Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia1 de novembro de 2006.
As estimativas oficiais sobre a quantidade de mortos nos ataques
aéreos das forças armadas da OTAN, no sul do Afeganistão
em 24 de Outubro, são polêmicas. Porém, algumas
fontes relatam mais de 85 mortos.
Os aviões da OTAN bombardearam o distrito de Panjwayi,
perto de Kandahar. Dezenas de pessoas foram mortas na vila de
Nangawat, algumas delas dentro de suas próprias casas,
enquanto celebravam o festival de Eid al-Fitr que marca o fim
do Ramadan. Muitos dos mortos eram mulheres e crianças.
O distrito atacado localiza-se na região em que as forças
da OTAN realizaram a operação Medusa, em setembro.
Este foi um sucesso significativo, de acordo com um
comandante, no qual mais de 500 combatentes do Taliban foram mortos.
Oficiais da OTAN alegavam terem varrido completamente ou matado
todos os militantes Taliban naquela área.
Relatos ainda sugerem que pelo menos 40 civis foram mortos
durante o mais recente bombardeio, quando um acampamento de nômades
foi atingido no distrito. O comando da OTAN admitiu a morte de
12 civis nos últimos ataques, além de 48 membros
do Taliban. O Taliban negou a perda de qualquer militante.
A polícia e os oficiais locais negaram os números
divulgados pela OTAN. O ministro do Interior do Afeganistão,
Zmarai Bashir, confirmou a BBC a morte de 40 civis e 20 militantes
do Taliban, enquanto outro oficial do governo, que pediu para
não ser identificado porque, para usar as suas palavras,
iria me causar problemas, afirmou que pelo menos 60
pessoas haviam morrido. O membro do conselho da província
de Kandahar, Bismallah Afghanmal, relatou a Associated Press que
mais de 85 civis foram mortos. Outros oficiais locais estimaram
o número de mortos entre 60 e 85.
Moradores do Panjwayi disseram que os bombardeios continuaram
durante a noite. A população local e os oficiais
do distrito descreveram da seguinte maneira a destruição
de prédios pelos ataques aéreos: Os aviões
vieram e bombardearam desde as 3 horas da manhã. E ao amanhecer
eles começaram a atingir nossa vila com mísseis
e canhões. Eles não permitiram que ninguém
viesse nos ajudar.
Uma testemunha contou a Reuters que 25 casas foram demolidas
durante quatro ou cinco horas de bombardeio. Algumas pessoas falaram
a BBC que muitos corpos foram arrancados dos entulhos de suas
casas e queimados.
Um dos nômades sobreviventes (grupo que está entre
os cidadãos afegãos mais pobres) disse que 20 membros
de sua família foram mortos e 10 ficaram feridos. Ele disse
que seu acampamento, que não tinha nenhum vínculo
com o Taliban, foi atacado: Não há nenhum
membro do Taliban aqui. Nós vivemos fora da cidade numa
área aberta e em tendas, qualquer um pode vir aqui para
ver nossas casas, nosso acampamento. Não há Talibans
aqui. Todos nós somos nômades que moramos em barracas.
Todas às vezes eles dizem que foi um erro. Eles nos destruíram
com esses erros. Pelo amor de deus, venham e vejam anossa
situação!
Esta frase foi entoada por Afghanmal, conselheiro da província
de Kandahar, que continuou o seu desabafo: esse tipo
de coisa tem acontecido muitas vezes e eles apenas dizem, Desculpe-nos.
Como você compensa pessoas que perderam seus filhos e filhas?
O governo e a união falaram às famílias que
não havia mais Talibans naquela área. Se não
há mais Talibans, então porque eles bombardearam
a área?
O Prefeito Luke Knitig, porta-voz da Força de Assistência
à Segurança Internacional (ISAF) da OTAN, disse
que as tropas da OTAN se realizaram naquele dia uma intensa luta
contra rebeldes com três ataques aéreos sucessivos
em Panjwayi.
Centenas participaram de um funeral em massa das vítimas
dos ataques, dois dias depois dos bombardeios da OTAN. Muitos
dos parentes das vítimas culparam tanto a OTAN quanto o
governo do presidente Karzai pelas mortes.
Um dos parentes, Abdul Aye, que teve 22 membros de sua família
mortos pelos ataques da OTAN, disse: todos estão
muito nervosos com o governo e com a união. Não
havia Talibans.
Taj Mohammad, outro morador, disse que não havia militantes
e que pessoas inocentes foram mortas. Mohammad disse que 10 dos
seus parentes foram mortos no último ataque.
Um oficial da OTAN disse mais tarde que a enorme diferença
em relação à quantidade de mortos pode ser
decorrer exatamente do fato dos rebeldes serem confundidos
com cidadãos comuns. O oficial não identificado
frisou que as bombas lançadas pela OTAN não se desviaram
de seu caminho. o assistente da ONU em missão no Afeganistão
disse que estava extremamente preocupado em relação
a isso.
A mais recente atrocidade cometida contra cidadãos afegãos
foi o assassinato de cerca de 26 pessoas em menos de uma semana,
ocorridas antes das operações da OTAN em Kandahar
e na província vizinha de Helmand.
O Presidente Hamid Karzai anunciou a criação
de uma comissão de investigação formada por
oficiais da OTAN e alguns membros mais velhos das comunidades
e das tribos. O secretário de Karzai afirmou que seus investigadores
poderiam formular sugestões sobre como prevenir tais infelizes
incidentes no futuro e assegurar uma melhor coordenação
com forças internacionais. A investigação
deve ocorrer no prazo de uma semana.
Em uma conferência com a imprensa ele não se esforçou
em prestar nenhum esclarecimento sobre as mortes, falando apenas
do número de civis mortos. Mas admitiu que pilotos estrangeiros
nem sempre conseguem distinguir militantes do Taliban de civis.
Para sustentar a farsa de um governo soberano em Kabul, a conferência
com a imprensa foi acompanhada de perto por um membro da OTAN,
Mark Laity, que defendeu: nós temos regras rígidas
de compromisso mas, às vezes, as coisas dão errado...
O Presidente Karzai muito corretamente quer que nós tomemos
o máximo de cuidado. E é isso o que nós faremos.
A fraqueza de Karzai antes do apoio dos Estados Unidos está
sendo explorada pelas milícias islâmicas. Em recente
pronunciamento, o líder do Taliban recusou a proposta de
negociação feita por Karzai em 27 de outubro, e
chamou seu governo de governo fantoche: nós
dizemos até hoje que não há possibilidade
de conversa quando o país está ocupado.
E prosseguiu dizendo: qualquer conversa com agressores
significaria vender o país.
Karzai reiterou aos repórteres que ele estava pronto
a negociar com o fugitivo, o líder do Taliban, Mullah Omar,
se ele parasse de receber apoio do país vizinho, o Paquistão.
Karzai diz que Omar está escondido na cidade paquistanesa
de Quetta, enquanto o Paquistão afirma que Omar está
no Afeganistão.
Acredita-se que durante os últimos dois anos centenas
de apoiadores do Taliban, incluindo alguns oficiais veteranos,
se reconciliaram com o governo, mas parece não
ter ocorrido nenhuma negociação com os líderes
do grupo islâmico.
Forças da OTAN têm frequentemente realizado ataques
aéreos no Afeganistão no último ano. De acordo
com uma instituição de direitos humanos de Nova
Iorque, o Comando Central dos Estados Unidos confirmou a realização
de 340 ataques aéreos em junho no Afeganistão, o
dobro dos 160 ataques desferidos contra o Iraque no mesmo mês.