O Partidos dos Trabalhadores, PT, partido do presidente Luís
Inácio Lula da Silva, nasceu nas grandes greves metalúrgicas
de 1978-80. Lula, então dirigente do sindicato dos metalúrgicos
de São Bernardo, cidade industrial do estado de São
Paulo, liderou aquelas greves históricas que chegaram a
realizar assembléias de aproximadamente 100.000 operários.
A principal daquelas greves, a de 1980, estendeu-se por todo o
estado de São Paulo atingindo as diversas regiões
industriais, entre elas, aquela de Ribeirão Preto, um dos
mais ricos pólos comerciais e industriais do Brasil. Nessa
região situa-se um importante centro da Universidade de
São Paulo, a principal do país. Em 1980, lá
estudava medicina o jovem Antônio Palocci Filho, futuro
ministro da economia do presidente Lula em 2003. Naquela época,
no entanto, Palocci, apenas um jovem estudante, militava no grupo
clandestino intitulado Organização Socialista Internacionalista
(OSI), seção brasileira do CORQUI (Comitê
de Reconstrução da Quarta Internacional), fração
de Pierre Lambert, que se propunha "reconstruir" a IV
Internacional fundada por Trotsky. Sabe-se que esse CORQUI nada
fez para a construção da IV Internacional, mas,
sem dúvida, foi o campeão entre os setores trotsquistas
traidores que ajudaram a construir o Partido dos Trabalhadores
liderado por Lula. Basta lembrar que do atual governo de Lula,
participam ou participaram diversos ex-"trotsquistas"
lambertistas como Palocci, entre eles, lembramos, Luís
Gushiken, ex-ministro que recentemente também caiu por
denúncias de corrupção.
Quem conheceu aquele Palocci dos anos 80, lembra de um estudante
conciliador, bastante tímido, que nem sequer era apontado
para falar nas assembléias estudantis em nome da tendência
a que pertencia, a Liberdade e Luta. Porém, com o desenvolvimento
do Partido dos Trabalhadores e com a adesão oportunista,
sem críticas, da OSI a esse partido centrista, logo, o
medíocre Palocci começou a sua brilhante carreira,
sempre se mostrando hábil nos bastidores e sempre galgando
cargos e poder. Disputou em 1988 as eleições para
vereador de Ribeirão Preto e foi um dos mais votados. Dois
anos depois, em 1990, sem cumprir integralmente o mandato de vereador
de quatro anos, foi eleito deputado estadual. Em 1992, mais uma
vez, sem cumprir o mandato, foi eleito prefeito de Ribeirão
Preto. Esse foi o único mandato completado integralmente
por Palocci. Em seu governo, logo aquele ex-seguidor de Lambert,
surpreendeu a todos pela ousadia capitalista: privatizou parte
da companhia telefônica local e concedeu à iniciativa
privada o tratamento de esgoto da cidade, mostrando-se um grande
negociador e amigo do empresariado local. Nessa época foi
criando uma equipe de empresários e amigos que hoje são
conhecidos como a "gangue de Ribeirão Preto".
Palocci terminou a sua primeira gestão de prefeito em 1996.
Naquele ano, ainda não era permitida a reeleição
para cargos executivos, somente aprovada em 1998 pelo Congresso
Nacional. Assim, em 1997, foi eleito presidente do PT do Estado
de São Paulo. Nas eleições de 1998, já
utilizando os recursos da "máquina partidária"
do PT, Palocci foi eleito deputado federal com votação
expressiva: cerca de 100.000 votos. Mais uma vez, não completou
o mandato. Em 2000, candidatou-se novamente para a prefeitura
de Ribeirão Preto, sendo eleito com grande facilidade.
O uso da poderosa máquina partidária já transpareceu
nessa eleição de maneira acintosa. Palocci venceu
a eleição, no primeiro turno, tendo como publicitário
de campanha, nada menos que Duda Mendonça, um dos mais
caros propagandistas políticos do país. Os rumos
ideológicos do ex-esquerdista ficavam já bem claros
nessa campanha: o seu vice-prefeito era o presidente da Associação
Comercial e Industrial, e quando assumiu o governo, colocou um
banqueiro em uma das secretarias municipais. Cercado pela sua
"gangue de empresários" que crescia sempre, Palocci
transitava bem nos meios financeiros e ganhava fama de grande
administrador.
Mas, a fase decisiva que o levaria ao ministério da
Economia de Lula só começa em 2002. Celso Daniel,
prefeito de Santo André, era o indicado para comandar a
campanha presidencial do candidato Lula, mas eis que acontece
o incidente até hoje não esclarecido: Celso Daniel
foi assassinado em um seqüestro considerado crime comum pela
polícia. Teria sido crime comum ou político? Até
hoje pairam sérias dúvidas. Basta dizer que após
a morte de Celso Daniel, seis testemunhas envolvidas no caso também
foram assassinadas. Seja como for, com a morte de Celso Daniel,
Palocci assume a coordenação da campanha do então
candidato à presidência Luiz Inácio Lula da
Silva. Com a vitória de Lula, Palocci assume a coordenação
da equipe de transição e, logo depois, para surpresa
geral, já que ele é médico de formação,
foi nomeado ministro da Economia.
