Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 10 de November de 2006.
No dia 3 de novembro a Ford da Austrália anunciou que
irá acabar com 640 empregos em Victoria. O anúncio
expôs as falsas declarações dos governos federal
e estadual, segundo as quais a política por eles adotada
teria proporcionado o desenvolvimento econômico
e a recuperação de empregos.
Os cortes representam 10% dos 5.500 postos de trabalho existentes
em Broadmeadows e Geelong, perto de Melbourne. Além de
demitir, até o final do ano, 450 operários e 190
trabalhadores ligados à administração, a
Ford cancelará 150 contratos trabalhistas e realizará
200 novas demissões em outras áreas.
Tomada pouco antes das festas de fim de ano, a decisão
não é somente um terrível golpe desferido
contra os trabalhadores da Ford e suas famílias, mas é
parte de uma crise que abarca a classe trabalhadora dos subúrbios
vizinhos. Broadmeadows tem uma taxa oficial de desemprego que
chega a 13,4 por cento, muito mais alta que a taxa nacional, que
é de 4,8 por cento.
O governo de Howard, em Canberra, em parceria com os estados
governados pelo Labour, já contribuiu para o desaparecimento
de dezenas de milhares de empregos durante a última década.
Outros 50.000 empregos devem ser liquidados nos próximos
doze meses. O único setor onde há o crescimento
no nível de emprego é aquele relacionado aos
trabalhos de meio-período ou trabalhos temporários,
que são extremamente mal pagos.
Em Victoria, o premiê Steve Bracks cumpriu sua promessa
de realizar um governo simpático aos grandes empresários.
O apoio à decisão da Ford demonstrou que a simpatia
significa priorizar a assistência às grandes empresas
e aos grandes investidores, em detrimento da manutenção
das condições de vida e do emprego da classe trabalhadora.
Enquanto as escolas públicas, a saúde básica
e outras necessidades da classe trabalhadora recebem escassos
recursos, os governos federal e estadual jogam fora bilhões
de dólares em cortes de taxas e incentivos financeiros.
Em maio, Howard anunciou que destinaria 52,5 milhões de
dólares para a pesquisa e desenvolvimento da Ford em Victoria.
Bracks prometeu disputar dólar por dólar com Canberra.
Os representantes da empresa afirmaram que o motivo das últimas
decisões é a queda das vendas dos veículos
maiores, devido ao alto custo do petróleo. Para justificar
a decisão a empresa divulgou uma pesquisa que demonstra
um declínio dos rendimentos anuais, nos primeiros cinco
anos, de 2,5%, que significa 3,89 bilhões de dólares,
e uma queda de 4,4% na venda de veículos, que representa
129.200 carros e caminhões.
O declínio das vendas é o pretexto imediato,
mas as demissões realizadas pela Ford da Austrália
fazem parte de uma grande reestruturação da empresa
e de toda a indústria mundial de automóveis. A Ford,
uma grande corporação internacional, planeja e organiza
a sua produção para o mercado mundial, do qual a
Austrália é um pequeno componente. No mês
de setembro, sua matriz anunciou que planeja eliminar 44.000 empregos
e fechar 16 fábricas nos EUA.
Evidentemente, a movimentação na Austrália
foi discutida durante algum tempo. Em outubro, a Ford da Austrália
anunciou que tinha a intenção de reduzir a produção
diária de 450 para 360 veículos a partir do dia
20 de novembro. O presidente da companhia, Tom Gorman, declarou
ao Australian que a Ford não conseguirá
evitar um redimensionamento correto... caso a demanda não
melhore. Ele acrescentou que a Ford estava procurando
todas as alternativas e que não adotaria uma
mentalidade destrutiva.
Os trabalhadores, entretanto, não ficaram sabendo de
absolutamente nada. A intenção da direção
da empresa é demitir o mais rápido possível
e aproveitar o momento para explorar ainda mais os trabalhadores
restantes, que serão pressionados a aumentar a produtividade
e a cortar gastos em troca da ilusória esperança
de garantir seus empregos. Não há dúvida
de que a decisão foi tomada antes do natal a fim de encontrar
os trabalhadores sob pressão financeira, dificultando assim
sua mobilização.
Como já ocorreu em outras ocasiões, a direção
da empresa está contando, acima de tudo, com o apoio do
governo Bracks e dos sindicatos para implementar esse plano de
redimensionamento com o menor desgaste possível.
Nem o Labour nem os sindicatos disseram uma única
palavra em oposição às demissões,
embora estivessem cientes dos planos da companhia.
John Brumby, que representa o eleitorado de Broadmeadows no
parlamento, não foi capaz de avisar a respeito das demissões
e nem sequer tentou evita-las. Pelo contrário, ele assegurou
aos trabalhadores que continuaram trabalhando que a Ford
está forte, seguindo em frente. A empresa comprometeu 1,7
bilhão de dólares com novos investimentos... A Ford
está muito confiante, considerando uma perspectiva mercantil
de médio prazo. Os trabalhadores deveriam tratar
estes comentários com o desdém que merecem.
Em maio, Bracks visitou a fábrica de Broadmeadows, elogiando
as claras perspectivas dos novos projetos de pesquisa e desenvolvimento
elaborados pela Ford em relação aos trabalhadores
e fornecedores locais da Ford. Falando como se fosse um porta-voz
da empresa, ele declarou: os $1,8 bilhão de investimentos
da Ford nos próximos dez anos garantirão sua presença
neste estado e trarão uma segurança maior para os
5.000 trabalhadores da companhia, em Victoria.
