGeraldo
Alckmin, candidato de uma coligação de direita.
Sem dúvida, a capacidade de sobrevivência de Lula
contrariou todas as expectativas, mesmo as mais otimistas. Como
compreender tal acontecimento?
Uma hipótese possível seria que a crise foi apenas
uma criação artificial da mídia burguesa,
como ainda hoje procuram sustentar os petistas. Essa hipótese
parece-nos absolutamente insustentável. A grande imprensa
não trabalhou sistematicamente pela derrubada de Lula.
Na realidade, as denúncias escandalosas de corrupção,
em grande parte, se originaram nas divergências, lutas,
ou erros dos próprios setores da burguesia e setores do
poder, às vezes na própria base aliada do PT ou
às vezes até no interior do próprio PT. Foi
assim, no caso das denuncias iniciais de mensalão
do deputado Roberto Jefferson (membro do PTB, ou seja, partido
da base de apoio do governo), foi assim, nos grandes esquemas
financeiros do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, esquemas
escandalosos com estatais, agências de publicidade e bancos,
foi assim no caso do dirigente do PT preso com dólares
escondidos na cueca ou no mais recente episódio da compra
de um dossiê contra o candidato ao governo do estado de
São Paulo, quando militantes do PT foram presos com quase
dois milhões de reais em dinheiro.
Se alguns órgãos da imprensa escrita realmente
fizeram oposição sistemática ao governo Lula,
isto teve pouco peso para a dimensão que tomou a crise.
Sabe-se que no Brasil a imprensa escrita tem pouca capacidade
para criar uma crise de tal dimensão. A grande maioria
da população não lê jornais ou revistas.
Sabe-se que no Brasil o mais importante para a imagem de um presidente
é a televisão. Ora, nesse sentido, a principal rede
de televisão, a Globo, que possui de longe a maior audiência
no seu Jornal Nacional (cerca de 80 milhões de espectadores),
jamais atacou sistematicamente ao presidente. Muito pelo contrário,
em geral o acobertou, desviando a atenção para notícias
sem expressão política. Agora mesmo, no segundo
turno das eleições, por exemplo, o Jornal Nacional
somente falava da queda do avião da companhia Gol, desviando
a atenção das investigações sobre
o último escândalo petista, aquele da compra do dossiê
contra membros do PSDB.
Portanto, a crise não foi uma ficção criada
pela imprensa burguesa para tentar derrubar um presidente de esquerda
que governaria a favor dos trabalhadores. Essa versão petista
é totalmente falsa. A crise política foi a manifestação
de um esgotamento na forma da dominação burguesa
existente no país e, como tal, foi a expressão de
uma crise mais profunda situada na própria estrutura econômico-social
que acumula há décadas contradições
cada vez mais e mais graves.
Quando eleito em 2002, Lula representava simbolicamente, para
boa parte da população brasileira, um governo de
relativa transformação social que governaria para
os trabalhadores. O grande capital e a burguesia, porém,
já esperavam dele a continuidade da política econômica
anterior em detrimento dos trabalhadores. De fato, foi isso o
que ocorreu: do ponto vista econômico atuou da mesma forma
que os governos anteriores e até radicalizou medidas contra
os trabalhadores que os governos anteriores não haviam
sido capazes de realizar: além da taxa de juros altíssima,
realizou a reforma da previdência social e começou
uma reforma universitária transferindo enormes recursos
financeiros para as universidades privadas. Preparou outras reformas,
como a trabalhista, mas não conseguiu avançar, justamente,
devido à grave e profunda crise que quase o derrubou.
A crise, de fato, inicialmente, se manifestou como uma luta
política no interior do Estado entre os diversos grupos
que o utilizam de forma privada: ou para benefício próprio
(burocracia sindical, políticos do PT e dos outros partidos)
ou para acumulação de capital (múltiplos
setores produtivos e financeiros). Nesse sentido, a crise, vista
como uma luta dentro aparelho do Estado, seria essencialmente
política. No entanto, ela expressava contradições
mais profundas, aquelas originadas há décadas na
estrutura econômico-social do país.