Qual foi então a sua política econômica?
Decepcionando totalmente os sindicatos, as bases do PT, e setores
do empresariado nacional, surpreendeu favoravelmente até
os mais otimistas técnicos e seguidores do Fundo Monetário
Internacional: continuou a política econômica de
grande austeridade do governo Fernando Henrique Cardoso, e até
aprofundou todas as medidas impopulares já praticadas a
mando do FMI, tais como os juros altos, o combate à inflação,
os cortes sociais, a reforma da previdência, e o pagamento
até adiantado da dívida externa. A tal ponto chegaram
as suas medidas impopulares que setores do próprio PT,
temendo pelo resultado das próximas eleições,
começaram a pressionar pela sua saída. No entanto,
sustentado pelos banqueiros e pelo capital internacional, Palocci
continuava firme no seu cargo, sendo defendido pela oposição
burguesa. Assim, no auge de crise do governo Lula, no segundo
semestre de 2005, sob o fogo de denúncias de corrupção
que ameaçavam até o impeachment do presidente, era
ele, Palocci, que aparecia como o intocável: aquele que
seria a melhor ou até a única parte boa do governo
Lula. Assim é que caiu o ministro chefe da casa civil,
José Dirceu, o outro homem forte de Lula, e Palocci, ao
contrário, aparecia como até possível candidato
à sucessão de Lula.
No entanto, paradoxalmente, o intocável Palocci, apoiado
pelo sistema financeiro internacional e pelo grande capital, apoiado
pelos partidos burgueses de oposição, apoiado e
considerado intocável pelo próprio Lula, viria a
tombar pela podridão do seu passado que transitou para
o presente. Os primeiros ataques viriam da própria "gangue
de Ribeirão Preto", aquela que o ajudou na sua subida
meteórica, mas que, talvez, nos últimos tempos,
tenha sido esquecida um pouco pelo poderoso ministro. Um ex-sócio
da gangue, Burati, começou as denúncias. Palocci
inicialmente resistiu e negou durante um certo tempo todas as
denúncias, mas, fatos escandalosos começaram a surgir.
Hoje se sabe que quando Lula chegou ao governo, em 2002/3, a "gangue"
alugou uma mansão em Brasília que servia para fazer
lobby de empresários junto ao governo e junto ao próprio
ministério da Economia. Na casa da "gangue" se
faziam negociatas, vendas de favores e corriam malas de dinheiro
vivo. Além disso, ocorriam grandes festas, com empresários,
políticos e prostitutas. Nildo, o empregado que cuidava
da casa, testemunhou que no dia seguinte a cada festa, os quartos
estavam cheios de garrafas vazias de vinho e de whisky importado,
caixas vazias de preservativos e de Viagra. Nildo ainda relatou
que Palocci vinha freqüentemente a essa casa e que chegou
a levar um envelope de dinheiro para o ministro no próprio
prédio do governo. Diante dessas denúncias do simples
e humilde Nildo, a defesa do governo cometeu um grave erro: violou
o sigilo bancário de Nildo para saber se o caseiro não
estava recebendo dinheiro da oposição. Ora, pela
legislação brasileira, violar o sigilo bancário
sem autorização judicial é crime grave que
pode levar a até seis anos de prisão. O escândalo
chegou a tais proporções que Lula voltou a cair
na opinião pública. As eleições se
aproximam e era necessário estancar o escândalo a
qualquer custo. Finalmente, apesar dos banqueiros e do capital
internacional, Lula, contra a sua própria vontade, por
uma questão de sobrevivência, foi obrigado a demitir
o seu ministro mais forte e mais querido pela oposição
e pela burguesia brasileira.
A trajetória de Palocci, desde 1980, sua subida meteórica
e sua queda, desde a sua militância em um grupo que se dizia
trotsquista, passando pela construção do PT, pelas
sucessivas vitórias eleitorais no PT, pelas suas sucessivas
traições e suspeitas de crimes, suas alianças
com os banqueiros e com o capital internacional, até os
escândalos da casa alugada pela "gangue de Ribeirão
Preto", são uma pequena história e uma breve
síntese da profunda crise que assola hoje tanto a chamada
"esquerda" como a dominação burguesa no
Brasil. Vive-se no Brasil o fim de um longo ciclo, do qual Palocci.
é uma parte e um símbolo. Não será
mais possível trair da mesma forma como fez esse ex-lambertista
e os outros ditos "trotsquistas" que ajudaram a construir
o Partido dos Trabalhadores. O PT, por outro lado, não
será mais capaz de iludir os trabalhadores da mesma maneira
como fez durante estes vinte e seis anos. Que fará a burguesia
sem a ajuda do PT e dos seus palocci(s)? Um grande vazio se abre,
chegou a hora da construção de uma nova direção
no Brasil, uma direção verdadeiramente internacionalista
e revolucionária.