Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 15 de julho de 2006
A ofensiva israelense no Líbano, com bombardeios e ataques
com mísseis, e a imposição de um bloqueio
aéreo e naval, trouxe todo o Oriente Médio à
beira de uma guerra de grandes proporções. O ataque
ao Líbano, completamente endossado pela administração
Bush, coincide com o atual assalto à população
palestina de Gaza, 1 milhão e meio de pessoas que estão
sofrendo a quarta semana de um cerco, sem eletricidade e o estoque
de comida diminuindo a cada dia.
O governo de Ehu Olmert em Israel aproveitou-se de dois incidentes
envolvendo o seqüestro de soldados israelenses, primeiro
em Gaza em 25 de junho, e agora na quarta-feira (12 de julho)
na fronteira com o Líbano, como pretexto para uma enorme
operação militar, que foi claramente preparada para
ir além. Isso demonstra o quão longe a ofensiva
israelense irá chegar - a Beirute, ou talvez até
Damasco - mas os ataques são claramente dirigidos para
atingir objetivos estratégicos que não tem nenhuma
relação com os incidentes que supostamente os provocaram.
Ninguém pode, seriamente, sugerir que os bombardeios
a cidades e vilas libanesas, a imposição de um bloqueio
naval e a tentativa de assassinar o Sheik Nasrallah, o líder
do Hizbollah, são métodos adequados para obter a
liberdade dos soldados israelenses capturados. Os dois soldados
seqüestrados pelo Hizbollah, possivelmente, estarão
muito mais sujeitos a morrer, como resultado dessas ações,
mortos ou por seus raptores ou pelas próprias bombas israelenses.
Da mesma forma em Gaza, o assassinato indiscriminado de dezenas
de palestinos, com bombas, metralhadoras e mísseis não
irá contribuir em nada para a libertação
de Gilad Shalit, o soldado capturado pelos militantes islâmicos
em sua incursão ao sul de Israel, através da fronteira
de Gaza.
Israel possui um longo histórico de usar eventos similares
como uma desculpa para realizar ações militares
que possuem um objetivo estratégico muito maior - voltando
a 1978, Israel iniciou uma invasão em larga escala do Líbano,
usando como pretexto o atentado a tiros, realizado por militantes
palestinos, ao embaixador israelense para a Grã-Bretanha.
Apenas muito tempo depois se percebeu que a invasão foi
longamente planejada, aguardando apenas o incidente apropriado
para providenciar uma justificativa oficial aceitável.
O mesmo modelo é repetido hoje, em Gaza e no Líbano.
O regime israelense não faz nenhum segredo de seu desejo
em esmagar a Autoridade Palestina liderada pelo Hamas. O bloqueio
econômico imposto em janeiro, após o Hamas vencer
as eleições legislativas palestinas, é a
escalada rumo a um bloqueio militar em larga escala de Gaza, onde
o Hamas tem sua maior base política.
No Líbano, o objetivo de Israel é, no mínimo,
a destruição física do Hizbollah, o movimento
islâmico xiita que domina três-quartos do sul do país.
Uma invasão em larga escala no sul do Líbano pelo
exército israelense é mais do que provável.
Amir Peretz, Ministro da Defesa israelense, disse que se
o governo do Líbano falhar em derrotar essas forças
[o Hizbollah], como é esperado de um governo soberano,
nós não iremos permitir que o Hizbollah permaneça
avançando nas fronteiras do Estado de Israel. Em
outras palavras, se o exército libanês não
suprimir o Hizbollah - e ninguém supõe que isso
seja feito - então o exército israelense irá
fazê-lo.
Uma intervenção militar dos EUA no Líbano
também é provável. As informações
da mídia norte-americana nessa sexta-feira (14 de Julho)
sugerem que os planos iniciais para uma intervenção
estão bem avançados, com 2.200 fuzileiros navais
para serem empregados como uma força de invasão
- lançados por helicópteros - que poderá
ocorrer próximo a Beirute, com o pretexto de proteger os
25.000 cidadãos americanos que agora estão impossibilitados
de deixar o Líbano devido ao bloqueio israelense.
