Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 13 de maio de 2006.
Cresce o conflito no Sri Lanka, onde os militares e os Tigres
de Liberação de Tamil Eelam (LTTE) na última
quinta-feira lutaram em uma acirrada batalha naval nos mares próximos
a vila de pescadores de Vettilaikerni. Estima-se que cerca de
50 pessoas tenham morrido em ambos os lados. Em retaliação,
os militares lançaram uma série de ataques aéreos
assim como ataques de artilharia nas posições do
LTTE, inclusive no quartel general dos rebeldes, em Kilinochchi.
Embora o governo de Colombo e a mídia terem imediatamente
denunciado o LTTE acusando-o de ter iniciado os ataques, o incidente
segue uma longa série de provocações realizadas
pelos paramilitares anti-LTTE, que trabalham em conjunto com setores
dos próprios militares. Apesar de que o cessar-fogo de
2002 ainda esteja em vigor, a existência de uma guerra não
declarada no Norte e no Leste da ilha está cada vez mais
clara.
De acordo com os militares do país, na quinta-feira
à tarde cerca de 15 barcos do LTTE atacaram um comboio
naval, composto por um esquadrão com 700 soldados a bordoo
Pearl Cruise IIe quatro navios-patrulha. Na batalha, que
durou cerca de 2 horas, uma embarcação do LTTE carregada
com explosivos afundou um dos navios de guerra, matando 17 marinheiros,
incluindo 2 oficiais e um sinaleiro do exército. Segundo
a Marinha, os seus navios-patrulha, com apoio aéreo, destruíram
5 embarcações do LTTE e causaram danos a vários
outros barcos, matando ao menos 30 dos rebeldes.
O LTTE acusou a Marinha de atrapalhar os seus exercícios
navais e ter provocado o conflito. O grupo diz ter destruído
mais uma embarcação militar, que teria afundado
próxima a Point Pedro, e afirma ter perdido apenas 4 de
suas embarcações. No entanto, a SLMM (Missão
de Monitoramento da Sri Lanka, liderada pela Noruega), que tinha
observadores no Pearl Cruise, acusou o LTTE de "sérias
violações" ao cessar-fogo e de ter realizado
uma "operação ofensiva".
O LTTE criticou a SLMM pela sua "parcialidade"
e insistiu em seus direitos de realização de exercícios
navais. Um comunicado do LTTE aconselhou a SLMM a abandonar as
viagens a bordo das embarcações, declarando que
" se vocês preferem ignorar nossos avisos, não
nos responsabilizaremos pelas possíveis conseqüências".
Ambos os lados vêm se envolvendo em conflitos há
alguns meses; a escalada da violência acontece desde a eleição
do presidente Rajapakse, em novembro de 2005. Enquanto o governo
nega qualquer envolvimento nos ataques ao LTTE, há uma
crescente evidência do envolvimento de militares com grupos
paramilitares tamil, realizando matanças com a intenção
de inflamar as tensões comunais. Em fevereiro deste ano,
em Genebra, o governo concordou em implementar cláusulas
de cessar-fogo para desarmar as milícias que operam em
áreas controladas pelo exército, mas estas cláusulas
não têm sido postas em prática.
Na quinta-feira, Jouni Suninen da SLMM disse à Reuters:
"nós temos fortes indícios de que parte
das tropas do governo estiveram envolvidas nas matanças".
Ele levou o correspondente ao local onde a irmã de um suposto
membro do LTTE foi assassinadaa apenas 60 metros de uma
guarita do exército. Jukka Heiskanen, também da
SLMM, recolheu depoimentos de 3 soldados que afirmaram não
saber de nada. Considerando as respostas completamente implausíveis,
ele disse à agência de notícias: "é
ridículo. Eles nem ao menos tentam inventar alguma resposta".
O porta-voz do governo Nimal Siripala de Silva disse ao parlamento
esta semana que " o governo condena veementemente as
recentes matanças de civis em Jaffna, Vavuniya e Avissawella
e irá tomar as ações necessárias para
punir os culpados". Estes comentários são
também absurdos. Os militares e a polícia criaram
áreas de segurança sob o seu controle, regularmente
intimidando os tamils, assim como fazendo buscas extensivas para
"deter suspeitos de participação no LTTE".
Até agora, nenhum envolvido nos desaparecimentos e assassinatos
foi preso, e muito menos condenado ou punido.
Os esforços para a realização de novos
acordos de paz em Genebra, previstos para o mês passado,
não se concretizaram. O enviado especial do Japão,
Yasushi Akashi, passou 4 dias na Sri Lanka mas não conseguiu
convencer o governo e o LTTE a voltar à mesa de negociação
O líder do LTTE V. Prabakharan não deu importância
à visita de Akashi ao quartel-general do LTTE em Kilinochchi.
