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Plano para atacar túneis de Nova Iorque: mais um duvidoso "complô terrorista"

Por Barry Grey
15 Julio 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 8 de Julho de 2006

Novaiorquinos acordaram na manhã de sexta-feira com a assombrosa manchete no New York Daily proclamando que um "plano de bomba no túnel" havia sido desarmado. Na mesma tarde, o diretor-assistente de FBI, Mark Mershon, ladeado pelo prefeito Michael Bloomberg e pelo representante da polícia Raymond Kelly, disse, em uma conferência da imprensa, que o FBI havia interrompido um plano que visava à realização de atentados suicidas a bomba nos túneis de trem da PATH (Port Authority Trans-Hudson Corporation), por onde passam diariamente centenas de milhares de pessoas que percorrem o caminho entre Manhattan e Nova Jersey para trabalhar.

O suposto "cabeça", residente em Beirute, no Líbano, Assem Hammoud (31), havia sido preso e, de acordo com o FBI, confessado a respeito de sua participação no complô e de sua atuação sob as ordens de Osama Bin Laden. Havia um total de oito suspeitos, dois dos quais em custódia em locações não mencionadas. Nenhum deles era americano nem havia pisado em solo norte-americano.

Mershon disse que seis governos de outros países, os quais ele não mencionou, estavam cooperando na investigação. "Nós acreditamos," declarou, "ter interceptado o grupo logo no início de seu plano e, de fato, o complô foi interrompido com sucesso".

Logo no início de sua declaração disse que "o planejamento para este ataque estava maduro a tal ponto que os indivíduos estavam a um passo de avançar. Estavam prestes a ir para uma fase em que iriam tentar fazer levantamentos dos alvos, estabelecer um regime de ataque e conseguir os recursos necessários para efetuar os atentados."

Mershon se negou a responder questões a respeito de quaisquer outros detalhes sobre o tal plano, a não ser dizer que os conspiradores esperavam realizar o ataque em outubro ou novembro deste ano. Talvez percebendo ceticismo mesmo entre a imprensa, ele adicionou que isto era "o que se podia falar".

Quão real pode ser um complô em que os conspiradores não espionaram os supostos alvos, não tentaram arrecadar fundos ou adquirir explosivos, e não formularam um plano de ação, Mershon não conseguiu explicar.

Informações posteriores relatadas nas explicações da imprensa e atribuídas a oficiais dos EUA "se pronunciando em condições de anonimato porque a investigação ainda estaria em andamento" deixaram claro que nenhum plano existira realmente. Um despacho da Associated Press relatou:

"No último caso, um oficial federal disse que agentes do FBI que monitoravam chats de internet usados por extremistas ficaram sabendo do plano poucos meses atrás. Ele determinou que túneis eram possivelmente tidos como alvos depois de investigações terem relacionado palavras-chave de suas conversações."

"Outro oficial dos EUA, também falando anonimamente porque a investigação estaria em andamento, adjetivou o plano de ‘extremamente ambicioso' e descreveu as conversações da internet como majoritariamente de extremistas discutindo e concebendo o mesmo plano. O oficial disse que nenhum dinheiro havia sido transferido, e nenhum outro passo operacional havia sido dado".

Dessa forma, a única evidência de um plano havia sido decodificada, ou talvez tramada, de conversações escritas—o que significa, portanto, inteiramente de palavras, não atos ou acontecimentos.

Outro oficial federal, também se pronunciando anonimamente, disse à imprensa que o objetivo dos conspiradores era o de provocar uma imensa inundação em Wall Street através de uma explosão nos túneis da PATH, que passam por baixo do rio Hudson. Mas outros oficiais anti-terrorismo também não-identificados apontaram o absurdo de um plano como esse, posto que os túneis estão sob o solo e protegidos por rochas, concreto e aço.

Mesmo o secretário da Segurança Nacional, Michael Chertoff, falando de Boston, reconheceu que o plano não oferecia uma ameaça iminente. E, horas antes, no mesmo dia, uma declaração publicada conjuntamente pelo FBI e o Departamento de Segurança Nacional pouco contradisse as afirmações feitas depois por Mershon em sua conferência à imprensa.

Enquanto Mershon descreveu um complô encabeçado por um artíficie de Bin Laden para atacar Nova Iorque, o relato da Segurança Nacional-FBI disse não haver "nenhuma informação específica ou confiável de que Al Qaeda estaria planejando um ataque em solo norte-americano".

A família do suposto cabeça, Assem Hammoud, negou qualquer ligação do mesmo com a Al Qaeda e que ele lecionava economia em uma universidade local, segundo sua mãe. "Sua moral é alta porque ele é confiante em sua inocência", ela disse.

Apesar da fraqueza, das contradições internas e do caráter fantástico do complô em questão, do plano que explodiria túneis de Nova Iorque, políticos de alto-escalão dos dois partidos aceitaram, imediatamente e sem críticas, as declarações do governo.

O senador de Nova Iorque, Cherles Schumer, do Partido Democrata, disse: "este é um exemplo onde a inteligência esteve no seu auge e descobriu o plano quando ele estava ainda na fase das conversações". Seu único comentário negativo relacionava-se à distribuição dos fundos federais de Segurança Nacional. Ecoando na mesma direção o prefeito Bloomberg, do Partido Republicano, disse que o complô evitado demonstra "quão errada" foi a decisão dos departamentos de Segurança Nacional de não repassar uma fatia maior a Nova Iorque do total das verbas destinadas.

A grande mídia, desta vez como em todas as outras, dos igualmente duvidosos "complôs terroristas", entrou em ação, relatando de forma não crítica as declarações do governo como se fossem fatos, e ainda de uma maneira sensacionalista designada a gerar alarme máximo e medo. Todas as três redes de difusão tiveram como manchete principal nos jornais da noite o "complô dos túneis de Nova Iorque", sublinhando seu significado "fatal" ao perceber que a data de sua revelação coincidia com o aniversário de um ano das explosões nos metrôs londrinos.

Apenas duas semanas antes, o FBI anunciara a prisão de sete moradores do empobrecido Liberty City às redondezas de Miami, que estavam listados pelo envolvimento com o maior atentado terrorista desde11/9. Em um dia, no entanto, o cheiro de provocação havia ficado tão forte que mesmo a mídia se sentiu obrigada a abandonar o caso.

Confirmou-se que sete homens haviam sido "enlaçados" por um plano fictício tramado por um agente secreto do FBI. Eles haviam virado alvos através de uma armadilha em que, como no presente "complô do túnel", não haviam feito nada além de falar. Este também era um "plano ambicioso".

O padrão alarmista não poderia ter ficado mais claro. O governo, com todo o apoio da "oposição" democrata e a cumplicidade da mídia, anuncia complôs terroristas—tanto inexistentes como tramados por próprios agentes do governo - em intervalos regulares, para manter o povo norte-americano em um estado constante de medo e confusão, trata-se do melhor método para justificar guerras no exterior e cercear direitos democráticos no próprio país.