Sozinhos ou em conjunto, um ataque aéreo de Israel e
dos EUA contra Síria e Irã, e até mesmo uma
invasão terrestre contra a Síria, são também
possíveis. Certamente o maior foco do governo Bush, dos
congressistas Republicanos e Democratas e da mídia norte-americana
é culpar a Síria e o Irã pela crise, reclamando
que esses regimes estão por trás do Hizbollah.
A mídia norte-americana sugeriu que o seqüestro
dos dois soldados israelenses foi especificamente ordenado por
Teerã em retaliação à referência
ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, no começo
dessa semana, na atual disputa sobre o programa nuclear iraniano.
O governo Bush, da mesma forma, acusou a Síria pela atual
revolta na província iraquiana de Anbar, devido a suprimentos
e recrutas que supostamente chegaram vindos da fronteira síria.
A invasão e ocupação do Iraque produziram
um holocausto do povo iraquiano: o crescente massacre em que dezenas
de milhares foram assassinados, por gangues de extremistas e milícias,
por carros-bomba e outros atos terroristas, ataques aéreos,
tiroteios indiscriminados ou por parte dos ocupantes norte-americanos.
Na semana passada, foi relatado que 1.595 corpos foram trazidos
para a mesquita de Bagdá durante junho, a maior taxa mensal
de mortes, até agora, desde a escalada do conflito entre
civis. O número de militares norte-americanos mortos é
mais de 2.500. Combinado com o número de mortes dos soldados
norte-americanos no Afeganistão, Bush irá ser o
responsável pela destruição de mais vidas
americanas do que os terroristas que atacaram Nova York e Washington
em 11 de Setembro.
O governo de Bush não irá se retirar do Iraque
e não pode manter o status quo, com o país
mergulhando profundamente em uma guerra civil e a oposição
popular à guerra aumentando entre o povo americano. Uma
considerável parte da elite norte-americana, frustrada
pelo lamaçal no Iraque, somente acredita que o sucesso
militar está em expandir o problema, como o
Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, colocou anteriormente.
Eles acreditam que o Irã está usando sua crescente
influência nos partidos xiitas iraquianos e nas milícias
para minar o controle americano do regime fantoche estabelecido
em Bagdá, e que um confronto militar com Teerã é
inevitável.
O The Wall Street Journal é a voz semi-oficial
dessas camadas, e publicou um editorial nesta sexta, 14 de Julho,
intitulado Estados do Terror, que defende abertamente
uma ação militar contra Síria e Irã.
O editorial declarou que não haverá nenhuma
solução no Líbano ou em Gaza até que
os regimes na Síria e no Irã acreditem que eles
irão pagar o preço....
Criticando a Secretária de Estado, Condoleezza Rice
por seu apelo pro forma, para quem todos os lados
precisam agir com moderação, o jornal diz,
A Casa Branca citou a Síria e o Irã como os
culpados pelos eventos dessa semana, mas palavras e medidas mais
duras são necessárias.
O rápido crescimento da crise no Oriente Médio
é uma previsível conseqüência da intervenção
militar maciça liderada pelos EUA no Iraque e Afeganistão,
e da crescente política agressiva e temerária do
imperialismo norte-americano por toda a região. Isso inclui
a carta branca dada pelo governo Bush a Israel, para usar sua
máquina de guerra - construída e financiada pelos
americanos - contra seus vizinhos e contra o perseguido e oprimido
povo palestino.
A política dos Estados Unidos e de Israel é baseada
em um interminável ciclo de guerra. O governo Bush baseia
inteiramente sua política externa na crença que
o poder militar americano e o armamento de alta tecnologia podem
resolver todos os problemas. O projeto sionista está similarmente
baseado no uso irrestrito da força contra os palestinos
e outros alvos, como o Hizbollah. Ambas as políticas provaram
ser desastrosas para o povo da região, incluindo a própria
população judia de Israel.
