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Protestos exigem a retirada das tropas canadenses no Afeganistão

As questões políticas da luta contra a guerra

Pelo Socialist Equality Party (Canadá)
7 Noviembre 2006

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O seguinte manifesto foi lançado pelo Socialist Equality Party [Canadá] para distribuição nas manifestações que ocorreram no último domingo, 28 de outubro, em diversas cidades do país exigindo a imediata retirada de todas as tropas canadenses do Afeganistão.

Dois mil e trezentos soldados das Forças Armadas Canadenses, apoiados por tanques de guerra e aviões da OTAN, estão travando uma guerra de colonização no sul do Afeganistão, tendo a colaboração do regime de Hamid Karzai, apoiado pelos EUA.

No mês passado as tropas canadenses mataram centenas de pessoas no distrito de Panjwayi, que haviam protestado contra a polícia afegã e as forças de segurança locais, que os vêm extorquindo, roubando e abusando sexualmente. Esta semana ocorreu uma nova atrocidade: aeronaves da OTAN mataram dezenas de moradores em Panjwayi e em Pashmul, um distrito da província de Kandahar,.

A missão canadense no Afeganistão está diretamente ligada à ocupação norte-americana ilegal no Iraque. O aumento do pessoal das Forças Armadas Canadenses [FAC] no sul do Afeganistão ocorreu a partir de um pedido de Washington, com o claro objetivo de possibilitar que o Pentágono concentre as suas forças na ocupação do Iraque.

Os canadenses estão indignados com o empenho de seus governantes em ajudar o governo Bush a se desvencilhar da armadilha que ele próprio armou para si no Iraque, e pelas atrocidades cometidas pelos E.U.A. e que acabam manchando a imagem do Canadá. Entretanto, a imprensa e as instituições políticas têm apoiado com entusiasmo a missão de combate aos rebeldes levada a cabo pelas FAC no Afeganistão, saudando-a como uma prova de que o Canadá mais uma vez atua nos assuntos internacionais.

Em maio passado o parlamento endossou a minoria conservadora nos planos do governo de prolongar a missão das FAC no sul afegão por pelo menos mais dois anos, até o início de 2009, e incluir o Canadá no comando geral da ocupação da OTAN no Afeganistão durante um ano, iniciando em fevereiro de 2008.

Sem dúvida, em meio às questões que levaram Ottawa a ocupar um papel mais importante na guerra contra os rebeldes afegãos está o fato de o Afeganistão se localizar próximo aos países da Ásia Central que possuem vastas reservas de petróleo e gás natural. Jean Chretien, o primeiro ministro liberal que em 2001 foi o primeiro a enviar tropas canadenses ao Afeganistão, tem se esforçado, desde que se retirou do cargo, em para assegurar a participação de empresas canadenses em projetos de oleodutos que poderiam acessar as reservas de energia na Ásia Central através do Afeganistão.

Mas as CAF já estão se preparando para futuras guerras. Isso representa a repetição do caminho traçado pelos E.U.A., no qual a invasão do Afeganistão significou o ponto de partida para a guerra do Iraque. Por meio da atual ocupação no Afeganistão, as elites policial e empresarial canadenses estão procurando assumir um caráter militarista, tentando acostumar a população às fatalidades da guerra, justificando uma rápida expansão e rearmamento do exército. Em particular, os mais poderosos setores da elite dominante canadense estão determinados a pôr fim à idéia de que o Canadá é uma “nação pela paz”. Isso representa um obstáculo aos seus planos de usar as CAF para conquistar de modo violento os seus interesses predatórios no cenário mundial.

A continuidade da guerra colonial de combate aos rebeldes, conduzida pelas CAF no Afeganistão, representa um significativo e ameaçador movimento político. Desde a Guerra da Coréia há tropas terrestres canadenses envolvidas em operações de guerra.