Se Lula e a burocracia sindical do PT chegaram ao poder, foi
exatamente, respondendo às necessidades do grande capital,
para sufocar as contradições sociais acumuladas
e acrescidas nestes últimos vinte e cinco anos. Somente
Lula e o PT, com a sua ampla base popular e sindical, poderiam
manter tais taxas altas de juros, realizar reformas a favor do
capital e manter uma relativa paz social. No entanto, ao governar
para o grande capital, Lula, a burocracia do PT e da CUT logo
se constituíram em quase um novo setor burguês -uma
quantidade expressiva de companheiros- que disputava
a apropriação privada do Estado. Certamente, esse
nova classe petista desalojou e deixou descontentes
diversos setores da burguesia, alijando-os do poder e da apropriação
de parte da mais-valia social.
Durante estes anos de governo, ficou claro que se Lula e o
PT governavam a favor do grande capital, ao mesmo tempo, desalojavam
parte da burguesia do aparato estatal, usurpando o seu lugar.
O governo Lula que começara como democrático-burguês
com algumas características de frente popular, mostrou-se
logo como claramente burguês, mas, além disso, com
características mais e mais autoritárias, assumindo
formas semi-bonapartistas. Lula, apoiado pelo grande capital financeiro,
com a burocracia do partido e dos sindicatos, passou a controlar
todas as empresas estatais, os fundos de pensão, e logo
a controlar totalmente o Congresso Nacional, comprando os deputados
da base aliada e da oposição e aprovando tudo que
desejava. Além de controlar os movimentos sociais com verbas
milionárias, esboçou medidas para criar certo controle
da imprensa e da produção cultural, chegando inclusive
também a sugerir reformas no poder Judiciário, tentando
reduzir-lhe a sua autonomia. Foi essa mutação na
forma de governo que gerou a crise de 2005.
A crise teria sido originada, assim, nas contradições
de classe e nas transformações nas relações
de produção contidas na transição
de um governo democrático-burguês a um governo com
características semi-bonapartista. Ou em outras palavras,
a crise teria sido originada no fato de que parte da burguesia
começou a ser desalojada de setores do mercado e da produção,
ao mesmo tempo que era desalojada do poder estatal. Lula e seus
aliados governavam para o grande capital, mas, o custo começou
a parecer alto demais, pelo menos, para certos setores da burguesia
que foram perdendo espaço no controle do Estado.
Assim, a crise não foi uma ficção da imprensa
burguesa, a crise não foi somente política, mas
sim, a crise foi estrutural, determinada pelo deslocamento de
frações de classe e pela gestação
de uma nova forma de dominação do grande capital
que afetava as próprias relações de produção,
sobretudo, na forma como o Estado participava no processo de acumulação
de capital.
Mas, como Lula superou, ao menos aparentemente, crise de tal
profundidade e foi reeleito?
Como Lula foi reeleito?
O presidente foi reeleito devido à falência de
qualquer ação e qualquer projeto mais consistentes
tanto dos setores descontentes da burguesia como dos setores do
proletariado e da juventude não atrelados diretamente ao
Estado.
Em primeiro lugar, a reeleição de Lula foi possível
porque os setores de oposição burguesa (PSDB-PFL),
diante das denúncias de corrupção, consideraram
que venceriam as próximas eleições com facilidade
e preferiram não desencadear o processo de impeachment,
quando poderiam ter feito (em 2005). Temiam perder o controle
do movimento de massas que poderia surgir num processo de impeachment
e, ao mesmo tempo, sabiam que em linhas mais gerais não
seriam capazes de alterar as premissas econômicas principais
do governo Lula. Ora, se o presidente, com apoio dos sindicatos
tinha certas dificuldades em governar, o que poderia fazer um
governo que rompesse com o PT e com a CUT? Diante disso, a oposição
dos setores burgueses descontentes preferiu, cautelosamente, esperar
as eleições, acreditando que seria fácil
vencer um Lula desgastado pelas denúncias.
Em segundo lugar, a reeleição de Lula foi possível
porque também os setores oposicionistas de esquerda (PSOL,
PSTU, e outros que formaram a coligação Frente
de Esquerda) pensavam atingir um grande crescimento eleitoral
graças ao desgaste de Lula e do PT. Assim, ao invés
de desencadear um combate contra o governo traidor dos trabalhadores
e claramente corrupto, desde 2005, articulavam a candidatura da
senadora Heloísa Helena à presidência da república.
Ao invés de tentar mobilizar os trabalhadores e a juventude
contra o governo cambaleante do capital, preferiram também
esperar um possível lucro eleitoral em 2006.
