Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 27 de maio de 2006.
O senado votou em 23 de maio, por 62 a 36, uma nova versão
de projeto antiimigrante baseada largamente em políticas
de senadores Democratas, que juntaram forças com uma minoria
da cúpula Republicana, no sentido de aprovar essa nova
legislação.
O projeto de lei prevê a concessão de bilhões
para uma série de medidas: a construção de
um muro de quase 600 quilômetros ao longo da fronteira com
o México, pagar novos agentes da patrulha da fronteira,
e financiar novas tecnologias que poderão ser usadas para
prevenir que trabalhadores ilegais obtenham emprego nos Estados
Unidos, restringindo o trabalho de imigrantes a um programa de
trabalho temporário oficialmente sancionado.
Apesar desse projeto de lei ser mostrado pela mídia
como "moderado" e bem "humano" se comparado
com o texto aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro
passado, que define cada imigrante ilegal como delinqüente,
e também criminaliza todos aqueles que prestam assistência
a esses imigrantes, incluindo grupos de caridade que promovem
"sopões", clínicas médicas, serviços
jurídicos e escolas.
As maiores contribuições ao projeto de lei do
Senado foram esboçadas pela liderança Democrata
no Senado, encabeçada por Edward Kennedy, líder
de longa data dos congressistas liberais e principal defensor
de um projeto de lei de "compromisso", que pudesse ter
o apoio de um considerável número de Republicanos.
Os esforços de Kennedy foram recompensados assim que 21
Republicanos juntaram-se a 41 Democratas e um independente pró-Democrata
para aprovar o texto. O senador republicano John McCain foi o
principal co-patrocinador do texto, e a Casa Branca de Bush deu
a ele seu tácito apoio.
O resultado, entretanto, é uma legislação
abominável e reacionária, em muitos aspectos muito
mais antidemocrática que o projeto de lei aprovado na Câmara.
Ambos os projetos são animados pelo espírito de
repressão, tratando trabalhadores ilegais como criminosos
que devem ser punidos, colocando em prática perseguições
em massa, prisões e deportações.
O texto da Câmara dos Deputados foi elaborado para satisfazer
o fanatismo antiimigrante de uma ala ultraconservadora do Partido
Republicano, onde um populismo de direita (incluindo esforços
em transformar os imigrantes em bodes-expiatórios frente
às crescentes dificuldades das condições
dos trabalhadores americanos) combina-se com o dissimulado ou
declarado fanatismo racial e étnico. O texto aprovado pelo
Senado, por outro lado, foi elaborado de acordo com os interesses
do grande capital americano, que deseja permanecer com acesso
a uma reserva de trabalho superexplorado, principalmente na agricultura,
construção civil e indústria alimentícia.
Diferente do texto da Câmara, o projeto de lei do Senado
prevê um programa de trabalho temporário, limitado
a 200.000 trabalhadores por ano, para servir aos interesses do
agro-negócio, e oferece aos imigrantes ilegais que há
mais tempo estão no país uma chance de legalização,
desde que tenham aulas de inglês, paguem impostos e uma
multa substancial. O projeto da Câmara não legalizaria
nenhum trabalhador ilegal, levando à deportação
de uma população estimada em 12 milhões de
pessoas, o que poderia representar uma das maiores transferências
forçadas de populações da história.
A maioria do Senado rejeitou o plano "deportador"
da Câmara como impraticável, citando as dificuldades
de realizar essas deportações em massa, mas propôs
um sistema de legalizações limitadas que pode ser
igualmente impossível colocar em prática. "Apenas"
2 milhões de trabalhadores ilegais poderão ser forçadamente
deportados. De acordo com o plano do Senado, serão deportados
todos aqueles que entraram no país nos últimos dois
anos.
Aqueles que entraram nos Estados Unidos entre dois a cinco
anos atrás, estimados em 5 milhões ou mais, serão
obrigados a retornarem a seus países de origem por, pelo
menos, um dia, para tentar obter um visto e, se ele for aprovado,
serão autorizados a voltar aos Estados Unidos. Trabalhadores
ilegais com mais de 5 anos de residência, cerca de 5 milhões
de pessoas, serão autorizados a permanecer, desde que cumpram
com as complexas e onerosas cláusulas de legalização
da legislação.
Essas cláusulas tornaram-se mais e mais onerosas durante
as ultimas três semanas, quando emendas e mais emendas reacionárias
foram aprovadas em um esforço em tornar o texto do Senado
mais aceitável para os Republicanos da Câmara dos
Representantes.
Uma emenda elevou para 500 dólares a multa a ser paga
pelo mais "privilegiado" grupo de imigrantes, aqueles
com mais de 5 anos de residência, chegando ao total de 3250
dólares, uma soma enorme para trabalhadores que ocupam
a camada mais baixa da força de trabalho norte-americana,
como os mal-pagos porteiros, domésticas, trabalhadores
agrícolas e da construção civil.
