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Batalha marítima: Sri Lanka entra em guerra civil

Por K. Ratnayake
2 Junio 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 13 de maio de 2006.

Cresce o conflito no Sri Lanka, onde os militares e os Tigres de Liberação de Tamil Eelam (LTTE) na última quinta-feira lutaram em uma acirrada batalha naval nos mares próximos a vila de pescadores de Vettilaikerni. Estima-se que cerca de 50 pessoas tenham morrido em ambos os lados. Em retaliação, os militares lançaram uma série de ataques aéreos assim como ataques de artilharia nas posições do LTTE, inclusive no quartel general dos rebeldes, em Kilinochchi.

Embora o governo de Colombo e a mídia terem imediatamente denunciado o LTTE acusando-o de ter iniciado os ataques, o incidente segue uma longa série de provocações realizadas pelos paramilitares anti-LTTE, que trabalham em conjunto com setores dos próprios militares. Apesar de que o cessar-fogo de 2002 ainda esteja em vigor, a existência de uma guerra não declarada no Norte e no Leste da ilha está cada vez mais clara.

De acordo com os militares do país, na quinta-feira à tarde cerca de 15 barcos do LTTE atacaram um comboio naval, composto por um esquadrão com 700 soldados a bordo—o Pearl Cruise II—e quatro navios-patrulha. Na batalha, que durou cerca de 2 horas, uma embarcação do LTTE carregada com explosivos afundou um dos navios de guerra, matando 17 marinheiros, incluindo 2 oficiais e um sinaleiro do exército. Segundo a Marinha, os seus navios-patrulha, com apoio aéreo, destruíram 5 embarcações do LTTE e causaram danos a vários outros barcos, matando ao menos 30 dos rebeldes.

O LTTE acusou a Marinha de atrapalhar os seus exercícios navais e ter provocado o conflito. O grupo diz ter destruído mais uma embarcação militar, que teria afundado próxima a Point Pedro, e afirma ter perdido apenas 4 de suas embarcações. No entanto, a SLMM (Missão de Monitoramento da Sri Lanka, liderada pela Noruega), que tinha observadores no Pearl Cruise, acusou o LTTE de "sérias violações" ao cessar-fogo e de ter realizado uma "operação ofensiva".

O LTTE criticou a SLMM pela sua "parcialidade" e insistiu em seus direitos de realização de exercícios navais. Um comunicado do LTTE aconselhou a SLMM a abandonar as viagens a bordo das embarcações, declarando que " se vocês preferem ignorar nossos avisos, não nos responsabilizaremos pelas possíveis conseqüências".

Ambos os lados vêm se envolvendo em conflitos há alguns meses; a escalada da violência acontece desde a eleição do presidente Rajapakse, em novembro de 2005. Enquanto o governo nega qualquer envolvimento nos ataques ao LTTE, há uma crescente evidência do envolvimento de militares com grupos paramilitares tamil, realizando matanças com a intenção de inflamar as tensões comunais. Em fevereiro deste ano, em Genebra, o governo concordou em implementar cláusulas de cessar-fogo para desarmar as milícias que operam em áreas controladas pelo exército, mas estas cláusulas não têm sido postas em prática.

Na quinta-feira, Jouni Suninen da SLMM disse à Reuters: "nós temos fortes indícios de que parte das tropas do governo estiveram envolvidas nas matanças". Ele levou o correspondente ao local onde a irmã de um suposto membro do LTTE foi assassinada—a apenas 60 metros de uma guarita do exército. Jukka Heiskanen, também da SLMM, recolheu depoimentos de 3 soldados que afirmaram não saber de nada. Considerando as respostas completamente implausíveis, ele disse à agência de notícias: "é ridículo. Eles nem ao menos tentam inventar alguma resposta".

O porta-voz do governo Nimal Siripala de Silva disse ao parlamento esta semana que " o governo condena veementemente as recentes matanças de civis em Jaffna, Vavuniya e Avissawella e irá tomar as ações necessárias para punir os culpados". Estes comentários são também absurdos. Os militares e a polícia criaram áreas de segurança sob o seu controle, regularmente intimidando os tamils, assim como fazendo buscas extensivas para "deter suspeitos de participação no LTTE". Até agora, nenhum envolvido nos desaparecimentos e assassinatos foi preso, e muito menos condenado ou punido.