Nesse sentido, quando Lula estava totalmente enfraquecido,
desprestigiado, quase caindo, fato este que ocorreu, sobretudo,
entre agosto e setembro de 2005, nem a oposição
dos setores burgueses descontentes e nem a oposição
de esquerda chamaram pela derrubada do seu governo. Isso foi o
grande erro dos setores oposicionistas. Pouco a pouco, Lula viria
a recuperar o seu prestígio.
Com apoio do capital financeiro, que jamais lucrou tanto como
em seu governo, Lula manteve relativa estabilidade na área
decisiva dos mercados. A economia mantinha-se quase sem crescimento,
mas também, sem grandes oscilações. Logo
Lula também recebeu apoio público dos diversos sindicatos
da CUT, da União Nacional dos Estudantes (UNE), e de muitos
movimentos sociais, como MST (Movimento dos SemTerra), MLST
(Movimento de Libertação dos Sem-Terra), MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem-Teto) . Esses setores sociais, em troca
de verbas públicas milionárias que lhes eram repassadas,
passaram a fazer manifestações a favor do governo
e a dar-lhe sustentação.
Além de tudo isso o governo investiu pesado no programa
assistencial Bolsa-família que consiste numa
pequena ajuda mensal financeira (menos de 25 dólares) às
famílias mais pobres, particularmente, do Norte e Nordeste
do país. O programa foi um grande instrumento de propaganda
política e de cooptação. Por isso, nas eleições
Lula chegou a obter 84% dos votos no estado do Maranhão,
82% no Ceará, cerca de 78% na Bahia e em Pernambuco, 77%
no Piauí, enquanto, ao contrário, perdeu nos estados
mais desenvolvidos do país, como Rio Grande do Sul, Paraná,
Santa Catarina e São Paulo.
Assim, com o apoio do grande capital financeiro, com apoio
dos sindicatos e movimentos sociais atrelados ao Estado, com o
Bolsa-família e com a relativa cobertura favorável
da rede Globo de televisão, Lula foi sobrevivendo à
crise, e para a surpresa dos setores burgueses descontentes e
da esquerda centrista, que pensavam derrubá-lo através
da pacífica via eleitoral, o presidente ganhou a eleição
com até certa facilidade.
A falência da frente de esquerda
Particularmente a chamada Frente de Esquerda, que
aglutinava o PSOL, PSTU, PCB, diversos setores centristas e diversos
grupos ditos trotsquistas, foi a grande derrotada
neste processo político. A candidatura Heloísa Helena
pela Frente de Esquerda foi apresentada no Brasil e no exterior
como um grande fenômeno de unificação das
esquerdas. Recebeu apoio de boa parte dos intelectuais brasileiros
ex-petistas e apoio internacional de centenas de intelectuais
de esquerda como Michael Lowy, Daniel Bensaid, James
Petras, Chomsky e outros.
Ora, a candidata Heloísa Helena durante a campanha rebaixou
ao máximo o programa tentando obter votos a todo custo.
Afirmou que o socialismo não estava no seu programa de
governo, pois isso seria algo muito remoto. Declarava ser religiosa
e chegou a se posicionar contra o aborto. Apesar disso obteve
no primeiro turno apenas 6,85 % perdendo para os votos não
válidos (nulos e brancos) que atingiram 8,41%. Mas, a derrota
se estendeu também a todos os candidatos da Frente. O PSOL,
por exemplo, tinha sete deputados federais que haviam sido eleitos
pelo PT. Nesta eleição, porém, só
elegeu três. Perdeu também a única cadeira
no senado que possuía. Os outros partidos da Frente não
elegeram ninguém. Como se vê, o oportunismo eleitoral
resultou em um fracasso total. A Frente de Esquerda serviu apenas
para legitimar a reeleição de Lula, um presidente
que poderia haver sido derrubado desde 2005.
Depois da derrota no primeiro turno, o PSOL entrou em grave
crise, assim como o PSTU e os diversos agrupamentos da Frente
de Esquerda. O próprio candidato a vice-presidente na chapa
de Heloísa Helena, César Benjamin, declarou que
a direção do PSOL era uma rara combinação
de ignorância, truculência e arrogância.
O PSTU, por seu lado, passou a denunciar a sabotagem que os seus
candidatos sofreram na Frente de Esquerda, chegando a afirmar
que Heloísa Helena fizera coisas que nem Lula fazia. Por
exemplo, no estado de Sergipe, segundo o PSTU, Heloísa
Helena apoiou o candidato do PDT contra o candidato da Frente
de Esquerda. Em suma, a tão falada unidade da esquerda,
construída sem qualquer princípio programático,
como era de se esperar, terminou em fracasso total.
