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Austrália:

O governo Bracks e os sindicatos ajudam a Ford demitir trabalhadores

Por Will Marshall
16 Noviembre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 10 de November de 2006.

No dia 3 de novembro a Ford da Austrália anunciou que irá acabar com 640 empregos em Victoria. O anúncio expôs as falsas declarações dos governos federal e estadual, segundo as quais a política por eles adotada teria proporcionado o “desenvolvimento econômico” e a “recuperação de empregos”.

Os cortes representam 10% dos 5.500 postos de trabalho existentes em Broadmeadows e Geelong, perto de Melbourne. Além de demitir, até o final do ano, 450 operários e 190 trabalhadores ligados à administração, a Ford cancelará 150 contratos trabalhistas e realizará 200 novas demissões em outras áreas.

Tomada pouco antes das festas de fim de ano, a decisão não é somente um terrível golpe desferido contra os trabalhadores da Ford e suas famílias, mas é parte de uma crise que abarca a classe trabalhadora dos subúrbios vizinhos. Broadmeadows tem uma taxa oficial de desemprego que chega a 13,4 por cento, muito mais alta que a taxa nacional, que é de 4,8 por cento.

O governo de Howard, em Canberra, em parceria com os estados governados pelo Labour, já contribuiu para o desaparecimento de dezenas de milhares de empregos durante a última década. Outros 50.000 empregos devem ser liquidados nos próximos doze meses. O único setor onde há o “crescimento no nível de emprego” é aquele relacionado aos trabalhos de meio-período ou trabalhos temporários, que são extremamente mal pagos.

Em Victoria, o premiê Steve Bracks cumpriu sua promessa de realizar um governo “simpático aos grandes empresários”. O apoio à decisão da Ford demonstrou que a “simpatia” significa priorizar a assistência às grandes empresas e aos grandes investidores, em detrimento da manutenção das condições de vida e do emprego da classe trabalhadora.

Enquanto as escolas públicas, a saúde básica e outras necessidades da classe trabalhadora recebem escassos recursos, os governos federal e estadual jogam fora bilhões de dólares em cortes de taxas e incentivos financeiros. Em maio, Howard anunciou que destinaria 52,5 milhões de dólares para a pesquisa e desenvolvimento da Ford em Victoria. Bracks prometeu disputar dólar por dólar com Canberra.

Os representantes da empresa afirmaram que o motivo das últimas decisões é a queda das vendas dos veículos maiores, devido ao alto custo do petróleo. Para justificar a decisão a empresa divulgou uma pesquisa que demonstra um declínio dos rendimentos anuais, nos primeiros cinco anos, de 2,5%, que significa 3,89 bilhões de dólares, e uma queda de 4,4% na venda de veículos, que representa 129.200 carros e caminhões.

O declínio das vendas é o pretexto imediato, mas as demissões realizadas pela Ford da Austrália fazem parte de uma grande reestruturação da empresa e de toda a indústria mundial de automóveis. A Ford, uma grande corporação internacional, planeja e organiza a sua produção para o mercado mundial, do qual a Austrália é um pequeno componente. No mês de setembro, sua matriz anunciou que planeja eliminar 44.000 empregos e fechar 16 fábricas nos EUA.

Evidentemente, a movimentação na Austrália foi discutida durante algum tempo. Em outubro, a Ford da Austrália anunciou que tinha a intenção de reduzir a produção diária de 450 para 360 veículos a partir do dia 20 de novembro. O presidente da companhia, Tom Gorman, declarou ao Australian que a Ford não “conseguirá evitar um redimensionamento correto... caso a demanda não melhore”. Ele acrescentou que a Ford estava “procurando todas as alternativas” e “que não adotaria uma mentalidade destrutiva”.

Os trabalhadores, entretanto, não ficaram sabendo de absolutamente nada. A intenção da direção da empresa é demitir o mais rápido possível e aproveitar o momento para explorar ainda mais os trabalhadores restantes, que serão pressionados a aumentar a produtividade e a cortar gastos em troca da ilusória esperança de garantir seus empregos. Não há dúvida de que a decisão foi tomada antes do natal a fim de encontrar os trabalhadores sob pressão financeira, dificultando assim sua mobilização.

Como já ocorreu em outras ocasiões, a direção da empresa está contando, acima de tudo, com o apoio do governo Bracks e dos sindicatos para implementar esse plano de “redimensionamento” com o menor desgaste possível. Nem o Labour nem os sindicatos disseram uma única palavra em oposição às demissões, embora estivessem cientes dos planos da companhia.

John Brumby, que representa o eleitorado de Broadmeadows no parlamento, não foi capaz de avisar a respeito das demissões e nem sequer tentou evita-las. Pelo contrário, ele assegurou aos trabalhadores que continuaram trabalhando que “a Ford está forte, seguindo em frente. A empresa comprometeu 1,7 bilhão de dólares com novos investimentos... A Ford está muito confiante, considerando uma perspectiva mercantil de médio prazo”. Os trabalhadores deveriam tratar estes comentários com o desdém que merecem.

