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Ataque israelense ao Líbano ameaça mergulhar todo o Oriente Médio em uma guerra

Declaração do Comitê Editorial
22 de julho de 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 15 de julho de 2006

A ofensiva israelense no Líbano, com bombardeios e ataques com mísseis, e a imposição de um bloqueio aéreo e naval, trouxe todo o Oriente Médio à beira de uma guerra de grandes proporções. O ataque ao Líbano, completamente endossado pela administração Bush, coincide com o atual assalto à população palestina de Gaza, 1 milhão e meio de pessoas que estão sofrendo a quarta semana de um cerco, sem eletricidade e o estoque de comida diminuindo a cada dia.

O governo de Ehu Olmert em Israel aproveitou-se de dois incidentes envolvendo o seqüestro de soldados israelenses, primeiro em Gaza em 25 de junho, e agora na quarta-feira (12 de julho) na fronteira com o Líbano, como pretexto para uma enorme operação militar, que foi claramente preparada para ir além. Isso demonstra o quão longe a ofensiva israelense irá chegar - a Beirute, ou talvez até Damasco - mas os ataques são claramente dirigidos para atingir objetivos estratégicos que não tem nenhuma relação com os incidentes que supostamente os provocaram.

Ninguém pode, seriamente, sugerir que os bombardeios a cidades e vilas libanesas, a imposição de um bloqueio naval e a tentativa de assassinar o Sheik Nasrallah, o líder do Hizbollah, são métodos adequados para obter a liberdade dos soldados israelenses capturados. Os dois soldados seqüestrados pelo Hizbollah, possivelmente, estarão muito mais sujeitos a morrer, como resultado dessas ações, mortos ou por seus raptores ou pelas próprias bombas israelenses.

Da mesma forma em Gaza, o assassinato indiscriminado de dezenas de palestinos, com bombas, metralhadoras e mísseis não irá contribuir em nada para a libertação de Gilad Shalit, o soldado capturado pelos militantes islâmicos em sua incursão ao sul de Israel, através da fronteira de Gaza.

Israel possui um longo histórico de usar eventos similares como uma desculpa para realizar ações militares que possuem um objetivo estratégico muito maior - voltando a 1978, Israel iniciou uma invasão em larga escala do Líbano, usando como pretexto o atentado a tiros, realizado por militantes palestinos, ao embaixador israelense para a Grã-Bretanha. Apenas muito tempo depois se percebeu que a invasão foi longamente planejada, aguardando apenas o incidente apropriado para providenciar uma justificativa oficial aceitável.

O mesmo modelo é repetido hoje, em Gaza e no Líbano. O regime israelense não faz nenhum segredo de seu desejo em esmagar a Autoridade Palestina liderada pelo Hamas. O bloqueio econômico imposto em janeiro, após o Hamas vencer as eleições legislativas palestinas, é a escalada rumo a um bloqueio militar em larga escala de Gaza, onde o Hamas tem sua maior base política.

No Líbano, o objetivo de Israel é, no mínimo, a destruição física do Hizbollah, o movimento islâmico xiita que domina três-quartos do sul do país. Uma invasão em larga escala no sul do Líbano pelo exército israelense é mais do que provável. Amir Peretz, Ministro da Defesa israelense, disse que “se o governo do Líbano falhar em derrotar essas forças [o Hizbollah], como é esperado de um governo soberano, nós não iremos permitir que o Hizbollah permaneça avançando nas fronteiras do Estado de Israel.” Em outras palavras, se o exército libanês não suprimir o Hizbollah - e ninguém supõe que isso seja feito - então o exército israelense irá fazê-lo.

Uma intervenção militar dos EUA no Líbano também é provável. As informações da mídia norte-americana nessa sexta-feira (14 de Julho) sugerem que os planos iniciais para uma intervenção estão bem avançados, com 2.200 fuzileiros navais para serem empregados como uma força de invasão - lançados por helicópteros - que poderá ocorrer próximo a Beirute, com o pretexto de proteger os 25.000 cidadãos americanos que agora estão impossibilitados de deixar o Líbano devido ao bloqueio israelense.

