Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 19 de dezembro de 2006.
Meio milhão de trabalhadores agrícolas do Sri
Lanka entrou na terceira semana de greve por reajuste salarial.
Sua determinação contrasta com a atitude dos dirigentes
sindicais, que são coniventes com a tentativa do governo
para acabar com a greve o mais rápido possível.
Os trabalhadores do chá e da borracha, um dos mais humildes
setores da classe trabalhadora da ilha, interromperam o trabalho
no dia 5 de dezembro para exigir um salário diário
de 300 rúpias (menos que US$3,00). Seu salário atual
é de somente 135 rúpias por dia mais um adicional
de até 60 rúpias. A Federação de Empresários
do Sri Lanka (SLEF), representando as companhias agrícolas,
ofereceu um reajuste de 30 rúpias no salário base
e 25 rúpias de adicional.
A revolta entre os trabalhadores veio à tona porque
eles não têm reajuste desde meados de 2004. Todos
os trabalhadores do país foram surpreendidos pela alta
nos preços das mercadorias. Eles recebem por dia trabalhado.
Vários deles não recebem o adicional completo, que
depende da presença, da produção e dos preços.
Desde o início, os sindicatos têm procurado conter
a oposição e limitar as reivindicações.
Os dois principais sindicatos agrícolas o Congresso
dos Trabalhadores do Ceilão (CWC) e o Front da População
Ativa do país (UPF) funcionam também como
partidos políticos e são parte da coalizão
que governa atualmente. Seus líderes são mais leais
ao governo do que aos trabalhadores. O governo, por sua vez, está
desesperado diante da possibilidade da greve ganhar força.
O CWC e o Sindicato dos Trabalhadores do Estado de Lanka Jathika
(LJEWU) se opuseram à greve desde o início, mas
a base desafiou as direções. Como resultado, a difícil
função de conter os trabalhadores militantes ficou
a cargo do UPF e de diversos outros sindicatos menores, que fizeram
de tudo para controlar a luta dentro de certos limites.
O líder do UPF, P. Chandrasekaran, apelou várias
vezes para que confiassem no presidente, Mahinda Rajapakse. Na
última sexta-feira, Rajapakse demonstrou qual era a sua
posição. Ele convocou uma reunião especial
de gabinete para tratar sobre a greve e disse a Chandrasekaran
que convencesse os trabalhadores a concordar com a oferta da SLEF.
Rajapakse declarou que o país não pode permitir
a continuidade da greve, pois a economia já se encontra
em crise, com elevados índices de inflação
e uma queda das reservas em moeda estrangeiras. Ao longo dos anos,
o atual governo levou o país novamente à guerra
e elevou o orçamento em 45%, para 139 bilhões de
rúpias anuais, o que equivale a 38 milhões de rúpias
por dia, a fim de pagar as bombas lançadas sobre alvos
civis. Para financiar a despesa com a guerra, o governo está
tomando dinheiro emprestado nos mercados estrangeiros e exigindo
que a classe trabalhadora carregue a inevitável sobrecarga
econômica.
Encarando uma greve de massa que ameaça crescer, Rajapakse
está mais uma vez usando o disfarce de defensor das comunidades.
Ele preveniu Chandrasekaran de que se a greve não cessasse
imediatamente, os Tigres de Libertação Tamil Eelam
(LTTE) poderiam se infiltrar nas fazendas. Rajapakse
está provocando deliberadamente suspeitas na comunidade
para dividir os trabalhadores Tamil e Sinhala e construir as condições
para reprimir duramente os grevistas, caso seja preciso.
A imprensa previu um rápido fim da greve. Na segunda-feira,
Chandrasekaran e o líder do Front dos Trabalhadores Unidos
(WUF), S. Sathasivan, organizaram uma palestra do ministro do
trabalho, Mervin Silva, para os líderes dos sindicatos,
em Hatton. Suspeitando de que ali seria feita uma manobra contra
a greve, centenas de trabalhadores dos diversos distritos agrícolas
foram a Hatton ouvir o que o ministro tinha a dizer.
Numa discussão calorosa, os trabalhadores, revoltados,
vaiaram Silva repetidas vezes, enquanto ele insistia que os trabalhadores
tinham de ser flexíveis e aceitar a oferta
das companhias. Operários exigiram saber por que as companhias
não poderiam reajustar os salários, uma vez que
os gerentes recebem 150.000 rúpias por mês, além
de outras bonificações. Porque o governo gasta com
a guerra, mas diz não poder atender as reivindicações
dos trabalhadores? E onde ficaram as promessas feitas na campanha
presidencial de novembro de 2005, quando o atual presidente garantiu
uma vida melhor aos trabalhadores agrícolas?
Assim que o encontro começou, policiais armados entraram
no hall, mas os trabalhadores não se intimidaram. Silva
pediu que os trabalhadores não culpassem Rajapakse, mas
foi novamente vaiado. Diante da rebelião, Chandrasekaran
mudou abruptamente sua posição, declarando que ele
não estava ali para pedir aos trabalhadores que terminassem
ou continuassem a greve. Os trabalhadores devem decidir,
declarou ele, tentando manobrar uma votação para
acabar com a greve. Todavia, o sentimento predominante entre os
trabalhadores era pela continuidade do movimento.
Após o encontro, o CWC redobrou seus esforços
para causar um racha entre os grevistas, fazendo um acordo separado
com os empresários. Na tarde de ontem, R. Yogarajan, oficial
do CWC, disse à imprensa que a greve foi longe demais
e anunciou novas negociações. O CWC já diminuiu
a reivindicação de reajuste para 270 rúpias
e está preparado para baixá-la ainda mais, diante
da afirmação dos representantes da Associação
de Comerciantes do Chá de que um salário diário
de 300 rúpias tornaria a indústria inviável.