Os esforços para a realização de novos acordos de paz em Genebra, previstos para o mês passado, não se concretizaram. O enviado especial do Japão, Yasushi Akashi, passou 4 dias na Sri Lanka mas não conseguiu convencer o governo e o LTTE a voltar à mesa de negociação O líder do LTTE V. Prabakharan não deu importância à visita de Akashi ao quartel-general do LTTE em Kilinochchi. O líder político S.P. Thamilchelvan disse a Akashi que o LTTE não participaria até o final dos "ataques das forças armadas da Sri Lanka".

Akashi fala em nome dos membros do chamado processo de paz da Sri Lanka—os EUA, o Japão, a União Européia e a Dinamarca. Recentemente, estes membros vêm adotando uma atitude mais agressiva em relação ao LTTE, ao mesmo tempo que elogiam o governo Rajapakse. Em declarações à mídia, Akashi condenou o ataque do LTTE aos quartéis-generais do exército em Colombo em 25 de abril, e apelou ao governo para que este "garantisse que as forças armadas não fossem além de suas responsabilidades".

Ao fazer isso, os poderosos estão tacitamente permitindo que o governo do país e os militares adotem uma atitude mais provocativa em relação ao LTTE. Akashi lembrou à mídia que os países membros estavam oferecendo um "dividendo de paz" de US$ 4,5 bilhões se a guerra acabasse. Mas o governo da UFPA (Aliança Popular pela Liberdade) e os seus apoiadores extremistas como o JVP (Janatha Vimukthi Peramuna) estão firmes na guerra. A postura de Rajapakse como um homem da paz na realidade tem a intenção de colocar o LTTE como agressor e a reunir apoio militar internacional para destruí-los.

No ultimo fim-de-semana o ministro do exterior do país, Mangala Samaraweera, visitou Nova Déli para realizar conversas com líderes indianos, incluindo o primeiro-ministro Manmohan Singh. Ao mesmo tempo que pede à Índia que solicite ao LTTE para voltar aos acordos de paz, uma das metas principais da missão de Samaraweera é convencer o governo indiano a assinar um tratado de defesa entre os dois países. Em dezembro de 2003, o general Lionel Balagalle publicizou detalhes do pacto proposto, revelando planos de cooperação militar extensiva nas áreas de inteligência, suporte aéreo e operações navais conjuntas que aumentariam significativamente a capacidade militar do governo par derrotar o LTTE.

O acordo foi suspenso depois da oposição vinda de partidos do estado indiano de Tamil Nadu, que são simpáticos ao LTTE. Apesar da política de Tamil Nadu ser um fardo a ser considerado, o governo indiano é hostil ao LTTE e teme que qualquer vitória do LTTE terá uma influência desestabilizadora no subcontinente. Samaraweera conversou com o Ministro da defesa indiano Pranab Mukherjee sobre o acordo, mas não recebeu nenhuma confirmação. Apesar de não haver nenhum acordo formal, os militares indianos sem dúvida estão cooperando com os militares da Sri Lanka. A imprensa indiana divulgou que navios de guerra indianos podem ter aparecido na batalha da última quinta para assustar o LTTE.

A falsidade da postura de paz que o governo de Rajapakse assume em público é claramente revelado pelo continuo apoio que recebe do JVP, que faz campanha pela guerra com o LTTE. O líder do JVP Wimal Weerawansa disse durante um debate sobre a expansão das forças armadas do país: "nós devemos encarar a ameaça terrorista. Ele já iniciaram a quarta guerra de Eelam. Nós temos que responder na mesma moeda, e todos os partidos devem se unir nessa luta. Não há outra alternativa".

Ao discursar para o Movimento Patriótico Nacional, aliado do JVP, ele declarou: "Como a organização dos Tigres trouxe o país ao conflito e divisão, empurrando-o à uma 4ª guerra, não há alternativa a não ser derrotá-los militarmente". Ele criticou o governo pela sua tentativa de agradar à "comunidade internacional" através de promessas de acordos de cessar-fogo e negociações de paz.

Enquanto o estabelecimento político e os militares da Sri Lanka se preparam para mergulhar o país em mais uma devastadora guerra civil, a vasta maioria da população rejeita a retomada de um conflito que já matou mais de 65 mil pessoas. O Partido da Igualdade Socialista do Sri Lanka vem consistentemente se opondo à guerra e lutando para unir a população trabalhadora—tamil, sinhala e muçulmana—em um movimento independente baseado em políticas socialistas de luta por seus interesses de classe. Nós pedimos aos leitores que atentem para essas questões levantadas no artigo do secretário-geral do SEP, Wije Dias, entitulado "Uma reposta socialista a ameaça de guerra na Sri Lanka", de 11 de março.