Sozinhos ou em conjunto, um ataque aéreo de Israel e dos EUA contra Síria e Irã, e até mesmo uma invasão terrestre contra a Síria, são também possíveis. Certamente o maior foco do governo Bush, dos congressistas Republicanos e Democratas e da mídia norte-americana é culpar a Síria e o Irã pela crise, reclamando que esses regimes estão por trás do Hizbollah.

A mídia norte-americana sugeriu que o seqüestro dos dois soldados israelenses foi especificamente ordenado por Teerã em retaliação à referência ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, no começo dessa semana, na atual disputa sobre o programa nuclear iraniano. O governo Bush, da mesma forma, acusou a Síria pela atual revolta na província iraquiana de Anbar, devido a suprimentos e recrutas que supostamente chegaram vindos da fronteira síria.

A invasão e ocupação do Iraque produziram um holocausto do povo iraquiano: o crescente massacre em que dezenas de milhares foram assassinados, por gangues de extremistas e milícias, por carros-bomba e outros atos terroristas, ataques aéreos, tiroteios indiscriminados ou por parte dos ocupantes norte-americanos.

Na semana passada, foi relatado que 1.595 corpos foram trazidos para a mesquita de Bagdá durante junho, a maior taxa mensal de mortes, até agora, desde a escalada do conflito entre civis. O número de militares norte-americanos mortos é mais de 2.500. Combinado com o número de mortes dos soldados norte-americanos no Afeganistão, Bush irá ser o responsável pela destruição de mais vidas americanas do que os terroristas que atacaram Nova York e Washington em 11 de Setembro.

O governo de Bush não irá se retirar do Iraque e não pode manter o status quo, com o país mergulhando profundamente em uma guerra civil e a oposição popular à guerra aumentando entre o povo americano. Uma considerável parte da elite norte-americana, frustrada pelo lamaçal no Iraque, somente acredita que o sucesso militar está em “expandir o problema”, como o Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, colocou anteriormente. Eles acreditam que o Irã está usando sua crescente influência nos partidos xiitas iraquianos e nas milícias para minar o controle americano do regime fantoche estabelecido em Bagdá, e que um confronto militar com Teerã é inevitável.

O The Wall Street Journal é a voz semi-oficial dessas camadas, e publicou um editorial nesta sexta, 14 de Julho, intitulado “Estados do Terror,” que defende abertamente uma ação militar contra Síria e Irã. O editorial declarou que “não haverá nenhuma solução no Líbano ou em Gaza até que os regimes na Síria e no Irã acreditem que eles irão pagar o preço...”.

Criticando a Secretária de Estado, Condoleezza Rice por seu apelo pro forma, para quem “todos os lados precisam agir com moderação,” o jornal diz, “A Casa Branca citou a Síria e o Irã como os culpados pelos eventos dessa semana, mas palavras e medidas mais duras são necessárias.”

O rápido crescimento da crise no Oriente Médio é uma previsível conseqüência da intervenção militar maciça liderada pelos EUA no Iraque e Afeganistão, e da crescente política agressiva e temerária do imperialismo norte-americano por toda a região. Isso inclui a carta branca dada pelo governo Bush a Israel, para usar sua máquina de guerra - construída e financiada pelos americanos - contra seus vizinhos e contra o perseguido e oprimido povo palestino.

A política dos Estados Unidos e de Israel é baseada em um interminável ciclo de guerra. O governo Bush baseia inteiramente sua política externa na crença que o poder militar americano e o armamento de alta tecnologia podem resolver todos os problemas. O projeto sionista está similarmente baseado no uso irrestrito da força contra os palestinos e outros alvos, como o Hizbollah. Ambas as políticas provaram ser desastrosas para o povo da região, incluindo a própria população judia de Israel.