Reeleição de Lula: o fim da crise?
Lula foi reeleito com mais de 58 milhões de votos, portanto,
com um percentual próximo àquele que atingira em
2002. No entanto, sem nenhuma dúvida, a sua legitimidade
é hoje muitíssimo inferior à daquela época.
Perdeu na maioria dos grandes centros urbanos. Na tradicional
comemoração da vitória, na avenida Paulista
em São Paulo, enquanto em 2002 a festa aglutinou cerca
de 100.000 pessoas, desta vez estavam presentes apenas 4.000 pessoas
para ouvir o presidente eleito. Enquanto em 2002, Lula tinha um
grande apoio nos setores mais avançados do proletariado,
da juventude e dos intelectuais, agora, em 2006, os seus eleitores,
em grande parte, são as massas rurais desorganizadas, assim
como, subempregados ou desempregados do Norte e Nordeste, beneficiários
direta ou indiretamente do programa assistencial Bolsa-família.
Os setores mais organizados dos trabalhadores, dos movimentos
sociais e da juventude que Lula ainda é capaz de mobilizar,
na verdade, na sua maioria, são setores movimentados artificialmente,
ou seja, comandados por burocracias sindicais ou lideranças
dos movimentos que recebem vantagens econômicas para mobilizar
bases arrebanhadas, transportadas em ônibus fretados, e
com promessas também de ganharem algo em troca. Foi-se
o tempo que o PT e Lula juntavam espontaneamente milhares e milhares
de trabalhadores e jovens.
Não há dúvida, portanto, que apesar do
resultado das urnas, o presidente Lula hoje está muito
mais fraco do que em 2002. O PSDB venceu as eleições
para governador nos principais estados da federação.
Controla seis estados que possuem as maiores bases eleitorais,
54,1 milhões de eleitores (43% do país), e a maior
parte do produto interno bruto. O PT elegeu apenas 3 governadores,
mas com apoio de partidos aliados, Lula deve contar com um total
de 16 governadores que correspondem a um eleitorado de 58,2 milhões
em seus Estados ( 46,3%) do país. Também nesses
16 Estados com governadores favoráveis a Lula, foram eleitos
267 deputados, o equivalente a 52% da Câmara. Em tese Lula
ainda teria maioria na Câmara, mas, não no Senado.
Porém, além disso, sabe-se muito bem, que o apoio
dos partidos aliados do PT custa muito e muito caro.
Partidos como o PMDB e PTB, totalmente corruptos e sem qualquer
programa, apóiam o governo somente em troca de grandes
favores: concessões, cargos, ministérios,
e propinas mensais como aquelas do mensalão.
Por outro lado, o próprio PT de 2006 é já
bastante diferente daquele de 2002. Basta dizer que quase toda
a esquerda do partido foi expulsa ou abandonou o partido nesse
último período, fundando o PSOL. Boa parte da velha
guarda do partido foi desgastada nesse processo: José
Dirceu foi cassado, sendo envolvidos em processos e escândalos
públicos os principais quadros do partido. Lembremos alguns:
Genoíno (ex-presidente do PT), Sílvio Pereira (ex-secretário-geral),
João Paulo (ex-presidente da Câmara), Palocci (ex-ministro
da Economia), Berzoini (ex-ministro e ex-presidente do PT), Gushiken
(ex-ministro) e outros.
É bem verdade que apesar de todos os escândalos,
segundo os últimos informes, o PT teria crescido nesse
último período. Ora, pode-se imaginar a qualidade
política dos novos militantes do PT. Certamente, esses
militantes devem ser oportunistas que desde o início já
entram no partido visando o poder e o enriquecimento ilícito.
O PT como partido dos trabalhadores já está totalmente
liquidado, aproximando-se, cada vez mais, a algo como o partido
peronista da Argentina.
Diante de todos esses fatos, é difícil acreditar
que a reeleição de Lula é o fim da crise.
Os processos contra o PT estão correndo na justiça,
assim como continuam as investigações dos últimos
escândalos. Claro que tudo isso pode ser sufocado pela polícia
federal, que já está sendo acusada de agir como
polícia política. No entanto, para que
Lula mantenha o seu apoio fundamental, aquele do grande capital
financeiro, ele precisa implementar as novas reformas, todas certamente
muito impopulares.