Mas, assim como os planos sócio-econômicos do governo Harper, que prevêem o aumento de taxas e os cortes nos serviços públicos e sociais, têm sido elaborados pelas políticas de direita postas em prática pelo governo liberal de Chretien-Martin e apoiados nos níveis locais por todos os partidos, inclusive pelo sindicato ligado ao New Democratic Party e ao Parti Quebecois, a atual missão no Afeganistão também já vinha sendo estimulada pelo governo federal. Nos últimos quinze anos, o Canadá tem se envolvido frequentemente em guerras ou operações militares de repressão, incluindo a Guerra do Golfo em 1991, a sanção de 12 anos da ONU contra o Iraque, a campanha de bombardeamento da Iugoslávia pela OTAN em 1999 e a invasão do Afeganistão em 2001. Na última hora o governo liberal de Chretien decidiu não enviar tropas das CAF em apoio à invasão dos EUA no Iraque. Apesar disso, o apoio logístico do Canadá à invasão é tão expressivo que o embaixador norte-americano, Paul Celluci, chegou a declarar que o Canadá fez mais pela ocupação liderada pelos EUA que muitos membros da “coalizão” de Bush. Em fevereiro-março de 2004, tropas canadenses foram enviadas juntamente com as tropas do exército da França e dos EUA para assegurar a expulsão do presidente eleito do Haiti, Jean-Bertrand Aristide.

O SEP apóia as manifestações contra a guerra realizadas no dia 28 de outubro e a reivindicação da imediata retirada de todas as tropas canadenses do Afeganistão. Mas nós desconfiamos da liderança do movimento, que vem dizendo aos trabalhadores e à juventude que o militarismo pode ser combatido através do sistema político existente e que o governo canadense pode ser pressionado a agir como uma força democrática de paz no âmbito internacional.

A luta contra a guerra imperialista está ligada a uma luta contra toda a estrutura político-social do Canadá e do mundo capitalista como um todo.

Nos 15 anos decorridos desde o fim da Guerra Fria, as prometidas paz e prosperidade não se realizaram. O que ocorreu, ao invés disso, foi a continuidade das guerras como um instrumento das políticas de Estado e a degradação permanente das condições de vida da classe trabalhadora e a perda dos direitos democráticos.

Estes dois fenômenos são, na verdade, expressões da mesma crise do sistema. Empresas transnacionais varrem o mundo em busca de recursos naturais e mão-de-obra barata para exploração. Organizados numa escala global, elas transferem sistematicamente a produção para os locais onde o trabalho é mais barato. A guerra contra a classe trabalhadora constitui a expressão consumada da permanente e crescente busca por parte das empresas por lucros e novos investimentos.

Da mesma forma, grupos capitalistas rivais lutam entre si, procurando melhorar sua posição por meio de alianças econômicas e geopolíticas, tentando dominar, através do controle econômico, político e militar, os recursos naturais essenciais e as regiões estratégicas.

Por meio das guerras, cujo objetivo é assegurar sua dominação sobre os suprimentos de petróleo do planeta, os Estados Unidos - o mais poderoso país capitalista do mundo - têm acabado com o sistema de relações internacionais e alianças multilaterais que eles próprios tinham ajudado a criar num período anterior, quando visavam amenizar os antagonismos inter-imperialistas e fundamentar a sua própria dominação. Isso serve para confirmar que a crise atual tem um caráter sistêmico.

Em conseqüência da guerra de pilhagem ilegal dos EUA no Iraque, todas as grandes potências voltaram a se armar. A geopolítica mundial está caracterizada por um estado de fluidez, rivalidade e inquietação não vistas desde 1930. Mesmo onde as grandes forças capitalistas parecem se aliar, como na campanha contra o Iraque e seu programa nuclear, há grandes tensões em ebulição submersas logo abaixo da superfície.

Todas as instituições norte-americanas reconhecem que a guerra no Iraque transformou-se num fracasso de proporções históricas. No entanto, a elite dos EUA é unânime em afirmar que não há possibilidade de retorno. Isso foi claramente demonstrado essa semana, quando o New York Times, o tradicional órgão do liberalismo norte-americano, publicou um editorial pedindo a intensificação da guerra no Iraque. De acordo com o Times, a retirada dos EUA poderia gerar “terríveis conseqüências” - ou seja “terríveis conseqüências” para o imperialismo norte-americano.

O receio do Times e de toda a elite americana é que a classe trabalhadora dos EUA, que, submetida a uma liderança burucrática, enrijecida e profundamente anti-socialista, sofreu um catastrófico declínio em sua posição social e está sendo cada vez mais afastada de toda a estrutura política, incluindo o Partido Democrata - o partido da classe dominante que se portou como um amigo do homem comum.

