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Alemanha: Siemens-BenQ e o papel dos sindicatos

Por Dietmar Henning
7 Noviembre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 27 de outubro de 2006

Numa assembléia de trabalhadores realizada na semana passada, os interventores da fábrica BenQ Telefones Celulares anunciaram a demissão de quase 2.000 dos 3.000 trabalhadores da empresa. Logo depois da assembléia, a direção distribuiu as cartas de demissão informando aos trabalhadores que não viessem ao trabalho na semana seguinte.

Há um ano, a Siemens - uma das maiores companhias de eletrônicos e engenharia do mundo, com uma história de mais de 150 anos - vendeu sua seção de telefonia celular à companhia de Taiwan BenQ, que cancelou, no fim de setembro, todos os seus pagamentos à subsidiária alemã.

Na fábrica da empresa em Kamp Lintfort, no estado de North Rhine-Westphalia, 1.100 dos 1.800 trabalhadores foram demitidos e, em Munique, 850 dos 1.300 trabalhadores perderam seus empregos. Muitos trabalhavam há mais de 20 anos nas ex-fábricas da Siemens.

Segundo o interventor, Martin Prager, o futuro é incerto para aqueles que continuam trabalhando. Ele afirma que “o mercado decidirá se o conceito de enxugamento empresarial tem alguma chance ou não”.

A novidade não é a crueldade com que antigos trabalhadores da fábrica são demitidos. O que aconteceu em Kamp Lintfort e em Munique demonstra, acima de tudo, ao que conduzem as políticas - compromissos permanentes, novas concessões, promessas vazias - de “curto prazo” dos sindicatos. A conseqüência é a aceleração da destruição dos empregos, ao invés de assegurá-los. A recompensa pela aceitação de todas as concessões, incluindo jornadas de trabalho mais longas e cortes de benefícios, é uma facada nas costas.

Os lamentos do Betriebsrat (comissão de fábrica formada pela conciliação entre o sindicato e a empresa) e dos diretores do sindicato, suas impotentes reivindicações por “responsabilidade social” à ex-proprietária Siemens, não conseguem esconder o fato de que a venda dos serviços de telefonia celular à BenQ no ano passado foi uma farsa. Os sindicatos e conselhos de fábrica integram a comissão supervisora da companhia e sabiam de todos os seus planos.

A BenQ e a Siemens só conseguem agir com tamanha dureza porque podem contar com a cooperação do sindicato IG Metall e dos conselhos de fábrica. O presidente do Conselho Central de Fábricas da Siemens, Ralf Heckmann, ocupa uma das três cadeiras da superintendência da comissão supervisora, junto ao ex-presidente da comissão, Heinrich von Pierer, e ao Presidente do Deutsche Bank, Josef Feldman. Existem razões para que o representante do conselho de fábrica não tenha passado qualquer informação sobre a atitude dos assim chamados “delegados dos trabalhadores” em relação ao aumento no milionário salário do chefe-executivo da Siemens, aprovado pela comissão executiva da empresa.

Há dois anos, quando o sindicato e o conselho de fábrica assinaram um acordo que aumentava a jornada de trabalho semanal de 35 para 40 horas, sem aumentar os salários, eliminava o bônus de Natal e o pagamento de férias para os trabalhadores do setor de telefonia celular da Siemens, seus dirigentes falaram que os sacrifícios eram inevitáveis necessários para preservar os empregos. Na realidade, esses cortes foram o primeiro passo em direção à venda total do setor, uma prática que vem sendo realizada permanentemente em outras áreas pela nova administração, que está sob a responsabilidade de Klaus Kleinfeld.

Kleinfeld foi indicado para substituir Heinrich von Pierer como diretor da Siemens, a fim de forçar a reestruturação da maior empresa industrial da Alemanha, buscando atender os interesses dos acionistas, processo já iniciado por Pierer. Kleinfeld já tratava disso nos EUA, onde lutou decididamente durante anos pelo “lucro do acionista”.

“Eu assumo a responsabilidade de garantir que dentro de 18 a 24 meses todos os setores da empresa estejam em ordem”, anunciou Kleinfeld em abril de 2005, três meses depois de ter assumido a posição de CEO (Chief Executive Officer - diretor-executivo). Para Kleinfeld, “pôr em ordem” significa reestruturar de acordo com os interesses dos acionistas. “Nunca um chefe da Siemens seguiu as exigências dos mercados de capital de maneira tão resoluta - e arriscou sua sorte pessoal nisso”, afirmou, no começo do ano, o principal jornal financeiro da Alemanha, Das Handelsblatt.

Os analistas estão muito interessados, continuou o jornal. “Kleinfeld fez um bom trabalho até aqui”, afirmou um acionista. Áreas em crescimento, como energia, medicina e tecnologia industrial, têm sido fortalecidas por aquisições como a Austrian VA Tech, a especialista em geração de energia eólica Flender, a companhia de tecnologia medicinal CTI Molecular Imaging.

Na condição de chefe da Siemens, Kleinfeld gastou mais de 4 bilhões de euros em aquisições nos primeiros nove meses. “O desmantelamento de empregos em setores problemáticos, como o de Serviços de Negócios Siemens (SBS) e o do grupo de comunicações, está se desenvolvendo de maneira relativamente fácil”, comentou um analista.

Kleinfeld anunciou que a meta de lucratividade é de 5 a 11 por cento, sem incluir juros e taxas. Aqueles setores que não atingirem essa meta serão vendidos e depois fechados, evitando assim que a Siemens tenha que arcar com altos custos originados pelas demissões.

