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Salários de reitores sobem nas universidades americanas

Por Naomi Spencer
19 Dezembro 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 6 December 2006.

Um novo relatório lançado em 20 de novembro pela publicação Chronicle of higher education documenta o contínuo aumento nos salários de reitores de universidades e faculdades nos Estados Unidos. A análise reflete a crescente integração da alta administração acadêmica à elite corporativa, com reitores cada vez mais atuando como executivos incumbidos de dirigir suas instituições segundo os interesses das grandes corporações e dos doadores milionários.

O Chronicle observou que os salários dos reitores das universidades públicas, que dependem em parte do financiamento do Estado, têm crescido notadamente, com o número de reitores que recebem remuneração anual maior de US$ 500.000 quase dobrando, de 23 para 42. A pesquisa foi baseada em dados de 853 faculdades e universidades públicas e privadas. O salário médio dos reitores de universidades públicas cresceu aproximadamente 4% em 2004-2005 em relação ao ano letivo anterior, chegando a US$ 374.846.

O reitor da Universidade de Dalaware, David Roselle, foi o mais bem pago entre os reitores das universidades públicas, recebendo aproximadamente US$ 980.000 em 2004-2005, US$ 260.000 a mais que no ano anterior. Os cinco mais bem remunerados foram: Martin Jiscke (Purdue University - US$ 880.950), Mark Emmert (University of Washington—US$ 752.700), J.Bernard Machen (University of Flórida—US$ 751.725) e Mary Sue Coleman (University of Michigan—US$ 742.148). No ano passado, Coleman foi a mais bem paga reitora entre as universidades públicas recebendo a enorme quantia de US$ 724.604.

A média paga a reitores de universidades privadas em 2004-2005 foi maior, atingindo US$ 497.046. Sete reitores de faculdades privadas receberam salários maiores que um milhão de dólares, de acordo com o Chronicle. No topo da lista, com a remuneração total de aproximadamente US$ 2,75 milhões, está Audrey Doberstein, recentemente aposentado pela Faculdade de Wilmington em Delaware.

O segundo reitor mais bem pago é Donald Ross, da Lynn University, também aposentado recentemente. Ross, que fundou a Faculdade de Wilminton antes de mudar-se para Boca Raton, Flórida e depois associar-se a faculdades em Porto Rico e Irlanda, recebeu US$ 1,3 milhões no ano passado. Na pesquisa de 2005 da Chronicle, Ross encabeçou a lista com mais de cinco milhões de dólares.

Diferentemente das instituições públicas, que são em grande parte financiadas pelos governos estaduais, as universidades privadas não precisam revelar suas folhas de pagamento. Em muitos casos, a declaração dos salários das áreas administrativas nas universidades privadas são obscuras ou totalmente inexistentes. De qualquer modo, está claro que muitas das pequenas faculdades privadas e religiosas, como a faculdade Wilminton e a Lynn University, são criadas e dirigidas essencialmente como empresas, e que uma pequena camada de administradores beneficiam-se enormemente.

Outros reitores de faculdades privadas que receberam mais de um milhão de dólares foram Peter Traber (Baylor College of Medicine), E. Gordon Gee (Vanderbilt University), Karen Pletz (Kansas city University of Medicine and Biosciences), Petre Lehman (Cornell University) e Roger Hull (Union College).

O que pode justificar tais salários exorbitantes? Um artigo de 20 de novembro do New York Times afirmou que eles são um produto da aposentadoria da geração do baby boom e da “maior competição por executivos experientes” entre as instituições. Raymond Cotton, um advogado especializado em negociação de contratos para reitores, disse ao jornal: “O número absoluto de pessoas disponíveis, capacitadas a fazer bem esses trabalhos, está diminuindo (...) Quando a demanda aumenta e a oferta cai, o preço sobe”.