Como uma força imperialista de segundo ou terceiro nível, o capital canadense precisa casualmente ceder, ou até mesmo se ajoelhar, frente ao seu poderoso vizinho do sul. Mas seus instintos e ambições não são diferentes.

O Canadá foi um dos grandes países beligerantes nas duas grandes guerras imperialistas mundiais do século passado. Seus governantes estão determinados a sentar na mesa numa futura divisão do mundo. Neste mês, num grande discurso sobre a política internacional realizado em Calgary, Harper afirmou, na condição de primeiro-ministro: “dê só uma olhada na sala, nós estamos em meio a canadenses que dirigem empresas que negociam em todos os cantos do planeta”. No mesmo discurso, Harper declarou que as fatalidades enfrentadas pelas tropas no Afeganistão representam “o preço” por reativar a “liderança canadense no mundo”.

O National Post, o jornal mais próximo do governo atual, proclamou abertamente que Ottawa deveria pressionar Washington para aceitar a proposta feita pelo Canadá da cessão de uma vasta porção do Oceano Ártico potencialmente rica em minerais, em troca do apoio do Canadá aos EUA em outras partes do mundo.

Nos últimos vinte e cinco anos, a liderança da classe trabalhadora - sindicatos e os social-democratas do NDP - têm bloqueado a luta de classes, impondo a degradação das condições de trabalho, a redução dos salários, além de sabotar as manifestações dos trabalhadores contra a destruição dos serviços públicos e sociais. Eles têm sido cúmplices no militarismo característico da burguesia canadense. O NDP apoiou as sanções impostas pela ONU ao Iraque durante uma década, mesmo que estivesse custando a vida de centenas de milhares de iraquianos. Ele colaborou com a guerra contra a Iugoslávia liderada pela OTAN, e antes de agosto deste ano apoiou a intervenção militar do Canadá no Afeganistão. Na realidade, o NDP estava apoiando o governo liberal de Paul Martin no parlamento quando decidiu enviar as CAF para travar a guerra no sul do Afeganistão. Mesmo agora o NDP apóia a manutenção das tropas canadenses em Kabul.

Tanto o Bloc Quebecois quanto o partido indépendantiste, apoiado pelos sindicatos de Quebec, têm denunciado a reivindicação do NDP da retirada das tropas canadenses do Afeganistão como “irresponsável”.

Os sindicatos e o NDP estão tentando agora colocar-se à frente - ou ao menos se associar à liderança - do movimento contra a guerra. Tanto o NDP quanto o BQ esperam angariar votos apelando à oposição a Harper e a Bush. Mas ambos estão igualmente interessados em bloquear o movimento contra a guerra.

Estes partidos e os sindicatos uniram-se em torno da reivindicação pelo retorno às “políticas estrangeiras independentes” almejadas pelos governos liberais das décadas de 1960 e 1970.

A realidade é que durante a Guerra Fria o Canadá foi parceiro da OTAN e do NORAD [Comando de Defesa do Espaço Aéreo Norte Americano]. A “manutenção da paz” era um meio para a elite dominante canadense ganhar algum prestígio no cenário mundial, em busca dos interesses do capital canadense, e um importante meio para re-estruturar o nacionalismo canadense, a fim de torná-lo um instrumento mais efetivo no controle dos trabalhadores, atendendo os interesses da classe dominante.

A luta contra a guerra não avançará por meio de apelos aos políticos capitalistas e à classe dominante, ou contrapondo o programa da burguesia de hoje com seus programas de ontem.

Ao invés disso, é necessário uma mobilização política da classe trabalhadora independente da burguesia com um programa socialista e internacionalista. A guerra imperialista e a guerra aos trabalhadores e aos direitos democráticos estão fundamentadas na crise do sistema. Uma luta é inseparável da outra, e ambas requerem a mobilização internacional da classe trabalhadora contra a dominação da economia mundial por grandes empresas privadas e a divisão do mundo num sistema de Estados rivais.

Os trabalhadores do Canadá têm uma longa história de luta comum com os trabalhadores dos EUA e a sua integração com a economia norte-americana lhes impõe uma especial responsabilidade em apoiar os trabalhadores dos EUA para derrubar o Partido Democrata e organiza-los como uma força política independente em oposição ao imperialismo dos EUA.

É por esse programa que o SEP e o World Socialist Web Site lutam.