Os acionistas agradecem. No último ano financeiro, a Siemens elevou seus dividendos a 1,35 euro por ação, repassando cerca de 1.2 bilhão de euros a seus acionistas. A maioria das ações está nas mãos de investidores institucionais internacionais.

Os sindicatos e conselhos de fábrica formam parte desta “política de consolidação” em todos os níveis. Mesmo quando iniciou o último capítulo da falência da BenQ, o IG Metall estava andando de mãos dadas com a Siemens, auxiliando a liquidação da seção de telefonia celular.

O diretor do IG Metall em North Rhine-Westphalia, Detlef Wetzel, exigiu que a Siemens apresentasse um abrangente programa de ajuda emergencial aos trabalhadores da BenQ. Os governos dos estados da North Rhine-Westphalia e da Bavária sustentarão metade dos custos de reciclagem para aqueles que estiverem perdendo seus empregos. Tal “reciclagem”, cujo financiamento é estimado pelos interventores em 100 milhões de euros, é apenas uma transição ao desemprego.

A Siemens está realizando a mesma sistemática em outros setores da empresa. Na semana passada, a direção da empresa anunciou que a subsidiária dos Serviços de Negócios Siemens (SBS) será fundida com outras seções e formará a IT Soluções e Serviços Siemens (SIS). No ano que vem, aproximadamente 1,5 bilhão de euros serão economizados apoiando-se sobre as costas de 43.000 trabalhadores. Somam-se a esses outros 5.400 empregos que deverão ser cortados em todo o mundo.

Ao longo das últimas semanas, a Siemens vem negociando com o IG Metall o aumento de duas horas na jornada de trabalho semanal de 12.000 trabalhadores na Alemanha e o corte de 10 por cento do salário. Isso representará um ganho adicional para a Siemens de algo em torno de 100 milhões de euros. A maioria das discussões já foi finalizada, mas seu anúncio foi adiado por causa do risco de uma reação explosiva dos trabalhadores.

Divisões dos negócios dos SBS já foram vendidas à Fujitsu Siemens Computers (FSC). Assim que a companhia subsidiária FSC anunciou seus resultados, declarou-se que empregos seriam cortados. Como o movimento de vendas e as projeções de lucros para o próximo ano financeiro estão em perigo, mais ou menos 300 empregos serão extintos neste ano.

No último verão, o chefe da FSC, Bernd Bischoff, exigiu que a jornada semanal de trabalho passasse de 35 para 40 horas nas fábricas alemãs da FSC, em Augsbourg e Soemmerda, e que os bônus de férias e Natal fossem eliminados. As negociações com os conselhos de fábrica continuam.

Também está à venda a divisão de Dispositivos para Casa e Escritório Siemens (SHC), que fabrica telefones sem fio em Bocholt, onde 2.000 dos 3.000 trabalhadores serão afetados.

Na fábrica de Berlim da Bosch Siemens Aparelhos Domésticos (BSH), que também está sob a ameaça de ser fechada, o sindicato e a direção da empresa chegaram a um acordo que segue o mesmo modelo. Em maio de 2005, a companhia anunciou que fechará a sua unidade produtiva em Berlim até o final de 2006.

A BSH é considerada a líder da indústria da Europa. Desde 2001, sua movimentação mundial de mercadorias cresceu cerca de 25%, chegando a 7,3 bilhões de euros, com um saldo positivo de 386 milhões de euros. Apesar deste crescimento, custos com a folha de pagamento não cresceram menos de 5 por cento.

A direção da BSH, como a de toda a empresa Siemens, quer transferir a produção para países onde a força de trabalho é mais barata. Em Berlim, um trabalhador recebe aproximadamente 1.600 euros por mês. Há apenas alguns quilômetros de distância, em Nauen, na ex-Alemanha Oriental, os trabalhadores da fábrica da BSH trabalham 43 horas semanais e seus salários são 25% mais baixos (cerca de 1.200 euros), tudo com o consentimento do sindicato.

Um pouco mais adiante, na direção leste, a situação torna-se ainda mais lucrativa para a BSH. Na fábrica em Lodz, na Polônia, os salários são de aproximadamente 400 euros por mês. Em Wuxi, na China, onde a BSH fabrica máquinas de lavar roupas, os trabalhadores recebem menos de um décimo do salário dos trabalhadores de Berlim.

Os sindicatos rejeitam qualquer luta internacional. Eles não são capazes nem mesmo de promover a solidariedade entre os trabalhadores das diversas regiões da Alemanha. Todavia, os trabalhadores de Berlim estão determinados a defender seus empregos. Eles estão em greve desde o dia 25 de setembro para impedir o fechamento da fábrica.

O IG Metall assinou agora um acordo com a direção da empresa que prevê a demissão de 220 dos 570 trabalhadores ligados à produção. Além dos 220, 80 trabalhadores continuarão trabalhando no setor de desenvolvimento e em outros setores da matriz, na capital alemã.

Com base no conhecido argumento de “assegurar seus empregos até 2010”, os trabalhadores que continuam trabalhando são obrigados a aceitar o corte de 20% em sua renda, o que inclui reduções nos pagamentos de férias e bônus de natal. Em alguns setores, há o aumento da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

O sindicato se esforça em bloquear toda luta comum dos trabalhadores da Siemens nos mais diversos setores da empresa. Uma prova disso é a grande manifestação que foi organizada na semana passada pelos trabalhadores de todas as fábricas afetadas da Siemens - com a expectativa de participação de mais ou menos 10.000 pessoas - depois da assinatura do acordo entre o sindicato e a direção da empresa.