Como um Estado cliente dos EUA, Israel é, há muito tempo, dependente de um vasto fluxo de ajuda econômica e militar vinda de Washington. Durante a última década, Israel procurou explorar a incontestável supremacia internacional dos EUA, na onda do colapso da União Soviética, para rejeitar quaisquer negociações para um ajuste territorial palestino e, em vez disso, impôs suas ordens unilateralmente à Autoridade Palestina.

Este é o conteúdo da retirada promovida pelo governo de Sharon em Gaza durante o último ano, fechando um punhado de assentamentos inviáveis como forma de desenhar uma fronteira internacional com 1 milhão e meio de palestinos no outro lado, garantindo uma maioria de judeus em Israel, permanecendo nos territórios ocupados por, pelo menos, mais uma década.

Interesses similares estão guiando a política do governo de Olmert, como a construção do muro e o re-assentamento de judeus na Cisjordânia. Enquanto planeja abandonar um punhado de assentamentos sionistas, o governo de Olmert está desenhando a nova fronteira unilateralmente para dar as melhores terras aos israelenses, incluindo toda Jerusalem, enquanto os palestinos são relegados a um estado tampão com apenas 60% do território ocupado.

Nos últimos dias, a mídia norte-americana estava cheia de denúncias contra o Hamas e o Hizbollah, retratando-os como organizações terroristas e procurando alvos para uma escalada maciça da força militar. Mas, em última análise, o alvo real dos EUA e de Israel não é esta ou aquela organização, mas, as massas oprimidas de todo o Oriente Médio. Eles desejam destruir a vontade de lutar de dezenas de milhões de pessoas que nunca aceitaram a expulsão sionista do povo palestino, e que nunca irão aceitar a conquista americana do Iraque e o estabelecimento do regime neo-colonial fantoche em Bagdá.

Há um profundo sentimento que as posições de Israel e dos EUA mostram-se contra-produtivas e auto-destrutivas. O governo de Bush teve papel destacado no estabelecimento do atual governo libanês, e a retirada forçada das tropas sírias do Líbano foi um dos poucos sucessos de sua política externa no Oriente Médio. Enquanto os ataques israelenses ameaçam minar e desacreditar o regime em Beirute, que é impelido a permanecer parado impotentemente enquanto os cidadãos libaneses são assassinados, agora em dezenas, logo mais talvez em centenas e milhares.

De forma parecida, pode parecer irracional que um governo que seja incapaz de subjugar o Iraque (26 milhões de habitantes), poderia atacar a Síria (18 milhões de habitantes) e o Irã (75 milhões de habitantes) conjuntamente. Mas esses ataques são a conseqüência lógica da perspectiva imperialista que é possível para o imperialismo americano impor sua vontade no Oriente Médio, e obter o controle dos vastos recursos petrolíferos da região, através da força absoluta das armas.

Na realidade, a invasão do Iraque pelo governo Bush provou ser um desastre estratégico para o imperialismo norte-americano. Essa invasão provocou a população da região inteira, e, literalmente, bilhões de pessoas ao redor do mundo, dissipando ilusões de que os EUA podem ser identificados com a democracia, a liberdade ou contrários ao colonialismo.

Agora faz 58 anos desde que o Estado de Israel foi estabelecido, e 39 anos desde a Guerra dos Seis Dias, que expandiu o controle sionista do território palestino, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Essas seis décadas tiveram uma série interminável de violência - guerra, repressão, terrorismo, assassinatos, expulsão de populações. Agora há a ameaça de uma nova e mais terrível guerra.

A primeira premissa de qualquer solução para a crise do Oriente Médio é a remoção do imperialismo norte-americano da região. O World Socialist Web Site e o Partido da Igualdade Socialista (SEP) exigem a retirada imediata de todas as tropas americanas do Iraque e do Golfo Pérsico, e um fim ao patrocínio militar e financeiro, por Washington, da dominação israelense sobre o povo palestino.