Um perigo político muito maior é a intervenção
direta do Janatha Vimukthi Peramuna (JVP), supostamente do lado
dos grevistas. Ontem, todos os sindicatos envolvidos na guerra,
incluindo a União de Todos os Estados do Ceilão
(ANCTU) do JVP, se reuniram no Centro Nacional de Sindicatos (NTUC),
filiado ao JVP. O líder do NTUC e o membro do parlamento
do JVP, Lal Kantha, declararam após a reunião que
o JVP chamaria uma greve geral na ilha, caso as reivindicações
dos trabalhadores agrícolas não fossem atendidas.
Sem sombra de dúvidas, a população é
muito simpática às reivindicações
dos trabalhadores agrícolas. Uma greve geral na ilha envolveria
inevitavelmente uma luta política contra o governo de Rajapakse,
sobretudo contra sua exigência de que a classe trabalhadora
se sacrifique por sua guerra reacionária. O JVP, todavia,
é o mais vêemente defensor da guerra contra o LTTE
e totalmente contra tal campanha.
A ameaça do JVP por uma greve geral é um truque
que tem como objetivo jogar poeira nos olhos dos trabalhadores,
enquanto por trás da cena o sindicato prepara um esquema
para acabar com a greve. O JVP já está indicando
o limite a Rajapakse. Numa entrevista coletiva à imprensa,
Lal Kantha pediu ao presidente que interviesse e nomeasse uma
comissão para investigar a corrupção nas
fazendas. A idéia da criação de comissões
do governo para investigar as reclamações dos trabalhadores
tem sido frequentemente utilizada no Sri Lanka como um meio para
acabar com as mobilizações. O resultado é
sempre o mesmo: depois do fim da greve, a comissão investiga,
durante meses, e finalmente conclui que as reclamações
eram infundadas.
Os trabalhadores em greve não podem confiar nas direções
dos sindicatos. O CWC e o UPF fazem parte do gabinete de Rajapakse,
que levou o país novamente à guerra, aprofundou
os ataques aos direitos democráticos e implementou as exigências
do FMI em relação aos cortes e a privatização
de serviços sociais. A única razão do JVP
não estar no governo é que ele defende uma guerra
geral contra o LTTE, o que sobrecarregaria ainda mais a classe
trabalhadora. Todos esses partidos aprovaram o retorno do Ato
de Prevenção do Terrorismo (PTA), sob o qual milhares
de tamis, incluindo operários agrícolas, foram anteriormente
detidos, e em diversos casos torturados sem julgamento, por serem
suspeitos integrantes do LTTE.
A greve alcançou um ponto decisivo. Se for deixada nas
mãos das direções do sindicato, será
traída. Ao invés de esperarem para ver o que Chandrasekaran
e Lal Kantha farão, os trabalhadores em greve devem, eles
próprios, tomar a iniciativa. Ao invés de esperarem
o resultado das reuniões dos dirigentes sindicais, os trabalhadores
devem criar comitês independentes em todas as fazendas e
enviar delegações para uma reunião de massa
central, a fim de planejar uma estratégia.
As reivindicações dos trabalhadores agrícolas
estabelecem claramente uma ligação entre a classe
trabalhadora urbana e agrícola. O Socialist Equality
Party (SEP) chama todos os trabalhadores a apoiarem sua campanha
e formar comitês dos trabalhadores para dar apoio aos grevistas
na formulação de suas próprias reivindicações
por melhores salários e condições de trabalho
decentes. Os trabalhadores não deveriam ter nenhuma ilusão.
Tal movimento envolverá um confronto com o governo. Por
isso ele deve ter uma estratégia política clara.
O SEP luta pelo seguinte programa socialista e internacionalista:
O limitado reajuste salarial proposto pelos sindicatos não
será suficiente para acabar com o sofrimento e com as dificuldades
dos trabalhadores agrícolas. Nós reivindicamos a
transformação do sistema de salário diário
por um sistema de salário mensal, que garanta pelo menos
15.000 rúpias, além do pagamento das horas extras,
pensões e afastamento por motivo de saúde. Os salários
deverão ser reajustados de acordo com a elevação
do custo de vida.
Os trabalhadores necessitam de moradias, educação
e saúde decentes. Todos os trabalhadores agrícolas
devem ter acomodações apropriadas, com condições
básicas de sobrevivência, incluindo água encanada
e luz elétrica. Um padrão de vida decente deveria
ser um direito, não um privilégio. A sociedade deve
ser reorganizada numa base socialista, de forma que as necessidades
da maioria da população humilde tenham prioridade
sobre os lucros da minoria rica.
Os trabalhadores devem rejeitar todas as exigências de
sacrifício à nação. Nenhum
centavo, nenhum homem para esta guerra aberta. O SEP exige o fim
da ocupação militar do norte e do leste, e a retirada
imediata e incondicional de todas as forças de segurança.
Rejeitamos de todas as formas de nacionalismo e racismo e convocamos
os trabalhadoresTamil, Sinhala e Muçulmanospara
unirem-se e lutarem pela República Socialista do Sri Lanka
e Eelam, como parte de uma união maior de repúblicas
socialistas do sul da Ásia e de todo o mundo.
Nós pedimos aos trabalhadores agrícolas que considerem
este programa seriamente, e acessem o World Socialist Web Site
publicado pelo SEP e seus partidos irmãos ao redor do mundo.
Além de tudo isso, chamamos a classe operária e
a juventude para se unir e construir o SEP como o partido de massas
da classe operária, indispensável na luta por essa
perspectiva.