O argumento de que estes altos salários são necessários para atrair pessoas aptas a administrar uma instituição acadêmica não é verdadeiro. Se o principal trabalho de um reitor fosse, supostamente, a promoção da educação, da atividade intelectual e da consciência social, outras considerações que não a do enriquecimento pessoal atrairiam os indivíduos mais bem qualificados e motivados. Em geral, os mais dedicados à educação como serviço público não são aqueles que demandam salários exorbitantes.

Na verdade, crescem os casos em que o papel dos reitores não é promover a educação, mas solicitar doações, obter auxílio de corporações para pesquisas, e administrar grandes pastas de investimentos. Principalmente nas grandes universidades, as corporações vêem o sistema educacional como recurso para dirigir as pesquisas e gerar fornecimento de mão-de-obra altamente qualificada. Os altos funcionários das universidades e faculdades são cada vez mais considerados executivos de corporações, ao invés de diretores da educação.

O mesmo argumento—de que altos salários são necessários para atrair pessoas qualificadas—é frequentemente usado para explicar os salários dos diretores das grandes corporações. Mas os salários obscenamente inflados dos executivos no setor privado normalmente não têm nenhuma relação com o desempenho das empresas que eles dirigem. Como regra geral, eles são remunerados por garantir aos grandes proprietários e a si mesmos os enormes lucros e salários, indiferentemente ao custo à saúde financeira e à estabilidade da companhia, aos trabalhadores e à economia como um todo. Processo similar, ainda que talvez um pouco menos direto, ocorre nas universidades, onde reitores são pagos para administrar suas instituições em função dos interesses do grande capital.

Sob esse aspecto, o aumento nos salários dos reitores das universidades públicas é particularmente significativo. Nos últimos anos, a parte do orçamento financiada por corporações privadas em muitas universidades públicas teve um crescimento acentuado, particularmente entre as maiores produtoras de pesquisa. Por exemplo, na Universidade de Michigan, em que o financiamento estatal foi de apenas 18% da receita em 2004, e na Universidade de Virgínia em que foi de apenas 8%. Enquanto o capital privado desempenha um papel cada vez maior, o custo do ensino continua crescendo para compensar a insuficiência do financiamento estatal.

Há muito tempo que uma das principais funções dos reitores é solicitar doações e desenvolver relações de negócios. Mas, como a fortuna dos círculos em que eles transitam cresceu vertiginosamente nas últimas duas décadas, e o papel das corporações nas universidades tem crescido, os salários dos reitores subiram proporcionalmente.

Enquanto isso, estudantes e professores são vítimas de um sistema educacional em crise. O custo do ensino continua sua espiral ascendente e o auxílio estudantil foi suspenso no ano passado. Como resultado, muitos estudantes da classe trabalhadora são expulsos pelo preço do ensino universitário ou são obrigados a cumprir longas jornadas de trabalho enquanto acumulam dívidas pesadas. O custo do ensino tem crescido em média 6% ao ano, há mais de uma década, enquanto o auxílio federal foi cortado.

O College Board (associação que reúne milhares de instituições de ensino americanas) recentemente relatou que o custo médio total do ensino, taxas, e despesas com pensão completa para alunos internos nas universidades públicas foi de US$ 12.796 para o ano letivo de 2006-2007. Para os cursos de quatro anos de duração das faculdades privadas, o valor totaliza US$ 30.367 apenas neste ano.

Entre os formados em 2003-2004, o valor médio da dívida contraída para financiar sua educação era US$ 19.300, US$ 16.400 a mais que no ano anterior. Enquanto dados mais recentes ainda não estão disponíveis, o College Board declarou em seu relatório mais recente sobre a dívida: “É quase certo que a dívida cresceu em 2003-2004, porque nem a renda familiar nem o auxílio da instituição acompanhou o aumento no custo do ensino na faculdade.”

Ao mesmo tempo, a universidade enfrenta menos segurança nos empregos, salários mais baixos e aumento da carga de trabalho, com a crescente substituição de posições estáveis por empregos probatórios e de meio-período. Estas tendências, impulsionadas pela legislação reacionária e pelo corporativismo crescente na academia, refletem o crescente abismo social dentro da sociedade americana como um todo.