O líder político S.P. Thamilchelvan disse a Akashi
que o LTTE não participaria até o final dos "ataques
das forças armadas da Sri Lanka".
Akashi fala em nome dos membros do chamado processo de paz
da Sri Lankaos EUA, o Japão, a União Européia
e a Dinamarca. Recentemente, estes membros vêm adotando
uma atitude mais agressiva em relação ao LTTE, ao
mesmo tempo que elogiam o governo Rajapakse. Em declarações
à mídia, Akashi condenou o ataque do LTTE aos quartéis-generais
do exército em Colombo em 25 de abril, e apelou ao governo
para que este "garantisse que as forças armadas
não fossem além de suas responsabilidades".
Ao fazer isso, os poderosos estão tacitamente permitindo
que o governo do país e os militares adotem uma atitude
mais provocativa em relação ao LTTE. Akashi lembrou
à mídia que os países membros estavam oferecendo
um "dividendo de paz" de US$ 4,5 bilhões
se a guerra acabasse. Mas o governo da UFPA (Aliança Popular
pela Liberdade) e os seus apoiadores extremistas como o JVP (Janatha
Vimukthi Peramuna) estão firmes na guerra. A postura de
Rajapakse como um homem da paz na realidade tem a intenção
de colocar o LTTE como agressor e a reunir apoio militar internacional
para destruí-los.
No ultimo fim-de-semana o ministro do exterior do país,
Mangala Samaraweera, visitou Nova Déli para realizar conversas
com líderes indianos, incluindo o primeiro-ministro Manmohan
Singh. Ao mesmo tempo que pede à Índia que solicite
ao LTTE para voltar aos acordos de paz, uma das metas principais
da missão de Samaraweera é convencer o governo indiano
a assinar um tratado de defesa entre os dois países. Em
dezembro de 2003, o general Lionel Balagalle publicizou detalhes
do pacto proposto, revelando planos de cooperação
militar extensiva nas áreas de inteligência, suporte
aéreo e operações navais conjuntas que aumentariam
significativamente a capacidade militar do governo par derrotar
o LTTE.
O acordo foi suspenso depois da oposição vinda
de partidos do estado indiano de Tamil Nadu, que são simpáticos
ao LTTE. Apesar da política de Tamil Nadu ser um fardo
a ser considerado, o governo indiano é hostil ao LTTE e
teme que qualquer vitória do LTTE terá uma influência
desestabilizadora no subcontinente. Samaraweera conversou com
o Ministro da defesa indiano Pranab Mukherjee sobre o acordo,
mas não recebeu nenhuma confirmação. Apesar
de não haver nenhum acordo formal, os militares indianos
sem dúvida estão cooperando com os militares da
Sri Lanka. A imprensa indiana divulgou que navios de guerra indianos
podem ter aparecido na batalha da última quinta para assustar
o LTTE.
A falsidade da postura de paz que o governo de Rajapakse assume
em público é claramente revelado pelo continuo apoio
que recebe do JVP, que faz campanha pela guerra com o LTTE. O
líder do JVP Wimal Weerawansa disse durante um debate sobre
a expansão das forças armadas do país: "nós
devemos encarar a ameaça terrorista. Ele já iniciaram
a quarta guerra de Eelam. Nós temos que responder na mesma
moeda, e todos os partidos devem se unir nessa luta. Não
há outra alternativa".
Ao discursar para o Movimento Patriótico Nacional, aliado
do JVP, ele declarou: "Como a organização
dos Tigres trouxe o país ao conflito e divisão,
empurrando-o à uma 4ª guerra, não há
alternativa a não ser derrotá-los militarmente".
Ele criticou o governo pela sua tentativa de agradar à
"comunidade internacional" através de
promessas de acordos de cessar-fogo e negociações
de paz.
Enquanto o estabelecimento político e os militares da
Sri Lanka se preparam para mergulhar o país em mais uma
devastadora guerra civil, a vasta maioria da população
rejeita a retomada de um conflito que já matou mais de
65 mil pessoas. O Partido da Igualdade Socialista do Sri Lanka
vem consistentemente se opondo à guerra e lutando para
unir a população trabalhadoratamil, sinhala
e muçulmanaem um movimento independente baseado em
políticas socialistas de luta por seus interesses de classe.
Nós pedimos aos leitores que atentem para essas questões
levantadas no artigo do secretário-geral do SEP, Wije Dias,
entitulado "Uma reposta socialista a ameaça de
guerra na Sri Lanka", de 11 de março.