As novas reformas
Na instância da previdência, já se elabora
uma segunda reforma além daquela feita no primeiro mandato.
Pretende-se passar a idade mínima da aposentadoria de 60
para 65 anos. Prepara-se também a reforma trabalhista que
pretende reduzir os custos Brasil. Esta reforma pretenderia
reduzir os encargos trabalhistas das empresas, eliminar o décimo
terceiro salário, reduzir a licença maternidade,
alterar as regras para as demissões e as obrigações
das empresas em relação ao fundo de garantia por
tempo de serviço (FGTS).
Projeta-se também uma reforma tributária, que
pretende onerar mais os setores assalariados. Projeta-se avançar
a reforma universitária com a transferência de mais
recursos estatais para as universidades privadas. Já está
no Senado projeto para a flexibilização das leis
trabalhistas nas pequenas empresas, a proposta denominada de Super-simples.
Na verdade, todas essas reformas de uma maneira ou de outra atacam
os direitos mínimos conquistados pelos trabalhadores.
Além de tudo isso, prepara-se uma reforma política
que visa essencialmente dificultar mais e, na prática,
eliminar definitivamente as possibilidades de criar novos partidos,
sobretudo, partidos não burgueses.. Pensando-se que no
Brasil a legislação partidária já
é extremamente severa, os setores de esquerda tenderiam
a atuarem quase na ilegalidade, não tendo qualquer expressão
pública ou eleitoral.
A crise foi somente enterrada
Considerando que o grande capital internacional condiciona
o apoio ao novo governo Lula a todas essas reformas, essas reformas
tentarão ser implementadas. Para isso, Lula tentará
fortalecer o seu apoio nos sindicatos e nos movimentos sociais
atrelando-os mais ainda ao Estado. Terá que negociar com
os seus partidos aliados. Certamente, também
oferecerá vantagens a certos setores descontentes da burguesia
local (PSDB-PFL), negociará também com pelo menos
parte da esquerda centrista do PSOL. Mas, tudo isso
custará mais uma vez muitas concessões e liberações
milionárias de verbas públicas, que somente serão
possíveis com novos esquemas similares ao mensalão
e novas concessões ao próprio grande capital financeiro.
Portanto, para realizar tal programa de reformas, para consolidar
tais alianças, certamente o governo Lula deverá
sofrer novas transformações voltando-se mais e mais
contra os trabalhadores. Além dos setores burgueses desalojados
do Estado, setores maiores de resistência já surgem
no movimento operário, nos sindicatos, nas universidades
e o governo Lula deverá enfrentar uma resistência
social maior do que no governo anterior. Tudo isso se agrava pela
conjuntura econômica mundial que deve ser bem mais desfavorável
do que no primeiro governo.
Assim, provavelmente, o novo governo Lula terá que enfrentar
o ressurgimento, de forma ampliada, da mesma crise estrutural
que já domina o país. Nesse sentido, é bem
provável que as características semi-bonapatistas
do seu atual governo possam evoluir para características
bonapartistas e até semi-facistas. Para isso apontam as
últimas manipulações da polícia federal
que somente investiga encobrindo fatos e protegendo membros do
governo. Para isso apontam as recentes ameaças à
liberdade de imprensa, intimidando repórteres. Para isso
aponta também a proposta da convocação de
uma Constituinte. Esta proposta visaria aprovar as reformas com
maioria simples, enquanto no Congresso tradicional são
necessários 2/3 dos votos. A convocação de
uma Constituinte seria, portanto, um grave golpe contra a constituição,
visando atacar os direitos mínimos dos trabalhadores e
da juventude.
Em suma, a crise que agitou o país em 2005, deve voltar
com mais força. A crise de 2005 não foi superada,
mas sim, foi somente enterrada de maneira provisória..
Quando esta crie ressurgir, não podemos, mais uma vez,
como em 2005, esperar as próximas eleições.
Os trabalhadores e a juventude devem se preparar, desde já,
para resistir e avançar contra os novos ataques do governo
bonapartista de Lula, representante do grande capital financeiro
internacional. Isto somente será possível com amplas
organizações de massa, além dos processos
eleitorais burgueses. Somente a organização direta
dos trabalhadores, dos desempregados e da juventude, numa perspectiva
socialista e internacionalista, pode defender as liberdades cada
vez mais ameaçadas no Brasil e os direitos mínimos
de trabalho, salário e uma vida digna para todos.