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Forças da OTAN massacram cidadãos afegãos

Por Harvey Thompson
7 Noviembre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 1 de novembro de 2006.

As estimativas oficiais sobre a quantidade de mortos nos ataques aéreos das forças armadas da OTAN, no sul do Afeganistão em 24 de Outubro, são polêmicas. Porém, algumas fontes relatam mais de 85 mortos.

Os aviões da OTAN bombardearam o distrito de Panjwayi, perto de Kandahar. Dezenas de pessoas foram mortas na vila de Nangawat, algumas delas dentro de suas próprias casas, enquanto celebravam o festival de Eid al-Fitr que marca o fim do Ramadan. Muitos dos mortos eram mulheres e crianças.

O distrito atacado localiza-se na região em que as forças da OTAN realizaram a operação Medusa, em setembro. Este foi um “sucesso significativo”, de acordo com um comandante, no qual mais de 500 combatentes do Taliban foram mortos. Oficiais da OTAN alegavam terem varrido completamente ou matado todos os militantes Taliban naquela área.

Relatos ainda sugerem que pelo menos 40 civis foram mortos durante o mais recente bombardeio, quando um acampamento de nômades foi atingido no distrito. O comando da OTAN admitiu a morte de 12 civis nos últimos ataques, além de 48 membros do Taliban. O Taliban negou a perda de qualquer militante.

A polícia e os oficiais locais negaram os números divulgados pela OTAN. O ministro do Interior do Afeganistão, Zmarai Bashir, confirmou a BBC a morte de 40 civis e 20 militantes do Taliban, enquanto outro oficial do governo, que pediu para não ser identificado porque, para usar as suas palavras, “iria me causar problemas”, afirmou que pelo menos 60 pessoas haviam morrido. O membro do conselho da província de Kandahar, Bismallah Afghanmal, relatou a Associated Press que mais de 85 civis foram mortos. Outros oficiais locais estimaram o número de mortos entre 60 e 85.

Moradores do Panjwayi disseram que os bombardeios continuaram durante a noite. A população local e os oficiais do distrito descreveram da seguinte maneira a destruição de prédios pelos ataques aéreos: “Os aviões vieram e bombardearam desde as 3 horas da manhã. E ao amanhecer eles começaram a atingir nossa vila com mísseis e canhões. Eles não permitiram que ninguém viesse nos ajudar”.

Uma testemunha contou a Reuters que 25 casas foram demolidas durante quatro ou cinco horas de bombardeio. Algumas pessoas falaram a BBC que muitos corpos foram arrancados dos entulhos de suas casas e queimados.

Um dos nômades sobreviventes (grupo que está entre os cidadãos afegãos mais pobres) disse que 20 membros de sua família foram mortos e 10 ficaram feridos. Ele disse que seu acampamento, que não tinha nenhum vínculo com o Taliban, foi atacado: “Não há nenhum membro do Taliban aqui. Nós vivemos fora da cidade numa área aberta e em tendas, qualquer um pode vir aqui para ver nossas casas, nosso acampamento. Não há Talibans aqui. Todos nós somos nômades que moramos em barracas. Todas às vezes eles dizem que foi um erro. Eles nos destruíram com esses erros. Pelo amor de deus, venham e vejam a nossa situação!”

Esta frase foi entoada por Afghanmal, conselheiro da província de Kandahar, que continuou o seu desabafo: “esse tipo de coisa tem acontecido muitas vezes e eles apenas dizem, ‘Desculpe-nos’. Como você compensa pessoas que perderam seus filhos e filhas? O governo e a união falaram às famílias que não havia mais Talibans naquela área. Se não há mais Talibans, então porque eles bombardearam a área?”

O Prefeito Luke Knitig, porta-voz da Força de Assistência à Segurança Internacional (ISAF) da OTAN, disse que as tropas da OTAN se realizaram naquele dia uma intensa luta contra rebeldes com três ataques aéreos sucessivos em Panjwayi.

Centenas participaram de um funeral em massa das vítimas dos ataques, dois dias depois dos bombardeios da OTAN. Muitos dos parentes das vítimas culparam tanto a OTAN quanto o governo do presidente Karzai pelas mortes.

Um dos parentes, Abdul Aye, que teve 22 membros de sua família mortos pelos ataques da OTAN, disse: “todos estão muito nervosos com o governo e com a união. Não havia Talibans.”

Taj Mohammad, outro morador, disse que não havia militantes e que pessoas inocentes foram mortas. Mohammad disse que 10 dos seus parentes foram mortos no último ataque.

Um oficial da OTAN disse mais tarde que a enorme diferença em relação à quantidade de mortos pode ser decorrer exatamente do fato dos rebeldes serem “confundidos com cidadãos comuns”. O oficial não identificado frisou que as bombas lançadas pela OTAN não se desviaram de seu caminho. o assistente da ONU em missão no Afeganistão disse que estava “extremamente preocupado” em relação a isso.

A mais recente atrocidade cometida contra cidadãos afegãos foi o assassinato de cerca de 26 pessoas em menos de uma semana, ocorridas antes das operações da OTAN em Kandahar e na província vizinha de Helmand.

O Presidente Hamid Karzai anunciou a criação de uma comissão de investigação formada por oficiais da OTAN e alguns membros mais velhos das comunidades e das tribos. O secretário de Karzai afirmou que seus investigadores poderiam formular sugestões sobre como prevenir tais “infelizes” incidentes no futuro e assegurar uma “melhor coordenação com forças internacionais”. A investigação deve ocorrer no prazo de uma semana.

Em uma conferência com a imprensa ele não se esforçou em prestar nenhum esclarecimento sobre as mortes, falando apenas do número de civis mortos. Mas admitiu que pilotos estrangeiros nem sempre conseguem distinguir militantes do Taliban de civis.

Para sustentar a farsa de um governo soberano em Kabul, a conferência com a imprensa foi acompanhada de perto por um membro da OTAN, Mark Laity, que defendeu: “nós temos regras rígidas de compromisso mas, às vezes, as coisas dão errado... O Presidente Karzai muito corretamente quer que nós tomemos o máximo de cuidado. E é isso o que nós faremos.”

A fraqueza de Karzai antes do apoio dos Estados Unidos está sendo explorada pelas milícias islâmicas. Em recente pronunciamento, o líder do Taliban recusou a proposta de negociação feita por Karzai em 27 de outubro, e chamou seu governo de “governo fantoche”: “nós dizemos até hoje que não há possibilidade de conversa quando o país está ocupado”. E prosseguiu dizendo: “qualquer conversa com agressores significaria vender o país”.

Karzai reiterou aos repórteres que ele estava pronto a negociar com o fugitivo, o líder do Taliban, Mullah Omar, se ele parasse de receber apoio do país vizinho, o Paquistão. Karzai diz que Omar está escondido na cidade paquistanesa de Quetta, enquanto o Paquistão afirma que Omar está no Afeganistão.

Acredita-se que durante os últimos dois anos centenas de apoiadores do Taliban, incluindo alguns oficiais veteranos, se “reconciliaram” com o governo, mas parece não ter ocorrido nenhuma negociação com os líderes do grupo islâmico.

Forças da OTAN têm frequentemente realizado ataques aéreos no Afeganistão no último ano. De acordo com uma instituição de direitos humanos de Nova Iorque, o Comando Central dos Estados Unidos confirmou a realização de 340 ataques aéreos em junho no Afeganistão, o dobro dos 160 ataques desferidos contra o Iraque no mesmo mês.