Não será permitido participar do programa de
trabalho temporário a nenhum imigrante culpado de desrespeitar
a lei, incluindo contravenção e o descumprimento
a uma ordem de deportação (que significa que cada
"alienígena ilegal" por definição
viola algumas regras da lei de imigração). Para
os primeiros quatro anos, um imigrante empregado sob o programa
de trabalho temporário pode solicitar a residência
permanente apenas com a permissão e o apoio do seu empregador,
deixando esses trabalhadores muito mais vulneráveis à
exploração.
Há numerosas mudanças técnicas nos procedimentos
legais usados para julgar casos de imigração, muitos
dos quais terão o efeito de restringir os direitos de refugiados
e daqueles que buscam asilo, que estão procurando refúgio
nos Estados Unidos para fugir de regimes repressores. Um refugiado
que trabalha usando um registro falso do Seguro Socialalgo
que quase todos os trabalhadores ilegais são obrigados
a fazerpoderá ser considerado culpado de "crime
grave" e sujeito à deportação sumária,
independentemente do tipo de punição que lhe aguarda
no país de origem (como tortura ou mesmo assassinato).
Talvez a mais nefasta emenda, aprovada por 58 a 40, poderá
exigir que todos os empregadores matriculem-se e usem o Basic
Pilot Program, um software desenvolvido pelo Departamento
de Segurança Interna que irá verificar nos banco
de dados da Segurança Social e da Imigração
o status legal dos empregados. Empregadores poderão ser
intimados a entregar os números do Seguro Social dos imigrantes
candidatos a empregos, incluindo todos os cidadãos norte-americanos,
e confirmar se estão legalmente no país.
O resultado poderá ser um enorme banco de dados, controlado
pelo Departamento de Segurança Interna. Esta enorme agência
de vigilância interna foi criada para realizar a "guerra
ao terror" dentro dos Estados Unidos. Isto poderá
ser uma ferramenta potencialmente inestimável para uma
repressão em massa, particularmente quando houver um novo
levante da luta de classes, em que greves operárias e outras
ações da classe trabalhadora poderão indubitavelmente
exercer um papel significativo.
O Senado também aprovou, por 83 a 16, uma emenda proposta
pelo Republicano de extrema-direita Jefferson Davis Session, do
Alabama, pedindo por um muro triplo de quase 600 quilômetros
ao longo da fronteira com o México, e também aprovou,
por 63 a 34, a declaração do inglês como a
"língua nacional" dos Estados Unidos, um simbólico
tapa na cara dos aproximadamente 40 milhões de Hispano-Americanos.
Quando o projeto de lei do Senado foi denunciado por grupos
de imigrantes e de direitos civis, a direção do
partido Democrata o defendeu. O número 2 da liderança
Democrata, Richard Durbin de Illinois, declarou: "Há
muitas coisas ruins nessa lei, mas há também muitas
coisas boas nela".
As atuais chances para a aprovação final do projeto
de lei são muito duvidosas, dada as profundas divisões
no interior do partido Republicano. Na Câmara dos Representantes,
o deputado Speaker Dennis Hastert declarou que ele não
permitirá o voto para qualquer lei de imigração
que não tenha o apoio da "maioria da maioria"ao
menos 116 membros da maioria republicana. Se essa regra for aplicada
no Senado, poderá não ser aprovada nenhuma lei,
já que os Republicanos opuseram-se ao projeto de lei por
32 a 23, e a margem de vitória foi dada pelos Democratas,
que votaram a favor por 41 a 4.
O senador Bill Frist do Tennesse, o líder da maioria,
votou pelo projeto de lei, e disse que ele e sua contra-parte
Democrata, Harry Reid, poderão indicar senadores para um
comitê, requerido para acabar com as diferenças entre
os textos do Senado e da Câmara. Não é certo
que os Republicanos da Câmara dos Representantes irão
concordar em formar o comitê, posto que a liderança
está inflexivelmente contra qualquer forma de legalização
para os milhões de trabalhadores ilegais que estão
agora nos Estados Unidos.
O congressista James Sensenbrenner denunciou as propostas do
Senado como uma "anistia" e chamou o plano do Senado
de "irrealizável". Isto indica que a Câmara
irá aceitar alguma espécie de programa de trabalho
temporário, necessário ao agro-negócio, mas
restrita à demanda que este precisa, importando trabalhadores
rurais e repatriando-os para o México tão logo eles
terminem a colheita.
Não há apenas um único político
do grande capital no CongressoDemocrata ou Republicanoque
sustente os direitos democráticos fundamentais da classe
trabalhadora que vive e trabalha no país que escolheu.