Em maio, Bracks visitou a fábrica de Broadmeadows, elogiando as claras perspectivas dos novos projetos de pesquisa e desenvolvimento elaborados pela Ford em relação aos trabalhadores e fornecedores locais da Ford. Falando como se fosse um porta-voz da empresa, ele declarou: “os $1,8 bilhão de investimentos da Ford nos próximos dez anos garantirão sua presença neste estado e trarão uma segurança maior para os 5.000 trabalhadores da companhia, em Victoria”.

O Sindicato dos Operários Australianos (AMWU) desempenhou um papel repugnante. Em outubro, o secretário da divisão federal do AMWU, Ian Jones, respondeu à declaração da Ford descartando a possibilidade de mais demissões. “Ainda não se determinou a necessidade de efetuar novas demissões... seria necessário cortar alguns excessos, mas nós nos esforçaremos para garantir que todos aqueles que precisem de um emprego possam continuar trabalhando”.

Como era de se esperar, seguindo o anúncio da Ford, o sindicato não organizou qualquer campanha de defesa dos empregos, mesmo que novos cortes estejam sendo planejados em outras fábricas. A Toyota já anunciou uma queda de 22% nos rendimentos.

Assim como em todos os outros casos, o AMWU colaborará com a administração da Ford na supressão de qualquer resistência e em assegurar que seja fácil controlar, na medida do possível, a ação dos trabalhadores fora da fábrica. A maior preocupação da direção do sindicato é a de auxiliar a administração em obter maior produtividade e lucro. O sindicato procurará garantir também que as demissões não criem dificuldades para o Labour nas eleições estaduais que serão realizadas no dia 25 de novembro.

Comentando a decisão da Ford, o secretário nacional do AMWU, Doug Cameron, declarou: “é obvio que a indústria automotiva na Austrália está sob pressão, sob a pressão da globalização... Está sob pressão por causa da estrutura e da logística da indústria”. Sua única resposta aos trabalhadores que têm seus empregos ameaçados foi a seguinte: “é necessário realizar inovações”.

Não é a falta de “inovação” que destrói milhões de empregos ao redor do mundo, fechando fábricas e destruindo as forças produtivas—incluindo a mais essencial de todas, a força de trabalho. A origem da crise se encontra no caráter anárquico do sistema capitalista, no fato da produção ser realizada somente para gerar grandes lucros ao invés de atender às necessidades da população trabalhadora.

Cameron diz que a “globalização” é o problema. Mas a globalização da produção—baseada em extraordinárias “inovações” da ciência, da tecnologia e das técnicas de produção—estabeleceu as bases objetivas para uma economia mundial planejada racionalmente, capaz de melhorar significativamente a vida de todos.

Sob o capitalismo, todavia, sob as restrições impostas pelo lucro privado e pelo sistema de estados-nações, ocorre o contrário. Gigantescas empresas globais, como a Ford, varrem o globo na busca de matérias-primas e mão-de-obra cada vez mais baratas, e ainda recebem o apoio dos governos e dos sindicatos, colocando os trabalhadores de um país contra os de outros, numa política cruel de demissões, de reduções dos encargos trabalhistas e do aumento dos lucros.

A Ford, os sindicatos e o governo Bracks apresentam as demissões como algo inevitável a fim de pressionar os trabalhadores a aceitarem as arbitrariedades. Mas eles só são inevitáveis se os trabalhadores aceitarem o sistema de lucro como uma realidade permanente e insuperável, e não enfrentarem os privilégios da direção da empresa. Os efeitos da destruição de postos de trabalho e do recuo da produção não serão sentidos somente pelos trabalhadores da Ford de Broadmeadows e Geelong, mas também por seus fornecedores e produtores de peças, o que envolve amplos setores.

Os trabalhadores da Ford devem rejeitar os excessos e iniciar uma campanha para defender os seus empregos. A política que visa destruir os empregos tem conseqüências de longo alcance. Em primeiro lugar, desestabiliza de maneira imediata a situação dos trabalhadores em outras fábricas e indústrias, que também perderão seus empregos. Em segundo lugar, a eliminação de postos de trabalho permanentes em fábricas como a Ford, política que é apoiada pelos sindicatos, obriga a população jovem de Broadmeadows e de outros subúrbios operários a enfrentar desde cedo o desemprego.

Um primeiro passo para se opor aos planos da Ford é a organização de encontros dos trabalhadores que preparem uma campanha contra as demissões. Isso envolverá necessariamente o contato com os trabalhadores de outras fábricas de veículos, de fábricas de peças e de outros setores da indústria que estão sofrendo os mesmos ataques. Tal campanha envolverá inevitavelmente uma luta política contra a direção da Ford, o governo Bracks e os sindicatos.

Toda a classe trabalhadora, de Victoria e da Austrália, dos EUA e de todo o mundo, devem apoiar os trabalhadores da Ford que estão sendo demitidos ou estão tendo sua qualidade de vida degradada. É necessário uma nova perspectiva e um novo partido de massas, que unifique os trabalhadores ao redor do mundo na luta pela reconstrução da sociedade, visando o atendimento das necessidades da classe trabalhadora ao invés de atender dos interesses da elite empresarial.

O Socialist Equality Party está disputando as eleições do Estado de Victoria com o objetivo de lutar por essa perspectiva socialista e internacionalista. Nós pedimos a todos os trabalhadores e à juventude que compreendam o nosso programa, que venham aos nossos encontros e que participem de nossa campanha.