O Sindicato dos Operários Australianos (AMWU) desempenhou
um papel repugnante. Em outubro, o secretário da divisão
federal do AMWU, Ian Jones, respondeu à declaração
da Ford descartando a possibilidade de mais demissões.
Ainda não se determinou a necessidade de efetuar
novas demissões... seria necessário cortar alguns
excessos, mas nós nos esforçaremos para garantir
que todos aqueles que precisem de um emprego possam continuar
trabalhando.
Como era de se esperar, seguindo o anúncio da Ford,
o sindicato não organizou qualquer campanha de defesa dos
empregos, mesmo que novos cortes estejam sendo planejados em outras
fábricas. A Toyota já anunciou uma queda de 22%
nos rendimentos.
Assim como em todos os outros casos, o AMWU colaborará
com a administração da Ford na supressão
de qualquer resistência e em assegurar que seja fácil
controlar, na medida do possível, a ação
dos trabalhadores fora da fábrica. A maior preocupação
da direção do sindicato é a de auxiliar a
administração em obter maior produtividade e lucro.
O sindicato procurará garantir também que as demissões
não criem dificuldades para o Labour nas eleições
estaduais que serão realizadas no dia 25 de novembro.
Comentando a decisão da Ford, o secretário nacional
do AMWU, Doug Cameron, declarou: é obvio que a indústria
automotiva na Austrália está sob pressão,
sob a pressão da globalização... Está
sob pressão por causa da estrutura e da logística
da indústria. Sua única resposta aos trabalhadores
que têm seus empregos ameaçados foi a seguinte: é
necessário realizar inovações.
Não é a falta de inovação
que destrói milhões de empregos ao redor do mundo,
fechando fábricas e destruindo as forças produtivasincluindo
a mais essencial de todas, a força de trabalho. A origem
da crise se encontra no caráter anárquico do sistema
capitalista, no fato da produção ser realizada somente
para gerar grandes lucros ao invés de atender às
necessidades da população trabalhadora.
Cameron diz que a globalização é
o problema. Mas a globalização da produçãobaseada
em extraordinárias inovações
da ciência, da tecnologia e das técnicas de produçãoestabeleceu
as bases objetivas para uma economia mundial planejada racionalmente,
capaz de melhorar significativamente a vida de todos.
Sob o capitalismo, todavia, sob as restrições
impostas pelo lucro privado e pelo sistema de estados-nações,
ocorre o contrário. Gigantescas empresas globais, como
a Ford, varrem o globo na busca de matérias-primas e mão-de-obra
cada vez mais baratas, e ainda recebem o apoio dos governos e
dos sindicatos, colocando os trabalhadores de um país contra
os de outros, numa política cruel de demissões,
de reduções dos encargos trabalhistas e do aumento
dos lucros.
A Ford, os sindicatos e o governo Bracks apresentam as demissões
como algo inevitável a fim de pressionar os trabalhadores
a aceitarem as arbitrariedades. Mas eles só são
inevitáveis se os trabalhadores aceitarem o sistema de
lucro como uma realidade permanente e insuperável, e não
enfrentarem os privilégios da direção da
empresa. Os efeitos da destruição de postos de trabalho
e do recuo da produção não serão sentidos
somente pelos trabalhadores da Ford de Broadmeadows e Geelong,
mas também por seus fornecedores e produtores de peças,
o que envolve amplos setores.
Os trabalhadores da Ford devem rejeitar os excessos e iniciar
uma campanha para defender os seus empregos. A política
que visa destruir os empregos tem conseqüências de
longo alcance. Em primeiro lugar, desestabiliza de maneira imediata
a situação dos trabalhadores em outras fábricas
e indústrias, que também perderão seus empregos.
Em segundo lugar, a eliminação de postos de trabalho
permanentes em fábricas como a Ford, política que
é apoiada pelos sindicatos, obriga a população
jovem de Broadmeadows e de outros subúrbios operários
a enfrentar desde cedo o desemprego.
Um primeiro passo para se opor aos planos da Ford é
a organização de encontros dos trabalhadores que
preparem uma campanha contra as demissões. Isso envolverá
necessariamente o contato com os trabalhadores de outras fábricas
de veículos, de fábricas de peças e de outros
setores da indústria que estão sofrendo os mesmos
ataques. Tal campanha envolverá inevitavelmente uma luta
política contra a direção da Ford, o governo
Bracks e os sindicatos.
Toda a classe trabalhadora, de Victoria e da Austrália,
dos EUA e de todo o mundo, devem apoiar os trabalhadores da Ford
que estão sendo demitidos ou estão tendo sua qualidade
de vida degradada. É necessário uma nova perspectiva
e um novo partido de massas, que unifique os trabalhadores ao
redor do mundo na luta pela reconstrução da sociedade,
visando o atendimento das necessidades da classe trabalhadora
ao invés de atender dos interesses da elite empresarial.
O Socialist Equality Party está disputando as
eleições do Estado de Victoria com o objetivo de
lutar por essa perspectiva socialista e internacionalista. Nós
pedimos a todos os trabalhadores e à juventude que compreendam
o nosso programa, que venham aos nossos encontros e que participem
de nossa campanha.