Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 07 de dezembro de 2006.
Um relatório publicado no dia 01 de dezembro pelo Bureau
de Estatística Judiciais (BJS) do Departamento de Justiça,
divulga a expansão da vasta população carcerária
nos EUA. Num país cujo governo reivindica para si, perante
a humanidade, o título de principal democracia do mundo,
quase 2,2 milhões de pessoas estão atrás
das grades. Este número cresce a uma taxa insustentável.
De acordo com o relatório intitulado Prisioneiros
em 2005, havia 2.193.789 pessoas encarceradas nos Estados
Unidos até dezembro de 2005. Mais 4,1 milhões estavam
presos temporariamente e cerca de 800.000 em liberdade condicional.
Estes números totalizam mais de 7 milhões de pessoaso
que representa 1 em cada 32 norte-americanos adultosque
estariam sob algum tipo de supervisão do sistema carcerário
dos EUA, em dezembro do ano passado.
Desde que o governo decidiu tornar-se duro contra o crime,
a população carcerária dos EUA cresceu rapidamente.
O maior crescimento ocorreu durante os governos Clinton e Bush,
que cortaram programas sociais aos pobres e impostos para os ricos
e passaram a idolatrar o mercado.
A crise social, a polarização e o desaparecimento
de oportunidades econômicas, enfim, todos estes fatores
foram acompanhados por um crescimento no número de crimes
menores e no do uso de drogas. Este último foi combatido
ostensivamente pelo governo através da expansão
do sistema carcerário e do aumento da imposição
de sentenças obrigatórias para crimes não-violentos,
como o porte de drogas, transformando um mero portador
num criminoso em potencial.
Hoje, os EUA possuem a taxa de encarceramento mais alta do
mundo. De acordo com o relatório do BJS, de cada 100.000
pessoas que vivem nos EUA, 737 estavam presas no final de 2005mais
do que os 725 do ano anterior e do que os 605 em 1995. Em outras
palavras, um em cada 136 homens, mulheres e crianças nos
EUA está atrás das grades.
No ano passado, o maior crescimento da população
carcerária ocorreu nas áreas mais pobres e rurais
do país. Em 2005, na Dakota do Sul esta população
cresceu 11%, em Montana 10,9% e em Kentucky, 10,4%. No total,
a população carcerária do país cresceu
por volta de 2%.
Tanto o racismo quanto a precariedade econômica têm
sido responsáveis pela proporção incrivelmente
alta de negros nas prisões. Dos homens negros de 25 a 29
anos, 8,1% estão presos atualmente. Comparativamente, 2,6%
dos hispânicos e 1,1% dos brancos encontram-se nessa situação.
Em geral, os homens têm 13 vezes mais chances de serem
presos do que as mulheres, atualmente. No entanto, isto vem se
transformando lentamente. O número de mulheres presas cresceu
2,6% no ano passado, enquanto a taxa para os homens foi de 1,9%.
Desde 1995, o número de presos do sexo masculino cresceu
34%, enquanto que para o sexo feminino, a taxa de crescimento
foi de 57%. Isso tem sido atribuído à imposição
de sentenças mais duras a crimes como uso de drogas, como
a crimes de associaçãomuitas mulheres estão
atrás das grades simplesmente por namorarem ou serem casadas
com homens acusados de ser portadores de drogas.
Ao considerarmos estes números, é importante
que lembremo-nos das deploráveis condições
dentro das próprias prisões. Nas penitenciárias
maiores, permanentemente superlotadas, a AIDS, as doenças
mentais, os ataques físicos e sexuais e a dependência
química estão sempre presentes. O relatório
do BJS aponta que prisões federais funcionam 34% acima
de sua capacidade máxima prevista.
Outro aparente desenvolvimento digno de nota, segundo o relatório,
é o número de pessoas em prisões militares,
que aumentou a uma taxa três vezes maior em comparação
ao aumento ocorrido dentro das outras prisões, no ano de
2005. Apesar de o número de presos militares ser relativamente
pequenopor volta de 2.300 - seu crescimento foi acentuado:
6,7%.
As penitenciárias representam um grande negócio
nos EUAesta indústria movimenta sozinha 40 bilhões
de dólares por ano. Recentemente, os sistemas carcerários
estaduais superlotados começaram a buscar a parceria com
empresas privadas no alojamento de presos, sendo que algumas dessas
empresas obtiveram com isso grande sucesso. Estas prisões,
que visam o lucro - como seria de se esperar - tornaram-se notórias
por violar direitos constitucionais básicos daqueles ali
encarcerados.
O número de pessoas nessas prisões privadas também
cresce rapidamente. Durante o ano de 2005, o número de
presos federais nessas condições cresceu 9,2% e
o de estaduais, 8,8%. Por toda parte, cerca de 107.000 presos
no país estão em prisões-empresas. Além
disso, muitas prisões contratam serviços, como alimentação,
higiene e vestuário.
Deve-se notar que essas mesmas empresas foram requisitadas
para gerenciar o crescente número de prisioneiros quando
os norte-americanos precisavam de cadeias no Iraquedirecionando
dezenas de milhões de dólares por meio de contratos
de defesa.
Como balanço final, cabe salientar que os números
publicados no relatório expressam a realidade de uma sociedade
em estágio avançado de decomposição.
Nos Estados Unidos, encontram-se níveis de desigualdade
social de proporções únicas e históricas.
Atualmente, nos EUA, vive um maior número de bilionários
do que em todo o resto do mundomais da metade da população
bilionária do mundo. Pouco mais de quatrocentas destes
bilionários controlam mais de 1,25 trilhões de dólares.
Nos EUA, a renda média de um diretor-executivo é
centenas de vezes maior do que o salário médio de
um trabalhador. Uma pequena camada situada no topo da sociedade
norte-americana vive em condições de luxo e extravagância,
possui um modo de vida incompreensível para a grande maioria
da população. Esta pequena camada controla, respaldada
na sua enorme riqueza, as principais instituições
políticas, sociais e econômicas dos EUA.
Esta camada social, quando encontra um problema social complexo,
é totalmente incapaz de resolvê-lo de uma maneira
progressista; sua reação expressa geralmente ignorância
e falta de visão, por um lado, e brutalidade por outro.
Diante a uma sociedade prestes a desmoronar, essa elite reage
incriminando e aprisionando proporções cada vez
maiores de sua própria população.