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Mercado global estabiliza-se mas os riscos aumentam

Por Nick Beams
1 Julio 2006

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Os mercados globais estão estáveis após uma queda aguda na semana passada, mas o nervosismo está em alta no sistema financeiro internacional junto a preocupações em torno do aumento das taxas de juros, condições econômicas difíceis, prospectos de desaceleração econômica e potenciais problemas na economia chinesa.

Em uma entrevista nesta semana, o diretor geral do FMI, Rodrigo de Rato, repetiu seus primeiros alertas, que os riscos de uma queda na economia global aumentaram.

O FMI mantém sua previsão de crescimento econômico global de 5% para 2006, mas a recente turbulência nos mercados foi o resultado de incertezas que significam que "os riscos para o panorama futuro são grandes".

No início deste mês, de Rato disse no Clube da impressa Australiana que os desequilíbrios entre os EUA e o resto, liderado pelo balanço do déficit em pagamentos americano, são "insustentáveis" e podem resultar em um "ajuste desordenado" se essas diferenças não forem reduzidas.

Um recente estudo realizado nos EUA mostra que o déficit atual caiu para uma taxa anual de US$ 835 bilhões no primeiro trimestre desse ano, uma queda de 6,5% ou US$ 58 bilhões em relação ao trimestre passado. Enquanto esse resultado refletiu o impacto da queda do dólar—uma das formas de análise da economia usada pelo FMI e outras instituições financeiras—e que foi a segunda pior do recorde. E há temores que o déficit irá aumentar devido ao impacto dos altos preços do petróleo.

Na próxima semana, todos os olhos no mercado financeiro estarão voltados para o comitê do mercado do Fed (o Banco Central norte-americano), que se reúne para decidir a possibilidade de aumentar a taxa de juros. Embora seja quase certo que outro aumento em 0,25% é iminente, a questão crucial irá ser se o relatório que acompanha a reunião dê uma indicação de aumentos futuros. Há temores que, se as taxas subirem muito podem trazer consigo uma recessão.

Em um relatório publicado nesta semana pelo centro de pesquisas econômicas Anderson Forecast da Universidade da Califórnia (UCLA), economistas alertaram que os EUA poder ver uma combinação de aumento da inflação, devido ao rápido aumento do preço do petróleo, e desaceleração da economia, iniciada por uma queda de consumo no mercado interno. O principal economista do centro de pesquisas, David Shulman, descreveu o banco central como que preso em uma caixa. " Pela primeira vez em muitos anos, o Fed irá enfrentar um aumento controlado da inflação ao lado de um enfraquecido crescimento, com uma pequena dosagem estagnação aliada ao desemprego."

Globalmente, as condições monetárias continuam a se tornarem mais difíceis, com o Banco Central Europeu (BCE) deixando claro que planeja mais aumentos na taxa de juros mesmo que possam ter um impacto negativo no crescimento econômico. O BCE aumentou os custos sobre o crédito três vezes desde dezembro de 2005 até atingir 2,75% e há previsões de um outro aumento em 0,5% neste ano.

Em uma indicação de mais aumentos, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, disse ao Comitê do Parlamento Europeu que o Banco "não estava satisfeito com o que estavam vendo ao observar a inflação na área do Euro" e poderia "continuar a fazer tudo que fosse necessário para conter os riscos inflacionários e as expectativas de inflação". Este é um alerta claro para o mercado financeiro de mais aumentos na taxa de juros.

A piora no crédito também se estendeu à China, onde o Banco Central Chinês está tentando controlar o boom em investimentos e propriedades sem provocar uma crise. Nesta semana o Banco Central anunciou que estava aumentando a proporção da reserva requerida para transações financeiras de 0,5% para 8%. Essa atitude é tomada menos de dois meses após o aumento na taxa de juros, que o banco promoveu no fim de abril.

Um estudo mostrou as razões para a ação do Banco Central Chinês. A reserva de dinheiro chinês estava, no fim de maio, 19,1% maior que no início do ano—3% acima da meta do banco. Empréstimos para os primeiros cinco meses do ano foram quase ¾ do planejado pelo banco para o ano inteiro. Nos mesmos cinco meses, investimentos em propriedades fixas em áreas urbanas saltaram 30,3% desde o ano passado.

O banco afirma que essas medidas podem "facilitar a contenção do crescimento excessivo dos empréstimos", controlar "o crescimento rápido dos investimentos","fortalecer a administração sobre a liquidez no sistema bancário" e "continuar a guiar os bancos comerciais em manter o ritmo e a escala de seus empréstimos, de médio e longo prazo, a um nível razoável". O Banco afirmou seu compromisso com políticas que irão promover "estabilidade nos mercados financeiros e a estabilidade econômica mundial".

Quão bem sucedidas serão estas medidas é outra questão. Stephen Roach, um observador de longa data da economia chinesa e economista chefe do banco de investimentos Morgan Stanley, espalhou dúvidas se as últimas medidas poderão mostrar-se suficientes, tendo em vista não menos que o rápido crescimento da economia chinesa.

No período de 2000 a 2005, notou ele, os investimentos fixos saltaram de aproximadamente US$ 400 bilhões para US$ 1,1 trilhões—uma taxa de crescimento que "minimiza qualquer coisa que o mundo tenha visto nos últimos anos". O tamanho real da economia chinesa—ela está 34% maior do que em 2004, quando medidas de contenção semelhantes foram realizadas—sugere que "os responsáveis pela economia chinesa precisam fazer mais se pretendem obter sucesso em conter os excessos de sua economia super-aquecida".

Se as autoridades chinesas forem mais rigorosas, entretanto, podem ter como risco o colapso de frágeis empresas dependentes da oferta de crédito fácil. A agência de classificação de crédito Fitch estima que as instituições de crédito chinesas—os quatro bancos estatais, bancos comerciais nas cidades e cooperativas rurais—têm um total combinado de US$ 206 bilhões de empréstimos não executados, assim como US$ 270 bilhões em empréstimos que poderão não ser pagos. Um colapso na bolha de investimentos pode ter enormes conseqüências sociais, como milhões de trabalhadores tornando-se desempregados.

Em um recente comentário sobre a China, o instituto de pesquisas estratégicas Stratfor notou:"O que devemos entender é que a China está deixando de ser um problema econômico e tornando-se um problema sócio-político". O problema econômico-financeiro é apenas um sintoma; o problema fundamental é a tremenda irracionalidade fundada dentro da economia chinesa. Empresas que não são economicamente viáveis continuam a funcionar através de injeções de capital. Parte desses capitais se originam de empréstimos, parte pela exportação, a preços economicamente insustentáveis... . Se as taxas de juros aumentarem e o crédito se tornar mais rígido, muitas das empresas chinesas poderão falir".

Por enquanto o Banco Central é capaz de sustentar o boom e evitar a reviravolta política e social que um colapso econômico poderia causar. Entretanto, uma coisa é realizar essa tarefa sob o regime de capital fácil que tem prevalecido durante os últimos cinco anos. E outra coisa bem diferente é manter o equilíbrio econômico quando as condições financeiras começam a piorar globalmente.