Como um Estado cliente dos EUA, Israel é, há
muito tempo, dependente de um vasto fluxo de ajuda econômica
e militar vinda de Washington. Durante a última década,
Israel procurou explorar a incontestável supremacia internacional
dos EUA, na onda do colapso da União Soviética,
para rejeitar quaisquer negociações para um ajuste
territorial palestino e, em vez disso, impôs suas ordens
unilateralmente à Autoridade Palestina.
Este é o conteúdo da retirada promovida pelo
governo de Sharon em Gaza durante o último ano, fechando
um punhado de assentamentos inviáveis como forma de desenhar
uma fronteira internacional com 1 milhão e meio de palestinos
no outro lado, garantindo uma maioria de judeus em Israel, permanecendo
nos territórios ocupados por, pelo menos, mais uma década.
Interesses similares estão guiando a política
do governo de Olmert, como a construção do muro
e o re-assentamento de judeus na Cisjordânia. Enquanto planeja
abandonar um punhado de assentamentos sionistas, o governo de
Olmert está desenhando a nova fronteira unilateralmente
para dar as melhores terras aos israelenses, incluindo toda Jerusalem,
enquanto os palestinos são relegados a um estado tampão
com apenas 60% do território ocupado.
Nos últimos dias, a mídia norte-americana estava
cheia de denúncias contra o Hamas e o Hizbollah, retratando-os
como organizações terroristas e procurando alvos
para uma escalada maciça da força militar. Mas,
em última análise, o alvo real dos EUA e de Israel
não é esta ou aquela organização,
mas, as massas oprimidas de todo o Oriente Médio. Eles
desejam destruir a vontade de lutar de dezenas de milhões
de pessoas que nunca aceitaram a expulsão sionista do povo
palestino, e que nunca irão aceitar a conquista americana
do Iraque e o estabelecimento do regime neo-colonial fantoche
em Bagdá.
Há um profundo sentimento que as posições
de Israel e dos EUA mostram-se contra-produtivas e auto-destrutivas.
O governo de Bush teve papel destacado no estabelecimento do atual
governo libanês, e a retirada forçada das tropas
sírias do Líbano foi um dos poucos sucessos de sua
política externa no Oriente Médio. Enquanto os ataques
israelenses ameaçam minar e desacreditar o regime em Beirute,
que é impelido a permanecer parado impotentemente enquanto
os cidadãos libaneses são assassinados, agora em
dezenas, logo mais talvez em centenas e milhares.
De forma parecida, pode parecer irracional que um governo que
seja incapaz de subjugar o Iraque (26 milhões de habitantes),
poderia atacar a Síria (18 milhões de habitantes)
e o Irã (75 milhões de habitantes) conjuntamente.
Mas esses ataques são a conseqüência lógica
da perspectiva imperialista que é possível para
o imperialismo americano impor sua vontade no Oriente Médio,
e obter o controle dos vastos recursos petrolíferos da
região, através da força absoluta das armas.
Na realidade, a invasão do Iraque pelo governo Bush
provou ser um desastre estratégico para o imperialismo
norte-americano. Essa invasão provocou a população
da região inteira, e, literalmente, bilhões de pessoas
ao redor do mundo, dissipando ilusões de que os EUA podem
ser identificados com a democracia, a liberdade ou contrários
ao colonialismo.
Agora faz 58 anos desde que o Estado de Israel foi estabelecido,
e 39 anos desde a Guerra dos Seis Dias, que expandiu o controle
sionista do território palestino, incluindo a Cisjordânia
e a Faixa de Gaza. Essas seis décadas tiveram uma série
interminável de violência - guerra, repressão,
terrorismo, assassinatos, expulsão de populações.
Agora há a ameaça de uma nova e mais terrível
guerra.
A primeira premissa de qualquer solução para
a crise do Oriente Médio é a remoção
do imperialismo norte-americano da região. O World Socialist
Web Site e o Partido da Igualdade Socialista (SEP) exigem a retirada
imediata de todas as tropas americanas do Iraque e do Golfo Pérsico,
e um fim ao patrocínio militar e financeiro, por Washington,
da dominação israelense sobre o povo palestino.