Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 8 de Julho de 2006
Novaiorquinos acordaram na manhã de sexta-feira com
a assombrosa manchete no New York Daily proclamando que um "plano
de bomba no túnel" havia sido desarmado. Na mesma
tarde, o diretor-assistente de FBI, Mark Mershon, ladeado pelo
prefeito Michael Bloomberg e pelo representante da polícia
Raymond Kelly, disse, em uma conferência da imprensa, que
o FBI havia interrompido um plano que visava à realização
de atentados suicidas a bomba nos túneis de trem da PATH
(Port Authority Trans-Hudson Corporation), por onde passam diariamente
centenas de milhares de pessoas que percorrem o caminho entre
Manhattan e Nova Jersey para trabalhar.
O suposto "cabeça", residente em Beirute,
no Líbano, Assem Hammoud (31), havia sido preso e, de acordo
com o FBI, confessado a respeito de sua participação
no complô e de sua atuação sob as ordens de
Osama Bin Laden. Havia um total de oito suspeitos, dois dos quais
em custódia em locações não mencionadas.
Nenhum deles era americano nem havia pisado em solo norte-americano.
Mershon disse que seis governos de outros países, os
quais ele não mencionou, estavam cooperando na investigação.
"Nós acreditamos," declarou, "ter interceptado
o grupo logo no início de seu plano e, de fato, o complô
foi interrompido com sucesso".
Logo no início de sua declaração disse
que "o planejamento para este ataque estava maduro a tal
ponto que os indivíduos estavam a um passo de avançar.
Estavam prestes a ir para uma fase em que iriam tentar fazer levantamentos
dos alvos, estabelecer um regime de ataque e conseguir os recursos
necessários para efetuar os atentados."
Mershon se negou a responder questões a respeito de
quaisquer outros detalhes sobre o tal plano, a não ser
dizer que os conspiradores esperavam realizar o ataque em outubro
ou novembro deste ano. Talvez percebendo ceticismo mesmo entre
a imprensa, ele adicionou que isto era "o que se podia falar".
Quão real pode ser um complô em que os conspiradores
não espionaram os supostos alvos, não tentaram arrecadar
fundos ou adquirir explosivos, e não formularam um plano
de ação, Mershon não conseguiu explicar.
Informações posteriores relatadas nas explicações
da imprensa e atribuídas a oficiais dos EUA "se pronunciando
em condições de anonimato porque a investigação
ainda estaria em andamento" deixaram claro que nenhum plano
existira realmente. Um despacho da Associated Press relatou:
"No último caso, um oficial federal disse que agentes
do FBI que monitoravam chats de internet usados por extremistas
ficaram sabendo do plano poucos meses atrás. Ele determinou
que túneis eram possivelmente tidos como alvos depois de
investigações terem relacionado palavras-chave de
suas conversações."
"Outro oficial dos EUA, também falando anonimamente
porque a investigação estaria em andamento, adjetivou
o plano de extremamente ambicioso' e descreveu as conversações
da internet como majoritariamente de extremistas discutindo e
concebendo o mesmo plano. O oficial disse que nenhum dinheiro
havia sido transferido, e nenhum outro passo operacional havia
sido dado".
Dessa forma, a única evidência de um plano havia
sido decodificada, ou talvez tramada, de conversações
escritaso que significa, portanto, inteiramente de palavras,
não atos ou acontecimentos.
Outro oficial federal, também se pronunciando anonimamente,
disse à imprensa que o objetivo dos conspiradores era o
de provocar uma imensa inundação em Wall Street
através de uma explosão nos túneis da PATH,
que passam por baixo do rio Hudson. Mas outros oficiais anti-terrorismo
também não-identificados apontaram o absurdo de
um plano como esse, posto que os túneis estão sob
o solo e protegidos por rochas, concreto e aço.
Mesmo o secretário da Segurança Nacional, Michael
Chertoff, falando de Boston, reconheceu que o plano não
oferecia uma ameaça iminente. E, horas antes, no mesmo
dia, uma declaração publicada conjuntamente pelo
FBI e o Departamento de Segurança Nacional pouco contradisse
as afirmações feitas depois por Mershon em sua conferência
à imprensa.
Enquanto Mershon descreveu um complô encabeçado
por um artíficie de Bin Laden para atacar Nova Iorque,
o relato da Segurança Nacional-FBI disse não haver
"nenhuma informação específica ou confiável
de que Al Qaeda estaria planejando um ataque em solo norte-americano".
A família do suposto cabeça, Assem Hammoud, negou
qualquer ligação do mesmo com a Al Qaeda e que ele
lecionava economia em uma universidade local, segundo sua mãe.
"Sua moral é alta porque ele é confiante em
sua inocência", ela disse.
Apesar da fraqueza, das contradições internas
e do caráter fantástico do complô em questão,
do plano que explodiria túneis de Nova Iorque, políticos
de alto-escalão dos dois partidos aceitaram, imediatamente
e sem críticas, as declarações do governo.
O senador de Nova Iorque, Cherles Schumer, do Partido Democrata,
disse: "este é um exemplo onde a inteligência
esteve no seu auge e descobriu o plano quando ele estava ainda
na fase das conversações". Seu único
comentário negativo relacionava-se à distribuição
dos fundos federais de Segurança Nacional. Ecoando na mesma
direção o prefeito Bloomberg, do Partido Republicano,
disse que o complô evitado demonstra "quão errada"
foi a decisão dos departamentos de Segurança Nacional
de não repassar uma fatia maior a Nova Iorque do total
das verbas destinadas.
A grande mídia, desta vez como em todas as outras, dos
igualmente duvidosos "complôs terroristas", entrou
em ação, relatando de forma não crítica
as declarações do governo como se fossem fatos,
e ainda de uma maneira sensacionalista designada a gerar alarme
máximo e medo. Todas as três redes de difusão
tiveram como manchete principal nos jornais da noite o "complô
dos túneis de Nova Iorque", sublinhando seu significado
"fatal" ao perceber que a data de sua revelação
coincidia com o aniversário de um ano das explosões
nos metrôs londrinos.
Apenas duas semanas antes, o FBI anunciara a prisão
de sete moradores do empobrecido Liberty City às redondezas
de Miami, que estavam listados pelo envolvimento com o maior atentado
terrorista desde11/9. Em um dia, no entanto, o cheiro de provocação
havia ficado tão forte que mesmo a mídia se sentiu
obrigada a abandonar o caso.
Confirmou-se que sete homens haviam sido "enlaçados"
por um plano fictício tramado por um agente secreto do
FBI. Eles haviam virado alvos através de uma armadilha
em que, como no presente "complô do túnel",
não haviam feito nada além de falar. Este também
era um "plano ambicioso".
O padrão alarmista não poderia ter ficado mais
claro. O governo, com todo o apoio da "oposição"
democrata e a cumplicidade da mídia, anuncia complôs
terroristastanto inexistentes como tramados por próprios
agentes do governo - em intervalos regulares, para manter o povo
norte-americano em um estado constante de medo e confusão,
trata-se do melhor método para justificar guerras no exterior
e cercear direitos democráticos no próprio país.