Os mercados globais estão estáveis após
uma queda aguda na semana passada, mas o nervosismo está
em alta no sistema financeiro internacional junto a preocupações
em torno do aumento das taxas de juros, condições
econômicas difíceis, prospectos de desaceleração
econômica e potenciais problemas na economia chinesa.
Em uma entrevista nesta semana, o diretor geral do FMI, Rodrigo
de Rato, repetiu seus primeiros alertas, que os riscos de uma
queda na economia global aumentaram.
O FMI mantém sua previsão de crescimento econômico
global de 5% para 2006, mas a recente turbulência nos mercados
foi o resultado de incertezas que significam que "os riscos
para o panorama futuro são grandes".
No início deste mês, de Rato disse no Clube da
impressa Australiana que os desequilíbrios entre os EUA
e o resto, liderado pelo balanço do déficit em pagamentos
americano, são "insustentáveis" e podem
resultar em um "ajuste desordenado" se essas diferenças
não forem reduzidas.
Um recente estudo realizado nos EUA mostra que o déficit
atual caiu para uma taxa anual de US$ 835 bilhões no primeiro
trimestre desse ano, uma queda de 6,5% ou US$ 58 bilhões
em relação ao trimestre passado. Enquanto esse resultado
refletiu o impacto da queda do dólaruma das formas
de análise da economia usada pelo FMI e outras instituições
financeirase que foi a segunda pior do recorde. E há
temores que o déficit irá aumentar devido ao impacto
dos altos preços do petróleo.
Na próxima semana, todos os olhos no mercado financeiro
estarão voltados para o comitê do mercado do Fed
(o Banco Central norte-americano), que se reúne para decidir
a possibilidade de aumentar a taxa de juros. Embora seja quase
certo que outro aumento em 0,25% é iminente, a questão
crucial irá ser se o relatório que acompanha a reunião
dê uma indicação de aumentos futuros. Há
temores que, se as taxas subirem muito podem trazer consigo uma
recessão.
Em um relatório publicado nesta semana pelo centro de
pesquisas econômicas Anderson Forecast da Universidade da
Califórnia (UCLA), economistas alertaram que os EUA poder
ver uma combinação de aumento da inflação,
devido ao rápido aumento do preço do petróleo,
e desaceleração da economia, iniciada por uma queda
de consumo no mercado interno. O principal economista do centro
de pesquisas, David Shulman, descreveu o banco central como que
preso em uma caixa. " Pela primeira vez em muitos anos, o
Fed irá enfrentar um aumento controlado da inflação
ao lado de um enfraquecido crescimento, com uma pequena dosagem
estagnação aliada ao desemprego."
Globalmente, as condições monetárias continuam
a se tornarem mais difíceis, com o Banco Central Europeu
(BCE) deixando claro que planeja mais aumentos na taxa de juros
mesmo que possam ter um impacto negativo no crescimento econômico.
O BCE aumentou os custos sobre o crédito três vezes
desde dezembro de 2005 até atingir 2,75% e há previsões
de um outro aumento em 0,5% neste ano.
Em uma indicação de mais aumentos, o presidente
do BCE, Jean-Claude Trichet, disse ao Comitê do Parlamento
Europeu que o Banco "não estava satisfeito com o que
estavam vendo ao observar a inflação na área
do Euro" e poderia "continuar a fazer tudo que fosse
necessário para conter os riscos inflacionários
e as expectativas de inflação". Este é
um alerta claro para o mercado financeiro de mais aumentos na
taxa de juros.
A piora no crédito também se estendeu à
China, onde o Banco Central Chinês está tentando
controlar o boom em investimentos e propriedades sem provocar
uma crise. Nesta semana o Banco Central anunciou que estava aumentando
a proporção da reserva requerida para transações
financeiras de 0,5% para 8%. Essa atitude é tomada menos
de dois meses após o aumento na taxa de juros, que o banco
promoveu no fim de abril.
Um estudo mostrou as razões para a ação
do Banco Central Chinês. A reserva de dinheiro chinês
estava, no fim de maio, 19,1% maior que no início do ano3%
acima da meta do banco. Empréstimos para os primeiros cinco
meses do ano foram quase ¾ do planejado pelo banco para
o ano inteiro. Nos mesmos cinco meses, investimentos em propriedades
fixas em áreas urbanas saltaram 30,3% desde o ano passado.
O banco afirma que essas medidas podem "facilitar a contenção
do crescimento excessivo dos empréstimos", controlar
"o crescimento rápido dos investimentos","fortalecer
a administração sobre a liquidez no sistema bancário"
e "continuar a guiar os bancos comerciais em manter o ritmo
e a escala de seus empréstimos, de médio e longo
prazo, a um nível razoável". O Banco afirmou
seu compromisso com políticas que irão promover
"estabilidade nos mercados financeiros e a estabilidade econômica
mundial".
Quão bem sucedidas serão estas medidas é
outra questão. Stephen Roach, um observador de longa data
da economia chinesa e economista chefe do banco de investimentos
Morgan Stanley, espalhou dúvidas se as últimas medidas
poderão mostrar-se suficientes, tendo em vista não
menos que o rápido crescimento da economia chinesa.
No período de 2000 a 2005, notou ele, os investimentos
fixos saltaram de aproximadamente US$ 400 bilhões para
US$ 1,1 trilhõesuma taxa de crescimento que "minimiza
qualquer coisa que o mundo tenha visto nos últimos anos".
O tamanho real da economia chinesaela está 34% maior
do que em 2004, quando medidas de contenção semelhantes
foram realizadassugere que "os responsáveis
pela economia chinesa precisam fazer mais se pretendem obter sucesso
em conter os excessos de sua economia super-aquecida".
Se as autoridades chinesas forem mais rigorosas, entretanto,
podem ter como risco o colapso de frágeis empresas dependentes
da oferta de crédito fácil. A agência de classificação
de crédito Fitch estima que as instituições
de crédito chinesasos quatro bancos estatais, bancos
comerciais nas cidades e cooperativas ruraistêm um
total combinado de US$ 206 bilhões de empréstimos
não executados, assim como US$ 270 bilhões em empréstimos
que poderão não ser pagos. Um colapso na bolha de
investimentos pode ter enormes conseqüências sociais,
como milhões de trabalhadores tornando-se desempregados.
Em um recente comentário sobre a China, o instituto
de pesquisas estratégicas Stratfor notou:"O que devemos
entender é que a China está deixando de ser um problema
econômico e tornando-se um problema sócio-político".
O problema econômico-financeiro é apenas um sintoma;
o problema fundamental é a tremenda irracionalidade fundada
dentro da economia chinesa. Empresas que não são
economicamente viáveis continuam a funcionar através
de injeções de capital. Parte desses capitais se
originam de empréstimos, parte pela exportação,
a preços economicamente insustentáveis... . Se as
taxas de juros aumentarem e o crédito se tornar mais rígido,
muitas das empresas chinesas poderão falir".
Por enquanto o Banco Central é capaz de sustentar o
boom e evitar a reviravolta política e social que um colapso
econômico poderia causar. Entretanto, uma coisa é
realizar essa tarefa sob o regime de capital fácil que
tem prevalecido durante os últimos cinco anos. E outra
coisa bem diferente é manter o equilíbrio econômico
quando as condições financeiras começam a
piorar globalmente.